Paço Imperial exibe Ana Holck

29/nov

Neste sábado, dia 02 de dezembro, o Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição “Entroncados, Enroscados e Estirados”, com obras inéditas da artista carioca Ana Holck, que marcam uma nova fase na sua reconhecida e destacada trajetória de 22 anos nas artes. Com curadoria de Felipe Scovino, serão apresentados oito trabalhos, pertencentes às três séries que dão nome à mostra. As obras, que foram produzidas este ano, em porcelana e aço inox – materiais até então nunca utilizados pela artista -, transitam entre a ideia de pintura e escultura.

“Os objetos criam uma situação transicional, variam entre serem bidimensionais e tridimensionais, colocando-se de maneira duplamente vetorizada, ou seja, tem uma proximidade com a pintura – não só pelo fato de estarem presos à parede, mas especialmente pela grafia destes trabalhos – e, ao mesmo tempo, não deixa de ser uma escultura”, afirma o curador Felipe Scovino.

Os novos trabalhos se aproximam muito dos temas sobre os quais a artista já vem se debruçando desde o início de sua trajetória: a cidade, o urbano, a arquitetura e a construção civil. No entanto, se nas obras anteriores Ana Holck utilizava materiais pré-fabricados, industrializados, como blocos de concreto, tijolos e vinis adesivos, nesta nova fase a artista resolveu experimentar, pela primeira vez, materiais mais maleáveis. “Não sou ceramista, a porcelana para mim é um meio a mais para fazer escultura e por isso mesmo sempre quis juntá-la com outros materiais”, conta a artista, que usa uma fita de aço inox maleável, com mola, para essa combinação com a porcelana. Formada em Arquitetura e Urbanismo, a artista utiliza em suas obras muitas questões ligadas a sua formação, mas de forma diferente. “Minha percepção do espaço com base na temporalidade da experiência vem da arquitetura, mas procuro desconstruir o que aprendi, aceitando o improviso, o acaso, o acidente”, diz. Apesar do encanto pelo novo material, Ana Holck encontrou na cerâmica um desafio às suas obras monumentais, que marcam sua trajetória. A solução para aumentar a escala veio a partir de peças que se encaixam, com módulos e repetições. O aço inox entrou como um elemento de ligação. “Este metal que utilizo tem uma mola, que dá estrutura, o que me atraiu bastante. Os “arranjos” dos tubos de porcelana geram um núcleo a partir do qual o metal se expande no espaço, gerando um desenho que não é muito controlado, no qual há um dado de surpresa”, conta a artista que, apesar de utilizar um material bruto e maleável, ela o subverte, transformando a porcelana em tubos de bitolas regulares, pré-estabelecidas, através de uma prensa chamada extrusora. “A passagem pelo equipamento apaga as digitais deixadas pela manipulação do barro, tornando-o impessoal, indo contra sua natureza moldável e imprimível”, ressalta. Além disso, os materiais são afastados de sua funcionalidade original: a cerâmica, que em seu uso cotidiano costuma conter algo, em potes, vasos e louças, aqui torna-se passagem para o metal, que cria desenhos no espaço.

Esses desenhos, por sua vez, criam um jogo de luz e sombra. “A incidência da luz sobre os trabalhos projeta uma sombra que, por sua vez, reforça a ideia de dinâmica e de velocidade das três séries e causa também uma sensação de prolongamento desta grafia no ambiente, criando desenhos no espaço”, afirma o curador Felipe Scovino, que destaca, ainda, que, apesar de não serem trabalhos cinéticos, a ideia de dinamismo e velocidade explora esse aspecto. Além disso, ele ressalta que há, nestes trabalhos, uma referência ao construtivismo russo e ao minimalismo norte-americano.

Séries em exposição

Na mostra serão apresentadas as séries: “Entroncados”, “Enroscados” e “Estirados”.

“Entroncados”, série composta por esculturas feitas a partir da junção aleatória de partes de tubos de porcelana, que são previamente produzidos pela artista. Em seguida, são passadas, por dentro deles, uma única fita de aço inox, gerando um inesperado desenho no espaço. “Antes frágil, a porcelana é agora testada pela força da mola da fita de inox, que percorre e tensiona o tubo de cerâmica, a parede, o ar. A passagem de uma única fita de metal que percorre os tubos gera um segundo desenho, não premeditado”, conta a artista, que vê neste título a questão urbana, sugerindo vias que se entroncam.

Já “Enroscados” são caracterizados pela repetição de módulos curvos, onde a fita de metal completa os desenhos circulares sugeridos pelos tubos em porcelana. “Nesta série temos um movimento repetitivo e obsessivo do metal percorrendo os tubos como calhas, que cumpre este papel de errar, desviar, sair do eixo. Me interessa a repetição dos elementos e sua organização no espaço”, afirma Ana Holck.

A última série, “Estirados”, se relaciona com a primeira, mas é composta por elementos lineares, criando uma tensão maior entre a rigidez da cerâmica e a maleabilidade do metal. A mostra será acompanhada de um catálogo em formato e-book a ser lançado ao longo do período da exposição.

Sobre a artista

Ana Holck (Rio de Janeiro, 1977) é formada em Arquitetura e Urbanismo pela FAU/UFRJ (2000), com Mestrado em História pela PUC-Rio (2003) e Doutorado em Linguagens Visuais pela EBA-UFRJ (2011). Inicia sua trajetória nos anos 2000, com instalações de grande formato, entre as quais, Elevados, no Paço Imperial (2005), Bastidor, no CCBB RJ (2010) e Splash, no SESC Pinheiros (2010). Entre suas principais mostras individuais estão Perimetrais, MdM Gallery, Paris (2013); Perimetrais, Zipper Galeria, São Paulo (2012); Ensaios Não Destrutivos, Anita Schwartz Galeria, Rio de Janeiro (2012); Os Amigos da Gravura. Museu da Chácara do Céu (2010). Entre as coletivas estão: Coleção Edson Queiroz, Fortaleza (2016), Edital Arte e Patrimônio, Paço Imperial (2014), Mulheres nas coleções João Sattamini e MAC Niterói (2012)  Lost in Lace, no Birmingham Museum and Art Gallery, Inglaterra (2011); 1911-2011 Arte Brasileira e depois na Coleção Itaú Cultural. Paço Imperial (2011); AGORA simultâneo, instantâneo. Santander Cultural, Porto Alegre (2011); Trilhas do Desejo, Rumos Artes Visuais 2008/2009. Itaú Cultural (2009); Borderless Generation: Contemporary Art in Latin America. Korea Foundation, Coréia do Sul (2009); e NOVA ARTE NOVA. CCCBB RJ e SP (2008/2009). Possui obras nos acervos do Itaú Cultural, Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAM Rio, MAM São Paulo, MAC Niterói, entre outros. A artista está no recém-lançado livro “Remains – Tomorrow: Themes in Contemporary Latin American Abstraction”, organizado por Cecília Fajardo-Hill.

Sobre o curador

Felipe Scovino é professor Associado do Departamento de História e Teoria da Arte e do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRJ. Foi curador de exposições como Lygia Clark: uma retrospectiva (cocuradoria com Paulo Sérgio Duarte, Itaú Cultural, São Paulo, 2012), Cao Guimarães: estética da gambiarra (Cavalariças, Parque Lage, Rio de Janeiro, 2012), Emmanuel Nassar: estes nortes (Centro de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, 2012), Barrão: Fora daqui (Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, 2015), Narrativas em processo: Livros de artista na coleção Itaú Cultural (Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2019), Franz Weissmann: o vazio como forma (Itaú Cultural, São Paulo, 2019) e Abraham Palatnik: a reinvenção da pintura (co-curadoria com Pieter Tjabbes, CCBB, Brasília, 2013; CCBB, Rio de Janeiro, 2017), que recebeu o prêmio de melhor exposição pela APCA em 2014. É organizador de diversos livros e ensaios sobre arte brasileira para catálogos e periódicos nacionais e internacionais. Foi professor visitante no Departamento de Artes da Universidad de Chile, em 2014, e da University of the Arts, Londres, em 2021. Escreve regularmente para Artforum desde 2017 e escreveu para a Folha de S. Paulo entre 2015 e 2016. Entre 2017 e 2020 foi curador do Clube de Gravura do MAM-SP.

Jarbas Lopes na Pinacoteca

A Gentil Carioca tem o prazer de anunciar Jarbas Lopes: eixos, com curadoria de Renato Menezes, na Pinacoteca de São Paulo. A abertura acontece neste sábado, dia 25 de novembro, das 11h às 18h.

A mostra, que fica em cartaz até 31 de março de 2024, é dividida em quatro eixos conceituais (Desejo, Flutuação, Ambiente e Temperatura) e reúne obras históricas e inéditas, entre elas uma instalação criada especialmente para a ocasião. O conjunto dos trabalhos celebra o corpo, a rua e a natureza, e ocupa o 4º andar do edifício Pina Estação e o estacionamento do museu.

Jarbas movimenta ideias, ressignifica objetos, idealiza magias e amplia, a partir de suas obras, o conceito de utopias possíveis, Vive e trabalha em Maricá, Rio de Janeiro. Seu processo criativo permeia uma reconfiguração dos objetos e das experiências estéticas, dando-lhes um novo significado e movimento, sempre permeados por um tom crítico.

Os jardins de Wilson Cavalcanti

23/nov

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS, instituição da Secretaria de Estado da Cultura do RS – Sedac, e o Banrisul apresentam a exposição “Wilson Cavalcanti – Os jardins que me habitam”. A mostra será inaugurada no dia 25 de novembro, às 10h30, em evento aberto ao público, e seguirá em exibição até 18 de fevreiro de 2024, ocupando duas salas no 2º andar expositivo do Museu. A exposição é parte da ampla programação comemorativa, alusiva ao aniversário de 70 anos do MARGS, a ser celebrado em 27 de julho.

A exposição

A exposição “Os jardins que me habitam” é a primeira a trazer uma compreensão mais abrangente e histórica sobre a produção artística de Wilson Cavalcanti, o Cava. Contemplando os mais de 50 anos de trajetória do artista, sendo também a sua primeira individual apresentada pelo MARGS, a mostra apresenta uma abordagem que revisa e aprofunda o entendimento público da sua diversificada e extensa produção, desenvolvida em desenho, gravura, pintura e objeto. Além de trazer a parte mais reconhecida e consagrada de seu trabalho, sobretudo o viés figurativo e expressionista em gravura e pintura; redimensiona a sua obra ao trazer a público produções menos conhecidas, a exemplo de seus desenhos-pinturas, suas pinturas-objetos, os procedimentos construtivos e os flertes com a abstração, assinalando a importância em sua poética pessoal e a relevante contribuição no contexto das transformações do meio de arte e das convenções do fazer artístico vivenciadas por sua geração na história da arte sul-rio-grandense. Assim, a mostra revela um artista inquieto, polivalente, em constante produção e que pauta a sua prática artística em grande parte pelo emprego dos procedimentos experimentais e mesmo conceituais que desenvolve. São apresentadas mais de 100 obras, realizadas desde os anos 1970, incluindo parte de seus trabalhos que integram o Acervo Artístico do MARGS, onde está representado com mais de 30 obras.  Organizada e realizada pelo MARGS, a exposição tem curadoria de Felipe Caldas, curador convidado, e Francisco Dalcol, diretor-curador do MARGS, com produção de José Eckert, Núcleo de Curadoria do Museu.

Sobre o artista

Wilson Cavalcanti, Pelotas/RS, 1950, notoriamente conhecido por Cava, é artista e professor, com atuação também como educador social no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, onde foi aluno de Paulo Peres e Danúbio Gonçalves, também foi professor do Atelier Livre, Participou do Festival de Inverno de Ouro Preto, estudou gravura em metal com Assunção Souza, cursos com Carlos Martins, Marília Rodrigues. Teve trabalhos publicados em jornais e revistas como Folha da Manhã, Pasquim, Zero Hora, Versus, Planeta. Sua obra foi exibida no Uruguai, Argentina, Chile, Alemanha, França, Holanda, Grécia, Canadá, México, Japão, Espanha e Egito, Ponto de Arte. Possui obras nos acervos: MARGS, Pinacoteca Aldo Locatelli de Porto Alegre, Fundação Vera Chaves Barcellos, Pinacoteca Barão de Santo Ângelo da UFRGS, Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, Museu de Artes Visuais Ruth Schneider, Museu de Arte Contemporânea de Curitiba, Museu Casa da Xilogravura, Viamão.

Pesquisas e processos artísticos

22/nov

A Brazil Jewelry Week (BJW) anuncia sua 5ª edição, nos dias 24, 25 e 26 de novembro, na Casa de Cultura do Parque, Alto de Pinheiros, São Paulo, SP, local que abrigou com sucesso sua primeira edição em setembro de 2019. A escolha do local ressalta a temática central deste ano, “Curadoria de Si”, que propõe uma análise das obras significativas na trajetória dos artistas participantes. Sob a curadoria de Jurandy Valença e coordenação de Chrissie Barban, o evento é uma reflexão sobre o início da pesquisa e do processo artístico, bem como as produções mais recentes, simbolizando um retorno completo, visualmente representado como uma metáfora de uma mão adornada por joias.

A BJW, para além da exposição, contempla palestras e performances no auditório da Casa de Cultura do Parque, com a participação do renomado joalheiro mexicano Jorge Manilla, embaixador internacional da BJW e uma premiação aos vencedores entre os joalheiros participantes. A 2ª e 3ª edições foram realizadas virtualmente, sendo o retorno presencial consolidado na 4ª edição, em dezembro de 2022, na Biblioteca Mário de Andrade. Este último evento contou com um seminário acompanhado pela exposição de mais de 100 artistas, incluindo aproximadamente 80 joalheiros latino-americanos. Tanto a Casa de Cultura do Parque quanto a Biblioteca Mário de Andrade são espaços culturais de grande relevância na cidade de São Paulo e no Brasil.

A curadoria de Jurandy Valença reúne na BJW artistas de oito países, incluindo Brasil, Espanha, Argentina, Chile, Colômbia, México, Paraguai e Venezuela. “ A “Curadoria de Si”, além de iluminar a trajetória de cada artista – pontuando suas criações mais importantes, aquelas que falam, principalmente, de si – também procura relacionar as criações, as joias ao corpo, ao físico e àquele que também é constituído de pensamentos, percepções, emoções, alumbramentos. Adornar a pele, o corpo é algo que vem da pré-história quando os humanos usavam dentes, ossos, pedras, conchas, sementes e pedaços de madeira como símbolos de poder, de status e também de magia. A natureza e o seu próprio corpo ou o de animais eram fonte da matéria prima para a produção de amuletos, jóias, adornos”, explica o curador.

As obras expostas, selecionadas por meio de convocatória aberta, destacam-se por marcar e continuar marcando a trajetória e o processo criativo dos participantes. A exposição, composta por mais de 140 obras, será apresentada durante os três dias do evento, seguindo até março de 2024 na sede do Núcleo Arte Vestível, em Pinheiros, SP.

A BJW consolida-se anualmente como um evento de significativa importância não apenas no cenário da joalheria no Brasil, mas também globalmente, reafirmando seu papel destacado no mundo da arte e da joalheria. O auditório da Casa de Cultura do Parque recebe uma potente agenda de palestras com profissionais da joalheria latino-americanos que discorrem sobre temas diversos e diferenciados. Enquanto sentimentos positivos enriquecem e engrandecem o interior de cada ser vivo, as joias cumprem o papel de evocar o belo, adornar a pele e transmitir mensagens subliminares da alma.

“A Joalheria Contemporânea é focada na interação constante com a diversidade cultural; a coexistência múltipla entre diferentes culturas, sem hierarquias, para um crescimento mútuo.” – Chrissie Barban

Sobre o curador e organizadores

Jurandy Valença (Maceió, AL 1969) – Vive e trabalha em São Paulo. Artista visual, curador, jornalista e gestor cultural, atua na área há mais de 25 anos, e atualmente é Diretor da Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo. Foi diretor adjunto do Centro Cultural São Paulo (CCSP), coordenador geral dos centros culturais e teatros da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo; coordenador geral da Oficina Cultural Oswald de Andrade e diretor de projetos do Instituto Cultural Hilda Hilst, em Campinas (SP). Como artista visual e curador, realiza trabalhos em fotografia desde 1998. Participou de mais de 70 exposições, entre individuais e coletivas; e já realizou mais de 20 curadorias. Entre suas curadorias mais recentes destacam-se “Revelando Hilda Hilst” (2020), no MIS/SP, em homenagem aos 90 anos de nascimento da autora paulista; “Uma Ontologia do Vazio” (2020), com esculturas, objetos e fotografias do artista visual Elias Muradi; e “Paisagem/Passagem” (2021), ambas na Fundação Mokiti Okada, em São Paulo; “Hiância” (2021), na Oficina Cultural Oswald de Andrade (SP), com os artistas Eva Castiel e Bruno Ferreira; “O Vazio Abarcado” (2022), em Campinas, na Casa de Vidro, com os artistas Aline Moreno e Jeff Barbato; “O mais profundo é a pele” (2023), na Belizário Galeria, em São Paulo; e na Pinacoteca de São Bernardo do Campo, a coletiva “Zonas de Sombra” (2023), com obras de 9 artistas.

Jorge Manilla (Cidade do México, MEX) – Vive e trabalha na Bélgica. Filho de uma família de ourives e gravadores mexicanos, estudou artes visuais na Academia de San Carlos, no México. Recebeu formação altamente técnica em joalheria na Academia de Artesanato e Design do Instituto Mexicano de Belas Artes. Em 2003, obteve o diploma de bacharel em escultura na Royal Academy of Fine Arts de Ghent. Um ano depois matriculou-se na Faculdade de Arte e Design da Universidade St Lucas, onde obteve em 2006 o título de Mestre em Joalheria e Ourivesaria. Ao criar joias, Jorge Manilla investiga o seu ambiente – religião, emoções, relacionamentos e o sentido da vida. Nos últimos anos, o artista redescobriu o seu amor pela cor preta. Para o artista o preto relaciona-se com algo oculto, secreto e desconhecido e, como resultado, cria um ar de mistério. Mantém as coisas engarrafadas, escondidas do mundo. Suas formas e formas escuras criam uma barreira entre os significados dos objetos e o mundo exterior. Preto implica autocontrole e disciplina, independência e força de vontade. Dá uma impressão de autoridade e poder. Para Manila o preto é o fim, mas o fim implica sempre um novo começo. Quando a luz aparece, o preto se torna branco, a cor dos novos começos. Paralelamente às suas atividades profissionais como artista, atualmente também trabalha como investigador e faz o seu doutoramento sob o título Other Bodies Design na Royal Academy of Fine Arts de Antuérpia, cidade onde também ensina e ministra workshops em diferentes universidades de Arte e Design em todo o mundo. Sua obra tem sido exibida em diversas exposições internacionais e pertence a coleções, públicas e privadas, nos cinco continentes.

Chrissie Barban (São Paulo, SP 1984) – Vive e trabalha em São Paulo. Bacharel em Moda pela Faculdade Belas Artes (SP); Pós-graduação na Central Saint-Denis Martins (Londres, ING). Joalheira desde 2001, fundadora do Núcleo de Joalheria Contemporânea, conceitua e lança A BJW. Fascinada pela vida, investiga o mundo ao redor de maneira visceral com uma singularidade que reverbera nas ações que conduz. Cria e assina coleções de Joalheria Contemporânea para a mecenas Alexandra Fructuoso da Maison Alexandrine (São Paulo, Los Angeles e Dubai). Desenvolveu joias para a cantora e atriz Jennifer Lopez. Faz mentorias na escola/laboratório Núcleo de Joalheria Contemporânea e, há mais de 20 anos, desenvolve sua marca autoral de joalheria contemporânea. Se inspira nas diferenças e as cultiva. Aprecia o diverso e o solicita.

Novo livro de Marcio Pimenta

Às 10h30 deste sábado, dia 25, Marcio Pimenta lança seu livro de fotografias “O Homem e a Terra” no auditório do Instituto Ling, Três Figueiras, Porto Alegre, RS. O livro é uma exploração documental e artística. Fotógrafo da National Geographic, Marcio Pimenta viajou pela América do Sul com o objetivo de pesquisar, testemunhar e documentar uma questão importante em tempos de emergência climática: como o Homem se relaciona com a Terra para explorar recursos naturais e quais impactos na paisagem e nas gerações futuras descendem dessa ação.

Sobre o autor

Marcio Pimenta é explorador, fotógrafo, cineasta e palestrante. Membro do The Explorers Club e da National Geographic Explorer. Sua obra se dedica a testemunhar a História da Humanidade, marcada por conquistas e perdas. Formado em Economia, com doutorado em Estudos Americanos pela Universidad de Santiago do Chile, em 2013 abandonou a carreira acadêmica para se dedicar a carreira de contador de histórias visuais. Testemunha de acontecimentos importantes do nosso tempo, Pimenta espera que o resultado do seu trabalho seja utilizado para estudos antropológicos, sociológicos, econômicos, geográficos, históricos e estéticos. Atua em regiões como a Antárctica, Patagônia, Guerra do Iraque e Amazônia. Seu trabalho foi apresentado em diversas publicações impressas e on-line em todo o mundo, incluindo National Geographic, Rolling Stone e The Wall Street Journal. É autor de dois livros: “Yazidis” e “O Homem e a Terra”.

Joias em reflexão sobre a terra

17/nov

Casulo Escola de Joalheria e M.O.A. Estúdio, Pinheiros, São Paulo, SP, expõe “OQUEVEMDATERRA”, uma mostra coletiva com a presença do artista plástico Marcus Moa e 13 artistas joalheiros exibindo, aproximadamente, 200 trabalhos autorais de refinada técnica criativa e construtiva. Esta exposição, que celebra a estreita relação entre a humanidade e a natureza, tem vernissage agendado para 21 de novembro, terça-feira, às 18 horas, ficando aberta à visitação até 26 de novembro.

“OQUEVEMDATERRA” explora a criatividade de seus artistas, utilizando técnicas inventivas além de conceitos autorais para transmitir suas reflexões sobre a terra, os rios, os minerais, a vida e o conceito primeiro de sustentabilidade.

“A terra, em sua superfície sólida da crosta terrestre onde pisamos, é muito mais do que um mero suporte físico – é a base de nossa existência, um organismo vivo que nutre, sustenta e inspira”, diz Marília Arruda Botelho. Os artistas joalheiros – Adriana Bellinello, Ana Lucia A.G. Marino, Darlene Zambotti, Daniela Rosa, Esperança Leria, Fernanda Colucci, Jacque Basso, João Victor Lioi, Julia Marques, Maria Regina Mazza, Marília Arruda Botelho, Valeria Navarro e Viviana Terra – exploram as complexidades dessa conexão de forma diversa e expressiva. As peças, com conceito e manufatura individual e artesanal, oferecem uma ampla variedade de abordagens artísticas, incluindo serigrafia e jóias, proporcionando a cada um, uma reflexão profunda sobre seu papel na preservação do elemento vital. “OQUEVEMDATERRA” se mostra como um indicador aos visitantes para que comecem a considerar a forma como as consequências de suas ações, tanto individuais como coletivas, podem afetar o meio ambiente, servindo como um lembrete de que somos os únicos responsáveis por cuidar do planeta. Pedras, metais e demais insumos utilizados tanto na confecção das peças como nas obras de arte são certificados e/ou reciclados.

Em participação especial, o trabalho do artista Marcus Moa, cuja inspiração provém da arquitetura brasileira das décadas de 1950 a 1970, bem como de seus elementos constituintes, desde a parte construtiva até o paisagismo. O M.O.A. Estúdio cria projetos utilizando-se da técnica de serigrafia para imprimir suas obras autorais, com materiais de baixo impacto ambiental. Entre suas referências estão mestres renomados como Vilanova Artigas, Oscar Niemeyer, Burle Marx e Athos Bulcão. “OQUEVEMDATERRA” é um tributo à arte, à joalheria e ao planeta com expografia e direção de arte assinadas pela artista e publicitária Patricia Sper, e cenografia botânica de Paulo Sabiá. “A CASULO Escola de Joalheria e M.O.A. Estúdio convidam todos aqueles que se predispõem a inspirar ação, conscientização e um compromisso renovado com o respeito à proteção do nosso planeta”, diz Moa.

O Carnaval no IBEU

Carlos Vergara, um dos expoentes da história da arte brasileira, é o convidado para celebrar a retomada das atividades da Galeria de Arte IBEU, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ. O artista inaugurou a exposição individual “Devassos no Paraíso”, com curadoria de Ulisses Carrilho. Na exposição, o público conhecerá uma série de fotografias produzidas durante a década de 1970, além de pinturas e monotipias recentes relacionadas ao tema do Carnaval do Rio de Janeiro.

A mostra permanecerá em cartaz até 09 de fevereiro de 2024.

A dinâmica vital de Janaina Tschäpe

16/nov

As estrelas de Janaina Tschäpe conversando em voz alta é a exposição que encerra a programação de 2023 na Fundação Iberê Camargo, Porto Allegre, RS. Com curadoria de Luisa Duarte, esta será a primeira exposição da artista teuto-brasileira na capital gaúcha e poderá ser visitada de 25 de novembro a 18 de fevereiro de 2024.

Em “Janaina Tschäpe – Estrelas conversando em voz alta”, a mostra apresenta 39 obras da artista, radicada em Nova York há 27 anos, entre pinturas, aquarelas e desenhos, além de fotografias e livros de artista.

“Estrelas conversando em voz alta” é o resultado deste processo, que habita um território maleável entre realidade e fabulação. Exuberantes e impactantes, as pinturas têm um aspecto líquido e translúcido que recorda contornos vegetais, animais ou minerais em paisagens silvestres e subaquáticas. O repertório de formas orgânicas da artista se compõe em grandes superfícies animadas pelo movimento dos seus gestos: os riscos velozes que traça com bastões a óleo sobrepõem-se à fluidez de pinceladas mais largas. A natureza não é retratada fielmente na obra de Janaina Tschäpe, mas tem sua dinâmica vital traduzida em termos pictóricos, em grandes superfícies que envolvem o público numa ambiência inquieta.

Como escreve a curadora Luisa Duarte para o catálogo, “a intensidade dos gestos da artista, que levam o olhar a percorrer velozmente toda a superfície da tela, parece remeter a um silêncio grávido de palavras, pois envolto em uma inquietude tangível, como se a densidade própria de toda floresta doasse um ethos grave à cena. Na mão contrária se encontra o trabalho que dá nome à exposição, Estrelas conversando em voz alta, realizado especialmente para a ocasião da atual mostra na Fundação Iberê, que, com seus verdes, vermelhos e laranjas, nos fazem imaginar uma noite na qual o sol se fez presente”.

“Ao nos determos nos trabalhos que fazem parte dessa produção aqui reunidos nota-se, de maneira evidente, como a técnica serve à sua poética, e não o inverso. Aqui, o olhar é lançado para diferentes direções transitando entre opacidade, brilho e transparência. Se ao fundo, por vezes, a caseína aquosa ainda se faz presente, doando translucidez, no primeiro plano o óleo sempre tem protagonismo. O uso de bastões possibilita uma simultaneidade entre pintura e desenho, conferindo um gestual de cunho caligráfico às obras. Certa vez escrevi que os traços da artista no interior de suas pinturas “remetem à escrita automática dadaísta, ou mesmo ao gesto da criança de rabiscar sem finalidade precisa.”  Mais recentemente, foi dito sobre estas telas que estamos “diante de uma escrita repleta de rabiscos-arranhões entre o signo e o traço mudo, entre a iminência de uma forma significante e a pura expressão gestual”, complementa a curadora.    

Sobre a artista

Janaina Tschäpe é uma artista do mundo. Nasceu em Munique, filha de pai alemão e mãe brasileira. Quando tinha um ano de idade, sua família mudou-se para o Brasil, onde morou no Rio e em São Paulo. Aos onze, todos retornaram à Europa, onde Janaina Tschäpe permaneceu até os 16 anos. Pouco tempo depois, ela fez as malas de volta para o Brasil, desta vez para Curitiba, onde cursou o então colegial. Retornou à Alemanha para graduar-se na Academia de Arte em Hamburgo. Recém-formada, mudou-se para Berlim a fim de fazer alguns cursos e, aos 21 anos, aterrissou no Brasil pela terceira vez para estudar a cultura afro na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Em 1996, Janaina Tschäpe rumou para Nova York para um mestrado na School of Visual Arts (SVA), mas agora seria definitivo. Seu primeiro bairro foi o East Village, o epicentro da arte vanguardista. Em 2000, mudou-se para o Brooklyn, mesmo prédio onde instalou seu ateliê. Ficar junto do estúdio deu mais liberdade à artista e o tempo ganho foi uma virada de chave. A pintura se desenvolveu em termos de materiais, tecnicamente falando, na qual ela passou a utilizar novos materiais (BC1), como bastões de óleo e caseína, uma tinta que lhe deu espaço para desenhar em cima com lápis aquarela.

“Quando estive em Paris para instalar uma exposição, comprei uma mala inteira de bastões a óleo e comecei a experimentar. Como o bastão é grosso, você pode tanto desenhar como pintar. Então o desenho vai entrando na pintura de uma maneira muito mais suave e transparente”, conta Tschäpe. Com o óleo, você cria uma relação com as camadas, a textura, o tempo de secagem. Por outro lado, é um material que tenta te controlar, você entra em cada pintura meio sem saber como vai sair”, diz. Representada pela Fortes D’Aloia & Gabriel, Janaina Tschäpe realizou recentemente as exposições individuais “Soy mi proprio paisaje”, CAC Málaga, Málaga, Espanha (2023); “Restless Moraine”, Sean Kelly, Nova York, Estados Unidos (2023); “FIRE just sparkles in the sky”, Carpintaria, Rio de Janeiro, Brasil (2022); “Counterpoint#5” – (exposição solo), L’Orangerie, Paris, Franca (2021); e “Janaina Tschäpe and Ursula Reuter Christiansen: Das Unheimliche”, Den Frie Center of Contemporary Art, Copenhagen, Dinamarca (2021). Participou também das coletivas “The Big Picture”, Night Gallery, Los Angeles, Estados Unidos (2023); “Earth Works, Hunt Gallery”, Webster University, Luxembourg City, Luxemburgo (2021) e “Abundant Futures”, TBA21, Córdoba, Espanha (2021). A artista tem trabalhos em importantes coleções públicas, incluindo 21st Century Museum of Contemporary of Art, Kanazawa, Japão; Banco Espírito Santo, Lisboa, Portugal; Centre Pompidou, Paris, França; Clifford Chance Collection, Nova York, Estados Unidos; Fondation Antoine de Galbert, Paris, França; Fondation Belgacom, Bruxelas, Bélgica; FRAC Champagne-Ardennes, Reims, França; Harvard Art Museum, Boston, Estados Unidos; Instituto Inhotim, Brumadinho, Brasil; Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; Kandinsky Library Collection, Centre Pompidou, Paris, França; Moderna Museet, Estocolmo, Suécia; Mudam Musée d’Art Moderne Grand Duc Jean, Luxemburgo; MAM – Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, Brasil; Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, Espanha; National Gallery of Art: Washington DC, Estados Unidos; Polk Museum of Art, Lakeland, Estados Unidos; SMAK – Stedelijk Museum voor Actuele Kunst, Gent, Bélgica; The Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York, Estados Unidos; Tokyo Roki Co. Ltd, Tóquio, Japão e TBA21 – Thyssen-Bornemisza Art Contemporary, Viena, Áustria.

A Fundação Iberê tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo GPS, Grupo IESA, CMPC, Savarauto Perto, Ventos do Sul, DLL Group, Lojas Pompéia e DLL Financial Solutions Partner; apoio da Renner, Dell Technologies, Pontal Shopping, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, e realização do Ministério da Cultura/ Governo Federal.   

Homenageando Emanoel Araujo

14/nov

A Simões de Assis, Jardins, São Paulo, SP, inaugurou a mais recente exposição individual de Emanoel Araujo (Santo Amaro da Purificação, 1940).  Com texto do professor, pesquisador, artista e amigo de longa data de Emanoel Araujo, George Nelson Preston, essa será a primeira mostra após o falecimento do artista em 2022. Em “Afrominimalismo”, vemos sua produção de relevos brancos, alguns inéditos, em que se pode reconhecer uma conexão entre sua visão africanista e universalista. Esses trabalhos congregam a síntese formal do pensamento de Emanoel Araujo quanto à abstração geométrica, estabelecendo também um íntimo diálogo com a instalação do artista na 35ª Bienal de São Paulo. Em cartaz até 16 de deaembro.

OS RELEVOS BRANCOS DE EMANOEL ARAUJO

Relações entre os nexos de causalidade de um visionário africanista/universalista

Prólogo

Nesta exposição em que os relevos brancos de Emanoel Araujo são o foco, reconhecemos um nexo da sua visão africanista e universalista. Em “Emanoel Araujo: Afrominimalista Brasileiro”, propus um cânone do formalismo africano como a principal estética que norteou seu trabalho. Aqui, gostaria de revisitar brevemente essa proposição e atualizá-la. Consideremos também o neoconcretismo brasileiro, o minimalismo, o relevo como meio clássico antigo e o cânone têxtil africano. Se essa mistura parece anômala, consideremos o fato de que, desde o início de sua carreira, Araujo teve um temperamento enciclopédico e considerável interesse pelos relevos greco-romanos, pelo barroco e rococó brasileiros e pela história da arte em geral. Pertinente à nossa discussão aqui é o seu interesse pelos relevos clássicos e tecidos africanos, que têm muito em comum com os cânones gerais da escultura clássica africana.

Estamos habituados a ver antigos relevos gregos e romanos e os seus estilos reavivados em mármore branco, esquecendo-nos de que o tempo corroeu a policromia original. A este respeito, o clima seco foi mais favorável aos relevos egípcios. Os reavivamentos neoclássicos – nos quais o imaculado mármore branco era o suporte – afetam ainda mais nossas percepções. Nos relevos coloridos e nas esculturas de Emanoel, esse drama é representado em tons primários que se refratam em seus próprios tons e matizes.

A ausência de cor nos relevos brancos de Araujo resulta nas sutilezas e na dramaticidade da luz que performa uma escala de cinza – indo do branco, passando pelos cinzas intermediários, até voltar ao branco. Ao visualizar suas peças brancas, os relevos coloridos se tornam uma “película” onipresente em nossa experiência. A nossa experiência é “colorida” da mesma maneira quando nossa imaginação preenche a policromia perdida dos relevos greco-romanos.

A Corrente

No início da década de 1970, o cenário estava sendo montado para uma síntese das inspirações e influências de Araujo. Suas gravuras de formas mínimas feitas em grande escala, evocativas dos têxteis africanos, foram transformadas quando ele dobrou o papel das impressões em forma de máscara e as enrolou a partir da superfície, ocupando as três dimensões. Essas “Gravuras de armar” (1972) foram “o encaminhamento do artista em direção ao tridimentional”.

Devemos considerar também a afinidade dessas gravuras com o neoconcretismo brasileiro do final da década de 1950 e início da década de 1960, talvez, em particular, com a obra de Lygia Clark e de Hélio Oiticica. Nessa exposição, a conversa com o neoconcretismo brasileiro e as formas geométricas bidimensionais das primeiras gravuras podem ser apreciadas nas obras sem título de 2019.

Universalidade e o Cânone Africano

Em 1976 e 1987, e em ocasiões subsequentes, Araujo visitou o Benin e a Nigéria. Os oráculos de seus ancestrais nagô-iorubá haviam-no chamado. Em 1987, não poderia ter conhecido Emanoel Araujo de forma mais oportuna. Isso resultou na publicação de “Emanoel Araujo: Afrominimalista Brasileiro” – meu catálogo para a retrospectiva de dez anos do artista no MASP4.

Aqui estava um suposto minimalista “infectando” flagrantemente o estrito cânone minimalista com inflexões narrativas, culturais e históricas: daí o termo “afrominimalista”.

À época, eu havia identificado vários reflexos da estética africana na obra de Araujo no catálogo do MASP, como a tensão entre um eixo implícito e um eixo real, a repetição rítmica de formas primárias ou mínimas, e a repetição dessas formas interrompidas por surpresas formais, inversões como fugas e motivos pars pro toto – em que uma parte saliente de um objeto representa sua totalidade. O ambiente afro e ameríndio baiano, o barroco e o rococó brasileiros, o concretismo e o minimalismo formam uma corrente interligada. Em 1977, do Prado Valladares descreveu Araujo como um humanista “artista do mundo do conhecimento”. Isto é, não um “investigador de símbolos” paroquial ensinando sobre África. A partir disto, podemos concordar que Araujo projeta seus africanismos como uma linguagem universal em que a iconografia é secundária ao poder emocional e psicológico de um formalismo convincente que desperta em nós a “meta” da iluminação.

Envoi

Quatro níveis de relevo são empregados desde os tempos antigos. São relevos baixos, médios, altos e afundados. O relevo afundado, no qual não há projeção da forma para fora, mas é esculpido abaixo ou no espaço pictórico, é extremamente raro. Em vários relevos brancos, este plano afundado – que é a parede atrás – ganha uma curiosa presença de alteridade palatável. Essa manipulação dos vazios não é de forma alguma recente, sendo um tema recorrente desde a transição de Araujo, no início dos anos setenta, do figurativo para o abstrato.

Para este escritor, é de particular interesse o enorme relevo branco da mostra. É o contraste ou, melhor dizendo, o diálogo entre as suas grandes dimensões e o baixo relevo uniforme que vibra entre ser um enorme repousé e uma gigantesca peça de tecido africano. Penso que este relevo é uma homenagem à criatividade dos pigmeus Twa que vivem entre os povos Kuba , no centro da República Democrática do Congo.

Ainda mais enigmáticas são as obras “Totem angulares vazados” (2015) e sua companheira sem título. Essas obras não são relevos nem esculturas independentes. São estelas – outra forma antiga… São estelas devido à sua esmagadora frontalidade. E combinam aspectos de baixo, alto e médio relevos fluindo entre si. Num intrigante tour de force, como se fosse um léger de main xamânico, o espaço negativo das estelas funciona como o vácuo dos relevos afundados. Na minha imaginação, despejo os rios sinuosos do Brasil nesse vazio, “desdobrando” águas sinuosas na geometria dos têxteis africanos.

George Nelson Preston, PhD, Professor Emérito, CCNY/CUNY – Acadêmico da Cadeira Pierre Verger, Academia Brasileira de Belas Artes, Rio de Janeiro.

Laura González: Nova Consultora

13/nov

É com grande entusiasmo que a Galatea anuncia que Laura González passa a colaborar como Consultora de Desenvolvimento do Programa Internacional, ajudando a expandir os horizontes de nossos artistas e projetos.

Laura é historiadora da arte, consultora e estrategista cultural baseada em Londres. Ela é co-fundadora da themust.co: uma nova plataforma de e-commerce que vende objetos funcionais criados por artistas, utilizando moda e design como oportunidades para cultivar novas comunidades de colecionadores e apoiadores de arte.

Desde 2015, atua como consultora privada e curadora de coleções de arte moderna e contemporânea na América Latina, Europa e Estados Unidos. De 2011 a 2015, co-fundou e dirigiu o departamento de Arte Latino-Americana na Phillips em Nova York, amplamente reconhecido por expandir no mercado internacional o alcance de artistas conceituais e abstratos da região.

Nascida e criada em San Juan, Porto Rico, Laura possui bacharelado em História da Arte pela Universidade de Yale e mestrado pelo Courtauld Institute. Durante seus estudos em Yale, voltou-se para o modernismo da Europa Ocidental enquanto trabalhava como curadora bolsista na galeria de arte da universidade. No Courtauld Institute, se especializou em práticas experimentais na arte latino-americana e do leste europeu a partir dos anos 1950 até o presente, escrevendo sobre os desafios que essas perspectivas trazem para abordagens críticas tradicionais.