Deserto e sertão de Heloísa Maia

08/dez

Enquanto visitava o Marrocos, a artista plástica paraibana Heloísa Maia teve uma epifania. Ela viu o Marrocos no sertão nordestino, e o sertão no Marrocos. Dessa sua percepção, que envolve fisionomias, paisagens, flores, bichos, nuanças de cores, silêncios e uma incrível luminosidade, nasceu sua exposição “Deserto. (De)sertão, Sertão… Ancestral”, na galeria da Igreja São Francisco, em João Pessoa. Uma obra que magnetiza. 

Tal inspiração de Heloísa brotou de memórias familiares, relatos de seu pai que em uma viagem identificou-se afetivamente com o Marrocos. Para materializar em quadros seu sentimento de vínculo àquele país, a artista trouxe de lá pigmentos minerais e materiais orgânicos, que misturou aos do nosso sertão. “A mostra é muito bonita. Eu a apreciei ainda mais por ter ouvido, na véspera, da própria Heloísa o que a motivou e inspirou. As fotos são do pátio interno azulejado da Igreja São Francisco”. 

Fonte: Hildegarde Angel Jones.

 

 

As formas expansivas de Diambe

A Simões de Assis, São Paulo, Curitiba, anuncia a representação de Diambe (Rio de Janeiro, 1993). Sua prática expande as noções de coreografia e escultura, desdobrando em instalações que também incorporam pinturas, filmes, têxteis e performances. Diambe explora possibilidades fabulativas de novos seres, elevando aspectos estéticos e ornamentais da natureza. Trata da materialidade ao lidar com o bronze e com formas reconhecíveis de povos diaspóricos, agora em novos arranjos, mimetizando outros seres ou criando novos integrantes de seu ambiente criado. Seu trabalho faz parte de relevantes coleções particulares e figura no acervo de importantes instituições, como: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte do Rio (MAR), entre outros.  

 

Destaque para Anna Bella Geiger

07/dez

A artista plástica Anna Bella Geiger ganha mostra especial de seu trabalho com pinturas e “macios” e integra coletiva “Abstrações Utópicas”, na Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ.

Ativa aos 90 anos, Anna Bella Geiger é a única artista remanescente da histórica “1ª Exposição de Arte Abstrata”, no Brasil, em 1953, no Quitandinha, em Petrópolis, RJ. Por isso, ela ganha uma homenagem especial na Danielian Galeria, com uma mostra dedicada a sua produção de telas e “Macios”, em que vem desenvolvendo suas experiências no campo da pintura nos últimos 30 anos. A exposição de Anna Bella Geiger inaugura o segundo andar do pavilhão recém-construído atrás da casa principal na Danielian Galeria.

Anna Bella Geiger também é consultora e integra a exposição “Abstrações Utópicas”, que a Danielian Galeria apresenta em sua casa principal, com aproximadamente 80 obras de mais de 50 importantes artistas, que exploraram o universo da abstração e criaram as bases desta vertente artística, presente até hoje em nosso cenário cultural, e berço da arte contemporânea brasileira.

A curadoria das duas mostras é de Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto. As exposições ficarão em cartaz até 17 de fevereiro de 2024.

Diversas premiações

06/dez

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, venceu duas categorias do Prêmio Açorianos de Artes Plásticas: Destaque Instituição e Destaque Publicações, com o catálogo “Magliani”. 

Realizado pela Coordenação de Artes Visuais da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa, a cerimônia ocorreu no Teatro Renascença. Também foram entregues os prêmios concedidos por parcerias. Carolina Grippa, curadora da exposição “Trama: Arte Têxtil no Rio Grande do Sul”, realizada em dezembro do ano passado pela Fundação Iberê Camargo e Ministério da Cultura/Governo Federal, com patrocínio da Petrobras, levou o prêmio de Jovem Curador(a), oferecido pela Aliança Francesa de Porto Alegre. Já Mauro Espíndola venceu o Prêmio de Residência Artística no Ateliê de Gravura, oferecido pela Fundação.

A Fundação Iberê Camargo tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo GPS, Grupo IESA, CMPC, Savarauto Perto, Ventos do Sul, DLL Group, Lojas Pompéia e DLL Financial Solutions Partner; apoio da Renner, Dell Technologies, Pontal Shopping, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, e realização do Ministério da Cultura/ Governo Federal. 

 

Conversas entre Coleções

Em “Conversas entre Coleções” contamos com seis dos mais importantes acervos particulares. Propusemos-lhes o desafio de estabelecer conexões entre suas obras e aquelas da Coleção Roberto Marinho.

Além da qualidade dos trabalhos apresentados temos a oportunidade de observar seus critérios de reunião: diálogos em duplas; estabelecimento de parentescos e entornos de artistas reconhecidos com outros ainda em pouca evidência; diálogos de tempos diversos, intencionais ou reunidos pelo acaso; a trajetória brasileira de dois artistas judeus com migração provocada pela eclosão de guerras e perseguições na Europa da primeira metade do século XX; paisagens, geografias, mapas, ações afirmativas e questionamentos étnicos.

Uma rara reunião que é um convite ao prazer, à educação visual e à reflexão. Um momento mágico no qual produções de tempos e geografias tão díspares vivem juntas em nossa presença e sensibilidade. Tesouros e incentivos na construção diária de nossas vidas: um hoje composto de pretérito e futuro.

Lauro Cavalcanti

Diretor-Executivo da Casa Roberto Marinho

 

Uma seleção especial

A Gentil Carioca tem o prazer de apresentar para a Art Basel Miami 2023 (Stand C23) uma seleção especial de obras que traduzem a essência poética da galeria e o atual contexto mundial a partir da produção dos nossos artistas: Agrade Camíz, Ana Linnemann, Arjan Martins, Denilson Baniwa, O Bastardo, Jarbas Lopes, João Modé, Laura Lima, Marcela Cantuária, Maria Nepomuceno, Novíssimo Edgar, Renata Lucas, Rodrigo Torres, Vinicius Gerheim e Vivian Caccuri. Também apresentaremos um kabinett com obras de Sallisa Rosa.

 

Conjunto ímpar na Art Basel Miami Beach

Para a feira Art Basel Miami Beach 2023, entre 06 – 10 dezembro, no Miami Beach Convention Center 1901, Convention Center Drive Miami Beach, FL, a Simões de Assis reuniu um conjunto ímpar de artistas que se conectam e se aproximam por suas relações com a abstração espiritual ou intuitiva. Ainda que saibamos que as abordagens mais comuns na arte brasileira e latino-americana sejam concretistas, racionalistas, cartesianas ou mesmo matemáticas, a abstração também pode ser igualmente associada ao metafísico, ao etéreo e ao intuitivo. A seleção inclui obras de Abraham Palatnik, Ascânio MMM, Ayrson Heráclito, Carmelo Arden Quin, Emanoel Araujo, Gabriel de la Mora, Gonçalo Ivo, Heitor dos Prazeres, Ione Saldanha, Lygia Clark, Mano Penalva, Mestre Didi, Rodrigo Torres, Rubem Valentim, Serge Attukwei Clottey, Sergio Camargo e Zéh Palito – trabalhos que são articulados por suas naturezas ritualísticas, espirituais, mitológicas, folclóricas e cosmológicas. Mesmo nos tensionamentos entre a abstração informal, geométrica e a figuração, este conjunto enfatiza como diferentes materiais e meios contribuem para a expansão das possibilidades da abstração entre artistas de diferentes origens, gerações e suportes.

Solo de Allan Weber

 

A Galatea leva à feira Art Basel Miami Beach 2023 o projeto Allan Weber: Traficando arte, solo do artista indicado ao Prêmio Pipa 2023 que ganha destaque na cena da arte contemporânea no Brasil. A obra de Allan Weber cria um encontro inédito entre referências do dia a dia em uma comunidade do Rio de Janeiro e elementos da tradição construtivista que tanto influenciou a arte brasileira do século XX.

O projeto apresenta fotografias, objetos e composições geométricas que remontam à produção de Allan Weber desde 2020. A pesquisa apresentada se iniciou com a série fotográfica Tamo junto não é gorjeta (2020), realizada quando trabalhou como entregador de aplicativo no auge da pandemia de COVID-19. Seu principal interesse reside em abordar, com originalidade e rigor formal, o contexto complexo, contraditório e em disputa – tanto material quanto simbólica – das favelas do Rio de Janeiro, bem como as experiências de vida dos seus habitantes.

 

Exposição comemorativa no Quitandinha

30/nov

“Da Kutanda ao Quitandinha – 80 anos”, no Centro Cultural Sesc Quitandinha, revela fatos e artistas apagados da história oficial. O Sesc Rio de Janeiro tem o prazer de convidar, no dia 1º de dezembro de 2023, a partir das 10h, para a inauguração da exposição “Da Kutanda ao Quitandinha – 80 anos”, que abre as celebrações dos 80 anos do espaço inaugurado em 1944 como hotel-cassino, e que hoje sedia o Centro Cultural Sesc Quitandinha. A grandiosa exposição tem curadoria geral de Marcelo Campos, e é composta por seis núcleos. O público é recebido por um mapa do século 18, e pelas primeiras referências da presença de negros na Freguesia de Nossa Senhora de Inhomirim, base do povoamento da região, por meio da navegação do rio Piabanha e das fazendas que exploravam o trabalho escravizado, que deu origem à cidade que hoje conhecemos como Petrópolis. A mostra será acompanhada por uma programação cultural gratuita.

“Da Kutanda ao Quitandinha – 80 anos” irá destacar inicialmente as tecnologias trazidas pelos africanos, suas lideranças, e a quitanda-assentada no local onde está o Quitandinha – operada por mulheres pretas, e responsável por parte expressiva da economia do século 19. A palavra é derivada de kitanda, “feira”, e kutanda,”ir para longe”, no idioma quimbundo, falado em Angola, origem de muitos africanos que formam a grande população afro-brasileira.Vários artistas contemporâneos participam deste núcleo. Em outro segmento, Anna Bella Geiger (1933) ocupa um lugar central, com um documentário sobre ela feito especialmente para a exposição, e com obras que participaram da 1ª Exposição de Arte Abstrata, em 1953. Para se ter uma ideia do ambiente glamuroso do local em sua época de cassino, de 1944 a 1946, vários itens do mobiliário e da decoração foram recriados, além de uma galeria com reproduções de fotografias de época, pertencentes ao Instituto Moreira Salles. Bailes Black, de carnaval, funk, jambetes, Furacão 2000, nos anos 1970, também terão registros na exposição.

Dois importantes artistas negros, que tiveram forte presença no antigo hotel-cassino, ganham visibilidade e são homenageados. Tomás Santa Rosa (1909-1956), pintor, ilustrador, responsável pela inovação no design de capas de livros – “Cacau” (1934), de Jorge Amado, e “Caetés” (1933), de Graciliano Ramos, são exemplos – e importante cenógrafo – a peça “Vestido de Noiva” (1943), de Nelson Rodrigues, em 1943, marco no teatro brasileiro – e autor dos murais da piscina e do café-concerto, e da pintura decorativa de biombos do Quitandinha. Em outros dois espaços do CCSQ serão reproduzidas as decorações de carnaval do Rio, feitas por ele em 1954. Ativista dos movimentos étnico-raciais, trabalhou de 1947 a 1949 no Teatro Experimental do Negro, fundado por Abdias Nascimento (1914-2011). Já o gaúcho Wilson Tibério (1920-2005) fez nos salões do Quitandinha, em 1946, uma exposição com cerca de 130 obras. Militante político e antirracista, foi viver na França, fez constantes viagens à África, onde pesquisou o cotidiano das populações e ritos afro-brasileiros, criando várias pinturas, e participando de eventos sobre artes negras, como o 1º Congresso de escritores e artistas negros na Universidade de Sorbonne, Paris, em 1951, e do 1º Festival Mundial de Artes Negra, em Dacar, em 1966, hoje em dia um evento emblemático.

“Pensar e celebrar os 80 anos do Quitandinha, focando em arte e cultura, é rever uma história, sublinhar fatos, em sua maioria, desconhecidos, e cuidar para que uma sociedade desigual não permaneça”, afirma Marcelo Campos. “O Quitandinha foi protagonista nas relações da paz mundial, com a assinatura, em 1947, do tratado que se tornaria, anos depois, na Organização dos Estados Americanos, a OEA. Dois importantes artistas brasileiros, Tomás Santa Rosa e Wilson Tibério, realizaram murais e exposições neste local. A primeira mostra de arte abstrata do Brasil aconteceu lá. Portanto, a exposição “Da Kutanda ao Quitandinha” atravessará parte dessa história sob um olhar atual. Levantamos imagens de imprensa importantes e raras. Entrevistamos Anna Bella Geiger, uma das participantes da exposição de Arte abstrata”, assinala. “Realizar esta exposição é evidenciar a centralidade do Quitandinha, hoje, Centro Cultural Sesc, na realização de ações culturais”.

Até 25 de fevereiro de 2024.

Artista brasileiro premiado

Sua candidatura ao prêmio de arte Kunstverein Münsterland foi baseada na ideia olímpica. “Participar é tudo”, pensou José Gomes, que, à espera de inúmeras inscrições para o prêmio nacional, no valor de 10.000 euros, achava que suas chances eram pequenas, especialmente porque sua colega artista e amiga Rosilene Luduvico, uma artista do Brasil, já havia recebido o prêmio em 2015. “Vi minha candidatura como uma oportunidade de pelo menos apresentar meu trabalho ao júri especializado em arte”, explica Gomes, que nasceu em Cariacica, ES em 1968. Quando seu celular tocou em meados de maio e a Diretora do Kunstverein Münsterland, Jutta Meyer zu Riemsloh, se apresentou do outro lado, ele então entendeu a situação. “E quando ela me disse que eu havia ganhado o prêmio, fiquei surpreendentemente muito feliz. É uma grande honra para mim. Um ponto alto da minha carreira na Alemanha”, diz Gomes, que vive e trabalha em Colônia desde 2004.

Com sua decisão em escolher o trabalho de Gomes, o júri está homenageando pela primeira vez um artista com uma mensagem política clara. Em muitas de suas obras, Gomes critica a exploração excessiva da natureza e, portanto, a base da vida de todos nós. A busca pelo crescimento e pelo lucro, a ganância por mais e mais – para Gomes, essa é a serra no galho em que a humanidade se assenta. “Isso precisa finalmente acabar. Temos que assumir a responsabilidade pelo nosso planeta”, exige José Gomes e enfatiza sua exigência mostrando a beleza e o poder da natureza, mas também sua vulnerabilidade em suas imagens e objetos.

A premiada exposição, que também será inaugurada no Kunstverein e mostrará obras de 2002 a 2023, oferece uma visão geral de seu trabalho. Em exibição estão principalmente trabalhos nos quais Gomes utilizou imagens de florestas, plantas, legumes e frutas sobre papel e também sobre madeira, usando uma técnica de transferência fotográfica e complementou-as com desenhos e aquarelas. Dessa forma, ele compõe algo novo e independente com sua própria estética. Um exemplo disso é a série Firmitas, que foi criada como parte de seu trabalho como bolsista em um programa de residência artística no Jardim Botânico e no Instituto de Biologia da Universidade de Rostock e é dedicada às ditas plantas de ressurreição. Essas plantas podem sobreviver a períodos de seca que duram vários meses e reviver quando entram em contato com a água. As ilhas em aquarela azul-claro que Gomes agrupa junto às plantas de ressurreição, parecem quase efêmeras, como uma gota no oceano – um símbolo da exploração e/ou poluição global dos recursos de água doce e da crescente escasses de água potável.

A cerimônia de premiação e abertura da exposição ocorrerá com convidados no Kunstverein Münsterland. O discurso laudatório será feito pela historiadora de arte Dra. Dagmar Kronenberger-Hüffer, que formou o júri do prêmio de arte juntamente com o Dr. Stephan Mann (Diretor do Museu Goch), Mietje Mühlenkamp e Alfons Wiedau (ambos membros do Kunstverein Münsterland) e Jutta Meyer zu Riemsloh (Diretora do Kunstverein).

A exposição premiada poderá ser vista até 07 de janeiro, durante o horário de funcionamento do Kunstverein.

Fonte: Das Artes.