obras nos acervos da Pinacoteca do Estado de São Paulo, do Museu Afro Brasil, do Pavilhão das Culturas Brasileiras e do MAM do Rio de Janeiro, Alcides realizou a sua primeira exposição individual na Galeria Estação, com o apoio do Instituto do Imaginário do Povo Brasileiro, em 2007. Foi nesta ocasião que o crítico Paulo Sergio Duarte entrou em contato com a obra do artista e agora assina a curadoria desta mostra que joga luz sobre como o artista, ao romper com os limites do folclórico e artesanal, nos coloca diante de trabalhos de inesperada e original composição formal.
Para essa exposição o curador escolheu 19 pinturas que retratam veículos a motor (caminhões, motos, aviões, trens), figuras que substituíram as paisagens rurais do Mato-Grosso, quando o artista se mudou para São Paulo. Segundo Duarte, são telas planas, com uma sofisticada estrutura geométrica que afasta qualquer aspecto naïf do trabalho. “A monumentalidade que adquirem as máquinas de Alcides é inédita, e não encontramos ocorrências semelhantes seja na arte popular, seja na erudita”, completa.
Duarte destaca, ainda, que, mesmo acreditando na arte como um dom de Deus, instigada a partir da consciência do embate do homem com a natureza, a pintura de Alcides exercita uma inventividade que extrapola as necessidades tradicionais da simbologia religiosa. “Suas máquinas revelam modelos técnicos absolutamente estáticos que ocupam todo o espaço da tela dando um aspecto secundário ao cenário, que recebe um “tratamento pictórico contrastante”, explica.
Sobre o artista
Alcides Pereira dos Santos nasceu na Bahia em 1932 e faleceu em 2007 em São Paulo. Radicou-se no Mato Grosso em 1950, com 18 anos. Desenvolveu, antes da pintura, os ofícios de sapateiro, pedreiro, barbeiro, e plaqueiro – onde aprendeu a desenvolver a representação e comunicabilidade de imagens a partir de técnica simples e poucos elementos. Segundo Aline Figueiredo, empreendedora do livre atelier do qual o artista fez parte em meados da década de setenta, é apenas com 19 anos que Alcides “alcança as maiores revelações da sua vida: a religião e a pintura”. Neste espaço, Alcides teve orientação didática da pintora Dalva de Barros, e fomento junto a uma geração de artistas regionais de grande personalidade, como Adir Sodré e Nilson Pimenta.
Além de pertencer a importantes acervos, suas pinturas já participaram de importantes coletivas como Histoire de voir, na Fundação Cartier, Paris, em 2012; Pop Brasil – A arte popular e o popular na arte, no CCBB-SP, 2002; Mostra do Redescobrimento, no Pavilhão Manoel da Nóbrega, SP 2000; Os Herdeiros da Noite, na Pinacoteca do Estado, SP 1994; Pintura Cabloca, no MAM/RJ, 1981; Arte Brasileira: além do sistema, Galeria Estação, 2010; Brasileiro, Brasileiros, no Museu Afrobrasil, SP 2005; assim como uma exposição coletiva na Andrew Edlin Gallery, em Nova Iorque.
Até 20 de dezembro.