O Rio e os 120 anos de um patrono

20/mai

Uma exposição abrangente que traz como destaque imagens da cidade do Rio de Janeiro é o cartaz atual de exposições na Casa Roberto Marinho, Cosme Velho, Rio de Janeiro, RJ.

Rio: desejo de uma cidade

Rio: desejo de uma cidade (1904-2024) celebra os 120 anos de nascimento de nosso patrono Roberto Marinho e antecipa as comemorações dos 460 anos de fundação da cidade em 2025.

Raros homens amaram, produziram e promoveram com tal intensidade sua terra natal. Como jornalista e empresário seus veículos produziram um vocabulário visual que exprime o século XX carioca. Sua contribuição perenizada por meio das novas gerações nas empresas de comunicação e, numa escala íntima, no compartilhamento de sua coleção de arte e na transformação da sua residência em espaço público do carioca.

Esta exposição – curada por Marcia Mello, Victor Burton e eu – reúne fotografias, pinturas, desenhos, gravuras e esculturas que, nesses 120 anos, tiveram o Rio de Janeiro como tema ou principal inspiração. Dela emerge uma cidade dinâmica e vital que se nutre das suas qualidades e, não raro, de suas vicissitudes.

A resiliência criativa sempre foi, desde o início, uma característica nossa. Parecia inviável implantar um aglomerado humano num terreno insalubre, ainda que deslumbrante. Seguidos esforços de engenharia permitiram inventar um núcleo urbano ao incorporar, valorizar e, nada é perfeito, ferir a natureza bela. Como dizia Paulo Mendes da Rocha: “O Rio é uma teimosia tornada possível pela mecânica dos fluxos”…

Depois de se tomar pelo todo, enunciar o país enquanto falava-se do Rio de Janeiro, estamos fadados a olhar o que restou de único: a inesgotável capacidade carioca de produzir imagens e inventar memórias de si mesmo e de seu papel para o Brasil.

Uma cidade que se experimenta reforçando uma identidade própria, com suas qualidades e agruras, sem jamais querer parecer outra.

O urbano se une aqui entremeando topografias e comunidades contrastantes. A recusa de se deixar partida a faz escavar túneis para obter uma síntese que põe em contacto a orla arejada com o avesso das montanhas sem brisa.

Quando quase nada parece restar, nos refugiamos na produção das imagens e sons que ecoam o desejo da beleza que se nutre, também, das desigualdades produzidas pela tragédia perene da desigualdade preconceituosa.

Uma vez Roberto Marinho recebeu uma figura pública, da qual tinha significativas discordâncias, em seu escritório panorâmico no topo do prédio do Jardim Botânico. Não se sabe, ao certo, o que foi conversado. Ficou do encontro apenas o comentário, entre surpreso e tristonho, do jornalista: “Ele não olhou uma vez sequer a paisagem”… Mais carioca, impossível.

Lauro Cavalcanti – Diretor da Casa Roberto Marinho

Maio de 2024

A partida de Emanoel Araújo

12/set

 

 

A Galeria Simões de Assis, Curitba e São Paulo, comunica com profundo pesar o falecimento do grande artista, curador, gestor cultural e colecionador Emanoel Araujo. Seja em seus mais de 60 anos de produção, na liderança de importantes instituições e museus, ou no incansável trabalho de descobrir, colecionar e preservar obras e memórias fundamentais para a cultura brasileira, Emanoel Araújo nos deixa um legado imensurável.

Natural de Santo Amaro da Purificação (1940-São Paulo, 2022), Bahia, iniciou-se ainda criança no ateliê de Eufrásio Vargas. Mais tarde, mudou-se para Salvador e frequentou a Escola de Belas Artes da UFBA, onde estudou gravura sob os auspícios de Henrique Oswald. Em 1977, participou do II Festac, um festival internacional realizado em Lagos, na Nigéria, onde se reuniram artistas africanos e da diáspora para celebrar a cultura negra. Ali, Emanoel Araújo pode identificar a raiz de seu pensamento abstrato e de seu interesse pelas manifestações simbólicas na arte. A partir de então, sua produção ganhou contornos tridimensionais, materializada principalmente em relevos geométricos de ângulos agudos e volumes que exploravam cheios e vazios, sombra e cor. No início da década de 1980, atuou como diretor do Museu de Arte da Bahia e, em 1988, foi convidado a lecionar na The City University of New York, onde conheceu importantes artistas e pensadores estadunidenses. No início da década de 1990, assumiu a direção da Pinacoteca do Estado de São Paulo, e foi figura crucial na reestruturação do museu, liderando a iniciativa de reforma do prédio que contou com projeto de Paulo Mendes da Rocha. Também organizou algumas das mais relevantes mostras da instituição, como a de Rodin e a de Niki de Saint Phalle. Deixou a Pinacoteca em 2002 e, em 2004, fundou o Museu Afro Brasil, em São Paulo, que dirigiu até a sua morte.

O Museu Afro, como é carinhosamente conhecido, tem um acervo de mais de 8 mil peças, sendo grande parte advinda da coleção pessoal de Araújo, resultado de décadas de pesquisa incessante. Araújo foi também um figura essencial na difusão de artistas negras e negros no Brasil. Agora, Emanoel Araújo deixa uma obra pessoal incomparável, além de um patrimônio público de valor inestimável.

 

 

São Paulo, Arqueologia Amorosa

03/fev

 

 

O Museu Afro Brasil, Parque do Ibirapuera, uma instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, inaugura no próximo dia 25 de janeiro a mostra “Arqueologia Amorosa de São Paulo”. Com curadoria do diretor-geral do Museu, Emanoel Araújo, a exposição fala dos muitos aspectos artísticos, sociais, culturais e perspectivas diversas dessa grande metrópole, por meio de fotos, manuscritos, objetos, fotografias e design, de renomados artistas, como Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha, Flavio de Carvalho, Geraldo de Barros, Zanini Caldas, dentre outros.

 

A exposição vasculha a memória da capital paulista, trazendo à luz personagens da vida artística, obras públicas dos grandes arquitetos, desde Ramos de Azevedo, a memória de carnavais antigos da Avenida Paulista e dos blocos de Ranchos da periferia.

 

A grande modista da cidade, Maria Adelaide da Silva, e sua correspondência com a moda feminina dos anos vinte, também está retratada por meio de documentos vindos diretamente de Paris, propostas de croquis e seu retrato pintado pelo grande artista da época, Jacques Leclerc, em 1926.

 

Também integram a mostra objetos da Revolução Constitucionalista de 1932, assim como grandes lembranças do Quarto Centenário e da construção do Parque Ibirapuera, a exemplo da realização da Segunda Bienal Internacional, onde esteve a Guernica, do grande artista Pablo Picasso. Uma instalação mostra fragmentos de uma casa burguesa, numa referência às grandes residências da Avenida Paulista, advindas das riquezas do café. Um dos destaques é uma grande vista da Várzea do Carmo, manipulação tecnológica do artista Floro Freire, que apresenta uma nova visão da paisagem do século XIX de Militão Augusto de Azevedo.

 

Na mesma data, o museu inicia as homenagens ao “Extraordinário Mário de Andrade”, integrando a celebração dos Cem Anos da Semana de Arte Moderna, com a abertura da exposição “Padre Jesuíno do Monte Carmelo aos Olhos de Mario de Andrade”. A mostra traz ao Museu Afro Brasil grandes pinturas provenientes das igrejas das cidades de Itu e São Paulo, onde o padre artista exerceu, com primazia, seu ofício de pintor, músico e compositor. A pesquisa sobre as pinturas das igrejas e conventos da cidade de Itu foi uma das últimas pesquisas de Mário de Andrade, cujo olhar se voltou para esses artistas dos séculos XVIII e XIX.

 

Esta será a maior retrospectiva feita sobre as obras do padre Jesuíno do Monte Carmelo. A exposição conta com 27 obras de grandes dimensões de Jesuíno, muitas delas mostradas pela primeira vez, e tem curadoria de Dra. Maria Silvia Barsalini e Dr. Emerson Ribeiro, e colaboração da equipe do Museu Afro Brasil.

 

Sobre o Museu Afro Brasil

 

O Museu Afro Brasil, localizado no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, dentro do Parque Ibirapuera, conserva, em 12 mil m², mais de 8 mil obras, entre pinturas, esculturas, gravuras, fotografias, documentos e peças etnológicas, de autores brasileiros e estrangeiros, produzidos entre o século XVIII e os dias de hoje. O acervo abarca diversos aspectos dos universos culturais africanos e afro-brasileiros, abordando temas como a religião, o trabalho, a arte, a escravidão, entre outros temas ao registrar a trajetória histórica e as influências africanas na construção da sociedade brasileira. Inaugurado em 2004, a partir da coleção particular do seu atual Diretor Curatorial, Emanoel Araujo, o Museu construiu, ao longo de mais de 16 anos de história, uma trajetória de contribuições decisivas para a valorização do universo cultural brasileiro ao revelar a inventividade e ousadia de artistas brasileiros e internacionais, desde o século XVIII até a contemporaneidade. O Museu exibe parte do seu Acervo na exposição de longa duração, realiza Exposições Temporárias e dispõe de um Auditório e de uma Biblioteca especializada que complementam sua Programação cultural ao longo do ano.

 

De 25 de janeiro a 30 de junho.

 

 

 

Amilcar de Castro: na dobra do mundo

05/mai

 

Cerca de 120 obras do artista plástico neoconcretista e designer gráfico Amilcar de Castro passam a compor as instalações internas e externas do MuBE (Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia), São Paulo, SP. A exposição “Amilcar de Castro: na dobra do mundo” é uma homenagem ao centenário do multifacetado artista, que integra o rol dos maiores expoentes brasileiros na arte e cultura, acumulando títulos como o prêmio da Fundação Guggenheim e Prêmio Nacional da Funarte. A mostra é gratuita e pode ser visitada mediante agendamento prévio.

 

 

Dentre a seleção de trabalhos de Amilcar, há obras inéditas como a escultura horizontal, composta por duas partes, da década de 1990, disposta debaixo da marquise do MuBE, e a alta e esbelta escultura, sem título, também da década de 1990, instalada na grama do jardim do museu. Outro destaque é a participação da escultura, sem título, de 1999, com gigantescas dimensões (18 metros de altura e mais de 20 toneladas), pertencente à Universidade de Uberaba (MG) que, pela primeira vez, percorre mais de 480 km para ocupar novo lar temporário no MuBE.

 

 

A mostra é realizada em parceria com o Instituto Amilcar de Castro e conta com a curadoria de Guilherme Wisnik (professor da FAU-USP, crítico de arte e curador), Rodrigo de Castro (filho do artista e diretor do Instituto Amilcar de Castro) e Galciani Neves (curadora-chefe do MuBE). “É realmente uma honra comemorar o centenário de Amilcar em um museu que conversa tanto com a proposta de trabalho do artista. É o encontro da instituição com as obras neoconstrutivas que remontam à universalidade da arte”, celebra Rodrigo de Castro, destacando que as obras sempre estiveram conectadas ao urbanismo.

 

 

Outro ineditismo da exposição é a interação entre o trabalho de Paulo Mendes da Rocha (arquiteto responsável pela concepção do MuBE) e Amilcar de Castro. “O contraste entre a horizontalidade do prédio e a verticalidade das esculturas de aço corten de Castro resultam em uma fricção única entre arte, arquitetura e história”, destaca Guilherme Wisnik, especialista em arquitetura, urbanismo e artes visuais.

 

 

 

As obras estão expostas no pátio do MuBE, ao ar livre, e chamam a atenção de quem passa despretensiosamente na rua pelo lado de fora, mas também atraem quem busca por uma programação cultural ao ar livre. Uma das atrações dentro da exposição é o capítulo matéria-linha, uma seleção de trabalhos contemporâneos de artistas brasileiros diversos, que dialogam com as obras do Amilcar. Carmela Gross, Lia Chaia, Max Willà Morais, Moisés Patrício, Rubiane Maia e Carla Borba, Tomie Ohtake e Wlademir Dias-Pino fazem parte dessa seleção. “Nossa proposta é promover uma outra maneira de nos relacionarmos com o trabalho do Amilcar, trazendo uma visão atual a partir de diálogos que se relacionam com a ideia de linha, explorada pelo artista”, completa Galciani.

 

 

 

Textos curatorais

 

 

Amilcar de Castro no MuBE, de Paulo Mendes da Rocha. Um encontro fundamental entre dois gigantes da arte brasileira. Esculturas que carregam uma expressiva vocação pública, na área externa interagem com uma esplanada aberta. Praça atravessada por uma grande marquise de concreto protendido, que lhe dá escala, e constrói balizas visuais para as esculturas. No caso de Amilcar: chapas de aço cor-ten que, pela ação de corte e dobra, se transformam em espaço, em planos de equilíbrio instável, angulosos, que se afinam para tocar o chão em pontos reduzidos.

 

 

 

No preto e branco do artista, assim como no cinza do arquiteto, não há concessões sentimentais, ou cordiais. Sóbrias e desafiadoras, as suas respostas artísticas se baseiam no conceito virtuoso de projeto. Um projeto entendido como afirmação de desejos que se realizam em conformidade com a técnica e a matéria. Figurando, assim, a ideia de uma sociedade capaz de planejar seu futuro e medir as consequências dos seus atos, responsabilizando-se por eles. Algo que, no Brasil de hoje, volta a ter um urgente significado.

 

 

 

Guilherme Wisnik, curador da exposição

 

 

O início desta trajetória se deu nos anos 1940 quando Amilcar, jovem e estudante de Direito na UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais (formou-se em 1945), passou a frequentar a Escola Guignard onde, durante vários anos, teve aulas com o artista Alberto da Veiga Guignard… Os anos 50 foram decisivos e importantes. Encontrou amigos, fez parte do movimento Neoconcreto junto com Ferreira Gullar, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape, Aluísio Carvão e Franz Weissmann. E em 1952 fez a “estrela” de cobre, escultura que inaugurou a descoberta da dobra da chapa e deu a direção para tudo o que viria depois…

 

 

Uma longa trajetória de mais de cinquenta anos de arte, produzindo esculturas, pinturas, desenhos e gravuras. E experimentando diversos e diferentes materiais além do ferro para realizar esculturas em madeira, vidro, granito e aço inoxidável… Um dia, conversando com Amilcar sobre a vida e como as coisas mudaram desde que nasceu em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais (Paraisópolis), ele disse: “Tem que acreditar. Acreditar sempre e até o fim…”

 

Rodrigo de Castro, co-curador da exposição   

 

 

Adentrar esse momento histórico da produção artística brasileira é lidar com a complexidade de alguns dos processos que radicalizaram nossas formas de pensar, produzir e vivenciar arte. E nesse sentido, estar em contato com a obra de Amilcar, no MuBE, em uma retrospectiva que comemora seu centenário, acende pensamentos acerca das especulações com geometrias não-euclidianas, das objeções à leitura passiva da obra, das concepções não instrumentalizadas do espaço, de práticas fenomenológicas com a linha. Assim, com o capítulo matéria-linha, propomos um contexto de fluxos e contrapontos entre a linha construtiva dos desenhos, obra gráfica e esculturas de Amilcar e sua presença plural em trabalhos contemporâneos brasileiros.

 

 

 

Galciani Neves, co-curadora da exposição e curadora-chefe do MuBE

 

Até 23 de Maio.

 

Triângulo São Paulo, um guia visual

28/nov

Híbrido de caderno de viagem e guia arquitetônico, “Triângulo São Paulo – um guia para se perder no centro”, que será distribuído gratuitamente pela Associação Viva O Centro e na data de seu lançamento, apresenta 31 pontos de um possível mapa do triângulo histórico da cidade, delimitado pela Praça da Sé e os largos de São Francisco e São Bento. Com foco nesse pequeno núcleo e a partir de elementos visuais, a publicação traça um percurso revelador das muitas camadas de história acumuladas no coração de São Paulo, às quais o olhar distraído já não consegue alcançar.

 

Entre os pontos relevantes do percurso propostos estão construções, monumentos, jardins, painéis, estátuas, praças, passagens. A pesquisa de Francesco Perrota-Bosh resgata detalhes sobre a arquitetura e a história de cada um, condensados, em texto, pela jornalista Teté Martinho. O guia sugere ao leitor contemplar essa herança arquitetônica e cruzar informações sobre o passado e o presente de edifícios e espaços públicos, como Praça Patriarca, Praça Da Sé, Largo São Francisco, Edifício Martinelli, Igreja Do Carmo, Catedral Metropolitana, Casa Mathilde, Solar Da Marquesa De Santos, entre outros.

 

Como é visual, a navegação pelo guia se dá pela sequência de imagens e é ordenada por palavras-chave que se relacionam poeticamente com os pontos. Pelas palavras-chave, em ordem alfabética, inicia-se a narrativa. Por exemplo, o primeiro é arco, cujo ponto é a Praça do Patriarca e se relaciona diretamente com o arco criado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Por sua vez, a letra S, indica “Segredos”, e leva o leitor a conhecer a Casa da Mathilde, fornecedora de doces da Casa Real em Portugal, que em 2013 ressurge no Brasil, instalando-se no endereço do primeiro estabelecimento da família Fasano, um conjunto modernista na Praça Antonio Prado que abrigou a então Brasserie Paulista, em 1902, e, mais tarde, o primeiro restaurante de nome Fasano, em 1952.

 

De uma escultura como a do Beijo Roubado, no Largo São Francisco, que alude ao romance de um francês com uma índia, até histórias dos antigos arranha-céus como o Martinelli, considerado em 1929 o mais alto da América Latina e confiscado pelo governo na Segunda Guerra, passando pelas esculturas de 16 artistas erguidas na Praça da Sé na tentativa de salvá-la por ocasião do 425º aniversário de São Paulo, o guia ressalta também, entre as saborosas histórias, detalhes de construção, como fachadas, colunas, portas, pisos, etc.

“Triângulo São Paulo” conta ainda com introdução assinada por Matthew Shirts; glossário de termos arquitetônicos e de personagens históricos; serviço detalhado para quem quiser conhecer os lugares; caderno para anotações; e uma bolsa, que acondiciona o mapa com a localização dos pontos, a versão em inglês dos textos e permite que se reúnam outras peças gráficas eventualmente coletadas durante o passeio.

 

Com coordenação editorial de Marise De Chirico, o guia é o primeiro título da Estação Cultura, editora de micro nicho, que celebra a mídia impressa e o projeto gráfico como parte essencial da publicação. Esse projeto – gráfico e editorial – é resultado da pesquisa de Fernando Östlund (Londres, 1986) e Rafael Pavan (São Paulo 1984), quando o guia foi idealizado e tema do TCC (Trabalho de Conclusão do Curso) da dupla no curso de Graduação em Design, na ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing, orientado por Daniel Trench, em 2009. As fotografias, também de Fernando Östlund, apontam como design e fotografia são elementos fundadores da narrativa. A inspiração para o projeto veio da experiência dos autores em andar à pé ou de skate pelo centro da cidade, fotografando, desenhando e recolhendo peças gráficas como tickets, embalagens e promocionais.

 

Na ocasião do lançamento, os organizadores da publicação realizam a mesa redonda “Retratos do triângulo São Paulo: um olhar poético sobre a cidade”, com a proposta de abordar o centro antigo de São Paulo a partir das sobreposições históricas impregnadas em sua arquitetura, das fotos de Fernando Östlund e do projeto editorial e gráfico do guia. Atendendo ao convite da própria publicação – o de se perder no centro– a ideia é ampliar as discussões sobre as várias possibilidades de ler e reler esse pequeno núcleo da cidade, tendo como elemento desencadeador o processo criativo do guia.

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Lançamento: 29 de novembro de 2014.

 

Das 11h às 12h30 – Mesa Redonda: “Retratos do triângulo São Paulo: um olhar poético sobre a cidade”, com Teté Martinho, Francesco Perrota-Bosch e Daniel Trench, Auditório do Solar da Marquesa de Santos, às 13h –  Coquetel e lançamento do guia, na Casa da Imagem – Editora: Estação Cultura

 

Local: Solar da Marquesa de Santos/ Casa da Imagem – Rua Roberto Simonsen 136 e 136b – Sé – São Paulo – SP

Ícones do Design Na Caixa Cultural Rio

10/mar

A Caixa Cultural Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição de mobiliário “Design brasileiro, moderno e contemporâneo”, que chega ao País após passar por Berlim e Lisboa. Cerca de 80 obras, entre ícones modernos, peças raras e inéditas, de 16 expositores ocuparão duas galerias da instituição para contar a história do design de móveis no Brasil. Durante a exposição, também serão exibidos vídeos com depoimentos de alguns designers. Do Rio de Janeiro, a mostra seguirá para a CAIXA Cultural Brasília, onde será apresentada entre maio e julho.

 

A exposição traz peças dos renomados Sérgio Rodrigues, Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi, José Zanine Caldas, Joaquim Tenreiro, Aida Boal, Jorge Zalszupin, Paulo Mendes da Rocha, Gustavo Bittencourt, Carlos Motta, Domingos Tótora, irmãos Campana, Maneco Quinderé, Zanini de Zanine, Rodrigo Almeida e Móveis Cimo, entre outros, para mostrar o que se fez e o que está sendo realizado no Brasil neste segmento.

 

A ideia de criar a mostra surgiu na Alemanha, em 2012, a partir do encontro entre Zanini de Zanine e Raul Schmidt, que queriam mostrar a produção brasileira na Europa. De Berlim, a exposição seguiu para Lisboa como principal evento na abertura do ano do Brasil em Portugal. Em paralelo à realização na CAIXA Cultural Rio, a mostra também será apresentada na Sala Brasil, na sede da Embaixada Brasileira em Londres.

 

“O design brasileiro não tem uma característica única. Pelo tamanho do país, são muitas linguagens, culturas diferentes, materiais diversos”, diz Zanini de Zanine, curador da mostra com o colecionador e estudioso do assunto Raul Schmidt Felippe Junior. “É esse regionalismo, que se tornou globalizado, que está sendo proposto na parte contemporânea da exposição. A partir do momento em que você começa a traduzir o seu bairro, a sua cidade, isso passa a ser mundial, em termos de interesse”, completa.

 

 

 Sobre os expositores

 

AIDA BOAL – A escolha da profissão de arquiteta foi consequência natural de sua incoercível vocação para o desenho, tanto assim que, ainda como estudante, excursionou pelo campo da escultura (modelagem) e pintura, e deu, também, seus primeiros passos no terreno do “design” de móveis, estes no enlevo que povoaria mais tarde sua derivante dedicação. Neste campo, começou a projetar e executar móveis, sempre com a preocupação de aliar a harmonia das formas com o conforto, esmerando-se, cada vez mais, na anatomia de seu traçado a fim de proporcionar o máximo de conforto possível.

 

CARLOS MOTTA – É uma estrela de primeira grandeza do design nacional, várias vezes premiado. A honestidade está presente na qualidade de elaboração do móvel, feito para durar muito, usando principalmente madeiras maciças como amendoim, mogno, cedro e cabriúva. Arquiteto de formação, Carlos Motta preserva as características de ateliê de seu trabalho, pronto para projetar qualquer coisa que o cliente queira em madeira. Mas há vários criou produtos em linha, como mesas, camas, aparadores, escrivaninhas, armários, objetos e principalmente cadeiras, sua paixão declarada – já desenhou cerca de 25 modelos diferentes. Imune à pretensão do vanguardismo, Motta faz móveis belos de ver e confortáveis de usar, e permanece evoluindo dentro de um caminho próprio.

 

DOMINGOS TÓTORA – O mineiro Domingos Tótora, nascido e criado em Maria da Fé, cidade situada na Serra da Mantiqueira, sul de Minas Gerais, cursou Artes Plásticas na FAAP e ECA-USP em São Paulo. De volta à sua aldeia após os estudos, elege o papel reciclado como matéria prima para o seu trabalho, que transita entre a arte e o design. Suas peças de extrema beleza incluem bancos, mesas, vasos, fruteiras, centros de mesa e peças de mobiliário que se reportam às cores da natureza, como cascas de árvore, pedras e terra. Na textura seus objetos trazem os efeitos de luz e sombra do sol com a mesma intensidade que a luz solar percorre os vales. Suas peças piloto são desenvolvidas num processo simultâneo onde concepção e execução andam juntas e se complementam em todos os níveis, da matéria prima aos aspectos econômicos e sociais. O processo é 100% manual e tem a certificação do Instituto de Qualidade Sustentável.

 

GUSTAVO BITTENCOURT – O design sempre foi uma paixão. Desde criança em seus desenhos já demonstrava o gosto pela criação, pelo desenvolvimento de novas ideias e com a Mãe Arquiteta apenas aguçou o sentimento. Formado em Desenho Industrial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2009, Gustavo esta sempre em busca de novos conhecimentos. O que o levou a estudar no Politécnico di Torino, na Itália, durante a Universidade e recentemente a trabalhar em uma galeria de móveis e artes em Los Angeles, a Thomas Hayes Gallery. Trabalhou com ícones do cenário nacional atual como Zanini de Zanine, Marcelo Rosenbaum, Rodrigo Calixto. Durante sua formação acadêmica foi premiado em importantes concursos como Movelsul, premiado em 2010 com a cadeira Trapeziu, que faz parte da mostra.

 

IRMÃOS CAMPANA – Os Irmãos Campana (Humberto Campana, Rio Claro, 17 de março de 1953, e Fernando Campana, Brotas, 19 de maio de 1961) são respectivamente, formado em Direito pela Universidade de São Paulo, e em Arquitetura pelo Unicentro Belas Artes de São Paulo. Hoje a dupla goza de reconhecimento internacional por seus trabalhos de Design-Arte, cuja temática discute elementos do cotidiano, que são transformados em peças de caráter artísticos, com uma linguagem única e de, até, uso possível. Profissionais que despertam o interesse internacional, são os uns dos poucos brasileiros com peças no acervo do MoMA, em Nova Iorque.

 

JOAQUIM TENREIRO – Artífice do design de mobiliário brasileiro, Joaquim Tenreiro – português de nascimento – se estabeleceu no Brasil ainda novo, exercendo a profissão de marceneiro, herança de família. Aos poucos, sua verve utópica foi o conduzindo como projetista de móveis com o apoio intuitivo e interesse de diversas empresas no Rio de Janeiro, como a Laubissh & Hirth. A genialidade de Joaquim Tenreiro – atemporal e, simultaneamente, tão próxima desta geração – entre um punhado de exposições Brasil afora e nos EUA, culminou no título de Melhor Escultor do Ano, em 1978, pela APCA.

 

JORGE ZALSZUPIN – No ano de 1949, desembarcava no Rio de Janeiro o polonês Jerzy Zalszupin. Formado em arquitetura na Romênia, começou sua carreira no escritório de arquitetura do seu conterrâneo Luciano Korngold, no estado de São Paulo. No início não podia assinar pelos seus projetos, por não ser brasileiro, mas depois que se casou e teve sua filha no país, recebeu sua nacionalidade e pode abrir o próprio escritório. Foi a partir daí que surgiu o Jorge Zalszupin, designer e artesão de móveis. Fundou sua marca, a L’Atelier, em 1959, com a proposta de um lugar para criações conjuntas, na produção de poltronas como a Dinamarquesa, a Paulistana entre outros móveis. Pelo valor histórico e qualidade do design de seus móveis, vários deles estão sendo desde 2005 reproduzidos com muito sucesso e aceitação no mercado nacional e internacional.

 

JOSÉ ZANINE CALDAS – José Zanine Caldas ficou conhecido como o “mestre da madeira” por conta de seus trabalhos primorosos com essa matéria-prima. Cadeiras, mesas, sofás e aparador, entre outras criações feitas a partir de chapas planas de madeira compensada, compõem o acervo da mostra. As peças foram desenhadas e produzidas a partir de 1948, ano em que Zanine fundou, em parceria com Sebastião Pontes, a ‘Móveis Artísticos Z’. Durante os 14 anos em que permaneceu no negócio, o designer assinou produtos que marcaram o encontro harmônico entre o modernismo e o artesanato tradicional brasileiro.

 

LINA BO BARDI – Estudou na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Roma. Inconformada com os móveis que encontrou no chegar ao Brasil, a italiana Lina Bo Bardi (1915-1992), posteriormente naturalizada brasileira, decidiu desenhar o mobiliário para seus projetos de arquitetura. Fundou com Giancarlo Palanti o Studio de Arte Palma que funcionou de 1948 a 1950 – para produzir móveis em série. O ponto de partida foi a simplicidade estrutural, aproveitando-se a extraordinária beleza das veias e da tinta das madeiras brasileiras, assim como seu grau de resistência e capacidade.  Lina manteve intensa produção cultural até o fim de sua vida, em 1992.

 

MANECO QUINDERÉ – A consequência natural do trabalho em teatro e música foi o convite para iluminar espetáculos de ópera e balé. A partir de então, as artes plásticas também se renderam ao talento de Maneco e surgiram os projetos de luz para exposições. Toda essa experiência levou os arquitetos mais importantes do país a procurarem parcerias em seu trabalho, para iluminar seus projetos e, desde 2000, colabora com projetos de iluminação para residências e comércio. Maneco ainda desenha e produz luminárias diferentes assinadas por ele.

 

MÓVEIS CIMO – A empresa iniciou suas atividades no início do século passado, em 1912. Em 1921, iniciou a produção de cadeiras a partir do reaproveitamento das aparas de imbuia para serem comercializadas nos centros urbanos de São Paulo e Rio de Janeiro. Seu pioneirismo foi conquistado devido a alguns fatores: o reaproveitamento de material, a comercialização nos maiores centros urbanos do país e a criação de um produto de qualidade destinado à produção em escala. A Cimo foi pioneira na introdução da tecnologia da laminação diferenciando-se de seus concorrentes. Seu produto dominou o mercado nacional de móveis para instalações comerciais e institucionais, com repercussão na América Latina, tornando-a a maior fábrica do ramo de mobiliário na América Latina da década de 30 até 1970. Seu legado é incontestável e histórico: as inovações tecnológicas e a funcionalidade dos seus móveis demarcaram um período da história e da cultura brasileira.

 

OSCAR NIEMEYER – Oscar Niemeyer nunca encontrou limites para a criatividade nas suas obras, e sempre acrescentou valor à sua extensa e extraordinária carreira. Apaixonado pelas linhas curvas e livres, o arquiteto lançou uma coleção de mobiliário com poucas peças em madeira prensada, em parceria com sua filha Anna Maria, desenhadas por ele, a partir de 1970 e em diferentes épocas.

 

PAULO MENDES DA ROCHA – Um dos mais importantes arquitetos e urbanistas brasileiros, assume uma posição de destaque a partir de um premio que recebeu em 2006 chamado Pritkzer, cujo título se refere à arquitetura contemporânea em termos mundiais. Sendo ele um exemplo do pensamento estético caracterizado como a Escola Paulista, tinha como um lema a arquitetura crua, limpa e clara. No âmbito mobiliário, não deixou por menos, foi o criador da famosa Poltrona Paulistana que possui uma estrutura em aço flexível com assento e encosto por uma capa de couro ou tecido. A Paulistana foi também editada em pequenas series, e em 2009, entrou para a seleta coleção permanente do Museu de Arte Moderna – MoMa, em Nova York.

 

RODRIGO ALMEIDA – O designer natural do interior de São Paulo é especialista em criar móveis com apelo global e criatividade brasileira. O trabalho de Rodrigo tem materiais em contextos incomuns ao mobiliário; brincadeiras com texturas, que até poderiam ser consideradas irregularidades, mas que ganham novos significados para se tornarem informação de design. E o resultado são peças únicas e totalmente não óbvias.

 

SÉRGIO RODRIGUES – Sérgio é, sem dúvida alguma, uma das mais admiráveis expressões do design em nosso país. O traço coerente e único inscreveu seu nome na história do design do século 20, sobretudo pela criação de uma grande variedade de produtos, dos quais o mais famoso é a Poltrona Mole. Ao lado de mestres como Joaquim Tenreiro e José Zanine Caldas, Sérgio vem tornando o design brasileiro conhecido internacionalmente. Ele transformou totalmente a linguagem do móvel, foi generoso no traço e no emprego das madeiras nativas. A aproximação de desenho do móvel moderno com certos objetos da cultura brasileira, e a não preocupação com modismos, acentuam o espírito de brasilidade que tanto busca Sergio Rodrigues.

 

ZANINI DE ZANINE – Carioca nascido em 1978, Zanini de Zanine herda de seu pai Jose Zanine Caldas, grande arquiteto e designer brasileiro, o gosto pelo desenho. Estagiário de Sérgio Rodrigues durante um ano, o jovem se forma em desenho de produto no final de 2002 na PUC-Rio. Desde então, optou por ser designer independente. Inquieto, começou a experimentar e produzir seus próprios desenhos. Premiado nos principais concursos do país e com exposições no exterior, Zanini passou a ser convidado para assinar para diferentes marcas nacionais e internacionais.

 

 De 12 de março a 4 de maio de 2014.