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AGENDA CULTURAL

Artista francês em Ipanema

20/set

 

 

Expoente da arte contemporânea da França ocupa, com obras inéditas e recentes, os dois andares da galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, em sua primeira exposição na cidade. Com obras em coleções prestigiosas como a do Centre Georges Pompidou, em Paris, e representante de seu país na Bienal de Veneza em 2017, Xavier Veilhan mostra esculturas em vários materiais e formatos – três delas interativas -, e um grande móbile, de 4,5 metros, que exploram seu interesse em criar espaços e contextos que alteram a experiência do espaço e a percepção do tempo. Em paralelo à exposição, a Cinemateca do MAM já exibiu filmes de Veilhan.

 

Sobre o artista

 

Xavier Veilhan (1963, Lyon, França, radicado em Paris) é conhecido por trabalhos que transitam entre escultura, pintura, instalação, performance, vídeo e fotografia. Na exposição estarão qinze obras, entre esculturas de dois metros de altura, esculturas cinéticas em madeira, e um grande móbile, de 4,5 metros de altura, que oferecem ao público uma excelente oportunidade de conhecer o trabalho deste grande artista. A originalidade das suas proposições, que tensionam a relação entre o bidimensional e o tridimensional, resulta em espaços e contextos que alteram a experiência do espaço e a percepção do tempo, um dos interesses do artista. Sua obra está em coleções de importantes museus, como o Centre George Pompidou, e além de exposições em instituições de arte ele se interessa por espaços públicos, e já realizou obras específicas para locais em várias cidades do Japão, Coréia do Sul, EUA, Suíça, Suécia, Itália, Portugal, China e França. Suas exposições e intervenções in situ em cidades, jardins e casas questionam nossa percepção ao criar um envolvente percurso em que o público se transforma em participante ativo.

 

 

Exposição em Portugal

 

A exibição de “Rivane Neuenschwander: Sementes Selvagens” é a primeira exposição individual da artista em Portugal, no Museu de Serralves, Porto, centrando-se no seu mais recente filme – “Eu sou uma arara” (2022) – que terá a sua estreia mundial em Serralves.

 

Realizado em colaboração com a cineasta Mariana Lacerda, este média-metragem é uma crítica e reflexão sobre o impacto do desmatamento da Amazônia sobre seus povos indígenas, em um momento de particular tensão política e social. Este trabalho também é fruto de um longo período de pesquisa e de uma série de ações em São Paulo, onde dezenas de figuras inspiradas na flora e fauna do Brasil desfilaram pelas ruas da cidade.

 

Herdeira do legado histórico das vanguardas do pós-guerra, do Neoconcreto à Tropicália, Rivane Neuenschwander (n. 1967) é um dos nomes mais celebrados da arte contemporânea brasileira. Em seu trabalho, a artista utiliza diversos suportes e mídias para criar um universo único explorando narrativas sobre temas diversos, como linguagem e tempo, literatura e cultura popular, psicanálise e arte, natureza e sociedade, política e filosofia, medo e desejo. Uma de suas obras mais icônicas, “Eu desejo o seu desejo” (I Desire Your Desire) de 2003, uma coletânea de “desejos” que lembram “Senhor do Bonfim Fitas/pulseiras de desejo brasileiro”, serão colocadas na Capela da Vila de Serralves. A exposição tem curadoria de Inês Grosso, curadora-chefe do Museu de Arte Contemporânea. Desde 20 de setembro.

 

Beatriz Milhazes em NY

 

Na sua primeira exposição em Nova York em mais de uma década, Beatriz Milhazes apresenta “Mistura sagrada” na Pace Gallery, apresentando dez novas pinturas e uma escultura móvel em grande formato. Os motivos florais e geométricos de Milhazes – entre arabescos e mandalas – têm um aspecto cinético que leva a uma experiência ampliada da pintura, criando uma atmosfera em movimento que extrapola a bidimensionalidade do plano.

Até 29 de outubro.

 

 

Ocorrências visuais de Bechara na LURIX

16/set

 

A LURIXS: Arte Contemporânea, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, apresenta até 28 de outubro “Nervo Combustão Fluxo”, exposição individual de José Bechara, com texto de Felipe Scovino.

 

Em sua sexta exposição individual na galeria, o artista ocupa as duas salas expositivas do prédio para apresentar 15 obras inéditas entre oxidação de metais sobre lona e esculturas em vidro. Como aponta Scovino: “O que reúne, com mais força, as obras nesta exposição é o fato de estarem em moto-contínuo mesmo em um estado de aparente repouso. Há uma ação, um devir, que acontece ininterruptamente mesmo essas mudanças não sendo perceptíveis a olho nu.”

 

O crítico evidencia também que o artista “não abandonou o grid – um signo constante em sua trajetória -, mas o tornou mais complexo nos últimos anos. Adicionou mais elementos a essa estrutura, transmitindo uma sensação de agilidade e aumentando a potência alegórica de um estado transitório em suas pinturas.” e conclui “Bechara continua, como um dínamo, a produzir novas e incessantes paisagens movidas a combustão e alta intensidade.”

 

Moto-contínuo

Por Felipe Scovino

 

O que reúne, com mais força, as obras nesta exposição é o fato de estarem em moto-contínuo mesmo em um estado de aparente repouso. Há uma ação, um devir, que acontece ininterruptamente mesmo essas mudanças não sendo perceptíveis a olho nu. É de conhecimento daqueles que acompanham a trajetória de José Bechara que o fenômeno da oxidação de emulsão ferrosa e/ou cúprica sobre lona de caminhão é algo que persiste desde o início da sua trajetória. Uma certa magia acontece na distribuição, quantidade e gestualidade que Bechara emprega utilizando as emulsões sobre a lona. Mas quero ir além desse fato notório e apontar que suas obras na última década, uma ínfima parte aqui exposta, evidenciam outros gestos (ou movimentos, se quiserem assim chamar).

 

Bechara também não abandonou o grid – um signo constante em sua trajetória , mas o tornou mais complexo nos últimos anos. Adicionou mais elementos a essa estrutura, transmitindo uma sensação de agilidade e aumentando a potência alegórica de um estado transitório em suas pinturas. Digo isso porque, para além do fato de o artista não abdicar do processo de oxidação na construção de formas geométricas sobre a lona, há outro regime de temporalidade sendo explorado. Se, nas partes oxidadas encontradas na pintura, a passagem do tempo, demarcada pela ação da emulsão sobre a lona, é vagarosa, minuciosa e “imperceptível” à experiência do olho, nas formas que caracterizam o grid, o nosso olhar percorre a superfície da pintura de forma acelerada e descontínua. Não há centro, tudo está a se mover de forma esquiva e instável. Os pontos de cor, chamativos, quentes e espalhados pelos mais distintos pontos da lona, intensificam essa operação. No díptico Margarida Cabeça Stripe (2018), o que prevalece é a oxidação na lona superior, formando metaforicamente não só uma matéria em combustão, mas a constituição de uma paisagem, notadamente, de um nevoeiro. É perspicaz a escolha, até certo ponto ocasional, que Bechara faz de como, onde e com que intensidade o processo químico da oxidação ocorrerá sobre a lona e, em um segundo momento, as formas alusivas ao mundo que são criadas.

 

Bechara também opera pela fratura e podemos observar essa característica sob dois pontos de vista. Primeiro, eu diria, uma fratura que se dá no material escolhido. O artista faz uso, e não são raros os casos, de remendos, isto é, pedaços de lona sobrepostos sobre a lona maior. Essa operação de corte e costura torna aparente um universo de sujidade, gambiarra, fúria, cheiro e atmosfera de metrópole. Essa fratura, por assim dizer, exala visceralidade. A outra possibilidade de fratura é a divisão em módulos de suas pinturas; sejam dípticos, trípticos ou polípticos. Há a dimensão de uma escala que não se contenta em ser diminuta, circunspecta ou regida por uma timidez formal, pelo contrário, ela deseja o espaço. E essa aparição ao mundo se dá de forma conflituada, determinada, impositiva e essencialmente vigorosa.

 

Por suas obras abraçarem sintomas como ruptura e descontinuidade, evidentes na forma como o artista constrói sua malha geométrica e na dispersão espacial dos círculos cheios e vazados, assim como em barras e outras figuras que habitam o espaço de suas pinturas, elas acabam deixando de lado o ofício das sutilezas. A brutalidade própria da lona de caminhão me parece reforçar esse dado. Bechara deixa transparecer em várias obras palavras (como o nome da fábrica que produziu a lona ou a companhia que transportou tal produto guardado sob a lona) e riscos e vincos que reforçam, respectivamente, o lugar e o uso que foram dados a essas lonas. As pinturas continuam a propagar as histórias e memórias das lonas visto que elas – pinturas – são resultado direto desse material. O caráter de desgaste das lonas e, claro, a passagem de tempo ficam marcados no que chamo de “acidentes”, isto é, suas dobras, cortes e sujidades, que por sua vez são incorporados pelas pinturas.

 

O políptico feito com oxidação em cobre, para além de exibir operações geométricas sobre uma malha, leva a pintura de Bechara para outro terreno simbólico. Sua cor, uma tonalidade entre o esverdeado e o esbranquiçado, e seguramente o processo de oxidação que gerou formas e texturas orgânicas, próximas de um material biológico sendo investigado por um microscópio, acabam por associar a superfície da pintura a pele. Não se sabe bem se humana ou de um bicho. De qualquer forma, a pintura passa a representar um padrão biológico que particulariza a superfície da lona.

 

As duas esculturas que fazem uso do vidro como um desenho no espaço corroboram a ideia de fratura. Com caráter de site specific, as placas de vidro são aproximadas, sempre respeitando um intervalo, e eventualmente suspensas, formando uma malha geométrica. As duas obras se estendem ao longo das respectivas paredes em que estão instaladas, criando uma relação temporária com o espaço: afetando e sendo afetadas por ele. A forma como o vidro se apresenta, ora rígido, ora cambaleante, e em outros momentos frágil, especialmente quando é elevado, reforça uma qualidade de inquietude e velocidade da obra. Nesse terreno oscilante, há ainda o jogo de translucidez e opacidade que o vidro leitoso oferece em contraponto ao vidro que não recebe qualquer tipo de tratamento; o vidro não é mais o elemento pelo qual se pode ver através, mas uma instância de obstáculo. Por sua vez, os tubos de neon, em uma das esculturas, estão desejosos de formar figuras geométricas tridimensionais. É a luz quem delimita o desenho, recortando o espaço, produzindo área e dando uma propriedade de ar ao trabalho. A luz também traz um senso de vibração e vigor à escultura, realçando a cor no espaço. Não podemos esquecer que o neon tem uma espécie de aura hipnótica, remetendo aos anúncios comerciais cintilantes, abundantes nos centros urbanos.

 

Os trabalhos em formato circular com a sua superfície em lona sobreposta por listras indicam mais uma vez o caráter dispersivo e fraturado da obra do artista. No andar superior, as pinturas dispostas de forma aleatória sobre a parede enaltecem um olho que não para de se movimentar, determinando as associações formais, cromáticas e fenomenológicas desse conjunto. A cor é protagonista nesse políptico, ao mesmo tempo que veda parcialmente – portanto, sem deixar de exibir – as “ocorrências visuais”, como Bechara chama. As “ocorrências” são os registros – manchas, cortes, vincos, restos de palavras, sua história e memória – contidos na lona que não só compõem uma paisagem abstrata, que é a tônica do trabalho de Bechara, mas singularmente são registros da gestualidade do artista. Em muitos casos, elas não precisam ser pintadas por meio de um pincel, mas eleitas (pelos olhos do artista). É o que Bechara nos ensina. As obras em formato circular de maiores proporções tornam ainda mais evidentes as “ocorrências visuais” e um certo grau informalista da sua pintura. Oxidação se torna mancha, que se torna nuvem, que se torna paisagem. São pequenos pedaços de mundo.

 

Bechara continua, como um dínamo, a produzir novas e incessantes paisagens movidas a combustão e alta intensidade.

 

13ª Bienal do Mercosul

 

 

O evento de artes visuais, 13ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS, sob a titulação geral de “Trauma, Sonho e Fuga” tem abertura para o público em geral a partir desta sexta-feira, dia 16.

 

Após dois anos de pandemia, a exposição oferece o reencontro com arte e a oportunidade de refletir sobre momento atual da sociedade. Esta edição reconhece nos traumas – individuais ou coletivos – o maior combustível da arte de todos os tempos e entende os sonhos como um estratagema para a fuga.

 

Uma instalação de Túlio Pinto, chamada “Batimento”, que interfere poéticamente, com faixas alaranjadas, na paisagem, oferece a possibilidade de sonhar dentro do inusitado e o impacto do trabalho. Outra obra que se destaca é a cabeça gigante do artista catalão Jaume Plensa disposta na frente da Fundação Iberê Camargo, uma arte potente que convida a uma reflexão sobre a dimensão do homem e em sua relação com o meio ambiente. As duas obras serviram como o prenúncio da promessa do curador geral Marcello Dantas ao dizer que a Bienal irá oferecer o impacto no imaginário comum, por meio da ativação do onírico, dos sonhos e dos delírios, abrindo portas para o escape de uma condição imposta a todos nós. “Trabalhando na fronteira entre a arte e a tecnologia, o curador-geral desta edição, a mostra acontecerá em cinco plataformas distintas, cada uma objetivando atingir uma combinação de públicos diferentes e conteúdos originais, provocando de forma disruptiva, sensorial e reflexiva”, pontua Dantas.

 

Participam da Bienal 100 artistas de 23 países, destacando-se:

 

Tino Sehgal, britânico radicado em Berlim, reconhecido por suas performances de situações construídas – nomeadas por ele como interpretações. Ele apresenta “This Element”, que ocorrerá em diferentes espaços expositivos da Bienal.

 

De Marina Abramovic –  artista sérvia – será exibida “Seven Deaths”, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Margs, que recria em vídeo cenas de mortes da cantora greco-americana Maria Callas. A trilha sonora é composta por áreas de óperas interpretadas pela cantora lírica, como “La Traviata”.

 

A brasileira Lygia Clark (1920-1988)terá sua obra também no Margs, pela primeira vez, trechos do diário clínico da artista mineira, umas das mais importantes artistas do século 20. Serão exibidos objetos relacionais confeccionados por ela e utilizados nas sessões de arteterapia com seus pacientes.

 

Jaume Plensa, um dos escultores contemporâneos de maior relevância, terá mostra individual na Fundação Iberê Camargo. Além da escultura que recebe o público, poderão ser conferidos 12 trabalhos compostos de diferentes materiais como resina, aço, ferro, vidro e náilon.

 

O mexicano-canadense Rafael Lozano-Hemmer exibirá cinco obras interativas criadas a partir de seus conhecimentos como cientista físico-químico no Farol Santander. Por meio de dispositivos tecnológicos que coletam em tempo real dados biométricos do espectador, como frequência cardíaca e respiração, suas obras são ambientes responsivos.

 

O Instituto Ling recebe “Hypnopedia”, projeto colaborativo do artista mexicano Pedro Reyes. A proposta é apresentar uma enciclopédia de sonhos por meio de filmes feitos a partir de memórias oníricas.

 

A ideia do curador da Bienal

 

Marcello Dantas, curador-geral, frisa que esta edição da Bienal do Mercosul nasceu do desejo profundo de criar uma situação presencial forte entre as pessoas.

 

“A arte como algo que pudesse ser vivido fisicamente, com a participação do público e dos vetores que estão ligados à exposição”.

 

“Como um evento do outro lado do mundo pode afetar meu sonho, minha estratégia de vida, algo que me aconteceu, e eu não sei como falar a respeito”.

 

“As pessoas precisam encontrar um caminho e uma forma de tornar tangível um sentimento a partir de uma sequência de experiências vividas. O impacto disso é algo latente no mundo e como isso aparece nos sonhos, no inconsciente, interessa e é tema desta Bienal”.

 

Na São Paulo Flutuante de Regina Boni

15/set

 

 

A marchand Regina Boni convoca para sua Galeria São Paulo Flutuante, Brigadero Galvão, 130, Barra Funda, São Paulo, SP, no dia 21 de setembro, às 20hs, a fim de “…prestigiar o encontro musical muito especial dentro da programação” da exposição “Animália 22″, que traz obras de artistas brasileiros sobre esse tema primordial e atual, o bicho. Assucena, Alessandra Leão, Thaís Nicodemo e Manu Maltez, são parceiras de longa data em projetos diversos e se reuniram novamente para bolar essa apresentação que traz canções com o mesmo tema da exposição, entre composições inéditas e clássicos da música popular brasileira. “…Será uma ótima ocasião para quem ainda não viu a exposição, poder desfrutá-la antes de seu encerramento no dia 01 de outubro”, conclui.

 

 

Felipe Cohen em Portugal

14/set

 

 

Em “Sistemas para o poente”, Felipe Cohen apresenta a partir de 17 de setembro na Kubikgallery, Porto, Portugal, um conjunto de pinturas da série “Pálpebras” e duas vitrines. A exposição procura trabalhar o fenômeno da reflexão como elemento ao mesmo tempo construtivo e simbólico. Nas pinturas isso se dá a partir da articulação de formas circulares com linhas horizontais que as atravessam sugerindo diferentes possibilidades espaciais de paisagens de poentes. Já nas vitrines, a reflexão entra como um elemento fanstasmagórico que se relaciona com formas e espaços concretos criando situações espaciais que sugerem diferentes estados dos materiais que as constituem.

 

A prática de Felipe Cohen se desenvolve a partir da tensão entre as formas tradicionais e contemporâneas de dispor o objeto artístico e do estudo e resgate de problemáticas recorrentes na história da arte com intuito de reinterpretar e atualizar seus sentidos no presente. Essa tensão ocorre por meio da articulação de materiais nobres com objetos banais de uso cotidiano, criando, assim, tanto formas paradoxais que são obrigadas a conviver intimamente, quanto atualizações simbólicas de signos e gêneros clássicos em um processo dialético.

 

Sobre o artista

 

Graduado em Desenho e Escultura pela Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, SP, apresentou individuais na Galeria Millan, São Paulo, SP (2013, 2016 e 2019); Kubikgallery, Porto, Portugal (2017); Arco Madrid, Espanha (2016); Capela do Morumbi, São Paulo, SP (2013); Centro Universitário Maria Antonia, São Paulo, SP (2006), entre outros espaços.

 

 

Galatea apresenta Allan Weber na ArtRio

 

 

A apresentação solo de Allan Weber na ArtRio, Marina da Glória, Rio de Janeiro, RJ, entre os dias 14-18 de setembro, vai mostrar um grande conjunto de trabalhos da série “Traficando arte”, na qual o artista traduz e transpõe para objetos, instalações e fotografias, elementos, imagens, situações e narrativas do contexto em que nasceu e vive, a comunidade das 5 Bocas, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

 

A realidade das comunidades no Rio de Janeiro é marcada pelo abismo da desigualdade social, pela violência policial e pelas lutas entre facções. Todas essas situações, porém, não devem ser tomadas como definidoras desses locais, mas sim como fatores constituintes. A produção cultural, artística, musical, literária e as manifestações estéticas da moda são potenciais que emergem dessas localidades e também as definem.

 

O tema principal da produção de Allan Weber é justamente essa complexidade, contraditória e em disputa – tanto material como simbólica – das comunidades cariocas e, segundo o artista, seus trabalhos são fotografias, objetos e ações que questionam e tensionam sua relação com elementos de uma classe social marginalizada e discriminada por sua cultura e comportamento.

 

Partindo desses pressupostos, o título da série “Traficando arte” propõe uma subversão da ideia negativa de tráfico de drogas para uma proposição positiva de tráfico de arte, pensada a partir da noção de troca, negócio e diálogo. Ou, nas palavras do artista: “Minha obra fala sobre a geopolítica carioca e a produzo desconstruindo objetos e códigos usados pelo tráfico de forma subjetiva para a criação de novos conceitos.”

 

Nesse sentido, diversos elementos desse cotidiano cercado pelo tráfico, como armas e embalagens para drogas, são transformados e ressignificados por Weber, tanto na série fotográfica “Traficando arte” como na série de armas construídas com câmeras fotográficas usadas ou na série “Endola”, em que a técnica e material utilizado para fazer pacotes com cargas de maconha se tornam objetos geométricos e conceituais.

 

Elementos da cultura visual e musical da favela também são articuladas em trabalhos pelo artista, como a estética dos cortes de cabelo, os chamados “cortes na régua” ou “cabelinho na régua”, que estão presentes de forma simbólica na série “Régua”, onde as lâminas utilizadas para esses cortes são organizadas de forma geometrizada e coladas em telas, criando composições que dialogam diretamente com a tradição construtiva da arte brasileira. Esse diálogo também é explorado por Weber em uma série de trabalhos feitos com colagens de retalhos das lonas utilizadas nas estruturas de coberturas dos bailes funk, normalmente coloridas e geometrizadas.

 

Também serão apresentados esboços do projeto “Dia de baile”, que surgiu a partir do incômodo do artista em sempre ver os bailes funk sendo retratados de forma marginalizada, como locais de violência, ignorando todo o conhecimento ali produzido, bem como a sua função social e cultural nas comunidades onde são realizados. A primeira edição do projeto aconteceu na exposição “Rebu”, em 2021, na piscina do Parque Lage, e levou para o interior de um palacete em estilo eclético do começo do século 20 uma lona típica dos bailes de favela junto com um paredão de caixas de som que foram ativados numa festa. Criou-se, assim, uma fricção estética e social com o ambiente elitista da zona sul carioca, ao mesmo tempo que se buscou apresentar e convidar o público a conhecer essa manifestação musical e cultural que é o baile funk.

 

A Comédia Humana

 

 

Em exposição o universo encantado de Sônia Menna Barreto, “…um encontro com a arte em seu estado essencial: pesquisa, talento e invenção. Tudo isso temperado com doses generosas de fantasia, de afeto que se espalha por esses objetos repletos de história”, desse modo convida Marcus Lontra, que assina a curadoria de “A Comédia Humana”, para a exposição individual de Sônia Menna Barreto – até 29 de outubro – organizada pela Dila Olveira Galeria, que ocupa duas salas no 3º andar do Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

 

“Sônia cria personagens, paisagens, fragmentos de poesia visual que aquecem o coração: ela caminha por várias geografias, elabora histórias de várias origens, constrói mundos repletos de fábulas, mitologias, verdades e mentiras, amores submersos, desejos silenciosos, vontades recônditas, prazeres, encantos, totens e mandalas, rendas e bordados, dobras do tempo e delicadezas. Em tempos amargos, a arte acaricia. Em tempos apocalípticos, a arte redime. Em tempos apavorantes, a arte ilumina. Em tempos cruéis, a arte subverte. Em qualquer tempo e sempre, a arte salva”, afirma Marcus Lontra.

 

“Tenho uma longa carreira e é um privilégio mostrar minha obras aqui no Rio pela primeira vez. Expor aqui meu trabalho, algumas séries, em mídias diversas”, diz Sônia Menna Barreto.

 

“Para a nossa galeria está sendo uma honra fazer parte deste projeto, apresentando a Sônia Menna Barreto, pela primeira vez, em um espaço institucional. Ela é uma artista plástica fantástica e poder trazer suas obras de arte para os visitantes do Centro Cultural Correios, é de uma enorme relevância”, avalia Dila Oliveira.

 

Sobre a artista

 

Artista visual, tem sua produção artística a mais próxima da expressão do homo ludens, o homem lúdico, e seu espírito criativo trabalha com territórios e personagens que habitam a imaginação das pessoas de todas as idades. Sua técnica origina-se nos pintores flamengos do século XV, misturando hiper-realismo com minúcias da técnica francesa do Trompe L’oeil. Após contato com os trabalhos de Max Ernst, De Chirico, Magritte e Paul Delvaux, a obra de Sônia tomou a direção do Surrealismo. Inicialmente essa fase foi decisiva para sua carreira, passando a desenvolver seu lado intimista e criativo, solucionando os problemas técnicos e temáticos. Hoje, Sônia se apropria de técnicas tradicionais complexas para tratar de questões contemporâneas, e suas pesquisas resultam em criações únicas suportadas por obras de diversas linguagens, como esculturas, pinturas, desenhos e gravuras.

 

 

Artes visuais no Theatro Municipal

 

 

Pela primeira vez o Theatro Municipal, Centro, Rio de Janeiro, RJ, disponibiliza as paredes de seus corredores, em todos os andares, para uma exposição de arte contemporânea, obras do artista ítalo-brasileiro Lúcio Salvatore, compondo a mostra “Intermezzo”. O título se refere ao “espaço entre os atos (intervalo), a possibilidade de uma rachadura”.

 

Segundo o artista, são 24 obras e 2 instalações “que dialogam com a arquitetura e a missão do teatro, importante centro formador de opinião para a cidade e ‘formador do pensamento crítico'”.

 

A presidente da Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Clara Paulino, participou da concepção do projeto com Lúcio Salvatore, fazendo do evento uma elaboração de questões complexas da importante história da instituição, desde a arquitetura do prédio.

 

A ideia de levar a exposição para os andares da galeria e da varanda superior do teatro, denuncia a visão elitista da época do projeto original, que justificava não haver ali acabamentos decorativos, “por serem áreas destinadas à população menos privilegiada”. Para os mais pobres, o despojamento nos acabamentos, sem dourações, sancas ou estatuetas como enfeites.

 

Assim pensou Zaratustra, digo, a Vetusta mentalidade brasileira.

 

As obras apresentadas dialogam com os materiais e técnicas decorativas utilizadas na construção, mármores e mosaicos que Salvatore ressignifica usando mármores e papelões descartados, com uma arte fortemente simbólica e um estilo ‘euro-africano’ de inspiração medieval.

 

A obra central da exposição é o retrato de Mercedes Batista, primeira bailarina afrodescendente a compor o Corpo de Baile do Municipal homenageado pela artista no espaço dedicado à  memória e ao cancelamento.

 

Fonte: Coluna Hildegarde Angel/Facebook

 

Até 31 de outubro.

 

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