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AGENDA CULTURAL

Digigrafias e time-lapses

A Galeria São Paulo Flutuante, Jardim América, São Paulo, SP, inaugura “NIN – Novo Impressionismo Numérico”, do artista plástico, desenhista e pintor Fernando Barata, carioca residente em Paris, com 30 obras sobre papel e uma série de time-lapses projetados no ambiente da exposição, onde os temas selecionados são os históricos da pintura : paisagem, natureza morta, os quais variam ao sabor dos locais e países visitados pelo artista. A curadoria é de Regina Boni.

 

Fernando Barata exprime sua vivência utilizando-se de uma linguagem com forte conotação contemporânea e, graças a utilização de técnicas atuais, esta linguagem vai se projetar em suas obras, exprimindo-se livremente através de diversos métodos de transferência de imagens.  Em suas palavras: “Os múltiplos recursos, a simplicidade de utilização e a mobilidade do tablet iPad substituíram o bloco de desenho e a tela como material de observação e registro de viagens. A capacidade de difusão imediata das imagens por Internet, a possibilidade de associar pintura, música, cinema, fotografia e poesia no mesmo corpo de imagem, contribuíram para que eu optasse por esta nova ferramenta de expressão”.

 

Combinado com habilidades e conhecimento profundo de técnicas convencionais de pintura, o uso do iPad na produção de Fernando Barata torna-se um meio de resgatar a delicadeza da pintura e oferecer um conjunto de cores ao observador. “O Impressionismo foi um movimento que rompeu com a arte acadêmica e instaurou a arte moderna e as vanguardas. Com o aparecimento da Internet, surge uma arte numérica ou digital, em ruptura com o funcionamento das vanguardas históricas”, comenta o artista. As primeiras imagens utilizando esta ferramenta foram realizadas em 2017. A delicada passagem da tela do tablet para o papel foi sendo aprimorada com o tempo. Novas técnicas foram incorporadas e aperfeiçoadas. A edição dos time-lapses – vídeos da construção do desenho a partir do primeiro traço, em velocidade alterada – foi se enriquecendo com a inclusão de música.

 

“O trabalho se inscreve em uma História das Imagens onde todas as obras são produto de observação direta. O olhar é fundamental na captura da atmosfera”, define Fernando Barata.

 

 

Sobre o artista

 

Fernando Barata, pintor e desenhista nasceu em 1951 no Rio de Janeiro. Diplomou-se em 1977 pela Escola Nacional de Belas Artes da UFRJ. Reside em Paris desde 1982, onde vive e trabalha. Participou do 25º Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 1974, e da 14ª Bienal Nacional de São Paulo, 1977. Obteve Menção Especial do Júri na 1ª Bienal de Havana, 1984, e participou da 18ª Bienal Internacional de São Paulo, 1985. Realizou um mural em Douai, França, para a Companhia de Águas de Artois-Picardie, 1990. Selecionado para o Prêmio Fortabat (Casa da América Latina, Paris, 1990), seu trabalho foi igualmente premiado no Grande Prêmio Internacional de Arte Contemporânea Michelin, 1998. A partir dos anos 1990, com o surgimento dos computadores pessoais e programas de tratamento da imagem, inicia uma série de experiências, utilizando estas novas ferramentas como complemento da pintura. Suas primeiras exposições de gravuras digitais foram realizadas na Galerie Quadra, Paris, 1998. Entre 2009 e 2015, realizou diversas viagens pela França, que resultaram em uma série de aquarelas e desenhos, retratando locais percorridos pelos artistas modernos e impressionistas: Biarritz, Bordeaux, Nice, Marseille, Cassis, Nîmes, Vallauris, Saint-Paul de Vence, Avignon, Aix-en-Provence e Albi, entre outros. Uma seleção destas aquarelas foi exposta na Galerie Covart, Luxemburgo, 2010 e no Atelier 21, Paris, 2014. Paralelamente a estas viagens na França, continuou sua exploração pelo mundo: Tunísia, Creta, Ilha da Reunião, México, Lisboa, Nova Deli, Dubrovnik, New York, São Francisco, Praga, etc. O bloco de aquarela passa a ser o material mais adequado, durante este período de observação nômade, por sua facilidade de transporte e utilização. Após uma viagem à Índia, 2014, realiza uma série de pinturas sobre sacos de juta, expostas na Galerie Marie-Laure de l’Ecotais, Paris, 2016. Duas destas obras pertencem hoje à coleção da Embaixada do Brasil em Paris. Com o lançamento do iPad Pro, da caneta Apple e de novos aplicativos de desenho tátil, substitui o bloco de aquarela pelo tablet, com o qual passa a trabalhar exclusivamente.

 

 

A palavra de Regina Boni sobre a Galeria São Paulo Flutuante

 

Em 2002, a Galeria São Paulo fechou as portas depois de 21 anos febris no mercado brasileiro de arte, num ciclo em que as cinco mostras de Hélio Oiticica falam em nome de dezenas de outras dedicadas a artistas até ali inseridos com timidez no circuito comercial, pouco aberto às linguagens transgressoras e experimentais. Meu trabalho como figurinista do Tropicalismo, em 1968, fora a origem desse itinerário: muito antes de pensar em ser marchande nos anos 80, havia em mim a crença na originalidade de uma proposição artística brasileira em diálogo com o mundo. Dezesseis anos depois, aqui estamos com a Galeria São Paulo Flutuante. O retorno se deve a uma inquietação equivalente à de 1981, o ano da abertura do primeiro espaço na rua Estados Unidos – mas as razões são bem diferentes daquelas nascidas nas décadas em que contribuímos com a modernização do mercado e dos elos entre galeristas e artistas. Sinto-me hoje desafiada pelos rumos (desvios?) desse mesmo mercado, em suas vertigens de valores abusivos e curadores estelares, distanciados dos caminhos mais soberanos da criação. Não anunciamos um retorno eterno, mas efêmero e flutuante, sem as amarras de um endereço fixo: intervenções em lugares ora vazios da capital paulista, vazios também como metáfora de conceitos e conteúdos abandonados na era dos curadores, do marketing a todo custo e da percepção tola do gesto de Duchamp. Sem dúvida, esse sistema começa a desmoronar no Brasil. A Galeria São Paulo Flutuante pretende regressar às aventuras das linguagens não-domesticadas pelos conceitos da estação. Vem-me assim a lembrança inspiradora do desfile de passistas da Mangueira vestidos com parangolés de Hélio, fechando o trânsito da rua Estados Unidos, em 1986. Arte no calor da rua, no seio dos desejos, no meio do redemoinho. O nosso recomeço de viagem.

 

 

De 25 de maio 02 de julho.

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