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AGENDA CULTURAL

Boneca de papel no Paço Imperial

18/abr

 

A exposição individual de Maria Fernanda Lucena permanecerá exposta no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ,  até 20 de maio, quando a artista apresenta “Boneca de papel”, sua nova série de trabalhos. As obras exibidas começaram a ser pensadas através de práticas comuns à artista, o recorte e a colagem, fazeres que ela considera lúdicos por rememorarem modos de brincar, além de gestos costumeiros ao universo da moda, um dos pilares da sua produção. Frequentadora da feira de antiguidades da Praça XV, no Centro do Rio de Janeiro, garimpa fotografias 3×4 e, partindo delas, elabora imagens sobrepostas. Sutura os rostos desconhecidos com figurinos de artistas da cultura pop e de suas referências musicais.

As pinturas de tinta a óleo sobre papelão são sustentadas por molduras em escala humana, medindo 1,80 metros de altura. O ornamento de madeira, que geralmente delimita, se transforma em parte integrante dos trabalhos, utilizado como um anteparo que divide e compartimenta, mas também possibilita frestas, além de impulsionar a construção de ambientes vazios e ecos, em uma narrativa labiríntica.

“Lucena cria um jogo de identidades. Há em suas pinturas humor e uma certa nostalgia, fruto das memórias que escolheu revolver. Suas figuras ganham corpo no modo que criou para exibi-las, são passantes, mas nos entregam algo”, ressalta Bruna Araújo, que responde pela curadoria da exibição.

 

Sobre a artista

Maria Fernanda Lucena nasceu em 1968 no Rio de Janeiro. Depois de estudar e trabalhar com indumentária e design de moda, ingressou na EAV- Parque Lage – frequentando diversos cursos onde passa a se dedicar ao desenho e à pintura. Suas exposições individuais foram curadas por Efrain Almeida, na C. galeria, e na galeria Sem título, e por Cesar Kiraly “A intimidade é uma escolha”, na galeria de Arte Ibeu, em 2017, no ano anterior foi vencedora do prêmio “Novíssimos”. Em projetos coletivos expôs a convite dos curadores Brígida Baltar, Isabel Portella e Marcelo Campos. Integra coleções particulares e o acervo do Mar – Museu de Arte do Rio.

 

A arte cinética de Soto

 

Pioneiro da arte cinética, o artista visual venezuelano Jesús Rafael Soto teve como foco em sua criação a busca pelo movimento em suas obras.  O artista inovou criando peças que pareciam ter vida própria e que instigavam a mobilidade, a dinâmica e a vibração. Celebrando o centenário do artista, a DAN Galeria, Jardim América, São Paulo, SP, que comemora 50 anos de trajetória e representa Soto desde a década de 1990, ocupa até 30 de junho, as suas duas unidades na capital paulista com a mostra “Jesús Soto – Cor, Forma, Vibração”, com curadoria assinada por Franck James Marlot.

A música fez parte da vida artística de Soto no mundo das artes. Ele inicialmente se inspirou nas estruturas concretas de Mondrian e assumiu o desfio de criar uma obra que fosse além da síntese estética alcançada pelo artista, agregando uma nova dimensão, que é o movimento na arte. Soto percebeu na música o jogo com duas camadas compostas pela linha rítmica constante e pela linha melódica variável, com relações entre as duas ao longo das composições. Foi assim, unindo pintura e música, que Soto por meio da exploração da vertente da pintura abstrata, primeiro com sobreposições usando a transparência do plexiglass, e depois referindo-se às sobreposições de sons e ritmos, concebeu a técnica de arte cinética em seus trabalhos.

Sua obra desafia a fronteira entre arte e investigação científica, habilitando uma nova interação entre o sujeito e a obra. A individual apresentada pela DAN destaca 30 obras do artista produzidas entre as décadas de 1960 e de 2000. A mostra inclui dois trabalhos de dimensões arquitetônicas, expostas pela primeira vez em galeria: “Paralelas” (1990), e “Penetrável BBL Jaune” (1999). Além destas, algumas obras da série “Paralelas Vibrantes”, outras da série “Sínteses”, e uma seleção de esculturas em aço, alumínio, nylon, pvc, plexiglass e pintura sobre madeira, também ocupam o espaço expositivo. Esta é a primeira exposição individual realizada na unidade da DAN Contemporânea.

Sobre as obras do artista, comenta o curador Franck James Marlot “O deslocamento do espectador provoca efeitos visuais de “moiré” que dão a ilusão de um movimento rotativo rápido da espiral. O movimento aparece sem motorização. Com esta demonstração, Soto introduz a noção de espaço-tempo na sua obra, ativada pelo olho do espectador, que desenvolve não só uma dinâmica espacial, mas também temporal. É neste momento singular de diálogo em que a experiência entre o espectador e a obra, o objeto cinético, em sua singularidade, permite a multiplicação infinita de pontos de vista e cria uma imagem vibrante e em movimento, implicando experiências visuais mais amplas”.

 

 

O atelier de Santo

 

No dia 22 de abril, sábado, o artista paulistano Santo abre sua primeira exposição-solo no Rio de Janeiro. Será no Parque das Ruínas, Santa Teresa. Ocupação com mais de 60 obras tem curadoria de Denise Terra e reproduz o atelier do artista, com visitação até 21 de maio.

“Toda vez que eu me coloco entre o pincel e a tela, uma força me toma. Te convido a ser junto. Te encontro no topo. Das ruínas. De Nós”.

Com esta declaração-manifesto de Santo, já é possível conceber a energia que permeia a exibição que leva seu próprio nome. Com a intenção de transportar o público para dentro de seu atelier, serão reproduzidos alguns de seus processos criativos – dos materiais aos “astrais”. A exposição faz um recorte da fase artística inicial à atual, e divide-se em duas partes: galeria e ruínas. Na galeria, o público terá acesso ao espaço vivido em um atelier, com obras concentradas em uma parede de 14 metros, todas sem molduras. Já as ruínas propõem um diálogo silencioso com a alma do artista. As obras e o espaço se entrelaçam,formando um ambiente imersivo. As pinturas possuem dimensões que vão de 70 centímetros a 10 metros de altura. Duas delas, as de maiores proporções, foram criadas ao vivo em performance realizada dentro da própria instituição, especialmente para esta ocasião. Somente uma obra terá moldura, customizada pela Metara.

Certa vez, SANTO chegou a dizer que a Arte representa o lugar mais legítimo e sem limites de ser o divino-humano nesse plano. E assim será nesta mostra. “Quando entrei no Parque, me arrepiei. Soube desde então que ocupar a galeria e as paredes das ruínas, com tudo de mim, seria de fato o maior, mais exigente e mais belo desafio até aqui”, afirma.

A curadoria assinada por Denise Terra, responsável por parte de seu escritório independente de arte e também agente dos projetos e trabalhos do artista. “Santo expressa força e provoca ativação do sentir de forma não linear: quebra regras, desconforta e transgride a razão. A exibição propõe uma autorização de ser, viver e se expressar a partir do livre e desconhecido de cada um”, diz.

 

Sobre o artista

Autodidata, Santo nasceu e vive em São Paulo. Santo pintou sua primeira tela em 28 de maio de 2018 e, desde então, ganhou espaço em grandes coleções particulares no Brasil e no exterior, além de metaverso (nfts). Suas obras não se prendem a métodos, formas, molduras, plataformas. Muito pelo contrário. Do papel á madeira, tecido, lona, papelão e materiais de descarte, foram produzidas mais de 600 pinturas até hoje. Elas desvelam figuras fortes em traços livres e combinações improváveis de cores, que provocam a sensação de estar diante de algo que escapa à razão. Como uma afronta, uma transgressão. Um convite ao coração.

 

Sobre a curadoria

Denise Terra se formou como artista visual na EAV/Parque Lage, onde foi aluna de grandes artistas, e na Scholl of Art, Londres. Iniciou sua carreira como escultora logo em seguida, se debruçando sobre a pintura. Convidada por campanhas publicitárias internacionais, dedicou-se, durante 10 anos, junto com a pintura, à direção de arte e também como colorista. Atualmente além de realizar trabalhos autorais, é cofundadora do escritório de arte Santo, onde é agente do artista Santo e responsável pela gestão de projetos e da carreira do artista.

 

 

Artista selecionada

17/abr

 

Jeane Terra, artista representada por Anita Schwartz Galeria de Arte, do Rio de Janeiro, foi a artista selecionada na SP-Arte pelo EFG Latin America Art Award, em associação com ArtNexus e colaboração de Fernando Oliva, professor e curador do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), junto com Celia Sredni de Birbragher, diretora e editora da ArtNexus. Os dois trabalhos de Jeane Terra exibidos no estande de Anita Schwartz Galeria de Arte na SP-Arte – “Virtuoso” (2022) e “Margem” (2022) – são feitos em sua técnica singular, patenteada, de pintura seca feita em montagem de 1cm x 1cm em pele de tinta sobre tela, com tamanhos de 143cm x 100 cm e 141,5cm x 100 cm, respectivamente.

O EFG Latin America Art Award – com o desenvolvimento estratégico da Liaisons Corporation – é anual, e foi criado para apoiar a produção de artistas latino-americano e promover as feiras regionais entre colecionadores em todo o mundo. O prêmio tem um corpo de jurados para escolher artistas nas feiras SP Arte, em São Paulo; PArC, em Lima; arteBA, em Buenos Aires; Ch.ACO, em Santiago do Chile e ArtBo, Bogotá. Em sua décima-terceira edição, o prêmio anunciará na feira Pinta Miami (06 a 10 de dezembro), durante a semana da Art Basel, o artista vencedor, que terá uma obra adquirida pelo EFG Capital, que tem sua coleção sediada em Miami.

Jeane Terra conta que recebeu “com imensa alegria esta nomeação ao EFG Latin America ArtAward, na SP-Arte”. “Este tipo de prêmio fomenta o artista, o nosso meio, nossa pesquisa. É importante e necessário, e eu estou imensamente agradecida e feliz pelo olhar dessas pessoas sobre meu trabalho, para a história que quero contar através da minha arte. São muitos anos de dedicação a ouvir e colher histórias de outras pessoas, de lugares, em cima de uma pesquisa alquímica de materiais. Este prêmio vem pra mim como uma resposta muito importante, como artista, e pra minha pesquisa. Me dá força para seguir em frente, me encoraja ainda mais”, disse a artista.

Anita Schwartz comemorou o fato de Jeane Terra ter sido “escolhida entre tantos artistas na SP-Arte”.  “Foi um reconhecimento de grande importância para a pesquisa de Jeane, que desenvolveu uma técnica muito particular como suporte para suas obras, e que vem ao longo dos anos abordando as conseqüências das ações dos homens contra a natureza. Representar Jeane Terra e o seu trabalho é um orgulho para a galeria, e a sua estreia na SPArte não poderia ser melhor”, destacou a galerista.

 

Sérvulo Esmeraldo no CCBB Rio

 

Chama-se “Linha e Luz”, a exposição retrospectiva do ilustrador, gravurista, pintor e escultor cearense Sérvulo Esmeraldo (1929-2017), um dos mais completos artistas brasileiros, atual cartaz do CCBB, Rio.

Reconhecido no Brasil e no exterior – viveu por longos anos durante a Ditadura militar em Paris – , Sérvulo Esmeraldo tinha domínio de várias técnicas, do entalhe à xilogravura, passando pela utilização de tecnologias aplicadas na geração de efeitos cinéticos, óticos e eletromagnéticos. Apesar da pluralidade técnica, sua obra possui uma coerência interna, baseada em elementos simples e em um tratamento sintético das formas. A curadoria é de Marcus Lontra e Dodora Guimarães.

Até 26 de junho.

 

 

Revisitando vínculos históricos

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, Luz, São Paulo, SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, em parceria com a E-Manuscrito, lançou o livro “Por uma Descolonização da Imagem – o marfim africano na arte colonial do Oriente”, de autoria do Prof. Dr. Jorge Luzio. A publicação aborda a arte colonial através dos marfins, bem como os processos desta circulação nos contextos do Império português. O autor, por meio de sua pesquisa, permite ao leitor margear dois continentes, África e Ásia, além de conectá-los ao Atlântico, convidando-o a refletir sobre os vínculos históricos entre mundos aparentemente tão distantes, como a Índia e o Brasil, tendo o continente africano como ligação entre eles.

A obra inclui estudos conjuntos em história dos dois continentes africano e asiático, com inserções e paralelos com história ambiental e museologia. Os estudos permitem uma análise desde o comércio das presas de elefantes na economia colonial e a força desse comércio sobre a fauna africana, até as temáticas voltadas aos estudos de iconografias a partir do acervo da coleção de marfins do Museu de Arte Sacra de São Paulo. O terceiro bloco de textos apresenta um repertório iconográfico com parte das obras do acervo, a serem observadas a partir das referências artísticas de culturas da Índia pré-colonial. Isso auxilia o leitor a assimilar a complexidade do debate proposto sobre a arte colonial no Oriente português.

“Por uma Descolonização da Imagem – o marfim africano na arte colonial do Oriente” destaca a importância das novas abordagens da museologia com as questões decoloniais, construindo alternativas de metodologias e práticas pedagógicas com horizontalidade e engajamento. O pensamento decolonial se desprende de uma lógica de um único mundo possível e se abre para uma pluralidade de vozes e caminhos. “Descolonizar a Imagem não é algo fácil, tampouco simples, enquanto tarefa propositiva de novos diálogos que florescem da percepção e da observação visual no confronto com o que a Imagem poderá trazer: a ambivalência do deleite e da dor. No caso dos marfins, não há como deixar de se analisar os efeitos da mercantilização sobre os animais, seus ecossistemas e toda uma cadeia de destruição”, explica Jorge Luzio.

O evento de lançamento foi uma oportunidade para refletir sobre a complexidade das relações históricas e visuais entre diferentes continentes e culturas, além de ampliar o debate sobre o papel dos museus e da educação na construção de uma sociedade mais plural e inclusiva e também para visitar uma pequena exposição montada em vitrines selecionadas no MAS/SP com peças do acervo da instituição. O evento estará aberto ao público e terá a presença do autor.

“Descolonizar a Imagem é, portanto, também ser por ela visto, em jogos de espelho, pois como a vemos diz muito de nós mesmos; é enxergar, por fim, para além do que os olhos nos revelam, ou seja, como a História se desloca no tempo, e como carrega consigo as rupturas e as permanências, mesmo quando não a vemos num primeiro olhar”.  Jorge Luzio

 

Sinopse do livro

Este livro é uma coletânea de artigos e textos inéditos do autor, que tem como ponto de partida um estudo sobre a coleção de marfins do Museu de Arte Sacra de São Paulo. A obra discute temas relevantes para a pesquisa sobre marfins, como o mapeamento de acervos, o colecionismo e a investigação em inventários, centros de documentação e arquivos coloniais, em diálogo com a perspectiva decolonial. Além disso, busca estabelecer conexões entre a História da Arte e a Educação, estimulando a interação entre Escola, Museologia e núcleos de pesquisa. Aproximando-se de áreas como História da África, História da Ásia e História Ambiental, a obra propõe novas abordagens para os estudos sobre marfins, suscitando reflexões sobre o papel da arte na sociedade, a preservação do patrimônio e o ensino de História. Com uma linguagem clara e acessível, o autor propõe avanços significativos na área de estudos de marfins e na relação entre arte e educação. A publicação dá sua contribuição como elemento adicional como fonte à pesquisa em arte e história.

 

 

 

Exibição temática no Inhotim

 

A titulação extensa “Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro”, refere-se a exposição, em cartaz na Galeria Lago, Inhotim, MG. Dividida em cinco núcleos (Novo poder: reformulando uma vanguarda; Vidas públicas; Vida e aspirações do negro; Elas Falam; e Reescrita da história: construção e afirmação da identidade), que estabelecem um diálogo com temas como questões de representação e identidade da figura do negro na sociedade de época passada, e os relaciona à produção contemporânea de artistas brasileiras e brasileiros.

A mostra traz obras de cerca de 30 artistas e coletivos: Aline Motta, Ana Elisa Gonçalves, Antonio Obá, Arjan Martins, Desali, Elian Almeida, Erica Malunguinho, Eustáquio Neves, Gustavo Nazareno, Januário Gárcia, Juliana dos Santos, Kika Carvalho, Larissa de Souza, Lita Cerqueira, Moisés Patrício, Mulambö, Nacional Trovoa, No Martins, O Bastardo, Panmela Castro, Paulo Nazareth, Pedro Neves, Peter de Brito, Rafael Bqueer, Robinho Santana, Ros4 Luz, Rosana Paulino, Sidney Amaral, Silvana Mendes, Tiago Sant’Ana, Wallace Pato, Yhuri Cruz, Zéh Palito.

Até 16 de julho.

 

7 artistas no MON

 

Vale registrar que a exposição “Carne Viva – Ambiguidade da Forma”, realizada pelo Museu Oscar Niemeyer (MON), Curitiba, PR, reuniu o trabalho de sete artistas: Washington Silvera, Hugo Mendes, Eliane Prolik, Cleverson Salvaro, Cleverson Oliveira, Cíntia Ribas e Carina Weidle. Com curadoria de Bruno Marcelino e Jhon Voese, a mostra contou com 55 obras, além de textos poéticos de Arthur do Carmo, e poderá ser vista até 16 de abril na Sala 7.

“Temos aqui um feliz encontro de gerações de artistas paranaenses que têm forte ligação com o MON”, diz a diretora-presidente do Museu Oscar Niemeyer, Juliana Vosnika. “Cada um a seu modo, estes artistas transformam a matéria e produzem uma realidade diferente do que vemos no cotidiano. Usando os mais diversos materiais – desde os mais brutos como o concreto até os mais refinados como a laca polida, ou da cerâmica vitrificada até a imbuia esculpida -, fazem com que a forma, em seu sentido mais amplo, seja seu discurso”, comenta.

Segundo os curadores, a exposição oferece a oportunidade de revisitar a expressão “natureza da arte” e retomar sua pertinência. “Em vez de classificar os trabalhos mediante suas propriedades formais, ela descreve sensibilizações e reflexões possíveis, mas que escapam às determinações corriqueiras”, dizem. “Talvez seja esse o efeito da forma ambígua, cujo ânimo também percorre as palavras de Arthur do Carmo.”

Quatro gerações de artistas estão reunidas na mostra. A proposta é aproximar o público e demonstrar na prática a potência estética e política de cada discurso, que pode ser sutil ou mais explícita, mas está presente em cada obra. O visitante percebe que a maioria dos trabalhos é tridimensional, o que evidencia a intenção de permitir um diálogo da exposição com o espaço físico do museu. A mostra ocupou quatro ambientes, além da “antessala”, onde é apresentada uma instalação sonora assinada pelos artistas Eliane Prolik e Cleverson Salvaro.

 

As abstrações de John Nicholson

13/abr

 

A exposição “On the Wind” abre na Galeria Patrícia Costa no dia 19 de abril. Nesta exposição, John Nicholson mostra obras recentes e inéditas sob curadoria de Vanda Klabin.

Na fase atual revelada em “On the Wind”, individual que ocupa a Galeria Patrícia Costa, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, até meados de maio, o artista afirma que “simplificar algo que não é nada simples”, deixando de lado, por ora, o elemento figurativo e as cenas do cotidiano já tanto retratados em sua longa trajetória, retomando o estilo abstrato e as formas geométricas, permeados pelo movimento de pinceladas fluidas. A historiadora e curadora Vanda Klabin selecionou, entre diversos trabalhos desta produção recente (2020 a 2023), cerca de 13 pinturas em tinta acrílica de cores vibrantes sobre telas de grandes formatos, dípticos e trípticos, medindo até 3 metros, além de pequenas aquarelas. Expostas pela primeira vez ao público, as obras ostentam nomes criativos, alguns extraídos de letras de jazz, gênero musical que por vezes embala a criação no ateliê: “On the Summer Wind”, “Doing Day for Night”, “Ventos Leves Chegando do Oeste” e “The Endless Summer Ends as the Autumn Breeze Begins”. Por força do acaso, a exposição abre em pleno outono, no dia 19 de abril, permanecendo em exibição até 13 de maio.

 

A palavra da curadora

“John Nicholson exerce uma intensa disciplina no seu ateliê em Copacabana, RJ. O exercício livre da pintura é o seu principal veículo expressivo. A presença primordial de vibrantes combinações de planos de cromáticos preludiam a construção de seus trabalhos e de sua poética tonal. É em torno das questões no campo da pintura, tomada como fio condutor do seu trabalho, que John Nicholson sinaliza os novos discursos da sua experiência estética. As telas em grandes formatos estão presentes em seus atuais trabalhos e, por vezes, os dípticos são realizados em momentos diferenciados, trazendo um repertório particularizado e sua própria visão da linguagem artística. As pinceladas coloridas provocam oposições espaciais, que configuram relações prováveis, mas não necessárias. Sua ordenação espacial é permutável, as pinceladas flutuam pela superfície da tela e não estão submetidas a nenhuma gravidade, beneficiadas pela emergência de seus diversos procedimentos artísticos. A distribuição irregular de ritmo e cores se diluem, ao mesmo tempo em que aparecem. Extensos planos de cores, que muitas vezes escoam, perdem a sua massa corpórea ou flutuam no perímetro da tela, aqui são chamadas a depor sobre o território sensível da pintura e sua contemporânea vitalidade”, diz Vanda Klabin.

 

 Sobre o artista

 

John Nicholson está radicado no Brasil desde 1977, artista norte-americano, John Nicholson veio para o Rio de Janeiro, aos 26 anos, depois de se graduar na Universidade de Houston e na Universidade do Texas em Austin. Iniciou a carreira como professor de pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage em 1980, ano em que participa de diversas mostras coletivas no Rio de Janeiro e produz, em conjunto com Luiz Aquila e Claudio Kuperman, a “Grande Tela”, gigantesco painel que representa um claro manifesto de afirmação da pintura. No Parque Lage, teve como alunos alguns artistas ilustres, como Cristina Canale, Adriana Varejão e Daniel Senise.

 

Sobre a curadora

Vanda Klabin é cientista social, historiadora de arte e curadora de artes plásticas. Trabalha como consultora e curadora independente para diversos museus, instituições e editoras. Foi editora de várias revistas e catálogos de arte e colabora com textos diversos e realiza entrevistas com artistas contemporâneos. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.

 

 

Vânia Mignone no Instituto Tomie Ohatake

 

 

Um grande mural dedicado à tragédia yanomami recebe o público que poderá visitar mais de cem obras nos múltiplos suportes constituintes da trajetória da artista. Na esteira dos projetos que o Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, tem realizado nos últimos anos para abrir novas investigações acerca da representatividade e da importância de artistas mulheres, o espaço paulistano traz agora a exposição “De tudo se faz canção” que, com curadoria de Priscyla Gomes, observa em retrospectiva a trajetória de Vânia Mignone, permanecendo em cartaz até 04 de junho.

Com um amplo panorama, a exposição, com mais de uma centena de obras, resgata os percursos da artista nos mais diversos formatos: desenhos, colagens, ilustrações para obras literárias, capas de discos, gravuras e pinturas. O conjunto reunido chama atenção pela vivacidade das cores, pela expressividade de figuras em grande dimensão, além da diversidade de suportes e técnicas que aparecerem conjugados, mostrando um vasto universo de experimentação, em que referências da propaganda, do design, do cinema, das histórias em quadrinhos e da música convivem com trabalhos em escalas distintas. Segundo Priscyla Gomes, “As narrativas exploradas por Vânia destacam-se pelo modo como ela articula desde questões prosaicas até aspectos latentes da cultura e da política brasileiras”.

A mostra empresta seu título de um verso da música Clube da Esquina nº 2, de Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges, composta para o álbum homônimo de 1972. A partir das conversas entre a curadora e a artista, a proposta foi resgatar a importância da MPB no processo criativo de Vânia. A artista paulista faz recorrente alusão ao seu anseio de fazer de sua pintura canção, contagiando aquele que a observa. “Vânia construiu para si uma estrada, incorporando a música popular brasileira ao seu processo criativo cotidiano de ateliê”, destaca a curadora do Instituto Tomie Ohtake.

Priscyla Gomes enfatiza a síntese sinérgica que constitui o repertório da artista, marcado por letreiros de outdoors e pela xilogravura. “Seu vasto léxico remete-se ainda à qualidade de incorporar elementos fundamentais dessas referências, dentre eles, a coesa relação entre imagem e palavra”.

O mural em grande escala e cores vibrantes dedicado ao recente episódio da tragédia humanitária yanomami, prossegue a curadora, não nos deixa esquecer que fazer canção é também refletir sobre o silêncio e suas consequências, sobre como narrar o desmedido e o intragável. “Em meio a tantos gases lacrimogênios, os trabalhos de distintas épocas dessa retrospectiva nos convidam a fabularmos, criando nossa própria canção, uma viagem de ventania pelas estradas por Vânia trilhadas até aqui”, completa.

 

Sobre a artista

Vânia Mignone, 1967, Campinas. Vive e trabalha em Campinas. É Bacharel em Publicidade e Propaganda pela PUC-Campinas e Bacharel em Educação Artística pela UNICAMP. Entre suas exposições individuais destacam-se: Ecos, Museu de Artes Visuais da UNICAMP, Campinas (2019); Eu poderia ficar quieta mas não vou, SESC, Presidente Prudente (2017); Casa Daros, Rio de Janeiro; Cenários, Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo (2014). Participou de diversas exposições coletivas como: Por um sopro de fúria e esperança, Mube, São Paulo (2021); Crônicas Cariocas para Adiar o Fim do Mundo, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro (2021); Língua Solta, Museu da Língua Portuguesa, São Paulo (2021); 1981/2021: Arte Contemporânea Brasileira na Coleção Andrea e José Olympio Pereira, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (2021); Mulheres na Coleção do MAR, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro; Mínimo, Múltiplo, Comum, Pinacoteca, São Paulo; 33ª Bienal de São Paulo – Afinidades Afetivas, Fundação Bienal, São Paulo (2018).

 

 

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