O Jubileu de Ouro de Ricardo Camargo

04/nov

Ricardo Camargo, marchand, com décadas de atividade no mercado cultural brasileiro, comemora o seu Jubileu de Ouro com a 16ª edição da mostra coletiva “Mercado de Arte”, exibindo 60 obras de 31 artistas e homenagem aos 120 anos de nascimento do pintor Vicente do Rego Monteiro.

 

Ricardo Camargo iniciou sua atuação no mercado de arte, de forma concreta, após a realização de sua primeira venda aos 17 anos de idade. A partir daquele momento, e ao longo de sua trajetória, firmou parcerias com Ralph Camargo, Paulo Figueiredo Filho, José Duarte de Aguiar, Ugo di Pace e relacionou-se com pessoas que se tornaram importantes para a arte brasileira, como Pietro Maria Bardi, Volpi, Wesley Duke Lee, Flávio de Carvalho, entre tantos. Uma das características que diferenciam a atuação de Ricardo Camargo é a diversidade de estilos com os quais trabalha. Em seu currículo, constam exposições com obras que remontam à Arte Pré-Colombiana, passando com destaque pelas modernistas e chegando às contemporâneas.

 

Seu compromisso com a disseminação da cultura e sua dedicação ao circuito de arte está representada em projeto especial realizado em parceria com Patricia Lee, onde conceituaram e inauguraram, em 2015, o Wesley Duke Lee Art Institute, dedicado a preservar a memória e a obra do artista.

 

Entre os projetos que criou, está a exposição “Mercado de Arte”, agora em sua 16ª edição. Essa mostra coletiva tem um diferencial: apenas é apresentada quando for possível reunir, no mínimo, 20 obras inéditas ou trabalhos que estão fora do mercado há mais de 30 anos. Em ação simultânea, Ricardo Camargo faz uma homenagem aos 120 anos de nascimento de Vicente Rego Monteiro, com 8 obras do importante artista brasileiro e texto de Olivio Tavares de Araujo.

 

Todos esses eventos não representam uma celebração de conquistas do passado. A disposição, inteligência e visão do mercado de arte de Ricardo Camargo, na verdade, celebram o início de uma nova jornada: os novos 50 anos.

 

De 12 de novembro a 20 de dezembro.

 

Djanira na Casa Roberto Marinho

10/jul

 

A mostra “Djanira: a memória de seu povo” reafirma o compromisso da Casa Roberto Marinho, Cosme Velho, Rio de Janeiro, RJ, com a arte moderna. Em exposição até 17 de outubro.

A palavra de Lauro Cavalcanti,

A associação com o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) reforça a nossa prática de parcerias com instituições de excelência. A pintura moderna brasileira é um território pouco explorado pelas novas gerações. Djanira da Motta e Silva possui um valor quase oculto nas últimas décadas. Um dos encantos de uma exposição é tornar presente, sem intermediações, obras criadas há longos anos. Íntegras, não dependem de conversões tecnológicas como os filmes ou as músicas. Atemporais, as telas, muito bem selecionadas por Rodrigo Moura, curador adjunto de arte brasileira e Isabella Rjeille, curadora assistente, chegam novas aos olhos de hoje.

A coleção de Roberto Marinho reúne conjuntos de trabalhos de seus contemporâneos modernos, dentre os quais 10 obras de Djanira. O jornalista nutria um carinho especial pela tela Mercado na Bahia que ocupava uma posição central na biblioteca de sua residência. E o vínculo com o MASP data de 1950 quando a casa do Cosme Velho abrigou durante uma noite festiva, os recém-adquiridos “Retrato de Zborowski” (1916-1919), de Amadeo Modiglani (1884-1920) e o “Retrato de Coco” (Claude Renoir) (1903-1904), de Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), apresentados à sociedade carioca, antes de rumarem para São Paulo.

Djanira é uma artista cuja trajetória começou tarde com muita determinação e esforço. Nenhum artista brasileiro retratou com tamanha atenção a luta pelo sustento das camadas mais desfavorecidas através do trabalho cotidiano. A origem humilde da pintora deu-lhe sensibilidade aguda para captar essas epopeias anônimas, as festas e a fé que tornavam menos dura a história de cada um. Frederico Morais, em palestra recente na Casa Roberto Marinho, ressaltou o equívoco de classificar-se a sua obra como primitiva. Uma leitura que só considere os temas pode levar a esse engano. Seria, contudo, confundir o etnólogo com a sua pesquisa. A economia de sua linguagem, o uso de poucos planos concisos e as cores vibrantes cuidadosamente escolhidas apontam para uma sofisticação absolutamente esperada numa artista de seu tempo. Não à toa alguns neoconcretos chegaram a buscar uma aproximação com a obra de Djanira, nos moldes que os concretos incorporaram a arte de Volpi (1896-1988). Autodidata no início, costureira, dona de pensão em Santa Teresa, se tornou aluna do pintor romeno Emeric Marcier (1916-1990) em troca de um amplo quarto com vista para árvores e a Baía de Guanabara. Djanira em entrevista publicada por Rubem Braga (1913-1990) na revista Visão nos conta:
“Marcier me explicou que eu era muito diferente dele; logo minha pintura tinha de ser muito diferente da pintura dele. Que eu não olhasse seus quadros, mas prestasse atenção às aulas, me ensinando toda a parte técnica da pintura, a começar pelo preparo de telas”.
Quando começa a expor, em 1943 no revolucionário prédio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e, em 1944 no Instituto dos Arquitetos, Djanira é reconhecida por gente importante do meio, tendo trabalhos comprados por Candido Portinari (1903-1962) e a entusiástica acolhida de Lasar Segall (1889-1957): “Você é uma verdadeira artista, não pare de pintar; não faça outra coisa além de pintar; pinte sempre (…)”.

E assim Djanira o fez.
Lauro Cavalcanti

Diretor Executivo/Instituto Casa Roberto Marinho

 

 

Alfredo Volpi e Bruno Giorgi

22/mar

Foram dez anos de pesquisas para construir uma exposição sobre a amizade entre dois grandes mestres da arte brasileira do século XX. “Estética de uma Amizade”, será exibida na Pinakotheke, Morumbi, São Paulo, SP, procura pontuar com memórias e produção artística os 50 anos de estreita convivência entre – o pintor Alfredo Volpi e o escultor Bruno Giorgi.

 

A mostra reúne cerca de 100 obras – a maioria apresentada ao público pela primeira vez, entre pinturas, desenhos e esculturas provenientes, da Coleção Leontina e Bruno Giorgi e colecionadores particulares. Os trabalhos são entremeados por fotografias, documentos, depoimentos e gravações com saborosas narrativas sobre esta amizade que perdurou de 1936 até a morte de Volpi em 1988.

 

No raro conjunto de numerosas pinturas de Volpi, esculturas, desenhos e telas de Bruno Giorgi, sobrepõem-se as obras surgidas de relações de amizades ou familiares, como os retratos de Mira Engelhardt e Gilda Vieira, feitos por Volpi, além de Judith, sua mulher, retratada por ele, e um desenho dedicado à sua única aluna Lore Koch; o retrato de Leontina Giorgi, as joias/esculturas projetadas por Giorgi; nus femininos assinados pelos dois artistas; retrato de Giorgi por Volpi e as cabeças de Volpi e Mario de Andrade esculpidas por Giorgi; as interpretações discordantes do poema “Balada de Santa Maria Egipcíaca” de Manuel Bandeira, que ambos fizeram em pintura; e até uma série de trabalhos concebidos na convivência da dupla. Há também as maquetes das obras de Brasília, quando os afrescos de Alfredo Volpi e as esculturas de Bruno Giorgi sublinharam a arquitetura de Oscar Niemeyer.

 

A exposição revela como o pintor, que se mudou com a família para o Brasil com apenas um ano de idade, e o escultor, ambos originários da mesma região italiana, a Toscana, compartilharam a fraterna relação e o saber artístico com igual intensidade. Não foram poucas as vezes que, com um esboço debaixo do braço, Volpi saiu de São Paulo e foi ao Rio de Janeiro discutir uma pintura com o amigo. Leontina, viúva de Bruno Giorgi, que muito contribuiu para a realização desta exposição, disponibilizando obras e arquivo, testemunhou muitas das longas conversas ou silêncios que os dois amigos gostavam de dividir. Ao mesmo tempo foram artistas que puderam comemorar juntos e reciprocamente virtuosas trajetórias: ambos participaram de prestigiosas exposições nacionais e internacionais, entre as quais em edições, às vezes coincidentes, como a Bienal de Veneza e a Bienal Internacional de São Paulo, além de conquistar vários prêmios no Brasil no exterior.

 

O projeto foi possível graças ao empenho dos curadores da exposição Max Perlingeiro e Pedro Mastrobuono, Leontina Ribeiro Giorgi, Instituto Volpi de Arte Moderna e à equipe da Pinakotheke. Com os arquivos do marido, Leontina Ribeiro Giorgi, gravou longas entrevistas, rememorando fatos históricos e pessoais. Nas suas pesquisas, Pedro, que é filho de Marco Antonio Mastrobuono, um dos primeiros colecionadores e amigo pessoal de Volpi, teve a oportunidade de encontrar informações preciosas, sobretudo entrevistas de Bruno Giorgi em Brasília, onde o pintor ítalo-brasileiro era constantemente mencionado.

 

Durante a exposição será lançada a publicação “Estética da Amizade – Alfredo Volpi e Bruno Giorgi” que, além do material da mostra, contém textos de David Léo Levisky, Rodrigo Naves e Mario de Andrade e dos curadores Max Perlingeiro e Pedro Mastrobuono, os quais destacam as personalidades que conviveram com a dupla, como Mário Schenberg, Lasar Segall, Sergio Milliet, e apresentam uma inédita biografia em ordem cronológica entrelaçada dos dois artistas, na qual é possível constatar como arte e amizade pulsavam em particular sintonia.

 

 

Até 25 de maio.

Exposição de Paulo Roberto Leal

08/nov

Galeria Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Paulo Roberto Leal”.

 

Artista carioca, com influência dos movimentos Concreto e Neoconcreto, é reconhecido por ter explorado as possibilidades plásticas do papel A produção artística de Paulo Roberto Leal (1946 -1991) é tema da exposição apresentada pela galeria Bergamin & Gomide entre os dias 08 de novembro de 2018 e 02 de fevereiro de 2019. As possibilidades e manipulações plásticas do papel kraft e outros papéis mais nobres foram amplamente exploradas pelo artista carioca, que iniciou sua carreira em 1969 como programador visual de catálogos. Os anos 1970 e 1980 marcaram a carreira de Leal, influenciada pelos movimentos Concreto e Neoconcreto, típicos de sua geração, além do movimento Minimalista, a Arte Povera e Arte Conceitual. Apoiado nessas abordagens, o artista apresentou uma produção reflexiva, mesmo sem ter formação acadêmica. Sua técnica foi adquirida por meio do convívio com artistas e críticos, da leitura de obras contemporâneas e da visitação a museus e galerias. A arte de Leal tem caráter experimental, com o objetivo de desenvolver uma lógica de ideias através de uma expressão plástico-visual. A mostra apresentada pela Bergamin & Gomide reúne cerca de 16 trabalhos, entre eles Armagens, que tem moldura acrílica com fragmentos de papel kraft dobrados no limite, antes de formarem vincos. A obra explora a tensão elástica do próprio papel. Ondulando o plano da folha até o seu limite, Paulo Roberto Leal constrói curvaturas e ordena os fragmentos que por acumulação formam linhas nos encontros das diversas folhas. Armagens é um território delimitado pela moldura e um volume contido pela superfície de acrílico transparente e leitoso, que remetem à técnica renascentista do chiaroescuro (contraste entre luz e sombra). Já na série Entretelas e Sobretelas, Leal transmite uma renovada delicadeza em tela crua e a linha de costura, sem papel kraft, articulando formas geométricas com uma tênue sugestão de cor por meio dessas linhas. Em 1978, o artista apresentou uma mudança fundamental em suas criações com Armaduras, ao destacar a simplicidade e a autonomia dos materiais. Embora possa ser vista, a linha é desmaterializada, formada a partir de recortes e colagens. A linha é uma espécie de desejo. Após as mudanças sociais, políticas e culturais ocorridas na primeira metade da década de 1980, a repressão e a ditadura começam a ceder, a expressão artística ganha mais cor e a pintura mais espaço. A arte de Leal também passa por transformações e transita para o campo pictórico, sem deixar de lado todo o legado e a tradição construtivista concreta. Nesse contexto, o artista mostra-se mais aberto à cidade, ao pluralismo, às expressões bem humoradas e à introdução da figuração. Em 1984, Paulo Roberto Leal em parceria com Marcus Lontra e Sandra Magger, organizou a exposição “Como vai você Geração 80?”, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro. Na ocasião, foram reunidos 123 artistas do eixo Rio – São Paulo. Leal e Lontra resumiram o espírito da exposição da seguinte forma: “está tudo aí, todas as cores, todas as formas, quadrados, transparências, matéria, massa pintada, massa humana, suor, aviãozinho, geração serrote, radicais e liberais, transvanguarda, punks, panquecas, pós-modernos, neoexpressionistas (…)”

 

A exposição de Paulo Roberto Leal, em cartaz na Bergamin & Gomide, é realizada com a colaboração da Ronie Mesquita | Galeria, do Rio de Janeiro.

 

Texto de Frederico Morais

Paulo Roberto Leal

Uma Releitura

 

 

Afirmei mais de uma vez, em textos críticos veiculados em jornais e em catálogos de suas exposições, que Paulo Roberto Leal é um artista de tipo novo, pós-moderno. Sigo pensando assim. Na juventude, nunca imaginou ser artista, tanto que se formou em economia e durante muitos anos foi funcionário do Banco Central do Brasil. Jamais cursou qualquer escola de arte, tampouco teve professores particulares. Aprendeu o novo ofício no convívio com artistas e críticos de arte, como frequentador assíduo de exposições e ateliês. Pouco a pouco, formou uma pequena coleção, reunindo obras de Ivan Serpa, Franz Weissmann, Amilcar de Castro, Lygia Clark, Willys de Castro, Volpi, Ione Saldanha e Raymundo Colares, artistas vinculados com maior ou menor grau de intensidade à vertente construtiva da arte brasileira. Um indicativo claro de qual seria sua opção.

 

Data de 1969 o início de sua atuação como artista. Mas, para Leal, desde os primeiros trabalhos autorais, o importante nunca foi exorcizar demônios interiores, nem, tampouco, apesar da gravidade do momento vivido, insistir em uma retórica política. Em sua carreira artística, relativamente curta devido à morte prematura, seu propósito maior foi exercer o pleno controle dos significados de sua obra, tendo como base um pensamento plástico.

 

Artista construtivo, o seu alvo foi sempre a materialidade da obra, a afirmação de seus componentes físicos e não alguma coisa situada fora dela, mas referida ou recriada enquanto imagem atada à superfície da tela. Mesmo em sua fase inicial, que tinha como matéria-prima o papel deslizando intocado sobre o painel, ou dobrado e acumulado em caixas de papelão abertas (“Arme”), convidando à participação criativa do espectador. E também aprisionado em recipientes de acrílico transparente ou fosco (“Armagem”). Mas, diante dos seus trabalhos, espectadores ou colecionadores ainda irão se perguntar se estão efetivamente diante de quadros? A resposta, claro, será afirmativa. Na série de trabalhos denominada “Entretelas”, poderíamos dizer que a agulha da máquina de costura funciona como um pincel, e o fio de linha, como tinta. Assim, sem usar tintas e pincéis, ou recortando e colando fragmentos do tecido, Leal seguiu construindo quadros, tanto que foram destinados à parede, situando-se, pois, no âmbito de uma tradição que se inicia no Renascimento. A portabilidade da pintura.

 

Para Leal, portanto, o quadro nunca foi uma questão encerrada, mesmo depois de tantas vanguardas e de muitas “mortes” anunciadas da pintura. E se nas diferentes etapas de seu projeto elimina a imagem, trazendo ao primeiro plano o próprio suporte da obra, foi para voltar ao grau zero da pintura e começar tudo de novo. Uma vez mais viver a aventura do quadro. A começar pelo próprio tecido da tela, por vezes pintado no avesso e no direito, recortado e costurado – com ocasionais fios soltos a romper a rigidez da composição. Ou colado, mantidas suas cores e manchas anteriores à própria tinta, bem como as texturas e outros valores táteis.

 

O ciclo do papel durou cinco anos. Primeiro, deixado livre, solto, sofrendo a interferência do clima e do tempo. Ou propiciando a participação lúdica e tátil do público – papéis para armar –, “Armagens”. Em seguida, encerrado em estruturas de acrílico transparente em cujo interior o tempo vai lentamente ondulando o papel.

 

Ao trocar o papel pelo tecido como matéria-prima, Leal fez a seguinte indagação: “Meu trabalho seria o mesmo se, àquela época, vivêssemos outra situação, se houvesse qualquer outro tipo de impedimento à criação? Ou nenhum?” E responde ele mesmo: “A cultura funciona dentro de um encadeamento de situações. Se uma das partes está enclausurada, todas as demais sofrem. É certo que aprisionar papéis dentro de caixas de acrílico pode e deve ser considerado um problema meu nos planos ético e estético. Mas é também um problema de ordem mais geral. Hoje troquei o papel pelo tecido, o que para mim significa uma abertura em termos de vida: assumir com franqueza um determinado comportamento, uma visão mais racional das coisas, enquanto antes, no papel, de certa maneira, eu me escondia.”

 

O momento mais radicalmente construtivo da obra de Paulo Roberto Leal é a série “Entretela” (1974-1976). Ela reúne telas costuradas, pintadas a óleo, cujas linhas (costuradas e não riscadas) definem espaços modulares e simétricos, impecavelmente silenciosos e limpos. E que assim se mantêm mesmo quando os módulos internos disputam a primazia do primeiro plano ou quando a tela, sustentada em um de seus vértices, se deixa cortar por linhas transversais, sem que o equilíbrio seja afetado. Uma segunda série, “Armadura” (1978-1980), reunindo pinturas a óleo recortadas e coladas sobre tela, tem a mesma raiz construtiva. Mas os fragmentos da tela recortada são em seguida colados sobre outra tela, criando na sua junção linhas fictícias, fortes e bem visíveis, enquanto parecem se descolar, antevendo o colapso da superfície. O que, entretanto, não acontecerá.

 

Respondendo à pergunta contida no título de meu comentário sobre uma exposição de Leal realizada no Rio de Janeiro, em outubro de 1980, eu afirmo no texto: “Não é preciso muito esforço mental para perceber que mesmo quadros como os que Leal expõe na Galeria Saramenha podem ter implicações políticas. O próprio caráter construtivo de sua obra se opõe ao caos permanente de nossa sociedade, a uma realidade tropicalista, mas, também, por ser uma geometria brasileira e tropical, ela tem qualidades sensíveis que diferem de outras geometrias mais rígidas. Ou seja, ela não se opõe apenas ao caos reinante fora dos limites do quadro. Ela procura entender esse caos, recolher a espontaneidade e a alegria de sociedade cultural mais aberta. Porque o excesso de rigor pode levar igualmente ao autoritarismo da forma, tão prejudicial quanto a ausência de qualquer ordem.”

Frederico Morais

Raro Percurso – 52 anos da Galeria de Arte Ipanema

24/nov

A Galeria de Arte Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, abre no próximo dia 28 de novembro, às 19h, a exposição “Raro Percurso – 52 anos da Galeria de Arte Ipanema”, marcando a inauguração de sua nova sede em prédio com projeto arquitetônico de Miguel Pinto Guimarães. Dirigida por Luiz Sève e sua filha Luciana Sève, a Galeria de Arte Ipanema passará a ocupar o andar térreo e metade do primeiro andar da construção com quatro andares e dois subsolos, que abriga ainda três unidades destinadas a escritórios empresariais. Ao longo do período de exposição será lançado o livro “Raro Percurso – 52 anos da Galeria de Arte Ipanema”, pela Barléu, com texto do crítico Paulo Sergio Duarte, capa dura, formato de 21cm x 25cm, e 100 páginas. “Espero que um jovem que começa sua coleção, um jovem artista ou, mesmo, crítico possam ter uma ideia, embora tênue, do contexto em que nasce a Galeria de Arte Ipanema”, escreve Paulo Sergio Duarte. Para ele, o percurso de Luiz de Paula Sève no mercado de arte e de sua galeria é “coisa raríssima, para não dizer única no Brasil”.

 

Com atividades ininterruptas, a Galeria de Arte Ipanema volta assim ao seu tradicional endereço no número 27 da Aníbal de Mendonça, onde se instalou em 1972, e mostra nesta exposição inaugural de seu novo espaço sua íntima relação com a história da arte, e a força de seu acervo. Serão exibidas cerca de 60 obras de mais de 50 artistas de várias gerações e diferentes pesquisas, expoentes da Arte Contemporânea e do Modernismo, entre eles grandes mestres da Arte Cinética, do Concretismo e do Neoconcretismo. Junto a pesos-pesados da arte, a exposição também reunirá pinturas de artistas mais jovens, como a norte-americana Sarah Morris, conhecida por suas pinturas geométricas de cores vibrantes, inspiradas principalmente na arquitetura das grandes metrópoles – e os paulistanos Henrique Oliveira e Mariana Palma.

 

Em uma verdadeira festa para o olhar, a exposição se inicia com seis pinturas cinéticas da série “Physichromie” de Cruz-Diez – artista representado pela galeria -, que oferecem três diferentes conjuntos de cores de acordo com a posição do espectador: de frente, caminhando da esquerda para a direita, ou no sentido contrário. Esses trabalhos se juntam a outros grandes nomes da arte cinética, como um óleo sobre tela da década de 1970 e um móbile dos anos 1960 de Julio Le Parc; uma versão em formato de 55 cm da espetacular “Sphère Lutétia” , uma das três obras de Jesús Soto na mostra; uma pintura de mais de 1,60m da série “W” de Abraham Palatnik , entre trabalhos de outros cinéticos, como o relevo de quase três metros de largura de Luis Tomasello.

 

 

Construtivismo e Neoconcretismo

 

De Sérgio Camargo estarão três significativos relevos em madeira pintada, e um deles, “Relief 13-83”, participou da Bienal de Veneza em 1966, onde o artista tinha uma sala especial com 22 obras. De Waltercio Caldas, integrará a mostra a escultura “Fuga”, esmalte sobre aço inox e lã. Um núcleo da exposição é composto por uma gravura de Richard Serra, pela obra “Maquete para interior”, de Lygia Clark, uma escultura em aço pintado de Franz Weissmann, uma escultura e uma pintura de Amilcar de Castro, duas pinturas de Aluísio Carvão e dois trabalhos de Ivan Serpa. A “Pintura nº 355”, do argentino Juan Melé , também integrará a mostra.

 

 

Mais pinturas – Abstracionismo, Expressionismo, Nova Figuração

 

Quatro pinturas de Alfredo Volpi – uma dos anos 1960 e três da década seguinte – também estarão na exposição, bem como conjuntos das famosas séries “Ripa” e “Bambu”, dos anos 1970, de Ione Saldanha, em têmpera sobre madeira. “52 anos – Um raro percurso” mostrará óleos sobre tela dos anos 1960 e 1950 de Tomie Ohtake e Manabu Mabe, dois artistas que participaram da exposição inaugural da Galeria Ipanema, em 1965. Arcangelo Ianelli, Abelardo Zaluar e Paulo Pasta também terão obras na mostra. A exposição apresentará pinturas de Iberê Camargo, Milton Dacosta, Maria Leontina, Jorge Guinle e Beatriz Milhazes. Raymundo Colares, artista que fez sua primeira individual na Galeria de Arte Ipanema, estará representado pela pintura “Midnaite Rambler”, em tinta automotiva sobre madeira. Wesley Duke Lee terá na exposição três pinturas em nanquim, guache e xerox sobre papel: “Nike descansa ”, “O Alce (Sapato com fita amarrando), e “Os mascarados”. “Tô Fora SP”, de Rubens Gerchmann, e duas pinturas de Wanda Pimentel, das décadas de 1970 e 90, se somam a quatro obras de Paulo Roberto Leal, artista que também teve sua primeira individual realizada pela Galeria Ipanema. Outros grandes nomes da arte contemporânea que integrarão a mostra são Frans Krajcberg, Cildo Meireles, Nelson Félix, Antonio Manuel e Vik Muniz.

 

 

Modernismo

 

Luiz Sève teve um contato privilegiado com grandes artistas, entre eles sem dúvida está Di Cavalcanti, de quem serão exibidas três óleos sobre tela. Outros grandes nomes do modernismo que estarão na exposição são Portinari, com a pintura “Favela”, Djanira, com “Sala de Leitura”, e Pancetti , com “Farol de Itapoan”.

 

 

Breve história de um raro percurso

 

A história da Galeria Ipanema se mistura à da arte moderna e sua passagem para a arte contemporânea, e seu precioso acervo é fruto de seu conhecimento privilegiado de grandes nomes que marcaram sua trajetória. Fundada por Luiz Sève, a mais longeva galeria brasileira iniciou sua bem-sucedida trajetória em novembro de 1965, em um espaço do Hotel Copacabana Palace, com a exposição de Tomie Ohtake e Manabu Mabe, entre outros. Até chegar à casa da Rua Aníbal de Mendonça, em Ipanema, em 1972, passou por outros endereços, como o Hotel Leme Palace e a Rua Farme de Amoedo.

 

 

Presença em São Paulo

 

De 1967 a 2002, Frederico Sève – irmão de Luiz – foi sócio da Galeria Ipanema, onde idealizou e dirigiu de 1972 a 1989 uma expansão em São Paulo, inicialmente na Rua Oscar Freire, em uma casa construída e especialmente projetada pelo arquiteto Ruy Ohtake. A Galeria Ipanema foi uma das precursoras a dar visibilidade ao modernismo, e representou, entre outros, com uma estreita relação, os artistas Volpi e Di Cavalcanti , realizando as primeiras exposições de Paulo Roberto Leal e Raymundo Colares. Nascido em uma família amante da arte, Luiz Sève aos 24 anos, cursando o último ano de engenharia na PUC, decidiu em 1965 se associar à tia Maria Luiza (Marilu) de Paula Ribeiro na criação de uma galeria de arte. Na família amante de arte, outro tio, o pneumologista Aloysio de Paula, médico de Pancetti, havia sido diretor do MAM. Luiz Sève destaca que é na galeria que encontra sua “fonte de prazer”. Uma característica de sua atuação no espaço de arte é “jamais ter discriminado ou julgado qualquer pessoa pela aparência”. “Há o componente sorte também”, ele ressalta, dizendo que já teve acesso a obras preciosas por puro acaso. A Galeria Ipanema mantém em sua clientela colecionadores no Brasil e no exterior, e já atendeu, entre muitas outras, personalidades como o mecenas da arte David Rockefeller, Robert McNamara – Secretário de Defesa do Governo Kennedy -, e o escritor Gabriel Garcia Marquez.

 

 

Até 23 de dezembro.

TOZ no Museu da Chácara do Céu

08/nov

Indicado ao prêmio Pipa em 2014, Toz realiza a exposição “Povo Insônia”, no museu da Chácara do Céu, Santa Teresa, Rio de Janeiro, RJ, com a criação de proposições que partem de diálogos entre seu personagem, “O Insônia”, e a coleção do museu. O personagem nascido nas ruas vem carregado de influencias, assim como suas pinturas, instalações e uma obra sonora, que ocupam as salas e o jardim do museu como resultado de pesquisas sobre a influência da cultura africana. A programação faz parte dos 25 anos do projeto “Os Amigos da Gravura”, cujo objetivo é convidar um artista para produzir gravuras ou múltiplos exclusivos com tiragem limitada.

 

 

Sobre o Museu

 

O Museu da Chácara do Céu, junto com o Museu do Açude, foram residências de Raymundo Ottoni de Castro Maya, nascido em Paris em 1894, e falecido em Santa Teresa. Atuou em diversos ramos mas foi como colecionador de arte, gosto herdado de seu pai, engenheiro ligado ao imperador D. Pedro II, que deixou seu maior legado. Os Museus que foram residências de Castro Maya formam umas das mais importantes coleções públicas do país. Neles encontram-se nomes como Picasso, Matisse e Modigliani preservados ao acervo juntamente a artistas brasileiros como Guignard, Di Cavalcanti e Volpi. Também enriquecem a coleção o  mobiliário luso-brasileiro dos séculos XVIII e XIX, assim como a azulejaria neocolonial provenientes de países como França e Holanda. Atualmente os museus foram incorporados ao governo brasileiro integrando o IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus), do Ministério da Cultura, com seus prédios, acervos e parques dos Museus Castro Maya tombados pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1974, onde adaptou-se as residências às necessidades dos espaços museológicos.

 

Amigos da Gravura – Povo Insônia

 

Até 29 de janeiro de 2018.

Edu Simões – Clichê/Rio

07/nov

O fotógrafo Edu Simões realiza exposição individual a partir de 08 de novembro na Galeria Marcelo Guarnieri, Ipanema, exibindo em “Edu Simões – Clichê/Rio”, 36 imagens feitas cartões-postais do Rio de Janeiro. Simões, no entanto, lança um novo olhar sobre esses lugares, inspirado nos romances, contos, crônicas e poemas de grandes nomes da literatura brasileira, como Machado de Assis, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Millôr Fernandes e Carlos Heitor Cony. As fotos são todas em preto e branco e foram produzidas entre 2000 e 2012.

 

“O Rio de Janeiro é uma das cidades mais fotografadas do mundo. Existe uma fórmula de se ver o Rio, por meio das alegorias do carnaval, das praias, das belezas naturais. O meu desejo, nesta exposição, é mostrar outros espaços não imaginados, tendo como inspiração o que a literatura brasileira pode oferecer na busca por outras formas”, explica Simões, motivado pelo desafio de enfrentar o que mais “assusta” um fotógrafo: o clichê.

 

Na exposição, o encontro entre a Fotografia e a Literatura evidencia-se, por exemplo, nas imagens dedicadas ao mineiro Carlos Drummond de Andrade, no ano de 2012. A praia de Copacabana, bairro onde residiu o poeta e escritor, ganha contornos modernistas, no qual a preocupação é o rigor geométrico, evidenciado pela perspectiva das linhas quadradas de uma trave de futebol na areia da praia, ou, ainda, na arquitetura do hall do Palácio de Capanema, antiga sede do Ministério da Educação, local em que Drummond trabalhou, bem como serviu de cenário a alguns de seus contos e crônicas.

 

Uma passagem de “O Búfalo”, conto de Clarice Lispector, descreve o peso natural do corpo de um elefante e o contraste de sua docilidade ao se deixar ser conduzido para um circo. Na poética visual de Edu Simões, o trecho transforma-se na imagem de uma tromba de elefante apoiada num muro branco no Jardim Zoológico da Quinta da Boa Vista. Num outro sentido de “animalidade”, desta vez artificial, a imagem “O Cisne” (2000/2001), mostra uma Lagoa Rodrigo de Freitas, presente nas crônicas de Carlos Heitor Cony, como o cenário de um filme noir; ao invés de destacar as águas envolvendo as ruas do bairro, Simões opta por colocar em primeiro plano a estrutura de um pedalinho de cisne e todos os seus detalhes.

 

Fotojornalista experiente, Edu Simões foi convidado em 2001 por uma publicação especializada em literatura para revelar, pela fotografia, a cidade do Rio de Janeiro como personagem, a partir da escrita de autores nacionais que imortalizaram, de forma direta ou indireta, os cartões-postais, ruas, morros, praias e demais paisagens da cidade. Para isto, o fotógrafo leu as obras dos escritores, e roteirizou o que aparecia em cada obra literária. Com o mapa traçado, Simões saía, como um flâneur, em busca do inesperado daqueles locais, que, quase sempre, já havia sido retratado por outros artistas da imagem.

 

Edu Simões acumulou, ao longo destes anos, um grande acervo de imagens, que materializam a procura de um Rio que não seja apenas um ideal de paisagem, mas uma personagem, a partir da incursão pelas letras e imaginários dos escritores. Desse modo, Edu Simões foi quase como guiado por suas histórias na escolha de seus assuntos e lugares, mantendo, em algumas dessas fotografias, o espírito da época da qual falavam. Um tipo incomum de viagem no tempo que tais imagens nos proporcionam: voltar ao passado a partir de um retrato do presente.

 

 

Sobre o artista

 

Edu Simões nasceu em São Paulo, em 1956. Vive e trabalha em São Paulo, SP, fotografou grandes nomes da cena política, cultural e artística brasileira, entre as décadas de 1970 e 1990, como editor de fotografia de revistas como Bravo, República e os Cadernos da Literatura Brasileira do Instituto Moreira Salles. Ainda no período de 1970/80, teve uma forte atuação no campo das hard news, fotografando os movimentos populares que desaguaram no fim da ditadura militar, sobretudo as greves do ABC e de São Paulo, ganhando em 1981, o prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos. A partir dos anos 2000, Simões assume um trabalho mais independente e autoral, que embora se distancie dos preceitos do fotojornalismo, ainda guarda algumas de suas marcas. Seus trabalhos integram importantes coleções, como Coleção Pirelli/MASP, São Paulo; MAM-São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Museu da Imagem e do Som, São Paulo; Centro de La Imagen de México e Maison Européenne de la Photographie, França. Das diversas exposições individuais e coletivas que participou, destacam-se: Linguagens do corpo carioca (a vertigem do Rio), MAR – Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro (2016); Amazônia, La Quatrieme Image, Espace des Blancs-Manteaux, Paris, França (2014); Eu tenho um sonho, exposição à céu aberto na favela da Rocinha, Rio de Janeiro (2013); Trois Photographes de FotoRio – Gastronomie pour une dure journée de labeur, Maison Européenne de la Photographie, Paris, França (2011); Vestígios: O Rio de Machado de Assis, FotoRio, Centro Cultural dos Correios, Rio de Janeiro (2009); Sons e imagens da terra, Santander Cultural, Porto Alegre, Brasil (2006); Eine Sammlung – Die Photographische Sammlung des Museu de Arte Moderna de São Paulo, Galeria 68Elf, Espaço cultural Exit Art, Colônia, Alemanha (2001); Fotojornalistas Brasileiros, Museu da Imagem e do Som, São Paulo (1990); Fotografia Brasileira Contemporânea, SESC Pompéia, São Paulo (1993); Brésil des Brésiliens, Centre Pompidou, Paris, França (1983).

 

 

Sobre a galeria

 

Marcelo Guarnieri iniciou as atividades como galerista nos anos 1980, em Ribeirão Preto, e se tornou uma importante referência para as artes visuais na cidade, exibindo artistas como Amilcar de Castro, Carmela Gross, Iberê Camargo, Lívio Abramo, Marcello Grassmann, Piza, Tomie Ohtake, Volpi e diversos outros. Atualmente com três espaços expositivos – São Paulo, Rio de Janeiro e Ribeirão Preto – a galeria permanece focada em um diálogo contínuo entre a arte moderna e contemporânea, exibindo e representando artistas de diferentes gerações e contextos – nacionais e internacionais, estabelecidos e emergentes – que trabalham com diversos meios e pesquisas.

 

 

Até 09 de dezembro.

Volpi em NY

06/nov

A galeria Gladstone 64, Nova Iorque, USA, apresenta – até 22 de dezembro – uma exposição de obras históricas do pintor brasileiro Alfredo Volpi, a primeira apresentação individual de seu trabalho nos Estados Unidos. Volpi é considerado um dos mais influentes e célebres pintores brasileiros, que o proeminente intelectual público Mario Pedrosa chamou de “o mestre do seu tempo”. Honrando seu ofício durante o surgimento do modernismo no Brasil, Volpi teve um impacto duradouro na história da arte através de sua abordagem de assinatura para descrever as formas das experiências cotidianas – desde banners de festivais até casas comuns – em abstração vibrantemente cromática.

 

Esta exposição se concentra nos diferentes aspectos de sua prática pictórica durante sua fase mais envolvente entre o final da década de 1950 e meados da década de 1970. Recolhendo obras importantes, muitas das quais nunca foram exibidas fora do Brasil, as pinturas em vista examinam a fachada, a bandeira e as pinturas náuticas com as quais ele está mais associado. Nesta ocasião, será publicada a primeira grande monografia em inglês do trabalho de Volpi, que inclui um novo ensaio sobre seu trabalho do erudito Rodrigo Moura e escritos históricos sobre os artistas de Aracy de Amaral, Willys de Castro e Mario Pedrosa, traduzidos para o inglês pela primeira vez.

 

 

Sobre o artista

 

Alfredo Volpi nasceu em 1896 em Lucca, Itália, e morreu em 1988 em São Paulo. Ao longo de sua vida, Volpi teve exposições individuais no Museu de Arte Moderna de São Paulo; Instituto de Arquitetos do Brasil, Porto Alegre, Brasil; Museu de Arte Contemporânea, Campinas, Brasil; Biblioteca Municipal Mario de Andrade, São Paulo; Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô; e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Depois de sua morte em 1988, muitas instituições mostraram o trabalho de Volpi, incluindo Paulo Kuczynski Escritório de Arte, São Paulo; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo; Palais des Beaux-Arts de Bruxelles, Bélgica; Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro; Instituto de Arte Contemporânea, São Paulo; Paço Imperial, Rio de Janeiro; Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil; Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina; Espaço Cultural Banco Central, São Paulo; Museu de Valores do Banco Central, Brasília, Brasil; Centro Cultural São Paulo; Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro; Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, Rio de Janeiro; e Pinacoteca do Estado de São Paulo. Em 1953, Volpi conquistou o prestigioso Grande Prêmio de pintura brasileira na segunda Bienal de Arte de São Paulo. Volpi também foi incluído na Bienal de Veneza em 1950, 1952, 1954, 1962 e 1964.

22 anos da Ricardo Camargo

16/out

Em comemoração a seus 22 anos, a Ricardo Camargo Galeria, Jardim Paulistano, São Paulo, SP, exibe as exposições “Ismael Nery” e “Recorte Modernista”. A exposição coletiva “Recorte Modernista” apresenta ao público um recorte amplo do Modernismo Brasileiro: são 40 obras de um período que teve início com a famosa mostra de Anita Malfatti, em 1917, e que seguiu até o começo do abstracionismo com Antônio Bandeira, nos anos 1950. Di Cavalcanti, Tarsila, Portinari, Volpi, Antonio Gomide e Lasar Segall são alguns dos artistas que preenchem o espaço entre esses dois extremos que abraçam a arte moderna brasileira. Entre os destaques reunidos na Ricardo Camargo Galeria estão desenhos primorosos de Di Cavalcanti. Em “Carnaval” e “Três figuras com tambores” e “Bordel”, o artista cria um retrato amoroso, colorido e brilhante do país, distinguindo-se dos outros modernistas por seu calor e sensualidade. Clima semelhante encontra-se em “Circo”, de Cícero Dias, e em “Parque de diversões”, guache e nanquim de Djanira da Mota e Silva, de seu período em Nova York.

 

Portinari se soma ao grupo com o guache “O espantalho” tema que é retomado e atualizado pelo artista dois anos depois, em “Espantalho”, em Paris, com maior influência, inclusive, das vanguardas da época. “Celebração cubista”, de Antonio Gomide, deixa clara a formação e longa vivência européias do pintor, que conheceu Picasso e começou sob a influência do Cubismo. Entre as raridades que compõem a mostra, está “Paisagem antropofágica com bicho”, grafite sobre papel de Tarsila do Amaral. Outra exceção à regra da exposição é uma obra de Diego Rivera, seu contemporâneo mexicano, com “Camponesa”. Antônio Bandeira encerra a exposição, sendo o único representante da corrente abstrata. Entre as pinturas apresentadas, estão “Montparnasse” e “Saint-Germain”.

 

O papel como suporte ganha cada vez mais relevância nos grandes museus e nas mais importantes coleções do mundo. “Um bom papel é mais importante, vale mais a pena que uma tela mediana. Enriquece-nos, em vez de apenas enfeitar uma parede”, afirma o marchand Ricardo Camargo, que assina a curadoria. Ainda segundo o curador, museus especializados, como o Albertina, em Viena, e o próprio Museu do Vaticano, têm coleções monumentais de papéis feitos há séculos e que resistem perfeitamente ao tempo.

 

Victor Brecheret marca uma das exceções à regra das mostras com a escultura “Dama Paulista”, representação de Olívia Guedes Penteado, incentivadora e mecenas de várias personalidades modernistas e uma das organizadoras da Semana de 22. “Além de, por sua qualidade, constituir uma obra para museus, aqui ela está absolutamente oportuna e justificada”, afirma o curador.

 

 

A palavra do curador

 

O papel dos modernistas

 

Sabe-se que em épocas de crise todos procuram estabilidade e segurança. Assim acontece também no mercado de arte, quando os colecionadores se voltam para os clássicos, os valores já firmados na história. Esta é uma exposição dos clássicos do modernismo no Brasil, entendendo-se modernismo em sentido amplo. Vai de Anita Malfatti, sua protomártir em 1917, até o começo do abstracionismo, com Antônio Bandeira, nos anos 1950. Entre esses extremos, os grandes nomes como Di Cavalcanti,Tarsila, Portinari, Volpi, Gomide, Segall e – constituindo na verdade uma sala especial,uma outra exposição em separado, com outro catálogo – Ismael Nery. Há muito tempo não se reúne um conjunto tão importante e expressivo do grande Nery, com 25 obras, das quais várias participaram de Bienais e exposições em museus. Para a galeria, ao completar 22 anos, é uma honra e um prazer fazê-lo.

 

As duas exposições constam de arte sobre papel – ora desenho propriamente dito,ora pintura (porque também se pinta sobre papel). No Brasil, percebemos que em geral o papel como suporte não tem, infelizmente, o prestígio que tem em todo o primeiro mundo e mesmo nas coleções brasileiras de maior importância. As de Gilberto Chateaubriand e de Hecilda e Sérgio Fadel, as mais completas e famosas, são ricas   em papeis. Creio que há um preconceito a cercar esse tipo de produção, supondo-se – inexatamente – que o papel é mais frágil, mais perecível, mais inadequado que a tela para a longa duração. É verdade que ele exige cuidados, mas a tela também: mal  conservada, ela se deteriorará. Museus especializados, como o Albertina, em Viena, e o próprio Museu do Vaticano, têm monumentais coleções de papeis feitos há séculos que resistem perfeitamente. Por outro lado, talvez exista também a falsa noção de que esteticamente a obra sobre papel é menos nobre, menos completa que a pintura ou a escultura. Isso nem precisa ser discutido. É uma ideia superada, já que hoje todas as hierarquias foram abolidas e as novas técnicas são mais numerosas que as antigas.Com certeza absoluta, um bom papel é mais importante, vale mais a pena, que uma pintura medíocre. Enriquece-nos, em vez de apenas enfeitar uma parede.

 

Há duas exceções às regras nesta mostra. Primeiro, a inclusão de um desenho-quase pintura de um não brasileiro da mesma época do nosso modernismo: Diego Rivera, o mais ilustre muralista mexicano. É que, tendo surgido a oportunidade de mostrá-lo, a galeria não poderia deixar passá-la: é um trabalho excepcional, de grande força expressiva.  Segundo, a presença de uma escultura de Victor Brecheret. Além de, por sua qualidade, constituir uma obra para museus, aqui ela está absolutamente oportuna e justificada. Trata-se de um retrato de Dona Olívia Guedes Penteado, a grande patrona do modernismo brasileiro. Certamente a aura dessa peça e a memória benfazeja de Dona Olívia trazem bons augúrios e contribuirão para o sucesso da exposição.

Ricardo Camargo

 

 

Até 18 de novembro.

Com Marcelo Guarnieri/SP

28/jul

A pintura, no trabalho de Alice Shintani, é entendida como ponto de partida para imaginar e exercitar formas de aproximação com o outro. Vencedora do Prêmio de Residência SP-Arte 2017, Shintani apresenta, a partir de 12 de agosto, sua exposição individual na Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP.

 

A individual apresenta a produção dos últimos quatro anos de Shintani, que propõe uma abordagem menos especializada da tradição da pintura e história da arte para refletir sobre o estado das coisas no presente, tanto dentro quanto fora do circuito artístico. Essa reflexão, de maneira mais ampla, é uma reflexão sobre as possibilidades da experiência estética: como ela se constrói, onde e como podemos acessá-la. Defendendo a ideia de que tal experiência existe para além do campo da arte, ou seja, também no espaço cotidiano, Shintani transita entre contextos diversos, da galeria de arte ao depósito do mercadinho de bairro, reunindo em seu trabalho as questões geradas por essas vivências.

 

“Menas”, palavra que dá título à exposição, pode ser utilizada tanto como o feminino da palavra “menos” dentro de uma linguagem coloquial, quanto como expressão que denota ironia a algo que está sendo superestimado. Ambos os sentidos nos ajudam a adentrar o universo que Alice Shintani constrói em torno de suas pinturas, agora materializadas em papéis sanfonados e tecidos.

 

A mostra apresenta a instalação homônima, composta por cerca de 300 Sanfoninhas que, ora são acondicionadas em caixas de acrílico, ora são montadas sobre caixas maiores de papelão de produtos alimentícios e de limpeza – de origem brasileira e asiática. As caixas ocupam toda a sala principal da galeria, em conjuntos que se organizam de maneiras diversas, atingindo alturas que também variam, proporcionando ao espectador uma experiência imersiva.

 

“Menas” é uma mostra que convida a refletir sobre as ideias de movimento, elasticidade, alcance: seja do corpo e das caixas pelo espaço; das “Sanfoninhas” que se contraem e expandem revelando cores e formas distintas; dos tecidos que chacoalham com o vento, ou até mesmo da própria ação da artista, interessada em diminuir as distâncias e significados entre os gestos poético e político.

 

 

Sobre a artista

 

Alice Shintani foi incluída na publicação “100 painters of tomorrow”, da editora Thames & Hudson (2014) e foi contemplada com o prêmio-aquisição no II Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea (2013).  Com individuais e coletivas em locais como: Museu de Arte Contemporânea da USP; Paço Imperial, Rio de Janeiro; Centrum Sztuki Wspólczesnej, Polônia; Instituto Itaú Cultural, São Paulo; CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro: Museu Rodin, em Salvador; MON – Museu Oscar Niemeyer, Curitiba e Instituto Tomie Ohtake, São Paulo. Durante a última edição da SP-Arte/2017, Alice Shintani venceu o Prêmio de Residência com a instalação “Menas” e irá passar dois meses na Delfina Foundation, em Londres (Reino Unido).

 

 

Sobre a Galeria

 

Reconhecido nome da arte moderna e contemporânea em Ribeirão Preto (SP), o galerista Marcelo Guarnieri pertence à geração dos anos 80 que levou para a cidade no interior de São Paulo, exposições e mostras de nomes como Iberê Camargo, Siron Franco, Carmela Gross, João Rossi, Lívio Abramo, Amílcar de Castro, Tomie Ohtake, Volpi, entre outros. Dominada, até então, pelos artistas locais, em um trabalho de vendas informal, Guarnieri, ao lado de João Ferraz (hoje IFF) e colecionadores de artes, cultivou um espaço que hoje pode ser considerado o resultado de um trabalho de consolidação profissional de imagem e de um olhar estético técnico e apurado. Por um período de dois anos, Marcelo foi diretor do Museu de Arte de Ribeirão Preto – o MARP – em sua fase inicial. No ano de 2006 nascia a Galeria de Arte Marcelo Guarnieri com o desejo de criar um espaço fora do eixo Rio-SP, que dialogasse com nomes das artes moderna e contemporânea. Em oito anos, além das exposições mencionadas acimas, a participação em feiras e eventos nacionais e internacionais, atraíram apreciadores da arte para o endereço. Resultado da experiência e da percepção de Marcelo Guarnieri e de sua equipe: notaram que além da apresentação de nomes significativos do último período de produção artística, era necessário fortalecer, cultivar e estimular no público o entendimento da obra, do artista e do seu tempo de produção, por meio de visitas e atividades educacionais.

 

 

Até 23 de setembro.