GILBERTO DE MELO FREYRE (1900, Recife, PE - 1987, Recife, PE)

BIOGRAFIA:

Antropólogo e escritor, foi pintor autodidata. Na adolescência, estudou desenho com Teles Júnior e latim com o pai. Aos 17 anos viajou para os Estados Unidos, onde bacharelou-se na Universidade de Baylor e, posteriormente, fez mestrado e doutorado na Universidade de Colúmbia. Mais tarde, em viagem de estudos, percorreu vários países da Europa. Retornou ao Brasil em 1923. Entre 1930 e 1932, num exílio voluntário após a revolução de 1930, viveu novamente na Europa. De volta ao Brasil, esteve sempre muito ligado, como mestre e amigo, a Cícero Dias, Lula Cardoso Ayres, José Lins do Rego, entre outras figuras importantes do modernismo. A excelência da sua linguagem, aliada a uma consciência científica das mais abertas e generosas, foi a grande marca de seu percurso intelectual, participativo e polêmico. Seu livro mais célebre, Casa-grande & senzala, de 1933, é uma interpretação do Brasil patriarcal de 1500 a 1900, "formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal" como ele mesmo o definiu. Esse levantamento da nossa formação (segundo ele o brasileiro é um misto de português, índio e negro), rendeu-lhe uma verdadeira história do Brasil na intimidade. Com uma visão corajosa e desafiadora para a época, realizou uma epopéia, um verdadeiro romance, caudaloso, proustiano, que nos revela como povo. Dando continuidade ao ensaio de 1933, publicou depois Sobrados e mucambos (1936) e Ordem e progresso (1959). Seu currículo soma cerca de uma centena de livros publicados. Traduzida em diversos países, sua obra alcançou sucessivas edições. Darcy Ribeiro, num longo texto a respeito de Casa-grande & senzala, comentou: "O mais brasileiro dos livros já escritos. Creio que poderíamos prescindir de qualquer dos nossos ensaios e romances, mesmo que sejam o que de melhor se tem escrito. Mas não passaríamos sem Casa-grande & senzala sem ser diferentes. Em certa medida, Gilberto Freyre fundou o Brasil no plano cultural, tal como Cervantes fez com a Espanha, Camões com Portugal, Tolstoi com a Rússia, Sartre com a França." Gilberto Freyre expôs seus quadros em individuais em Pernambuco e ainda escreveu muito a respeiro de pintura, arquitetura e arte em geral.

REFERÊNCIA:

A cultura brasileira (3.ª ed. Melhoramentos, v. 2, 1958), de Fernando de Azevedo; Nordeste (3.ª ed. José Olympio, 1961), Vida, forma e cor (José Olympio, 1962), Como e por que sou escritor (Universidade da Paraíba, 1965), Como e por que sou e não sou sociólogo (Universidade de Brasília, 1968), Além do apenas moderno (José Olympio, 1973), Tempo morto e outros tempos (José Olympio, 1975) e Obra escolhida (Nova Aguilar, 1977), de Gilberto Freyre; O modernismo (Cultrix, 1965) e História da inteligência brasileira (Cultrix/Edusp, v. 7, 1979), de Wilson Martins; Ensaios insólitos (L&PM, 1979), de Darcy Ribeiro; História da literatura brasileira: Modernismo (Cultrix/Edusp, 1989), de Massaud Moisés; Recortes (Companhia das Letras, 1993), de Antonio Candido; Nossos Clássicos: Gilberto Freyre (Agir, 1994), de Edilberto Coutinho; A literatura brasileira: origens e unidade (Edusp, 1999), de José Aderaldo Castello.

Texto: Bolsa de Arte/André Seffrin