ArtRio 2012

14/set

Em sua primeira edição, em 2011, a ArtRio superou todas as expectativas, com instalações de alta qualidade, 83 galerias participantes, sendo 33 estrangeiras, exibindo obras de 700 artistas, atraindo mais de 46 mil visitantes e bom resultado de vendas.

 

Agora, o ápice dessas ações acontece novamente entre os dias 13 e 16 de setembro, com a segunda edição da feira internacional de arte contemporânea. A ArtRio 2012, Pier Mauá, Rio de Janeiro, RJ, vai reunir em quatro armazéns e um anexo do Píer Mauá, o acervo de quase uma centena de galerias nacionais e estrangeiras com trabalhos que abrangem desde a arte moderna até novíssimas obras de arte contemporânea – muitas delas inéditas. São aproximadamente 13.000m2 de área de feira, com 6.900 m2 voltados para a arte internacional. O “Programa Panorama” engloba as galerias já consagradas, com mais de cinco anos de existência, que tenham um papel atuante no mercado de arte. Já o “Programa Box”, apresenta a ousadia e inovação de galerias mais novas, que desenvolveram projetos artísticos inéditos, especialmente para a atual edição da ArtRio 2012.

 

A mostra “Solo Projects”, que traz obras de renomados artistas internacionais, conta mais uma vez com a curadoria de Julieta González (que já atuou na Tate Modern, Museu Alejandro Otero, Caracas e Whitney Museum, Nova York) e Pablo León de La Barra (consultor de arte, galerista e curador atuante no mercado londrino). Também em seu segundo ano, a mostra “ArtRio Videos” traz destaques das produções audiovisuais.

 

A feira ainda conta com “Espaço Kids”, oficina de artes para crianças, com coordenação de Daniel Azulay; com a “Livraria Blooks”, onde são realizados lançamentos de livros de arte e palestras gratuitas; pólo de alimentação e pockets shows com vista para o mar.

 

A ArtRio foi um divisor de águas no cenário brasileiro de artes visuais e no exterior, hoje é vista como uma das grandes feiras internacionais entre as que se realizam em diversos países.

Nelson Leirner 80

06/set

Artista múltiplo, Nelson Leirner inaugura exposição individual com o nome de “Quadro a quadro: Cem monas”, na Galeria Silvia Cintra + Box 4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ. Esta exposição comemora os 80 anos de Nelson Leirner, completados em janeiro. O artista mantém, antes da abertura, tudo sob muito sigilo, resguardando esta instalação única que ocupará todo o espaço físico da galeria. Serão cem imagens estilizadas da clássica “Mona Lisa”, exibidas em caixas de acrílico. Séries de “Mona Lisa” usando brincos, outra de batom vermelhão, outra com bigode, etc…em suma, uma instalação temática.

 

A ironia, marca registrada em sua carreira, é evidente. Trata-se de uma crítica ao abuso da tecnologia, que banalizou a figura da “Mona Lisa” em tantas piadas recebidas pelo artista por e-mail e encontradas na internet nos últimos anos. Para “banalizar o banalizado”, segundo suas próprias palavras, Leirner retomou o espírito artesão, com intervenções manuais em imagens da criação de Leonardo da Vinci. O próprio tecido que estampa as imagens foi cortado manualmente em um trabalho que se estendeu por 10 meses até a colocação final das peças. Uma síntese de uma carreira contada através de uma espécie de filme feito à mão, visualizado por meio de 100 trabalhos.

 

A “Mona Lisa” já havia sido abordada pelo artista em sua presença na Bienal Internacional de Veneza, em 1999. O artista assina a própria apresentação do trabalho em exposição. Nelson também estará na ArtRio, com outra obra inédita e lançará um livro no final do ano.

 

Até 20 de outubro.

 

Cinco séries fotográficas

03/set

A Portas Vilaseca Galeria, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, exibe a exposição “Desvios na paisagem”, individual de fotografias de Pedro Victor Brandão. A mostra traz ao público 23 trabalhos produzidos entre 2008 e 2012 abordando a fotografia para além do domínio do visível. São cinco séries que elaboram processualmente a criação de imagens através de transformações químicas, físicas, biológicas e numéricas.

 

Em “Vista para o nada”, o artista utiliza filmes instantâneos vencidos para registrar reações químicas traduzidas como paisagens calcadas no acaso. A latência das imagens é trabalhada na série “Dupla Paisagem”, em que colônias de mofo foram cultivadas em filmes preto e branco que esperaram dez anos pela revelação. Em “WYBINWYS – O que você compra não é o que você vê”, imagens da ação da gravidade são sobrepostas por uma película refratora. Para serem acessadas, tais imagens exigem a busca de um ângulo específico por parte do leitor.

 

A série “Não Civilizada” traz nove impressões de paisagens do Rio de Janeiro completamente retocadas digitalmente para um estado “original” inexistente. Construções, aterros e monumentos são substituídos por elementos ressintetizados, remetendo tanto a um passado inabitado como a um futuro cataclísmico, colocando em dúvida o caráter objetivo da fotografia contemporânea e questionando o padrão de urbanização da cidade. A série “Curta”, retrata o processo de revitalização da zona portuária, alvo de uma complexa operação especulativa com a construção de grandiosos totens urbanos. O texto crítico da exposição foi escrito pelo próprio artista, intuindo reflexões sobre impermanência e o estado da paisagem urbana a partir dessas distorções no espaço e tempo fotográficos.

 

Ativa desde 2010, a Portas Vilaseca Galeria se estabeleceu no panorama da arte contemporânea reunindo artistas de diferentes gerações e firmando parcerias entre colecionadores, instituições e curadores.

 

Sobre o artista

 

Nascido em 1985, Pedro Victor Brandão é artista visual e fotógrafo. Formado na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, em cursos livres de 2005 a 2009 e no programa “Aprofundamento”, em 2010. Em 2009, graduou-se em Fotografia pela Universidade Estácio de Sá. Desde 2005 desenvolve trabalhos autorais que versam sobre ressignificações da imagem fotográfica hoje. Em 2011 faz sua primeira exposição individual dentro do projeto “Ocupação Cofre”, na Casa França-Brasil, com a série “Pintura Antifurto”. Entre as exposições coletivas que participou destacam-se “Novíssimos”, Galeria IBEU, 2012, Rio de Janeiro; “Novas Aquisições”, 2010/ 2012, MAM – Rio, 2012 e “Sem Título #1 – Experiências de Pós-Morte”, Galeria Oscar Cruz, 2011, São Paulo. Em 2008, ganhou o 3º Prêmio do 1º Salão de Artes Visuais de Petrópolis e em 2010, foi premiado no XI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, com o projeto “O Transitório Fóssil”. Seus trabalhos integram coleções públicas e particulares. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.

 

De 05 de setembro a 06 de outubro.

Mostras simultâneas

31/ago

A Galeria de Arte IBEU, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, exibe duas individuais simultâneas das artistas Bianca Bernardo e Daniela Seixas, com curadoria de Ivair Reinaldim. Bianca Bernardo e Daniela Seixas foram premiadas pela Comissão Cultural do Ibeu pelos melhores trabalhos do Salão de Artes Visuais Novíssimos, realizado em 2011.

 

Bianca Bernardo apresenta a individual “Terra Fabricada” composta por desenhos, objetos e o filme “Terra Fabricada”, realizado em 2012 entre Brasil e Portugal durante o período de residência artística no LARGO, em Lisboa. Ivair Reinaldim, crítico de arte e membro da Comissão Cultural do Ibeu, diz no texto de apresentação da exposição de Bianca Bernardo: “A dimensão que envolve o projeto “Terra Fabricada” de Bianca Bernardo é aquela do confronto com as próprias origens. Mas toda origem é escolha deliberada – por necessidade, eleição afetiva ou desejo –, disposição que visa identificar um lugar, um estar no mundo. Por isso, há nesta exposição algo que extrapola a referência a um local específico, demarcando muito mais uma propensão, um estado de espírito, um querer. Trata-se de um processo com forte apelo ficcional: o filme documental homônimo, que a artista concebe entre Brasil e Portugal, é representação tanto quanto o conjunto de subjetivações que lhe serviu de suporte, uma colagem/montagem de fragmentos diversos, que reúne lembrança familiar, memória induzida e imaginação pessoal”.

 

Daniela Seixas apresenta, nesta que é sua segunda exposição individual intitulada “E toda umidade que há no meio”, desenhos, objetos, vídeos e palavras. Nos trabalhos realizados em 2010-2011 e 2012, a artista parte do enfrentamento da experiência com o desenho, com as palavras e suas atmosferas. Seja no gesto incessante que expõe a proximidade entre o risco e o mar ou nas surpresas das trocas invisíveis e desenhos no mundo. A artista reúne os trabalhos sob aquilo que chama de uma “discreta vigília e tentativa”. No texto de apresentação da exposição de Daniela Seixas, Ivair Reinaldim diz: “A paisagem não está fora; ela nos atravessa e se constitui a partir de nossa experiência: eis como podemos apreender a exposição de Daniela Seixas. É por meio da linguagem, no sentido estendido e corporificado das palavras, que a artista reúne um conjunto de proposições, capaz de fornecer um panorama insólito e fragmentado do mundo: uma atmosfera rarefeita; contudo, na eminência de sua condensação. São projetos que se realizam enquanto possibilidades de encontro poético entre aquilo que a artista materializa por meio de objetos, desenhos, vídeos e ações e a disposição subjetiva do espectador para atribuir significados a sua experiência imediata. Encontro que reforça o momento em que nossas vivências dão sentido à existência”.

 

Até 14 de setembro.

A nudez por Luiz Garrido

A Galeria Tempo, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, apresenta “Nudes”, exposição individual de fotografias de Luiz Garrido. O artista ganhou notoriedade fotografando moda e publicidade, atividade a que se dedicou assiduamente a partir dos anos 70.

 

Realizou, nos últimos anos, um ensaio de nus femininos, clicando modelos em seu estúdio. O resultado dessa série é o que ele apresenta nesta mostra: 10 obras – exibidas pela primeira vez em uma galeria – imagens individuais, dípticos e trípticos, sempre em preto e branco, marca registrada do fotógrafo. Garrido é um profissional de expressão na cidade do Rio devido a tudo que vivenciou e construiu em sua carreira.

 

Ao longo do tempo, reuniu uma galeria de retratos de personalidades, que ele intitula “Heróis”, exibida em diversas ocasiões na cidade do Rio de Janeiro e no livro “Retratos – técnica, composição e direção“ , lançado pela editora iPhoto em 2011, com personalidades nacionais como Tom Jobim, Oscar Niemeyer, Cauby Peixoto, Maitê Proença, Rogéria e Betinho, são alguns dos “heróis” retratados por ele de forma criativa e inusitada.

 

“O trabalho de Garrido reflete o seu temperamento irreverente. A série de nus alia simplicidade e sofisticação, sensualidade e delicadeza; tudo feito com inquestionável domínio técnico. A precisão dos gestos e do enquadramento resulta em imagens de corpos ora esculpidos ora desenhados pela luz, feitas pelo  olhar experiente de um artista que transita com naturalidade no estúdio fotográfico” , comenta Marcia Mello, que assina a curadoria da exposição.

 

Até 27 de outubro.

Benemerência com arte

29/ago

Nesta quinta-feira, dia 30 de agosto, às 20h, haverá um leilão, no Parque Lage, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, em prol da construção de casas para as vítimas das chuvas do Vale do Cuiabá, em Petrópolis, com obras doadas por diversos artistas e galerias. A iniciativa do leilão é de um grupo capitaneado pelo empresário Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, presidente da Firjan. O convite para o leilão custará R$500,00 também revertido para o projeto Nosso Cuiabá, e dará direito a uma degustação preparada na hora pelos chefs Claude Troisgros, Felipe Bronze, Roberta Sudbrack, Roland Villard e Samantha Aquim, que, assim como Bia Lessa – responsável pela cenografia –, vão trabalhar gratuitamente. O leilão será conduzido pela Bolsa de Arte, comandada por Jones Bergamin, também em trabalho voluntário.

 

Na extensa lista de artistas participantes e também doadores, encontram-se: Adriana Varejão, Afonso Tostes, Alejandro Somaschini, Alexandre Mazza, Ana Holck, Ana Vidigal, Angelo Venosa, Antonio Bokel, Antonio Dias, AoLeo, Beatriz Milhazes, Bettina Vaz Guimaraes, Brigida Baltar, Cabelo, Carla Guagliardi, Carlos Vergara, Cildo Meireles, Claudia Bakker, Claudia Jaguaribe, Cristina Canale, Daniel Senise, Ding Musa, Edu Coimbra, Elisa Castro, Elizabeth Jobim, Enrica Bernadelli, Érika Verzutti, Felipe Barbosa, Gabriela Machado, Gisele Camargo, Gonçalo Ivo, Jaqueline Vojta, João Modé, José Damasceno, Leda Catunda, Leon Ferrari, Livia Flores, Luiz Áquila, Luiz Monken, Malu Saddi, Marcelo Solá, Maria Lynch, Maria Nepomuceno, Matheus Rocha Pitta, Miguel Rio Branco, Nazareno, Nelson Felix, Nelson Leirner, Otavio Levier Serra, Otavio Schipper, Raul Mourão, Renan Cepeda, Rosana Ricalde, Thiago Rocha Pitta, Vik Muniz e Waltercio Caldas.

 

As galerias participantes são Anita Schwartz, Baginski Galeria (Portugal), Cosmocopa Arte Contemporânea, ECCO – Espaco Cultural Contemporâneo, Galeria Fortes Vilaça, Gentil Carioca, H.A.P Galeria, Helio Sussekind, Luciana Caravello Arte Contemporânea, Marcia Barrozo do Amaral, Mercedes Viegas Arte Contemporânea e Silvia Cintra. A produção do evento contou com o apoio de  BNY Mellon, Crédit Agricole, Dufry, Bolsa de Arte, entre outras.

 

Para mais informações acesse aqui.

Panorâmica de Ubi Bava

24/ago

A Ronie Mesquita Galeria, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, mostra exposição panorâmica der Ubi Bava, um dos mais significativos representantes de múltiplas correntes do pensamento artístico no Brasil como o abstracionismo, concretismo, construtivismo, arte cinética, abstração informal, abstração geométrica e op arte.

 

A mostra da Ronie Mesquita Galeria apresenta 22 obras realizadas no período compreendido entre as décadas de 1940 até 1970, que serão reproduzidas também em um catálogo elaborado pela galeria com tiragem de mil exemplares. São obras de técnicas diversas que em conjunto constroem uma síntese da poética e rica trajetória do artista.

 

Os trabalhos de Ubi Bava apresentam características resultantes de pesquisas na linha geométrica, da cor pura versus forma e pinturas com uma nítida vibração de superfícies abstratas. Sua obra pictórica exibe extremo rigor, sintetizando as leis da geometria como instrumento de ordenação das emoções através de linhas e cores íntegras e de espaços com sentido preciso de infinitude. Sobressaem a importância da educação visual e o poder das imagens, que não são estáticas e incitam a vibração ótica que as modificam e as deslocam do ponto de apoio num ritmo preciso e constante.

 

Os trabalhos com espelhos, os objetos óticos e cinéticos, os de multivisão e tubos sensibilizados são considerados os mais importantes legados de Ubi Bava. Alguns em caixas de acrílico perfuradas em pequenos círculos onde foram inseridos espelhos côncavos coloridos concretizam sua proposta fenomenológica. Não obstante a busca  incansável e sistemática de espaços, estruturas, equilíbrio e forma, o trabalho do artista procura também um constante diálogo com o espectador/fruidor.

 

Sobre o artista

 

Ubi Bava nasceu em Santos, SP, em 1915. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro com Lucílio de Albuquerque e Henrique Cavalleiro na década de 1930. Entre os anos 1940/50 desenvolveu um abstracionismo geométrico a partir do qual foi caminhando a passos largos para a arte cinética e a arte ótica. No inicio da década de 1950, realizou  pesquisas sobre espaços pluridimensionais. Os efeitos ópticos e cinéticos trabalhados, acabam por caracterizar o foco sobre o ritmo dessas estruturas, domando-se aos múltiplos direcionamentos perceptivos no contato com a obra, a que o artista chamou de “multivisão”.

 

Em 1961, recebeu o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro do Salão de Arte Moderna e fixou-se na Europa por dois anos, principalmente, na Itália. Já nos anos 70, trabalhando com espelhos recortados e modulados, calotas de alumínio e canos plásticos, chamava o espectador a participar da obra. Construtivista, ele próprio chegou a se considerar uma espécie de concretista lírico.

 

Além de diversas exposições individuais e coletivas também participou de diversas Bienais de São Paulo nas quais  obteve quatro prêmios de aquisição. Suas obras fazem parte dos acervos  do Museu Nacional de Belas Artes do Rio, MAM-Rio, MAM-SP, Palácio do Itamaraty, MAC-Niterói, e de  grandes coleções particulares do Brasil e exterior como as de  Gilberto Chateaubriand, Roberto Marinho, Hecilda e Sérgio Fadel, Adolpho Leirner e Queiroz Galvão entre outras. No Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, existe a sala UBI BAVA, em homenagem ao artista. Durante toda a sua vida também dedicou-se ao ensino da arte e arquitetura. Faleceu em 1988 na cidade de São Paulo, SP.

 

 

Abertura: 27 de Agosto

 

Até 06 de outubro.

Dois na Casa França-Brasil

22/ago

Cromática

A exposição individual de Waltercio Caldas, denominada “Cromática”, é atual cartaz da Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Esta é a primeira grande exposição do artista no Rio após a mostra retrospectiva realizada no MAM em 2010. O evento acontece em um ano bastante produtivo e premiado para Waltercio, que acaba de lançar dois novos livros. Além disso, conquistou o prêmio da Bienal de Cuenca e prepara outra importante exposição para a Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre.

 

Diz a lenda que, na estreia de seus filmes, o diretor Alfred Hitchcock costumava pregar, na porta dos cinemas, um cartaz que dizia: “Não contem o final para seus amigos”.  Nessa mesma linha, a surpresa é um dos ingredientes essenciais dessa nova exposição de Waltercio Caldas, evento que procura estimular algumas reflexões: O que acontece quando nos vemos diante de uma obra de arte?  Como estender um momento fugidio até o limite possível? Dá para explicitar coisas que não são explícitas?

 

Para o artista, nada é mais importante do que o momento em que o objeto de arte se apresenta para a pessoa: “- Esse instante, tem características “inaugurais” – acentua. – Quando o objeto de arte aparece pela primeira vez, se apresenta somente na integridade da sua própria percepção. É “o momento do objeto”, aquele instante inicial de surpresa e aparecimento – que pretendo que dure  o maior tempo possível”.  – destaca.

 

 

Metáfora do valor

 

Em todas as suas grandes exposições, a Casa França-Brasil convida um outro artista para ocupar o espaço do Cofre. Desta vez a escolhida é Analu Cunha, artista alagoana radicada no Rio de Janeiro cuja obra é centrada nas questões da imagem e das qualidades ambíguas e contraditórias que lhes atribui.

 

A instalação “Pickpocket” – que usará como suporte uma TV LED de 24 polegadas, discretamente embutida na parede do cofre – pretende realçar o caráter soturno (e mesmo secreto) desse lugar, normalmente fechado “a sete chaves”. A porta entreaberta convida o espectador a acompanhar o surgimento de uma imagem misteriosa, que se transforma e se modifica gradualmente até o fim abrupto do filme.

 

Valendo-se da metáfora do “valor” econômico, a artista propõe ao visitante uma reflexão sobre as ambiguidades de nossa própria vida privada, sobre o que decidimos mostrar ou esconder, exibir a esmo ou trancar num cofre.

 

 

Até  21 de outubro.

A poética das ruas

Devotionalia 1

Os premiados artistas contemporâneos Dias & Riedweg inspiraram-se em João do Rio e levaram ao Centro de Artes Hélio Oiticica os caminhos videopoéticos do Rio em que vivem. “Até que a rua nos separe”, é a exposição que reúne alguns dos mais expressivos trabalhos da dupla no Centro de Artes Hélio Oiticica, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A exibição foi qualificada pelos autores como uma ode a João do Rio, considerado o maior cronista das doçuras e mazelas cariocas entre o final do século 19 e o início do século 20.

 

Assim como João do Rio, o autor de “A alma encantadora das ruas”, os dois artistas se identificam com os movimentos, sentidos e sensações que a cidade inspira. Como cronistas ampliados pela tecnologia de seu tempo, Dias e Riedweg compõem retratos fiéis das várias realidades cariocas com som, imagem e movimento. A exposição compõem-se de nove instalações em vídeo e outras obras que envolvem fotografia, desenhos e música, sem abrir mão do movimento e do pulso da vida na cidade.

 

 

Sobre os artistas

 

Maurício Dias nasceu no Rio de Janeiro, 1964, e Walter Riedweg em Lucerna, Suíça, 1955. Trabalham juntos desde 1993 e participaram de algumas das mais importantes exposições de arte contemporânea internacionais, como a 12ª Documenta de Kassel 2007, Bienal de Veneza, 1999, e outras bienais, como as de São Paulo, Havana, Mercosul, Liverpool, Xangai, Gwanjú e Tenerife.

 

Com individuais de grande formato realizadas no CCBB do Rio de Janeiro, no MACBA de Barcelona, no Kiasma em Helsinki, no Le Plateau de Paris, no MUAC da Cidade do México e no Americas Society de Nova Iorque, a dupla se consolidou no cenário de arte contemporânea internacional por seu trabalho pioneiro, que mistura projetos participativos de arte pública e videoinstalação.

 

Dias & Riedweg tornaram-se conhecidos do público carioca a partir da primeira exibição de “Devotionalia”, no Museu de Arte Moderna. O trabalho, que teve grande ressonância crítica e popular, é hoje parte do acervo do Museu Nacional de Belas-Artes. Convidados pelo curador Paulo Herkenhoff para a 24ª Bienal de São Paulo em 1998, tiveram participação marcante com a videoinstalação “Os Raimundos, Severinos e Franciscos”. Logo a seguir fizeram outra videoinstalação, “Belo é também tudo aquilo que não foi visto”, com um grupo de pessoas cegas do Instituto Benjamim Constant (exibida na 25ª Bienal de São Paulo) e “Mera Vista Point”, um projeto de arte no mercado informal paulistano, criado para o Arte Cidade 4, em São Paulo.

 

Os artistas consolidaram sua trajetória em 2002, com a grande individual “O Outro começa onde nossos sentidos encontram o mundo”, curada por Catherine David (Documenta X), no CCBB do Rio de Janeiro.

 

 

Até 30 de setembro.

Segall na Pinakotheke

20/ago

A Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “Lasar Segall – Obras sobre papel: pinturas, desenhos e gravuras”, com 71 trabalhos, obras pertencentes a família do artista. Grande parte dessas obras é inédita ao público, em seleção feita pelo curador Max Perlingeiro. A exposição abrange obras produzidas entre 1910 e 1956, na maior diversidade de técnicas e processos, e na maior variação temática já apresentada em uma única exposição sobre Lasar Segall. São 17 pinturas, 23 desenhos e 31 gravuras, reunidos em temas como retratos e autorretratos, flores e naturezas-mortas, figuras e grupos de figuras, judaísmo, brasileiros e europeus, negros e brancos, guerra, paisagens, animais, e séries importantes como “Emigrantes” e “Mangue”.

 

Max Perlingeiro desenhou a exposição de modo a que público possa apreciar a mestria de Segall como pintor, desenhista e gravador. Uma temática recorrente na obra de Lasar Segal, o judaísmo está destacada na gravura “Vigília fúnebre”, de 1928, uma das obras que o artista fez após a morte de seu pai, Abel Segall, em 1927. Esta mesma imagem, Segall reproduz em pintura a óleo sobre tela, obra exibida nesta exposição.

 

A exposição na Pinakotheke resgata ainda várias obras apresentadas na marcante exposição de 1943, no Museu Nacional de Belas Artes – como as séries “Mangue” e “Emigrantes” – que causou enorme impacto e dividiu a opinião pública.

 

Na abertura da exposição será lançado um livro com 176 páginas, português/inglês, apresentado por Max Perlingeiro, e ensaio inédito no Brasil escrito por Jorge Schwartz, diretor do Museu Lasar Segall e outros assinados pelo chanceler Celso Lafer; Rodrigo Naves  e Vera d’Horta.

 

 

O artista

 

Nascido em 1891 em Vilna, capital da Lituânia, cedo Segall aprende desenho, e viaja para estudar e expor em Berlim, depois Dresden e Amsterdã. Em 1912 e 1913 mora em São Paulo, onde estão seus irmãos. Nesse período, já tem obras suas adquiridas por coleções  brasileiras. De volta a Berlim, fica até 1923, quando se muda definitivamente para o Brasil, país que adota até sua morte, em 1957.

 

 

A palavra do curador

 

Quando propus à família do artista a realização desta exposição já tinha consciência da dificuldade na seleção das obras, pois como colecionador de papel − um suporte dito “frágil” −, sei bem do extraordinário fascínio sobre os colecionadores.

 

As primeiras obras de grandes coleções, geralmente, são pequenos papéis. E assim, foram meses de pesquisa até chegar a um ponto onde nada mais poderia ser incluído e, muito menos, retirado. Tornou-se semelhante ao sentimento de um artista. Um trabalho solitário. A partir daí a tarefa foi criar uma narrativa para as setenta e uma obras selecionadas, a grande maioria inédita, produzidas entre 1910 e 1956, na maior diversidade de técnicas e processos, na maior variação temática já apresentada em uma única exposição: retratos e autorretratos, flores e naturezas-mortas, figuras e grupos de figuras, judaísmo, brasileiros e europeus, negros e brancos, vivos e mortos, a guerra, paisagens, animais, e séries importantes como Emigrantes (1926-1930) e Mangue (1926-1929).

 

Quando Segall chega ao Rio de Janeiro, em 1923, conhece o Mangue, célebre zona de prostituição no centro da cidade. Daí resulta uma série de pinturas e gravuras executadas em metal e madeira a partir de 1928, na França. São cenas sensuais e misteriosas. Mulheres, vistas através de cortinas e persianas, estabelecendo um clima de mistério entre seus personagens.

 

O judaísmo, temática recorrente na obra de Segall, está presente nesta exposição, na gravura Vigília fúnebre. Sobre esta obra, comenta Cláudia Valladão de Mattos* que após imigração definitiva para o Brasil, Segall afasta-se novamente do ambiente judaico que fora um importante estímulo para sua obra durante o período entre 1918 e 1923. Ao chegar, ele foi recebido e valorizado pelo ambiente artístico local como um membro importante do movimento expressionista alemão, sem que sua vinculação com a cultura judaica fosse posta em evidência. Segall retornaria, no entanto, à representação direta de temas judaicos em 1927, por ocasião da morte de seu pai, Abel Segall. A gravura Vigília fúnebre de 1928 entre outros, fazem parte desse conjunto. Diferentemente das obras de temática judaica do período alemão, que, como vimos, aspiravam à expressão de uma experiência universal por meio da especificidade judaica, essas obras parecem sublinhar o caráter pessoal e particular do evento retratado. Não por acaso são, em sua maioria, obras em papel, um meio mais intimista do que a pintura. Elas não falam de uma “dor universal”, ou da condição humana em geral, mas da dor da família Segall diante da perda de um ente querido. Assim também, as pessoas retratadas são reconhecíveis e seu sofrimento descrito com precisão. Tal registro pessoal e singular parece justificar o largo uso que Segall faz de símbolos e referências religiosas. Na parte superior desta gravura lê-se a inscrição: “Pai Segall”, em hebraico, invertida.

 

Para concluir, uma pequena historinha: em 1980 tive a ousadia de pedir ao filólogo Antonio Houaiss (1915-1999) para apresentar uma singela exposição de desenhos de artistas brasileiros, com a certeza de ouvir uma recusa elegante como era o hábito do meu saudoso amigo, entretanto, fui presenteado com um belo texto, que com o maior prazer compartilho, e que hoje parece ter sido escrito especialmente para esta exposição: (…) “Eis que essa folha branca tem sido o suporte de tudo o que o Homo Symbolicus pôde fantasiar e criar nesses milênios, multiplicando vertiginosamente a reserva do saber: e não fantasiou e criou pouco. Para essa folha branca, transpôs a arte parietal, fazendo-a traçado, desígnio, embutido, pincelado, riscado, grifado, gravado, grafado, multiplicado dürerianamente; para essa folha, transpôs a cromática aquarelada, aguada, sanguinizada, entremesclada; nela, folha branca, se cristalizaram sonhos os mais díspares, desde os gestuais dos mimos mímicos, até os puramente verbais, nas suas faces fônicas e psíquicas, com seus ensinamentos de amar − plantar, colher, fazer, ser, produzir, irrigar, drenar, construir, gozar, fruir, ouvir, dançar, musicar, sorrir, suspirar, respirar, dormir, sonhar, despertar −, até seus ensinamentos de desamar − conquistar, dominar, ter, destruir, militar, reter, deter, conter, torturar, matar: − eis aí o papel, esse documento (o que ensina) humano mais completo de belezas e tristezas. (…) Não fujamos à benção do papel: eis que − entre nós − a arte do papel, o papel de arte e a arte no papel ou sobre o papel são − ainda! − arte… menor”.

 

Max Perlingeiro

(*) In Lasar Segall e as vanguardas judaicas na Europa e no Brasil.

 

Até 20 de outubro.