A cor fremente de Gonçalo Ivo

28/set

A Galeria Simões de Assis, Curitiba, PR, inaugura exposição individual de pinturas de Gonçalo Ivo. O catálogo desta nova exibição traz textos assinados pelo escritor angolano – também artista plástico – Valter Hugo Mãe e Felipe Scovino, crítico de arte e curador que responde pela apresentação do artista expositor.

 

 

Sobre o artista

 

Não apenas mais um colorista

Felipe Scovino

 

Duas pesquisas ou situações simbólicas me chamam a atenção na experiência de presenciar o trabalho de Gonçalo Ivo: a sua capacidade de criar módulos distintos de experiência cromática em suas telas e a abertura para a ideia de uma partitura na maneira como compõe, e aqui leiam com o duplo sentido que essa palavra pode ter (fazendo um enlace tanto com a composição de uma música quanto a ideia de criação que ela também possui), a aparição da linha.

 

E isso não é pouco. Imagino que o leitor desse texto deva estar cansado da quantidade de subterfúgios e pouca vitalidade que uma parcela da chamada pintura contemporânea possui. Gonçalo se mantém à parte disso. Sua obra transita entre dois mundos muito próprios da história da arte brasileira e mundial. Suas referências internacionais variam entre a delicadeza e o misterioso abstracionismo de Paul Klee, a experiência arrematadora do abstracionismo geométrico de Vieira da Silva, a cor-luz pulsante de Rothko e os color fields de Barnett Newman, para me ater a alguns. No campo brasileiro, sua pesquisa cria conexões com a passagem entre o moderno e o contemporâneo, o ponto paradigmático da experiência de maturidade da arte brasileira. Estou me atendo ao período de aparecimento, ransformação e quiçá diferença que as obras de matriz construtiva introduzem de forma ampla no país. É a geração de Hércules Barsotti, Hermelindo Fiaminghi, Ivan Serpa, Volpi e Willys de Castro.

 

Acredito que foram guias espirituais, mestres, que Gonçalo acompanhou atentamente e que deles, entre outros, extraiu a essência de suas pesquisas e simultaneamente criou, Gonçalo, a sua própria trajetória. Percebam a semelhança e ao mesmo tempo as marcas pessoais de Volpi e Gonçalo ao compararmos a série “Ogiva” do primeiro e o tríptico azul em madeira realizada pelo último e exposto nessa mostra. A imagem de uma arquitetura religiosa, a relação não fortuita entre espaço e plano e finalmente a tridimensionalidade da pintura são pontos em comum, além da experiência com a têmpera, técnica renascentista, artesanal, utilizada pelos dois pintores em suas obras. Contudo, penso que aqui Gonçalo cria o seu caminho próprio. É a experiência com a cor que traduz isso. O artista cria uma corporeidade para a cor; não da forma como Hélio Oiticica fez e relata em seus textos mas como uma cor que possui matéria e significativamente espessura, “odor”, pois ela é toda corpórea, física, maleável. Há um fascínio ou investimento para que o olhar se converta em algo tátil. E mesmo quando a expande para o espaço, com seus objetos em madeira, que por sua vez criam um diálogo interessante e consistente com arte africana, há um desejo de continuar falando sobre pintura e não exatamente sobre tridimensionalidade ou escultura.

 

É perspicaz o fato de que Gonçalo particulariza os módulos de cor em sua pintura. Faz uso de um vocabulário geométrico mas não é exatamente a forma abstrata, imagino, a sua real preocupação mas as (inúmeras) qualidades e aparições que a cor venha a possuir. Para cada campo que constrói a cor ganha um significado e uma aparição ao mundo muito própria: pode se exibir com uma matéria áspera, suave, delicada, retraída, pulsante. É a maneira como orienta as pinceladas e o número e a forma como realiza as investidas de tinta sobre a tela que fazem essa percepção de que a cor em Gonçalo seja sempre diferente.  Não há separação,também, entre tela e moldura, pois esta é criada à revelia pelo artista. É comum vermos linhas verticais pintadas lado a lado definindo o que seria o papel da moldura. É na aparição da linha, por sinal, que assistimos à gestualidade do artista e seu embate com um suposto entendimento de que a pintura geométrica é racional e rigorosa. Está lá, na pintura de Gonçalo, assim como em Mondrian, guardadas as devidas especificidades de cada obra, uma linha torta e assumidamente humana. Descrevendo outra qualidade da linha de Gonçalo, percebemos o quanto ela é harmônica e musical. Aliás, a aproximação entre música e pintura já fica evidente na escolha dos títulos das obras (contraponto, acorde, prelúdio, etc). A  qualidade intervalar que é construída por meio dos módulos de cor me leva a crer que suas pinturas, agrupadas em um conjunto, podem ser lidas também como uma partitura. As linhas como notas a serem lidas que logo reverberam uma melodia que atravessa o espaço em que essas obras estejam habitando. É algo mágico e inventivo perceber essas centelhas que têm uma função inacreditável: nos tornar mais sensíveis ao que nos cerca, percebermos um instante de crença no homem para além da barbárie que assistimos todos os dias. Claro, não há som mas a ideia de que possam ser percebidas para além de sua materialidade e possam, portanto, criar vida em um outro regime, agora de escuta, é sensacional. Ampliar essa capacidade da pintura é demonstrar que, a contragosto de alguns, a pintura não morreu. Pelo contrário, o artista nos ajuda a entender que há muitos caminhos, sentidos e existências para essa técnica milenar. Portanto, a obra de Gonçalo não se traduz como um exercício de persistência da geometria ou de balancear, contrapor e/ou associar cores mas fundamentalmente provocar um estado de inovação do campo pictórico e associá-lo às mais distintas imagens e qualidades. Repito: a fabricação dessa operação não é para muitos.

 

 

Cromatismo

Valter Hugo Mãe

 

Por vezes imagino que nos salvamos de toda a matéria e viramos apenas identidades que
habitam a cor. A cor é um substantivo da matéria. Tenho sempre a impressão de que se rebela contra adjetivá-la e se torna tudo, como um ser que espera. As cores esperam. Enquanto lemos a luz, a cor torna-se alguém. Sabe coisas e é alguém. Um dia, desintegrados, talvez sejamos esplendorosa e unicamente participações na luz. A pintura de Gonçalo Ivo é mais do que um estudo da cor, é uma escola para a cor. Ali, ela aprende. Amadurece, como animal efectivamente caçado, que não pode mais deixar de assumir sua evidência no mundo. Cada tela é uma classe, feita de superior mestria, onde a luz incide para se adorar já não enquanto acaso mas enquanto inteligência. É esta a diferença entre a cor por consciência e a casual. O trabalho de Gonçalo Ivo, cientista desta arte, é um modo de revelação, não enquanto delirante tentativa mas exatamente enquanto pronúncia de sábio que chega cada vez mais perto do que não se podia ver. As suas telas existem como provas de um gesto de luz semelhante ao gesto de Deus. A luz sabe o que faz. Nas telas de Gonçalo Ivo a luz aprende a fazer.

 

 
A arte deixa cair o figurativo porque a realidade exposta já não é suficiente, talvez nunca o
haja sido e a insatisfação dos artistas esteve sempre comprovada, até tragicamente. A
libertação da arte em relação à obrigação de representar, ou de apresentar cabalmente o seu significante, é fundamental para adentrar um espaço mental, que não deixa de ser também uma dimensão da realidade, caracterizado por uma imprecisa questão para uma ainda mais imprecisa resposta. Chegar à questão é o desafio, obter alguma resposta é a absoluta improbabilidade. O trabalho de Gonçalo Ivo pode ser a negação total da matéria para que a alma de cada coisa se liberte apenas no comportamento da luz. Neste sentido, faz-me sentir como a espiritualidade de tudo. Uma espiritualidade bastante que advém exclusivamente do poder da arte. Salvas da sua contingência material, todas as coisas se apresentam como atributos apenas mentalmente consideráveis, que é modo racional, pragmático, para se referir questões de alma. Gosto de pensar que as telas de Gonçalo Ivo são o despido dos corpos, corpos nenhuns, porque ainda assim se manifestam de modo fremente, o que comprova a sua intensa existência, como intensas podem existir outras realidades também insondáveis.

 

 
Aquém da transcendência, muitas coisas são suficientemente transcendentes, vulgo, coisas da arte. Aludindo à ideia de despir matéria, a pintura de Gonçalo Ivo lembra tecidos, isso que as manualidades inventaram para protecção e adorno e que se faz do intrincado de fios ínfimos. A ideia de intrincado interessa-me. Ainda que nos deparemos com a impressão de uma limpeza tremenda, o rigor da pintura de Ivo é uma forma de virtuosa ourivesaria da cor. Igual a facetar um diamante, o ofício deste pintor é o de depuração do comportamento da luz. Sim, como dizia, as suas telas são escolas para a cor. Ela, ali, aprende.

 

O belo poeta Martin Lopez-Vega (no perfeitíssimo catálogo Contemplaciones, editado na
Espanha pela Papeles Mínimos) diz que nas telas de Gonçalo Ivo, profundamente planas, não há relevo, apenas geografia. Gosto muito. Tudo passa a ser sobretudo um lugar, como se pudéssemos efetivamente entrar num espaço sem, contudo, nada se definir por inteiro. Somos acolhidos, mas o que nos acolhe é a pura liberdade. Se as suas telas fossem tecidos, estaríamos sob eles ainda que o ato de observar nos crie a sensação de permanecermos sobre ou diante das coisas. Na arte, e porque é uma transcendência específica, o dentro e o fora, o cima e o baixo, podem simplesmente ser predicados inutilizados. Na arte, e porque provavelmente é a única transcendência existente, o dentro e o fora, o cima e o baixo, podem simplesmente ser predicados inutilizados. Tudo no trabalho de Gonçalo Ivo o explica. Essa convicção de que, na geografia, existe afinal caminho para o lado de lá da matéria, como aferição de uma alma, como passeio pela luz, colhendo cores igual a quem colhe um ramo generoso de rosas. Amo rosas.

Porto, 12 de abril de 2015.

 

 

De 01 a 31 de outubro.

Presença de Jean Boghici

09/jun

Nome fundamental do mercado de arte brasileiro, Jean Boghici, nascido em 1928, na Romênia, chegou ao Brasil em 1948 fugindo da Segunda Guerra na Europa, clandestino em um navio francês, após em anos em fuga ao lado de amigos judeus.  Iniciou suas atividades nos anos 1960, quando abriu, no Rio de Janeiro, a galeria Relevo. Jean Boghici, foi um dos maiores colecionadores de arte do país e pioneiro no mercado de arte brasileiro. Ao longo do tempo colecionou obras de artistas como Volpi, Guignard e Di Cavalcanti, mas também investiu em nomes como Antonio Dias, Ivan Serpa, Vegara e Rubens Gerchman. À frente da galeria que leva seu nome, em Ipanema, Boghici tinha um rico acervo, com trabalhos de Modigliani, Lucio Fontana, Rodin, Alexander Calder e Maria Martins, entre outros. Ajudou a formar duas das maiores coleções de arte brasileira, como as de Gilberto Chateaubriand e Sergio Fadel, e trouxe ao país obras de artistas internacionais como Corneille. O MAR, Museu de Arte do Rio, homenageou-o com a exposição intitulada “O Colecionador”, com quadros representativos do modernismo, do surrealismo, da pintura primitiva, da abstração informal, da abstração construtiva, da nova figuração e da pintura russa; sendo estes os maiores interesses de Boghici em termos de movimentos artísticos. Com 136 obras, de nomes como Tarsila, Lygia Clark, Di Cavalcanti, Brecheret, Kandinsky e Rodin, entre outros grandes artistas dos últimos séculos, a mostra recebeu 258 mil pessoas de março a setembro de 2013.

Volpi, uma homenagem

31/mar

O pintor Alfredo Volpi é o tema de uma exposição panorâmica que leva seu sobrenome: “Volpi, uma homenagem”. A mostra é composta de 23 obras, sendo cinco delas inéditas, cartaz do Paulo Kuczynski Escritório de Arte, Cerqueira César, São Paulo, SP. A exibição apresenta – com seleção de trabalhos feita pelo marchand Paulo Kuczynski -, abriga paisagens, fachadas, figuras de santos e composições abstratas produzidas entre os anos 1930 e 1960. Obras que nunca foram exibidas poderão ser vistas na exposição, fazem parte de três fases do artista: uma marinha de Itanhaém do final da década de 30, uma fachada de casas da década de 50, os santos São Benedito e Santa Luzia do início dos anos 60, e uma composição de bandeirinhas do final dos 1960. A curadoria é de Paulo Venâncio Filho e o projeto expográfico traz a assinatura de Pedro Mendes da Rocha.

 

 

 

A palavra de Paulo Kuczynski

 

 

“Há anos planejo esta mostra. Foquei minha procura por obras que revelassem a linha evolutiva de Volpi, naquele que é considerado o melhor período do artista, que abrange o início dos anos 1930 a 1940, quando ele se concentra em suas notáveis marinhas e paisagens, passando pela década de 1950, com suas famosas fachadas e início do abandono da perspectiva, e os anos 1960, quando, com tão poucos elementos, ele cria uma abstração única na pintura.”.

 

 
Até 08 de maio.

Leilão

10/set

O jantar beneficente da abertura da ArtRio 2014 será realizado no dia 10 de setembro às 20h no Museu de Arte Moderna (MAM), seguido de um Leilão de Arte. Os recursos arrecadados com a venda dos convites e das obras de arte serão destinados ao Hospital Pro Criança – Jutta Batista. idealizado pela Dra. Rosa Celia e integralmente construído com a generosidade da sociedade e com apoio Governamental.

 

O Hospital está localizado na Rua Dona Mariana 220 em Botafogo, tem equipamentos de última geração, uma equipe altamente qualificada, 3 centros cirúrgicos e conta com 70 leitos para atender a todas as especialidades médicas pediátricas, dos quais 21 serão dedicados a crianças cardíacas carentes.

 

Obras de Adriana Varejão, Albano Afonso, Afonso Tostes, Alexandre Mazza, Ana Holck, Angelo Venoza, Antonio Dias, Beth Jobim, Bonadei, Bruno Miguel, Cabelo, Carlito Carvalhosa, Carlos Vergara, Daniel Senise, Ding Musa, Eduardo Coimbra, Enrica Bernardelli, Ernesto Neto,  Fernando de La Rocque, Gabriela Machado, Galvão, Gonçalo Ivo, José Bechara, Luisa Baldan, Marcelo Solá, Marcos Chaves, Maria Carmen Perlingeiro, Maria Klabin, Maria Laet, Nazareno, Nina Pandolfo, Nunca, Otávio Schipper, Raul Mourão, Rubens Gerchman, Sandra Cinto, Tatiana Grinberg, Vicente de Mello, Walmor Corrêa, Vik Muniz e Volpi.

 

Você pode ajudar o Hospital Pro Criança adquirindo convites a R$ 500 (individual) e obras de artistas brasileiros consagrados durante o leilão. Caso seja de seu interesse adquirir convites, pedimos que encaminhe seu nome, endereço e CPF para o e-mail:
leilaoprocrianca@gmail.com

Data: 10/09/14 às 20h

 

Local: Museu de Arte Moderna – MAM – RJ – Av. Infante Dom Henrique 85 – Parque do Flamengo – Rio de Janeiro – RJ

Preço do convite individual: R$ 500,00

 

Dados para depósito:
Pro Criança Cardíaca
Banco Bradesco – 237
Agência 0227-5
cc 115.500-8
CNPJ 10.489.487/0001-71

 

Agradecemos antecipadamente o seu inestimável apoio.

 

Exposições:

 

De 03 a 05 de setembro – Das 11:00 às 19:00  na Bolsa de Arte do Rio de Janeiro
Rua Prudente de Moraes, 326 – Ipanema – f: (21) 25221544

 

 

De 10 a 14  de Setembro – ArtRio
Leiloeiro: Walter Rezende

Quase figura, Quase forma

19/ago

Dando sequência às comemorações de seus 10 anos, a Galeria Estação, Pinheiros, São Paulo, SP, dessa vez em parceria com a Galeria Millan, realiza a exposição coletiva Quase figura, Quase forma, com curadoria do crítico Lorenzo Mammì. A união das duas galerias, que trabalham com grupos de artistas distintos, reforça a efervescente tese de que não há território que separe a produção reconhecida como popular da temática contemporânea.

 

Alcides Pereira dos Santos, Ana Prata, Aurelino dos Santos, Cícero Alves dos Santos, Felipe Cohen, João Cosmo Felix, João Francisco da Silva, José Bezerra, Neves Torres, Paulo Pasta, Sebastião Theodoro Paulino, e Tatiana Blass são os nomes representados pelas duas galerias. Contudo o curador selecionou também artistas que fazem parte de outros elencos, como Marina Rheingantz (Galeria Fortes Vilaça), Fabio Miguez e Sergio Sister (Galeria Nara Roesler) e Paulo Monteiro (Galeria Mendes Wood).

 

Para Lorenzo Mammì, enquanto muitos artistas contemporâneos estão se reaproximando de questões ligadas à representação ou encarando o problema do suporte de maneira mais individualizada e menos conceitual, a arte popular está gradativamente assumindo uma relação formalmente mais livre com seu repertório tradicional.

 

Ainda segundo Lorenzo Mammì, uma análise criteriosa da produção de arte contemporânea e da popular dos últimos trinta anos revela possíveis convergências a serem exploradas.  Para o curador, o final da década de 70 marca o início de uma valorização da figuração em relação à abstração na pintura contemporânea. “Talvez se possa dizer que, se o século XX foi tendencialmente um século de abstração, o XXI começa como século figurativo”, completa.

 

Paralelamente, Mammì defende que a arte popular brasileira – sempre enraizada nos conceitos de imagem, figura e signo – ampliou seu repertório ao permitir que a vocação autoral de seus representantes ganhasse cada vez mais espaço. “Certo apagamento da imagem, certa dissolução de estruturas narrativas tradicionais e simbologias já constituídas, podem ser identificados também, a meu ver, na arte popular mais recente”, diz o crítico.

 

Mammì ressalta que a arte popular no Brasil, “…nunca foi estritamente folclórica, no sentido de repetir, sem pretensão de singularidade, um repertório comunitário herdado”. Segundo ele, com exceção da arte indígena, este repertório praticamente não existia, ou era de importação muito recente. Mammì destaca ainda que o fato de o artesanato se desenvolver desde o começo perto dos centros urbanos ou dentro deles, onde o comércio era mais intenso, favoreceu uma produção com características individuais mais marcadas. “As fronteiras nunca foram rígidas: artistas de origem popular, como Emygdio de Souza, Agnaldo dos Santos, Djanira e Heitor dos Prazeres, circularam em ambiente culto, enquanto pintores de formação erudita (Guignard, Volpi, Pancetti) se aproximaram da linguagem popular”, completa.

 

 

 

De 21 de agosto a 10 de outubro.

Ivan Serpa – Diário Visual

18/jun

 

Em sua segunda exposição após abertura da unidade Jardins, São Paulo, Jardins, SP, a Galeria de Arte Marcelo Guarnieri apresenta “Ivan Serpa – Diário Visual”, individual do pintor, gravador e desenhista Ivan Serpa. A mostra apresenta uma série de 54 obras em nanquim e guache sobre papel, em pequenos formatos,  realizados pelo artista no período de 29 de dezembro de 1961 a 30 de março de 1962. Cada trabalho é individualmente datado em sequências de dias consecutivos, conferindo ao conjunto o caráter de diário visual.

 

A importância da exposição reside em mostrar pela primeira vez em uma galeria de arte o período que compreende a profícua fase de experimentação de Ivan Serpa onde ele desenvolve, através de uma gestualidade própria, a aproximação entre a linguagem construtiva abstrata, desenvolvida até então pelo artista, e uma figuração de inspiração expressionista, inédita em sua obra. São utilizados no processo de produção das obras instrumentos não convencionais, como pequenos pedaços de madeira, ao lado de instrumentos tradicionais, como o pincel. “As imagens são compostas por elementos pouco determinados, manchas e respingos de tinta, que sugerem uma alternância entre gesto e construção, espontaneidade e cálculo, acaso e deliberação, figuração e abstração”, conta o galerista Marcelo Guarnieri sobre a exposição.

 

O momento em que o artista realiza essas obras configura-se como o ápice da carreira de Ivan Serpa quando tornou-se consagrado com o prêmio da Bienal de Zurique e na VI Bienal Internacional de São Paulo, além da participação em importantes mostras como na XXXI Bienal de Veneza, a Bienal de Córdoba, e a exposição individual no Museu de Arte Moderna de São Paulo. A série de experimentações iniciadas neste período, irão culminar posteriormente na realização dos trabalhos da chamada “Fase negra”, a produção mais conhecida do artista.

 

 

Sobre o artista

 

Ivan Serpa nasceu no Rio de Janeiro em 1923. Pintor, gravador, desenhista e professor, criou o Grupo Frente em  1954, integrado por Franz Weissmann, Lygia Clark, Aluísio Carvão, Décio Vieira, Hélio Oiticica e Lygia Pape. Lecionou    no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde formou vários artistas com Hélio Oiticica. Dedicou-se especialmente à educação infantil. Atuou como restaurador da Biblioteca Nacional. Participou das mais importantes exposições ocorridas no final dos anos 50 e ao longo dos anos 60, como: I Exposição Nacional de Arte Concreta em 1957,  I Exposição Nacional de Arte NeoConcreta  em 1959, Opinião 65, Opinião 66, Nova Objetividade Brasileira e das Bienais de Veneza de 1952/1954/1962. Foi premiado na I Bienal de Internacional de São Paulo em 1951, no VI Salão Nacional de Arte Moderna em 1957, na Bienal de Zurique em 1960 e na VI Bienal Internacional de São Paulo em 1961. Realizou exposições retrospectivas de sua obra em 1965 e em 1971, ambas no MAM-RJ. Em 1968 o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque adquiriu duas de suas obras. Morre em 1973 aos 49 anos.

 

 

Sobre a Galeria Marcelo Guarnieri

 

Reconhecido nome da arte moderna e contemporânea em Ribeirão Preto, SP. o galerista Marcelo Guarnieri pertence à geração dos anos 80 que levou para a cidade no interior de São Paulo, exposições e mostras de nomes como Iberê Camargo, Siron Franco, Carmela Gross, João Rossi, Lívio Abramo, Amílcar de Castro, Thomie Ohtake, Volpi, entre outros. Dominada, até então, pelos artistas locais, em um trabalho de vendas informal, Guarnieri, ao lado de Joao Ferraz (hoje IFF) e colecionadores de artes, cultivou um espaço que hoje pode ser considerado o resultado de um trabalho de consolidação profissional de imagem e de um olhar estético técnico e apurado.
Por um período de dois anos, Marcelo foi diretor do Museu de Arte de Ribeirão Preto – o MARP – em sua fase inicial. No ano de 2006 nascia a Galeria de Arte Marcelo Guarnieri com o desejo de criar um espaço fora do eixo Rio-SP, que dialogasse com nomes das artes moderna e contemporânea. Em oito anos, além das exposições mencionadas acimas, a participação em feiras e eventos nacionais e internacionais, atraíram apreciadores da arte para o endereço. Resultado da experiência e da percepção de Guarnieri e de sua equipe: notaram que além da apresentação de nomes significativos do último período de produção artística, era necessário fortalecer, cultivar e estimular no público o entendimento da obra, do artista e do seu tempo de produção, por meio de visitas e atividades educacionais.
“Penso que criar essa nova mentalidade ainda é um processo em construção, porém, bem melhor que nos primeiros tempos. Hoje temos facilidades conquistadas com a Internet. Acabamos trabalhando, também, com clientes de SP e do Rio. No novo endereço em SP trabalharemos dentro da mesma filosofia da galeria de Ribeirão: Arte moderna e contemporânea num diálogo constante” avisa Marcelo Guarnieri, que garante o mesmo cuidado, qualidade e atenção; sinônimos que refletem o seu trabalho na unidade de Ribeirão. Além do endereço paulistano, a galeria manterá suas atividades paralelas na cidade do interior. As exposições serão pensadas para os dois espaços, podendo exibir projetos simultâneos ou autônomos.

 

 

Até 12 de Julho.

Um colagista em Nova York

23/abr

O artista visual e ilustrador André Bergamin, foi um dos 35 nomes convidados a expor na International Weird Collage Show, no Brooklyn, em Nova York, EUA. A exibição coletiva reúne a comunidade global da técnica de colagem. A galeria The Invisible Dog Art Center recebe artistas da Alemanha, Escócia, Bélgica, Noruega, Holanda, Inglaterra, Finlândia, Espanha, Costa Rica e dos Estados Unidos. Esta é a sétima edição do evento, que já passou por outros seis países.

 

Formado em Publicidade e Propaganda, com especialização em Design Gráfico, André Bergamin iniciou no ramo da ilustração em 2004. Desde então, criou colagens para ilustrar reportagens e atender a marcas como New Statesman, Carta Capital, Folha de S.Paulo, Rolling Stone, TAM nas Nuvens, Época, Alfa, Airborne Magazine, Superinteressante, Galileu, Aventuras na História, Culprit L.A., Bravo!, entre outras.

 

O jovem colagista, que tem entre suas referências plásticas John Baldessari, Volpi e Max Ernst, utiliza revistas das décadas de 50 a 80, manipulando imagens de forma digital. Atualmente, ele é agenciado pela londrina Illustration Ltd. Nos últimos anos, em paralelo ao trabalho de ilustrador, Bergamin passou a focar na produção artística; recentemente expôs em Colônia, Uruguai, com o coletivo “LADO B” e seu trabalho está registrado no livro Collage Illustrations Cut & Paste. No último mês, foi selecionado pela publicação alemã Lürzer’s Archive para figurar na edição 2013/2014 como um dos 200 melhores ilustradores do mundo.

 

 

Até 10 de maio.

Vieira da Silva no MAM-Rio

18/dez

Uma das mais importantes artistas plásticas do século XX, Maria Helena Vieira da Silva, ganha sua primeira mostra de peso no Rio de Janeiro. O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, MAM-Rio, exibe a exposição “Vieira da Silva – Agora”. No âmbito dos eventos do pleno ano Portugal no Brasil/Brasil em Portugal, em que os países reafirmam sua proximidade, a Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva e a Espírito Santo Cultura apresentam 51 obras inéditas ou pouco vistas no Brasil da artista portuguesa. A mostra tem curadoria de Marina Bairrão Ruivo, da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva (FASVS), e de Luiz Camillo Osorio, do MAM-Rio, e integra as comemorações do Ano de Portugal no Brasil.

 

Os desenhos e pinturas da mostra foram produzidos entre 1934 e 1986, e traçam um arco praticamente completo do trabalho de Vieira da Silva – um conjunto de obras vindas de colecionadores particulares e institucionais do Brasil e de Portugal. “Reunir trabalhos que cobrem cinco décadas de produção nos permitiu apresentar ao público carioca o desenvolvimento de sua trajetória e a constante renovação de sua linguagem pictórica”, afirma o curador Luiz Camillo Osorio. “O embate entre figuração e abstração acompanhou a construção de sua poética, colocando dentro de um universo muito pessoal, às vezes lírico, às vezes trágico, aspectos relevantes da pintura do pós-guerra – momento de maturidade de sua linguagem”, conclui.

 

A curadora Marina Bairrão Ruivo, lembra que “…sua pintura é um testemunho da inteligente associação de um passado – em que Lisboa permanece como um referente cultural – a um presente de renovação e modernidade, simbolizado por Paris”.

 

Além das 51 obras, a exposição “Vieira da Silva, Agora” apresenta uma fotobiografia da artista; e o Museu de Arte Moderna preparou a mostra “Diálogos com Vieira da Silva”, reunindo 28 obras de artistas brasileiros que efetivamente dialogaram com a criadora franco-portuguesa. Volpi, Guignard, Antônio Bandeira, Lygia Clark, Carlos Scliar, Guignard, Arpad Szenes, Fernando Lemos, Ione Saldanha, Pancetti, Maria Leontina, Maria Martins, Sergio Camargo e Willys de Castro, entre outros, são alguns dos 21 artistas que integram esta mostra complementar e essencial à compreensão desta troca artística.

 

Sobre a artista

 

Nascida em 1908 em Lisboa, Portugal, a artista faleceu em 1992, em Paris. Despertou cedo para a pintura. Aos onze anos ingressou na Academia de Belas-Artes, em Lisboa. Motivada também pela escultura, estudou Anatomia na Faculdade de Medicina de Lisboa. Em 1928 foi residir em Paris, onde estudou com Fernand Léger e trabalhou com Henri de Waroquier e Charles Dufresne. Em Paris conheceu o também pintor Arpad Szenes, húngaro, com quem se casou em 1930. Realizou numerosas viagens à América Latina para participar de exposições, como em 1946 no Instituto de Arquitetos do Brasil. Devido ao fato de seu marido ser judeu e de ela ter perdido a nacionalidade portuguesa, eram oficialmente apátridas. O casal decidiu residir no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial e no período pós-guerra, onde entraram em contato com importantes artistas locais, como Carlos Scliar e Djanira e exerceram grande influência na arte brasileira, especialmente entre os modernistas.

 

Vieira da Silva criou uma série de ilustrações para crianças que constituem uma surpresa no conjunto da sua obra. “Kô et Kô, les deux esquimaux”, é o título de uma história para crianças inventada por ela em 1933. Não se sentindo capaz de escrever, a pintora entregou essa tarefa ao seu amigo Pierre Guéguen e assumiu o papel de ilustradora, executando uma série de guaches. Mais tarde a artista viveu e trabalhou em Paris. A partir de 1948 o Estado Francês começa a adquirir as suas pinturas. Em 1956 ela e o marido obtém a nacionalidade francesa. Em 1960 o Governo Francês atribui-lhe uma primeira condecoração, em 1966 é a primeira mulher a receber o Grand Prix National des Arts e em 1979 torna-se cavaleira da Legião de Honra francesa. Participou da Europália, em 1992, e veio a morrer nesse ano. Para honrar a memória do casal de pintores, foi fundada em Portugal a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, sediada em Lisboa, e a Escola Vieira da Silva, em Carnaxide.

 

Até 17 de fevereiro de 2013.

Produção em papel

18/set

A galeria Arte Aplicada, Jardim Paulista, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Três Décadas de Arte Sobre Papel”, exibindo 30 obras de artistas selecionados pela curadora Sabina de Libman, que buscou excelência nos trabalhos nesse suporte, para oferecer um panorama de trinta anos de arte com expoentes da arte como Di Cavalcanti, León Ferrari, Flavio de Carvalho, Pietro Maria Bardi, Volpi, Tomie Ohtake, Sergio Fingermann, Abraham Palatnik e Alex Vallauri, entre tantos.

 

Embora o papel sirva como um estágio inicial para obras de arte, como croquis e rascunhos, mas é também lugar de trabalhos finalizados, sendo essencial – como suporte – no desenvolvimento e na finalização de obras. Em muitos casos, abriga o valor de obra com linguagem independente. Isso é percebido, por exemplo, nos desenhos de Di Cavalcanti e Flávio de Carvalho, nas gravuras de León Ferrari e Tomie Ohtake, nas serigrafias de Volpi e Abraham Palatnik, bem como nas litografias de Sergio Fingermann e no graffiti de Alex Vallauri.

 

Todos os artistas selecionados para “Três Décadas de Arte Sobre Papel” tiveram algum tipo de contato com Sabina de Libman: alguns realizaram exposições em sua galeria, enquanto outros participaram de mostras em instituições com sua curadoria. “Muitos deles eram ainda promessas quando os conheci e, com o tempo, consolidaram-se como grandes nomes”, diz a curadora, que anteviu tais potenciais.

 

Além dos artistas mencionados, a coletiva conta ainda com obras de Bonadei, Waldemar Cordeiro, Da Costa, Grassmann, Arcangelo Ianelli, Renina Katz, Juarez Machado, Aldemir Martins, Rubens Matuck, Marco Aurélio Rey e Mario Tagnini.

 

Até 29 de setembro.