Três exposições de Milhazes em dezembro

13/nov

Beatriz Milhazes (Rio de Janeiro, 1960) é uma artista brasileira reconhecida por sua singular produção de um complexo repertório de imagens, formas e cores associadas ao barroco, ao modernismo e a motivos populares brasileiros, como o Carnaval, e também à fauna e à flora tropicais. Sua exposição no MASP – realizada no contexto de um ano inteiro dedicado às “Histórias da dança” – vai apresentar uma ampla seleção de pinturas e colagens produzidas a partir da década de 1990, além de trabalhos inéditos realizados em parceria com a coreógrafa Marcia Milhazes. Realizada em parceria com o Itaú Cultural e com o Instituto Bardi, a mostra contará com três locais de exibição – no MASP, na Casa de Vidro e no Itaú Cultural, onde será curada por Ivo Mesquita. Como as demais, essa exposição será acompanhada por um amplo catálogo com reproduções dos trabalhos expostos e ensaios sobre a produção da artista.

Curadoria

 

Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, Amanda Carneiro, curadora-assistente do MASP, Ivo Mesquita, curador independente.

 

MASP
11.12.2020 – 23.3.2021
Itaú Cultural
12.12.2020 – 28.2.2021

 

 

MAM Río #Abertoparatodos

08/set

Após quase seis meses com as portas fechadas, reabriremos o MAM Rio, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, no sábado, 12 de setembro, trazendo várias novidades: um cuidadoso protocolo de segurança, novas exposições, novos horários e uma nova forma de interagir com o museu – sem cobrança obrigatória de ingresso. ⠀
Desde março, muita coisa aconteceu. Amigos queridos e artistas geniais foram perdidos para a Covid-19. Diversos museus fecharam. E enfrentam muitos desafios para retomar as atividades.⠀
Mesmo em meio à crise, procuramos nos reinventar. Fizemos um amplo processo de escuta dos públicos. Adotamos o home office. Nos recriamos no ambiente digital, com oficinas educativas e festivais de cinema online. Fizemos uma limpeza total dos dutos de ar-condicionado. Abrimos uma convocatória de residências e bolsas de pesquisa em parceria com o Capacete recebendo centenas de propostas. Contratamos novas pessoas e lançamos uma chamada aberta internacional que escolheu a dupla Keyna Eleison e Pablo Lafuente como a nova diretoria artística do museu. ⠀
Agora estamos reabrindo as portas, comprometidos com a visitação de todos os públicos, por meio da contribuição sugerida, que traz a opção do ingresso gratuito. Com isso, confiamos a você a opção de pagar o valor sugerido, contribuir com outro valor ou entrar de graça. O convite à colaboração espontânea é uma nova forma de apoiar o museu como puder.⠀
E estamos confiantes em trazer uma experiência segura aos visitantes. A arquitetura do MAM oferece um espaço amplo de circulação nas áreas expositivas e externas. Com isso, o museu consegue controlar o fluxo, o distanciamento mínimo de 1,5 metro, oferecendo a você um dos espaços culturais mais seguros na cidade. ⠀
Nos próximos dias, você poderá reservar seu ingresso em www.mam.rio e verificar tudo sobre as novas exposições. ⠀
Venha nos ver neste sábado. Ou quando sentir que é o seu momento de sair de casa. A partir de agora, mais do que #Abertos, estamos #Juntos. Um museu para todos, todas e todos.⠀
Agradecemos a Petrobras, Itaú Cultural, Ternium mantenedores do MAM Rio pela Lei Federal de Incentivo a Cultura e ao Grupo PetraGold, patrocinador.
Fábio Schwarcwald

Filme no Instituto Ling

06/fev

A artista Romy Pocztaaruk exibe até 21 de março o filme “Antes do Azul” no Instituto Ling, Porto Alegre, RS. O filme é projetado em looping, na galeria do centro cultural.

 

Ar do tempo

 

Em um ambiente que nos transporta para uma sala de cinema de outros tempos, Romy Pocztaruk nos apresenta seu novo filme, “Antes do Azul”. Durante pouco mais de dez minutos, seremos submetidos a uma sequência de cenas sutilmente narrativas e radicalmente sensoriais, um jorro de imagens-pensamento sobre a existência e a violência, sobre a passagem do tempo, sobre tecnologias de morte, sobre a potência de corpos animais e minerais, sobre a arte como possível rastro a ser deixado pela humanidade quando ela mesma não sobreviver à sua onipotência.

 

Logo no início, em uma das primeiras cenas da projeção, o estranhamento que iremos experimentar já se anuncia na presença de um elemento incomum, uma luva com unhas vermelhas. A mão que veste essa luva busca por cristais reunidos em uma pequena mesa. São substâncias minerais e seu mistério que a também misteriosa mão tateia. Uma mulher negra, vivida pela atriz e cantora Valéria (ex-Houston), ocupa o centro energético do curta. Agora, é ela mesma quem recolhe fragmentos rochosos e os deposita dentro de sua roupa, como se buscando uma fusão entre seus corpos, cindidos há muito tempo. Já aí, nosso olhar não enxerga somente união, mas conflito, impasse áspero, desejo – sentimentos que perpassam todas as imagens.

 

A partir dos gestos dessa personagem, de suas expressões, seus movimentos, sua voz, seus olhares e os olhares a ela dirigidos, o filme se estrutura, construindo um ambiente em que passado, presente e futuro se confundem. Uma boate do século XXI, a guerra nuclear e a era das cavernas. Tudo ao mesmo tempo agora. Cronologias estilhaçadas entre movimentos de dança, fotos estáticas da ciência sedenta de poder, e uma volta à natureza, uma fuga da ideia de ser humano. A cobra morde o próprio rabo.

 

Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência; o impasse do filme é também o nosso: quem sobreviverá à destruição contínua a qual a terra é submetida

 

Gabriela Motta / Proposição curatorial

 

Sobre a artista

 

A artista nasceu em 1983, Porto Alegre, RS, Brasil. Em diversos suportes, Romy Pocztaruk lida com simulações, refletindo sobre a posição a partir da qual a artista interage com diferentes lugares e com as relações entre os múltiplos campos e disciplinas da arte. Diversas vezes premiado, o trabalho da artista está presente em coleções como as da Pinacoteca do Estado de São Paulo e do Museu de Arte do Rio. Ela participou da 31ª Bienal de São Paulo com a série “A Última Aventura”, em que investiga vestígios materiais e simbólicos remanescentes da construção da rodovia Transamazônica, um projeto faraônico, utópico e ufanista relegado ao abandono e ao esquecimento. Suas principais exposições individuais foram “Geologia Euclidiana”, Centro de Fotografia de Montevideo (Uruguai, 2016), e “Feira de ciências”, Centro Cultural São Paulo (2015). Entre as principais exposições coletivas, estão “Convite à viagem: Rumos Itaú Cultural”, Itaú Cultural (São Paulo, 2012); Region 0. The Latino Video Art Festival of New York (Nova York, 2013); a 9ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2013); a 31ª Bienal de São Paulo (2014); “BRICS”, Oi Futuro (Rio de Janeiro, 2014); “POROROCA”, Museu de Arte do Rio de Janeiro (2014); “Uma coleção Particular: Arte contemporânea no acervo da Pinacoteca”, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2015); “Télon de Fondo”, Backroom Caracas (Venezuela, 2015).

 

Exibição do filme Antes do Azul 

 

Duração: 13 minutos

 

O filme é projetado em looping, na galeria do centro cultural.

 

FICHA TÉCNICA

 

Direção: Romy Pocztaruk / Estrelando: Valéria / Texto: Daniel Galera

Direção de Produção: Larissa Ely / Assistente de Produção: Paula Ramos

Direção de Fotografia: Lívia Pasqual / Trilha Original e Desenho de Som: Caio Amon

Ilustração: Matheus Heinz / Figurino: Alice Floriano, Larissa Ely, Romy Pocztaruk, Humans and Aliens

Figurantes: Renata de Lélis, Camila Vergara, Thais Hagermann

Cenografia: Lívia Pasqual e Romy Pocztaruk / Cabelo e Maquiagem: Juliane Senna

Diretor de Elenco: João Madureira / Motorista: Cássio Bulgari

Montagem: Caio Amon, Leonardo Michelon, Romy Pocztaruk

Primeiro assistente de câmera e operador: Deivis Horbach

Elétrica: Daniel Tavares / Finalização & Cor: Rafael Duarte

Design gráfico: Guss Paludo e Romy Pocztaruk

 

Música Original

 

“Fim dos Tempos”  (Caio Amon / Romy Pocztaruk /Daniel Galera) / Voz: Valéria  / “Blue Echoes” (Caio Amon / Romy Pocztaruk /Daniel Galera) / Voz: Valéria

Agradecimentos: Luisa Kiefer, Linha, Prefeitura de Santa Tereza, Casio / Arquivos: NASA, Preelinger Archive, USA Atomic Energy Comission / A exposição tem patrocínio da Crown Embalagens e financiamento do Ministério da Cidadania / Governo Federal.

 

Até 21 de março.

 

 

 

A geometria de Weissmann

09/dez

 

Geometria, cor e cidade se entrelaçam na obra de Franz Weissmann. O escultor, pintor e desenhista Franz Weissmann (1911-2005) ganha uma exposição de três andares no Itaú Cultural, Avenida Paulista, São Paulo, SP. Com curadoria de Felipe Scovino, “Franz Weissmann: o Vazio como Forma” traz um olhar panorâmico sobre a produção do artista, apresentando várias fases de sua criação, e abrange, além de esculturas, 50 desenhos inéditos. Como diz o texto curatorial, a mostra “… é um passeio por tamanhos, formas e cores”.

 

“Franz Weissmann: o Vazio como Forma” também expõe no Parque Prefeito Mário Covas, em São Paulo, a obra “Cubo Azul”. O artista sempre se interessou por ter suas criações no espaço público, de modo a expandir a possibilidade de contato das pessoas com a arte e modificar sua relação com a cidade. Saindo do Itaú Cultural, o parque fica a cerca de duas estações de metrô, na Avenida Paulista, 1853.

 

Nascido na Áustria, Franz Weissmann, veio ao Brasil em 1921. De 1939 a 1941, fez cursos de arquitetura, escultura, pintura e desenho na Escola Nacional de Belas Artes (Enba). Já de 1942 a 1944, estudou desenho, escultura, modelagem e fundição com o escultor August Zamoyski (1893-1970). Tornou-se professor na Escola Guignard em 1947.

 

Sua obra, inicialmente figurativa, na década de 1950 toma uma direção construtivista – marcada pelas formas geométricas e pelo uso de materiais como chapas de ferro, fios de aço e alumínio em verga ou folha. Em 1955, compõe o Grupo Frente e, em 1959, torna-se cofundador do Grupo Neoconcreto nos anos 1960, aproxima-se do informalismo – sendo exemplo disso a série Amassados, chapas de zinco ou de alumínio trabalhadas a martelo, porrete e instrumentos de corte. Depois, retorna ao construtivo,

 

Até 09 de fevereiro de 2020.

Cildo Meireles na Mul.ti.plo

18/nov

Sem expor no Rio de Janeiro há cerca de uma década e em uma galeria carioca há mais de trinta anos, Cildo Meireles inaugura mostra na Mul.ti.plo Espaço Arte, no Leblon. A exposição “Múltiplos Singulares” abre dia 19 de novembro, às 19h, permanecendo em cartaz até 19 de janeiro de 2020.

 

Com curadoria de Paulo Venancio, o artista exibe objetos e gravuras de diferentes formatos e materiais, produzidos ao longo de cinco décadas. Algumas peças são inéditas e serão apresentadas ao público pela primeira vez. De importância fundamental na internacionalização da arte brasileira, Cildo é um dos mais conceituados artista brasileiro na cena contemporânea mundial, com obras no acervo da Tate Modern (Londres, Inglaterra), Centro Georges Pompidou (Paris, França), MoMA (Nova York, EUA), Museu Reina Sofía (Madri e Barcelona), entre outros.

 

Cildo Meireles realizou sua última retrospectiva no Rio de Janeiro no ano 2000, apresentada no Museu de Arte Moderna. Na atual exposição na Mul.ti.plo, sendo gestada há dois anos, o público poderá ver um conjunto importante de obras, que lidam com noções de Física, Economia e Política, temas recorrentes nas obras de Cildo Meireles. Entre as 16 peças reunidas, quatro são inéditas e estão sendo produzidas em segredo. As surpresas só serão reveladas no dia da abertura.

 

“A ideia da mostra se consolidou há dois anos, no meu ateliê, com o Paulo Venancio, a partir de um objeto criado há décadas que sintetiza a instalação-performance “Sermão da Montanha: Fiat Lux”, apresentada há exatos 40 anos, em 1979, no Centro Cultural Candido Mendes. Foi uma provocação à ditadura militar, durando apenas 24 horas. Muito pouca gente viu. Desde então, guardo essa maquete e agora, finalmente, concluí o trabalho”, explica o artista. “Eu também já tinha combinado uma exposição na Mul.ti.plo com o meu amigo Maneco Müller”. Sócio da galeria, Maneco dá uma pista de outra obra surpresa da mostra: a participação da locutora Iris Lettieri, cuja voz ecoou por décadas, anunciando as partidas e chegadas no aeroporto do Galeão, no Rio. “Um dia, Cildo me revelou um projeto, concebido nos anos 70, que só poderia ser realizado com a voz única dela. Não perdi tempo. Fui ao encontro de Iris e conseguimos realizar o desejo do Cildo, com a mesma fala impecável e inesquecível”, explica Maneco.

 

“A exposição apresentará múltiplos de Cildo Meireles, que trazem em si o pensamento das grandes instalações do artista”, explica o curador. Uma delas, por exemplo, tem ligação com “Metros”, trabalho apresentado numa emblemática exposição na Documenta, em Kassel, Alemanha, em 2002. “Os objetos e gravuras reunidos exemplificam o pensamento de grandes trabalhos de Cildo, sendo alguns pouco vistos”, diz ele. O público poderá conferir uma nova edição das notas de “Zero Dólar” (1978-1994).

 

Considerado um dos artistas mais importantes de sua geração, o premiado Cildo Meireles possui obras no acervo de uma das maiores instâncias de consagração da arte contemporânea do mundo, a Tate Gallery, onde expôs ao lado de Mark Rothko, em 2008. Obras do artista fazem parte também da Coleção Cisneros (NY e Caracas), Pérez Art Museum (Miami, EUA), Fundação Serralves (Lisboa, Portugal), Inhotim (Brumadinho, Brasil), MAC (Niterói, Brasil), etc. Com sucessivas participações na Bienal de Veneza (Itália) e na Documenta (Kassel, Alemanha), Cildo traz no currículo ainda exibições individuais no MoMA e no Metropolitan, em Nova York. Atualmente, o artista está com uma grande exposição em São Paulo, SP, no SESC Pompeia. “Para essa individual no Rio, procurei reunir o mais significativo conjunto de múltiplos do Cildo, numa espécie de retrospectiva, de forma que as duas se complementassem”, conclui Paulo Venancio.

 
Sobre o artista

 

Cildo Meireles nasceu no Rio de Janeiro, RJ, 1948. Inicia seus estudos em arte em 1963, na Fundação Cultural do Distrito Federal, em Brasília, orientado pelo ceramista e pintor peruano Barrenechea (1921). Começa a realizar desenhos inspirados em máscaras e esculturas africanas. Em 1967, transfere-se para o Rio de Janeiro, onde estuda por dois meses na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA). Nesse período, cria a série “Espaços Virtuais: Cantos”, com 44 projetos, em que explora questões de espaço, desenvolvidas ainda nos trabalhos “Volumes Virtuais” e “Ocupações” (ambos de 1968 – 1969). É um dos fundadores da Unidade Experimental do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), em 1969, na qual leciona até 1970. O caráter político de suas obras revela-se em trabalhos como “Tiradentes – Totem-monumento ao Preso Político” (1970), “Inserções em Circuitos Ideológicos: Projeto Coca – Cola” (1970) e “Quem Matou Herzog?” (1970). No ano seguinte, viaja para Nova York, onde trabalha na instalação “Eureka/Blindhotland”, no LP “Sal sem Carne” (gravado em 1975) e na série “Inserções em Circuitos Antropológicos”. Após seu retorno ao Brasil, em 1973, passa a criar cenários e figurinos para teatro e cinema e, em 1975, torna-se um dos diretores da revista de arte Malasartes. Desenvolve séries de trabalhos inspirados em papel moeda, como “Zero Cruzeiro” e “Zero Centavo” (ambos de 1974 – 1978) e “Zero Dólar” (1978 – 1994). Em algumas obras, explora questões acerca de unidades de medida do espaço ou do tempo, como em “Pão de Metros” (1983) ou “Fontes” (1992). Em 2000, a editora Cosac & Naify lança o livro “Cildo Meireles”, originalmente publicado, em Londres em 1999, pela Phaidon Press Limited. Participa das Bienais de Veneza, 1976; Paris, 1977; São Paulo, 1981, 1989 e 2010; Sydney, 1992; Istambul, 2003; Liverpool, 2004; Medellín, 2007; e do Mercosul, 1997 e 2007; além da Documenta de Kassel, 1992 e 2002. Tem retrospectivas de sua obra feitas no IVAM Centre del Carme, em Valência, 1995; no The New Museum of Contemporary Art, em Nova York, 1999; na Tate Modern, em Londres, 2008; e no Museum of Fine Arts de Houston, 2009. Recebe, em 2008, o Prêmio Velázquez das Artes Plásticas, concedido pelo Ministério de Cultura da Espanha. Em 2009, é lançado o longa-metragem “Cildo”, sobre sua obra, com direção de Gustavo Moura. No mesmo ano, expõe no Museu d´Art Contemporani de Barcelona, Espanha, e no MUAC – Museu Universitário de Arte Contemporáneo, na Cidade do México. Em 2011, realiza a “Ocupação Cildo Meireles”, com curadoria de Guilherme Wisnisk, no Itaú Cultural, São Paulo. Em 2013, expõe no Centro de Arte Reina Sofía, Palácio de Velásquez, com curadoria de João Fernandes, em Madri, Espanha; e também no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto, Portugal. Em São Paulo, apresenta mostra no Centro Universitário Maria Antonia, com curadoria de João Bandeira. Em 2014, expõe em Milão, Itália, no HangarBicocca, com curadoria de Vicente Todolí. No Brasil, expõe na Galeria Luisa Strina, São Paulo; na Dinamarca, na Kunsthal 44 Møen. Em 2015, expõe na Galerie Lelong, Nova York, EUA. Em 2019, abre a grande exposição “Entrevendo”, no SESC Pompeia, São Paulo.

 

Sobre a curadoria

 

Paulo Venancio Filho. Curador, crítico de arte, professor titular na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador do CNPq. Publicou textos sobre vários artistas brasileiros, entre eles Antonio Manuel, Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Lygia Pape, Waltércio Caldas, Mira Schendel, Franz Weissmann, Iole de Freitas, Carlos Zilio, Anna Maria Maiolino, Eleonore Koch e Nuno Ramos. Foi curador das seguintes exposicões: O corpo da escultura: a obra de Iole de Freitas 1972-1997(MAM-SP, 1997/Paço Imperial, 1997), Century City: Art and Culture in the Modern Metropolis (Tate Modern, Londres, 2001), Iberê Camargo: Diante da Pintura (Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2003), Soto: A construção da imaterialidade (CCBB, Rio de Janeiro, 2005/Instituto Tomie Othake, 2006/MON, Curitiba, 2006), Anna Maria Maiolino: Entre Muitos (Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2005/Miami Art Central, 2006), Fatos/Antonio Manuel (CCBB, São Paulo, 2007), Time and Place: Rio de Janeiro 1956-1964 (Moderna Museet, Estocolmo, 2008), Nova Arte Nova (CCBB, Rio de Janeiro, 2008), Hot Spots (Kunsthaus Zürich, 2009), Cruzamentos (Wexner Center for the Arts, Columbus, 2014), Possibilities of the Object: Experiments in Brazilian Modern and Contenporary Art (The Fruitmarket Gallery, Glasgow, 2015) e Piero Manzoni (MAM-SP, 2015).

Panorama de Arte Brasileira

26/ago

Sertão é palavra de origem desconhecida. Na língua portuguesa, há registros de sua existência desde o século XV. Quando aqui aportaram, os colonizadores já trouxeram consigo o termo, usando-o para designar o território vasto e interior, que não podia ser percebido da costa. Desde então, a esse vocábulo atribuem-se diversos sentidos, sem nunca ser fixado numa ideia pacificada. É constituído, inclusive, por oposições: pode referir-se à floresta e ao descampado, ao lugar deserto e também ao povoado, àquilo que é próximo e ermo. Qualifica o visível e o desconhecido, trata da aridez e da fertilidade, do inculto e do cultivado.
Ainda que tenha chegado ao Brasil na caravela, sertão não cessa de se insurgir contra o colonialismo e de escapar de seus desígnios. Mantém sua potência de invenção, não se rende aos monopólios dos saberes patriarcais, exige novos pactos sociais, desierarquiza sua relação com a natureza, reverencia o mistério, festeja. Sertão é, antes e depois de tudo, experimentação e resistência, qualidades fundamentais para viver a arte e que nos trazem a este 36º Panorama da Arte Brasileira, em exibição no MAM, até o dia 15 de novembro, no Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP.
No Brasil que pleiteava sua modernização, no início do século XX, sertão passou a referir-se, sobretudo, à região do Nordeste de clima semiárido, ilustrada por sua vegetação de caatinga, em oposição ao litoral. Nesse momento, reforça-se o projeto de um lugar seco, primitivo, rude, propagandeando um outro na iminência do flagelo. Forja-se, dessa maneira, uma condição de submissão que justificaria políticas assistencialistas, mas sobretudo a atualização de medidas de exploração. Suas imagens estão presentes por toda a cultura brasileira, ainda que nenhuma delas dê conta de tudo o que pode significar.
Contrariando determinismos, e sob a luz de uma certa produção de arte do Brasil, Sertão é modo de pensar e de agir. Termo evocativo, traz consigo afetos transformadores, formas políticas, ideais de criação, memórias de luta, rituais de cura, ficções de futuro. Esta arte-sertão que aqui se apresenta está no deslizar das linguagens. Mais que um lugar, essa condição sertão é a travessia. Espalha-se Brasil afora, está no manejo do roçado, supera-se na viela da favela, desce pelo leito do rio, está escrita nos muros da cidade e presente na terra retomada. Manifesta-se nos encontros e nos conflitos.
No 36º Panorama da Arte Brasileira, 29 artistas e coletivos reúnem-se para compartilhar estratégias de resistência e modelos de experimentação, a partir de suas histórias. Se sertão está no limite do que se pode apreender, por definição, a ideia de panorama é complementar na forma de sua contradição. A importância de juntar essas instâncias e acolher essas oposições, no entanto, se dá pela necessidade cada dia mais atual de defender existências não hegemônicas e de compartilhar outros modos de vida. Enquanto a arte puder afirmar sua condição sertão, vai ter sempre luta, vai haver sempre a diferença, vai existir sempre o novo.
Júlia Rebouças

 

 

Curadora

 

Artistas:
1- Ana Lira (Caruaru – PE, 1977. Vive no Recife); 2 – Ana Pi (Belo Horizonte, 1986. Vive em Paris); 3 – Ana Vaz (Brasília, 1986. Vive em Lisboa); 4 – Antonio Obá (Ceilândia – DF, 1983. Vive em Brasília); 5 – Coletivo Fulni-ô de Cinema (Águas Belas – PE); 6 – Cristiano Lenhardt (Itaara – RS, 1974. Vive em São Lourenço da Mata – PE); 7 – Dalton Paula (Brasília, 1982. Vive em Goiânia); 8 – Daniel Albuquerque (Rio de Janeiro, 1983. Vive no Rio de Janeiro); 9 – Desali (Contagem – MG, 1983. Vive em Belo Horizonte); 10 – Gabi Bresola & Mariana Berta (Joaçaba – SC, 1992 / Peritiba – SC, 1990. Vivem em Florianópolis, SC); 11 – Gê Viana (Santa Luzia – MA, 1986. Vive em São Luís); 12 – Gervane de Paula (Cuiabá, 1961. Vive em Cuiabá); 13 – Lise Lobato (Belém, 1963. Vive em Belém); 14 – Luciana Magno (Belém, 1987. Vive em São Paulo); 15 – Mabe Bethônico (Belo Horizonte, 1966. Vive em Genebra e Belo Horizonte; 16 – Mariana de Matos (Governador Valadares – MG, 1987. Vive no Recife); 17 – Maxim Malhado (Ibicaraí – BA, 1967. Vive em Massarandupió – BA); 18 – Maxwell Alexandre (Rio de Janeiro, 1990. Vive no Rio de Janeiro); 19 – Michel Zózimo (Santa Maria – RS, 1977. Vive em Porto Alegre); 20 – Paul Setúbal (Aparecida de Goiânia – GO, 1987. Vive em São Paulo); 21 – Radio Yandê (Rio de Janeiro, 2013); 22 – Randolpho Lamonier (Contagem – MG, 1988. Vive em Belo Horizonte); 23 – Raphael Escobar (São Paulo, 1987. Vive em São Paulo); 24 – Raquel Versieux (Belo Horizonte, 1984. Vive no Crato – CE); 25 – Regina Parra (São Paulo, 1984. Vive em São Paulo); 26 – Rosa Luz (Gama – DF, 1995. Vive em São Paulo); 27 – Santídio Pereira (Curral Comprido – PI, 1996. Vive em São Paulo); 28 – Vânia Medeiros (Salvador, 1984. Vive em São Paulo); 29 – Vulcanica Pokaropa (Presidente Bernardes – SP, 1993. Vive em Florianópolis).

 

 

50 anos de Panorama

 
O Panorama da Arte Brasileira teve sua primeira edição em 1969 e foi idealizado como forma de o museu recompor seu acervo e voltar a participar ativamente do circuito artístico contemporâneo. A princípio evento anual, o Panorama passou a ser realizado a cada dois anos a partir de 1995, contando até o momento 35 edições.
Parcerias
O 36º Panorama da Arte Brasileira: Sertão procurou ampliar seu tempo e espaço de atuação por meio de parcerias estratégicas: com a Festa Literária Internacional de Paraty, serão promovidas duas mesas de debate convidando um participante da Flip e um participante do Panorama, com a mediação de Júlia Rebouças e Fernanda Diamant, curadora da 17ª edição da Flip; com o Auditório Ibirapuera, vizinho do museu, foi organizada uma programação musical a partir dos conceitos trabalhados no Panorama para o dia 18/08, dia seguinte à abertura no MAM; e, com a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, novos debates acontecerão em setembro e outubro, promovendo o encontro entre artistas, psicanalistas e o público.
Irmãos Campana na loja mam

 
O estúdio Campana, dos irmãos Fernando e Humberto Campana, que celebra em 2019 seus 35 anos de trabalho, ficará a cargo da curadoria da loja mam durante o período do Panorama, com o patrocínio do Iguatemi São Paulo. O trabalho dos Campana incorpora a ideia da transformação, reinvenção e integração entre o artesanato e a produção em massa, oferecendo um design com identidade própria, mixando a individualidade dos materiais à preciosidade das características comuns no cotidiano brasileiro, como as cores, as misturas, o caos criativo. A partir do olhar único dos irmãos Campana, que contam com um extenso trabalho de pesquisa da cultura vernacular nordestina presente em suas coleções, os visitantes poderão vivenciar um novo espaço da loja mam e encontrar peças cuidadosamente selecionadas que trabalham com o conceito expandido de sertão.
Equipe do 36º Panorama da Arte Brasileira: Sertão
Curadoria – Júlia Rebouças (Aracaju, 1984. Vive entre Belo Horizonte e São Paulo) curadora, pesquisadora e crítica de arte. É curadora do 36o Panorama da Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna – SP, em 2019. No mesmo ano, realiza a curadoria de Entrevendo, mostra antológica de Cildo Meireles, a ser inaugurada no Sesc Pompeia -SP, em setembro. Foi co-curadora da 32a Bienal de São Paulo, Incerteza Viva (2016). De 2007 a 2015, trabalhou na curadoria do Instituto Inhotim, Minas Gerais. Colaborou com a Associação Cultural Videobrasil, integrando a comissão curadora dos 18o e 19o Festivais Internacionais de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil, em São Paulo. Foi curadora adjunta da 9a Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, em 2013. Realiza diversos projetos curatoriais independentes, dentre os quais destacamos a exposição Entrementes, da artista Valeska Soares, na Estação Pinacoteca, São Paulo, de agosto a outubro de 2018, a mostra MitoMotim, no Galpão VB, São Paulo, de abril a julho de 2018 e Zona de instabilidade, com obras da artista Lais Myrrha, na Caixa Cultural, São Paulo, em 2013. Graduou-se em Comunicação Social/ Jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco (2006). É Mestre e Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal de Minas Gerais.
Assistência curatorial – Catarina Duncan (Rio de Janeiro, 1993. Vive em São Paulo) curadora e programadora cultural. Formada em Culturas Visuais e História da Arte pela Goldsmiths College, University of London (2010 – 2014), foi assistente curatorial da 32a Bienal de São Paulo (2015- 2016), do ‘Pivô Arte e Pesquisa’ (2014 – 2015) e das exposições ‘Terra Comunal Marina Abramovic’ no Sesc Pompeia (2014), entre outros. Coordenou a programação pública da obra ‘Cura Bra Cura Té’ de Ernesto Neto na Pinacoteca (2019). Participou de diversas residências artísticas, entre elas a ‘Residents Art Dubai’ (2019) com curadoria de Fernanda Brenner, e ‘Lastro’, na Bolívia e Guatemala (2015 – 2017), ao lado da curadora Beatriz Lemos. Assinou a curadoria das exposições ‘⦿‘ na Galeria Leme (2018), ‘Somos Muitxs’ no Solar dos Abacaxis (2018), ‘Oráculo Piedoso’ de Martin Lanezan na Galeria Sancovsky (2018), ‘Travessias Ocultas – Lastro Bolivia’ no Sesc Bom Retiro (2018), Fio Corpo Terra’ no espaço Saracura (2017). Integrou o coletivo Terreyro Coreográfico (2015- 2016). Atua como representante do programa COINCIDENCA da fundação suíça para cultura Pro Helvetia no Brasil.
Arquitetura – Estudio Risco. Inaugurado em 2007, o estúdio Risco é um coletivo formado por artistas de trajetórias variadas e interesses múltiplos. Presta serviços de arquitetura, cenografia, expografia, desenho de produto, desenho gráfico e videografia. Hoje é formado por Humberto Pio, Juliana Amaral, Marcelo Dacosta e Tiago Guimarães. Nos últimos quatro anos, desenvolveu o desenho de mostras de arte como: “O que os Olhos Alcançam – Cristiano Mascaro” (Sesc Pinheiros, 2019), “Arte-Veículo (Sesc Pompeia, 2018)”, “Estou Cá” (Sesc Belenzinho, 2016-7), “Sempre Algo Entre Nós” (Sesc Belenzinho, 2016), “Potlatch: Trocas de Arte” (Sesc Belenzinho, 2016), “Provocar Urbanos” (Sesc Vila Mariana, 2016), “Arno Rafael Minkkinen: O corpo como evidência” (Sesc Jundiaí e Sesc Vila Mariana, 2016) e VI Mostra de 3M de Arte Digital (Fundição Progresso, Rio de Janeiro, 2015).
Design – Elaine Ramos (São Paulo, 1974) é designer atuante na área cultural e sócia da editora paulistana Ubu. Foi, por 11 anos, diretora de arte da editora Cosac Naify, onde também coordenou a edição dos títulos sobre design. É co-organizadora da Linha do tempo do design gráfico no Brasil, foi co-curadora da exposição Cidade Gráfica, no Itaú Cultural em São Paulo e é membro da Alliance Graphique Internationale (AGI).

 

Reminiscências/Livro e exposição

25/jun

 

Em sua nova exposição na Fortes D’Aloia & Gabriel, Carlos Bevilacqua apresenta uma instalação, esculturas e aquarelas que operam na tensão permanente entre instabilidade e equilíbrio, no intervalo semântico definido por ele como “instante poético”. Durante a abertura, a Editora Cobogó promove o lançamento do livro do artista carioca, monografia que percorre seus 30 anos de carreira através de reproduções de obras, estudos e anotações. A publicação conta com introdução do próprio artista, depoimentos de colegas, texto crítico de Paulo Sergio Duarte e entrevista concedida a Luiz Camillo Osorio.

 

Bevilacqua resume seu trabalho escultórico afirmando: “Eu não trabalho com formas. Trabalho com forças”. Ele emprega materiais como madeira e aço em suas configurações mais sintéticas – linha, ponto, círculo, esfera – para então testar seus limites físicos até o momento preciso em que as tensões encontram seu ponto de estabilidade. A forma é, portanto, a expressão de uma força, que por sua vez resulta da interação das energias potenciais de cada elemento. Ensaio Sobre Linhas Concretas (2019) surge desse exercício e apresenta uma complexa estrutura com linhas de aço que cruzam o espaço da Galeria de parede a parede. Cada seção das retas que compõem essa instalação aérea é interrompida por outros elementos (molas, parábolas, círculos) que atuam como intervalos na propagação de energia pela rede inteira. Em outros trabalhos, como Estrelas fixas (2019) e 3 Luas e o Cubo de Ouro (2015), a imbricada dinâmica de forças opera em uma escala fluida e variável, revelando a liberdade com que Bevilacqua transita entre o micro e o macro.

 

Na série inédita Paletas e Fantasmas (2019), o artista emprega paletas de pintura que, ao invés de tinta ou pinceis, abrigam elementos escultóricos para engendrar cenários ou “armadilhas simbólicas”, como ele descreve. A alusão à pintura ecoa ainda no conjunto de trabalhos da primeira sala da exposição, que têm a cor como fio condutor. Exibindo pela primeira vez em sua carreira uma série de aquarelas, Bevilacqua associa as figuras vibrantes dessas obras com as esferas coloridas que pontuam as esculturas O Vermelho Originário (2017) e O Vermelho da Noite (2017).

 

Sobre o artista

 

Carlos Bevilacqua nasceu no Rio de Janeiro em 1965, onde vive e trabalha. Depois de estudar arquitetura no Brasil, cursou a New York Studio School of Painting, Drawing and Sculpting (Nova York, 1991/1993). Entre suas exposições, destacam-se as individuais no MAM Rio (Rio de Janeiro, 2000), no MAM-SP (São Paulo, 1992) e, mais recentemente, Indeterminado no Centro Cultural Candido Mendes (Rio de Janeiro, 2019). As mostras coletivas incluem participações em: Lugares do Delírio, SESC Pompeia (São Paulo, 2018) e MAR (Rio de Janeiro, 2017); Intervenções Urbanas, Museu da República (Rio de Janeiro, 2016); Calder e a Arte Brasileira, Itaú Cultural (São Paulo, 2016); Desejo da forma, Akademie der Künste (Berlim, 2010); Um Mundo Sem Molduras, MAC-USP (São Paulo, 2009). Sua obra está presente nas coleções do Instituto Inhotim, do MAM Rio, do MAC-USP, entre outras.

 

De 25 de junho a 10 de agosto.

 

Baravelli e Renato Rios

06/jun

Na sala 1 | Baravelli

 

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, apresenta, de 08 de junho a 03 de agosto, a terceira exposição individual de Luiz Paulo Baravelli em sua sede de São Paulo, SP. A mostra reúne pinturas e objetos produzidos desde a década de 1960 até 2017. Algumas dessas obras foram executadas nos anos de 2016 e 2017 partindo de projetos que o artista havia desenhado na década de 1970. Formado arquiteto e consagrado como pintor, Baravelli sempre explorou o espaço tridimensional, não só no campo físico, mas também no campo virtual de suas pinturas e desenhos. Nos objetos que compõem a mostra, trabalhou com mármore, madeira e materiais industriais diversos como alumínio, concreto, espuma de poliuretano e chapa galvanizada. Além das obras, também poderão ser vistos alguns projetos. Por ocasião da exposição, foi editado em formato de catálogo, o fac-símile de um dos seus cadernos dos anos 70 contendo comentários sobre alguns trabalhos tridimensionais executados ou somente projetados até então.

 

Trabalhando a partir da cronologia circular e tentando abdicar da linear, Baravelli retorna, com alguma frequência, aos seus cadernos de referências e a trabalhos antigos, a fim de reutilizá-los em novas obras, refazê-los ou alterá-los em outros suportes. “Comparei depois o artista a um fazendeiro, que cuida de muitas coisas diferentes dentro de uma área e volta periodicamente a elas”, declarou em uma entrevista. É o caso das obras apresentadas na mostra que dividem o título “Paisagem Brasileira”, projetadas entre os anos de 1970 e 1972 e executadas somente entre 2016 e 2017. Três delas, feitas em madeira de garapeira e latão pintado, compartilham de uma mesma estrutura compositiva, as outras, embora também tratem da relação entre horizontalidade e verticalidade, comum ao tema da paisagem, são bastante diferentes entre si, provando mais uma vez a flexibilidade do raciocínio plástico de Baravelli.

 

O artista utiliza-se de uma grande variedade de materiais e técnicas, experimentando-os, desde o início de sua carreira, em combinações diversas. Parece natural que o encontro entre uma pedra, uma dobradiça de metal e um pedaço de acrílico tenha sido causado pelo mesmo artista que elegeu algumas produções do Renascimento Italiano e certos elementos da cultura pop como referências igualmente importantes dentro do seu trabalho. Considera-se um pintor, e embora entenda a pintura como ilusão e sua prática exigente de um dedicado trabalho artesanal, não se imobiliza diante das velhas dicotomias figurativo vs. abstrato ou virtuoso vs. conceitual. Sua ideia daquilo que é ilusório parece ter menos a ver com um truque de mágica indecifrável ou impressionante e mais com as estratégias bem humoradas dos desenhos animados, como a clássica do buraco que se forma pela pintura de um círculo preto. Trata-se da pintura como imagem, mas também do seu caráter objetual, quando, por exemplo, o círculo preto deixa de ser uma pintura presa ao chão e passa a ser um objeto movido pelo personagem para que seu inimigo seja sugado por ele. O que acontece dentro do quadro de Baravelli, e aquilo que o define em seu formato tridimensional, tem o mesmo grau de importância na construção da obra, da mesma maneira que um acabamento bem feito em relação à uma ideia.

 

É possível observar em sua prática um método arquitetônico de construção, não só pelo uso de uma linguagem gráfica própria da arquitetura – explorando as noções de perspectiva, planta, elevação e corte -, mas também pela maneira como combina elementos de origens diversas por camadas, como quem constrói uma casa: a estrutura de concreto, as paredes de tijolos, as janelas de madeira, etc. Às vezes podemos ter a sensação de que foram retiradas algumas camadas mais superficiais dessas composições – talvez os móveis e os moradores dessa casa -, restando apenas o cenário, como podemos observar nos trabalhos com fórmica “Smokestak nº2”, executado em 2016 e “Sem Título”, projetado e executado no ano seguinte. A série “Acessórios para a Paisagem do Krazy Kat”, 1976/77 tem uma aproximação mais direta com essa ideia, já que são peças produzidas para compor, de maneira fictícia, o vazio cenário da tira de jornal Krazy Kat, criada pelo americano George Herriman em 1913.

 

 

Sobre o artista

 

Baseando sua prática na intersecção entre a produção e o ensino de arte, Baravelli fundou em 1970 a Escola Brasil, junto a José Resende, Carlos Fajardo e Frederico Nasser. “Centro de experimentação artística dedicado a desenvolver a capacidade criativa do indivíduo”, a Escola Brasil foi importante na formação de dezenas de artistas brasileiros. Participou também da fundação da Revista Malasartes entre 1975 e 1976 e da Revista Arte em São Paulo entre 1981 e 1983, junto a relevantes artistas e críticos da cena contemporânea. Luiz Paulo Baravelli participou de inúmeras exposições individuais e coletivas desde o final dos anos 1960, destacando-se: Bienal de São Paulo, Brasil; Bienal de Veneza, Itália; Bienal de Havana, Cuba; Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil; MASP – Museu de Arte de São Paulo, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil; Hara Museum of Contemporary Art, Tóquio, Japão; MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil; Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; Museo de Arte Moderno de Buenos Aires, Argentina; MACUSP – Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Brasil; Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil; Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil.

 

 

Na sala 2 | Renato Rios

 

A Galeria Marcelo Guarnieri apresenta na sala 2 de seu espaço, de 8 de junho a 3 de agosto de 2019, a primeira exposição individual de Renato Rios, novo artista representado. A mostra reúne pinturas e estudos da série “Interiores”, iniciada em 2017 e retomada em 2019. Desde 2010, Rios vem explorando, por meio da pintura, as relações entre a imagem e as narrativas do inconsciente. Na série “Interiores”, o artista utiliza-se do procedimento da colagem e das ferramentas do desenho e da pintura para articular imagens de origens diversas em uma mesma composição, desenvolvendo uma espécie de escrita poética. A partir de um estudo sobre o retrato, Rios situa seus personagens em ambientes internos praticamente vazios, criando situações improváveis. Estes ambientes, no entanto, podem ser identificados a partir de suas portas e janelas, representadas por formas geométricas que podem revelar ambientes externos, outras paredes e até mesmo pinturas do próprio artista pertencentes a outras séries. Em “Homem sentado” (2019), é possível observar uma de suas pinturas da série “Arquétipos” ocupando a parede, ganhando ali uma escala maior dentro da cena do quadro e experimentando uma outra forma de existência. Essa estratégia, que também se repete em outras pinturas da série “Interiores”, nos induz a visualizar o quadro em camadas e nos convida a entrar cada vez mais para dentro – ou para além – dele. Esse movimento dentro-fora que guia não só o observador na relação com as pinturas de Rios, mas também o próprio artista em sua prática e estudos sobre a forma, relaciona-se ao seu interesse pelo que há de mais interno em nós: o inconsciente.

 

A série “Arquétipos” de 2018, surge após as pinturas de 2017 da série “Interiores”, a partir de uma vontade do artista de sintetizar as ideias de suas composições em símbolos. A noção de arquétipo, em latim Archetypum, original, modelo, e em grego Arkhétupos, modelo primitivo, acena para o campo daquilo que é mítico, ideal, fundante. Se em “Interiores” há uma alusão mais direta a um estado meditativo através da imagem de homens sentados ou de cadeiras vazias, em “Arquétipos” observa-se a redução das suas cenas às formas geométricas. Ao articular elementos visuais e dispensar o uso de palavras, Rios busca estabelecer uma comunicação de sentido mais aberto, estimulando o espectador a organizar suas próprias relações entre os elementos. Essa ação é guiada pelas referências que o artista nos apresenta: fragmentos de pinturas metafísicas, representações de ambientes domésticos, formas geométricas que ora nos remetem a composições suprematistas, ora a símbolos e espaços sagrados. Renato Rios se aproxima da lógica das tradições oraculares, em que o sentido do jogo é dado pela combinação entre os elementos apresentados, para explorar as possibilidades das interpretações poéticas de seus jogos de pinturas.

 

 

Sobre o artista

 

No ano passado, Rios apresentou a individual “Arquétipos”, no Espaço Breu, São Paulo, Brasil e integrou a exposição coletiva “OndeAndaOnda” que passou pelo Espaço Cultural Renato Russo, Brasília em 2018 e Museu Nacional Honestino Guimarães, Brasília em 2017 e 2015, com curadoria de Wagner Barja. Em 2016 foi um dos artistas selecionados para a residência artística da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e em 2011 ganhou o Prêmio de Arte Contemporânea Espaço Piloto (UnB).

 

Louise Bourgeois na FIC

14/mai

Em itinerância promovida pelo Itaú Cultural, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, recebe paa exibição a partir do 18 de maio, “Spider”, escultura de Louise Bourgeois.  Depois de permanecer pouco mais de duas décadas em regime de comodato ao lado do Museu de Arte Moderna, São Paulo, SP, em dezembro do ano passado a obra – pertencente à Coleção Itaú Cultural – começou uma série de itinerâncias pelo país. Primeiro foi levada a Minas Gerais, para ser exibida na Galeria Mata do Inhotim. Agora a escultura chega a Porto Alegre com uma novidade: a gravura da artista “Spider and Snake”. Na Fundação Iberê Camargo, a escultura permanecerá em exibição por mais de dois meses. Na sequência, viaja para Curitiba e Rio de Janeiro.

 

“Spider”, obra realizada pela escultora francesa Louise Bourgeois (1911-2010) em 1996, foi vista no Brasil pela primeira vez na 23ª Bienal Internacional de São Paulo e adquirida para a Coleção Itaú Cultural. Em 1997, o instituto a cedeu em regime de comodato ao Museu de Arte Moderna – MAM/SP, no Parque Ibirapuera. Ela permaneceu ali até 2017, em um espaço de vidro de onde podia ser observada da marquise do parque. Na ocasião, a escultura foi enviada para a Fundação Easton, em Nova York, para averiguação e restauro, de modo a garantir a sua longevidade e possibilitar a sua exibição em espaços expositivos diversos. Em dezembro passado, “Spider” botou o pé na estrada.

 

“Assim como fazemos com grande parte da Coleção Itaú Cultural, tomamos a decisão de circular uma das suas mais importantes obras internacionais e ampliar o acesso do público a esta grandiosa escultura”, diz o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron.

 

“Spider reafirma a nossa parceria com a Coleção Itaú Cultural e o nosso compromisso de trazer a Porto Alegre o que há de mais instigante e inquieto na arte moderna no Brasil e no mundo”, arremata o superintendente da FIC, Emilio Kalil.

A parceria entre as duas instituições, vem de longa data e foi retomada em maio de 2018 com a exposição “Moderna para Sempre – Fotografia Modernista Brasileira na Coleção Itaú Cultural”, um recorte de 144 obras fotográficas de importantes artistas do movimento modernista brasileiro, dos quais 60 nunca haviam estado antes em Porto Alegre. Agora, a fundação recebe do instituto a mostra da famosa aranha gigante de Bourgeois, que chega pela primeira vez ao Rio Grande do Sul.

 

 

A mostra

 

Esta “Spider” é a primeira das seis que a artista produziu em bronze a partir de meados da década de 1990 e que estão espalhadas pelo mundo. A escultura será exibida até o dia 28 de julho. Com ela, chega também a gravura “Spider and Snake” – a 15ª das 50 realizadas por Louise em 2003, com uma dimensão de 48,2 x 44,1 cm e pertencente ao acervo do Itaú. As viagens da “Spider” pelo Brasil são acompanhadas de um texto do crítico de arte Paulo Herkenhoff e de um vídeo de pouco mais de cinco minutos realizado pela equipe do Itaú Cultural, com relato da também crítica Verônica Stigger. Este material foi produzido especialmente para estas itinerâncias.

 

Entre imagens da escultura, Verônica Stigger discorre sobre a vida da artista que se entrelaça com esta sua criação. Ela reproduz de Paulo Herkenhoff que as aranhas de Louise Bourgeois representam a mãe da artista, sintetizada em dois adjetivos aparentemente paradoxais: frágil e forte. Diz Verônica Stigger: “A fragilidade e a força se conjugam nesta versão de Spider. À primeira vista, é uma peça imponente, até um tanto monstruosa: ela é toda em bronze, com três metros e meio de altura, oito longas patas e um núcleo central duro, todo torcido em espirais, que faz as vezes de cabeça e ventre – um grande ventre capaz de armazenar os ovos.” E conclui: “Em uma olhada mais atenta, percebe-se como, apesar da força e da rigidez do bronze, ela também é frágil, delicada: suas patas são longas e muito finas, dando a impressão de serem insuficientes para sustentar o pesado corpo da aranha.”

 

Feita em bronze, a escultura pesa mais de 700 quilos, 68kg, cada uma das oito patas; 113kg o corpo e 57kg a cabeça. O seu traslado, exige grande cuidado e dedicação. Com a inexistência do esboço e projeto original da escultura, a equipe do Itaú Cultural criou um aparato para garantir a sua estrutura na desmontagem e remontagem. A produção do instituto desenhou uma plataforma que é colocada debaixo dela para sustenta-la. As partes, cujas pontas são de agulha, são retiradas uma a uma enquanto uma espécie de berço se eleva da plataforma para segurar o corpo do pesado aracnídeo. Na remontagem, o caminho é o inverso.

 

 

Itinerância

 

O plano de viagem de “Spider” tem duração garantida por todo o ano de 2019, durante o qual ainda poderá ser vista no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e no Museu de Arte do Rio, MAR-RJ. A previsão é de que a escultura prossiga em sua viagem pelo país no ano seguinte.

Na Bahia

26/mar

 

A Paulo Darzé Galeria, Salvador, Bahia, apresenta a partir do dia 28 de março, com temporada até 26 de abril, a exposição individual de Fábio Magalhães, com o título “Espectador da vida”, uma série de objetos que reproduzem miniaturas de cômodos, ambientes ou espaços internos residenciais atemporais. Para a curadora da mostra Thais Darzé, “…através de mensagens simbólicas, cifradas, subliminares, as emoções nesses ambientes são reveladas e vem à tona como avalanches. É justamente nesse momento de revelação, quando algo se torna visível, que o Ser no seu mais íntimo perde totalmente o controle. Magalhães tenta congelar no tempo através de seus objetos, uma realidade hermeticamente fechada e separada da vida real, criando assim um precipício intransponível”.

 

Artista da nova geração baiana, para a curadora Thais Darzé, no catálogo da mostra, Fábio vem criando uma obra que “…transita por emoções complexas e profundas que fazem parte do cotidiano soturno da experiência humana – memórias, dores, frustrações, perdas, traumas e medos, onde o trabalho constrói narrativas ficcionais, numa obra que materializa e tornam explícitas sensações e sentimentos socialmente encobertos, aqueles que frequentemente nos torna pequenos, vulneráveis e “humanos”, uma inquietude agonizante de um Ser que não se conforma com a escravidão das próprias emoções, e escancara e evidencia tais emoções através de uma estética dura, sádica e angustiante, como caminho da libertação. Aquele sentimento de que algo precisa ser vivido ao extremo, o chegar ao fundo do poço, para que possa retornar a luz e a clareza de consciência. Num rasgo dos disfarces e aparências impostos pela sociedade atual em que parecer é mais importante do que ser, suas vísceras soam como um grito de socorro, um chamado para dentro, um convite para além da superfície. Num mundo de imagens tratadas, e de “stories” perfeitos, deflagra-se na sua obra a real natureza humana e as diversas camadas a serem reveladas”.

 

 

Sobre o artista

 

Fábio Magalhães nasceu em Tanque Novo, Bahia, em 1982. Vive e trabalha em Salvador. A maior parte da sua produção artística está voltada para a pintura, que surge de um ato fotográfico planejado. A obra de Fábio Magalhães causa fascínio e repúdio, jamais indiferença. Ela resulta de um processo de concepção e efetivação que passa pela cenografia e pela ficção até chegar ao produto final, imagens e objetos. Para o artista, suas obras são o fator delimitador entre condições psíquicas e o imaginário. Assim, o artista apresenta encenações meticulosamente planejadas, capazes de borrar os limites da percepção, configuradas em distorções da realidade e contornos perturbadores. Desse modo, seu trabalho reúne um conjunto de operações, em que sua obra ultrapassa as barreiras do Eu até encontrar o Outro, o Ser.

 

Em sua trajetória, Fábio Magalhães realizou exposições individuais, iniciada em 2008, na Galeria de Arte da Aliança Francesa – Salvador/BA. Em 2009, “Jogos de Significados”, na Galeria do Conselho – Salvador/BA. Em 2011, “O Grande Corpo”, Prêmio Matilde Mattos/FUNCEB, Galeria do Conselho – Salvador/BA. Em 2013, “Retratos Íntimos”, Galeria Laura Marsiaj – Rio de Janeiro/RJ. Em 2016, “Além do visível, aquém do intangível”, Museu de Arte da Bahia, curadoria de Alejandra Muñoz, mostra também apresentada na Caixa Cultural São Paulo (2017) e Caixa Cultural Brasília (2018). Em 2019, “Espectador da vida”, Paulo Darzé Galeria, curadoria de Thaís Darzé.

 

Entre as mostras coletivas: Em 2008, “XV Salão da Bahia”, Museu de Arte Moderna, Salvador/BA. Em 2009, “60º Salão de Abril” em Fortaleza/CE; e “63º Salão Paranaense” em Curitiba/PR. Em 2012 “Convite à Viagem – Rumos Artes Visuais 2011/2013”, no Itaú Cultural – São Paulo/SP, curadoria de Agnaldo Farias; “O Fio do Abismo – Rumos Artes Visuais, 2011/2013” – Belém/PA, curadoria de Gabriela Motta; “Territórios”, na Sala FUNARTE/Nordeste, Recife/PE, curadoria de Bitu Cassundé; “Espelho Refletido”,  Centro Cultural Hélio Oiticica – Rio de Janeiro/RJ, curadoria de Marcus Lontra. Em 2013, “Crê em fantasmas: territórios da pintura contemporânea”, Caixa Cultural Brasília, curadoria de Marcelo Campos. Em 2017, “Contraponto” – Coleção Sérgio Carvalho, Museu Nacional de Brasília/DF. Em 2018, São Paulo, e 2019, Brasília, Centro Cultural Banco do Brasil, curadoria de Tereza de Arruda, exposição itinerante “50 anos do Realismo: do fotorrealismo à realidade virtual”. Fábio Magalhães recebeu em 2010 o Prêmio Aquisição e Prêmio Júri Popular no I Salão Semear de Arte Contemporânea em Aracaju/SE; Prêmio Fundação Cultural do Estado, Vitória da Conquista/BA. Em 2011, o Prêmio FUNARTE – Arte Contemporânea/Sala Nordeste. Foi selecionado para o “Rumos Itaú Cultural 2011/2013”. Em 2015 foi indicado ao Prêmio PIPA, Museu de Arte Moderna/Rio de Janeiro.