Oriundo de uma família de pintores, embarcou em Nice como grumete de uma fragata com a intenção de dar a volta ao mundo. Chegou em 1824 ao Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar com o livreiro francês Pierre Plancher (que fundaria o Jornal do Commércio em 1827). Contratado logo depois como desenhista pela expedição Langsdorff, seguiu para a bacia amazônica na função de desenhista ao lado de Rugendas e Adrien Taunay. Com a morte deste último e o afastamento de Rugendas, ficou responsável pela maior parte dos trabalhos. A saga dessa expedição, de fim trágico, foi tratada com muita acuidade por Boris N. Komissarov na introdução que escreveu ao livro Expedição Langsdorff ao Brasil: 1821-1829: Rugendas/Taunay/Florence. Os registros de Florence em forma de diário foram em parte publicados no livro Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas: de 1825 a 1829. Seu manuscrito, Esquisse pittoresque du voyage de Porto-Feliz à Cuyabà et explications des dessins ci-joints, pertence ao Arquivo da Academia de Ciências da Rússia. Com o fim da expedição em 1829, constituiu família (chegou a ter vinte filhos) e transferiu-se para São Carlos, atual Campinas. Desenhista, fotógrafo e pintor, um dos inventores mundiais da fotografia, Florence, conforme escreveu Mário Carelli, "inventou a poligrafia e o papel inimitável, escreveu um tratado de zoofonia e dirigiu o primeiro jornal da região [Campinas]. Por volta de 1832, teve a idéia de fixar imagens sobre papéis preparados com nitrato de prata numa câmara escura." Segundo Boris Kossoy, esta descoberta precedeu a de Niepce e de Daguerre. Em 1996 inaugurou-se, na Casa França Brasil, Rio de Janeiro, a mostra O Brasil de Hoje no Espelho do Século XX: sala especial Hércules Florence: Legendário Viajante, obras e documentos da coleção Cyrillo Hércules Florence. Uma grande exposição sobre sua vida e sua obra foi inauguarda em Nice, na França, em 2001.
Referências: Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas: de 1825 a 1829 (Nacional, 1941, 2. ed. Cultrix/Edusp, 1977), de Hercule Florence, tradução do Visconde de Taunay; Artistas pintores no Brasil (São Paulo, 1942), de Teodoro Braga; A expedição do acadêmico G. I. Langsdorff ao Brasil (Nacional, 1967), de G. G. Manizer; História da inteligência brasileira (Cultrix, v. 3, 1977), de Wilson Martins; Hercule Florence-1833: a descoberta isolada da fotografia no Brasil (Duas Cidades, 1980) e Origens e expansão da fotografia no Brasil: século XIX (Funarte, 1980), de Boris Kossoy; História geral da arte no Brasil (Instituto Walther Moreira Salles/Fundação Djalma Guimarães, 1983), coordenação de Walter Zanini; A fotografia no Brasil: 1840-1900 (Funarte/Fundação Nacional Pró-Memória, 1985), de Gilberto Ferrez; Em torno da fotografia no Brasil (Sudameris, 1987), de P. M. Bardi; Expedição Langsdorff ao Brasil: 1821-1829: Rugendas/Taunay/Florence (Alumbramento, 1988), texto de Boris N. Komissarov; Brasil-França: cinco séculos de sedução (Espaço e Tempo, 1989) e Culturas cruzadas: intercâmbios culturais entre França e Brasil (Papirus, 1994), de Mario Carelli; Livros de viagem: 1803/1900 (UFRJ, 1997), de Miriam Lifchitz Moreira Leite; Biblioteca Nacional: a história de uma coleção (Salamandra, 1997), de Paulo Herkenhoff; Os diários de Langsdorff (Fiocruz, 3 v., 1997/1998), organização de Danuzio Gil Bernardino da Silva; Iconografia paulistana do século XIX (Metalivros, 1998), de Pedro Corrêa do Lago; O Brasil dos viajantes (Objetiva/Metalivros, 3. ed. 2000), de Ana Maria de Moraes Belluzzo; Les trois vies d'Hercule Florence (J. C. Lattès, 2001), de William Luret.
Texto: Bolsa de Arte/André Seffrin