A Fundação Clóvis Salgado, Nelo Horizonte, MG, recebe a exposição Alex Flemming “De CORpo e Alma” na Grande Galeria do Palácio das Artes. A exposição ocupa um dos mais importantes espaços expositivos da Fundação e traz uma “retroperspectiva” de 37 anos de produção artística, transitando pela gravura, instalação, desenho, colagem em esculturas e objetos, e pintura sobre superfícies não tradicionais. As obras são agrupadas em séries de formatos e cores, tratando do caráter circular da arte de Flemming, que costuma abordar e ressignificar a mesma temática em diferentes períodos de sua carreira.
Da colagem à reapropriação
A representação do corpo humano, temática frequente na obra de Flemming, abre a exposição por meio de duas coleções pontuais. O expectador poderá conhecer a série Eros Expectante (1980), com14 gravuras com imagem do retrato nu feminino e masculino, e que rendeu ao artista a bolsa de estudos da Fulbright Foundation. Nessa série, utilizando novas técnicas e dimensões da gravura, Flemming reconstruiu negativos fotográficos e ampliou as imagens de forma inovadora para a época. A reapropriação imagética também ocorre em A guerra incompreensível (1982), série com seis imagens de fragmentos de jornais que relatam conflitos de guerra. Escritos em diferentes línguas, as imagens são, segundo Flemming, uma metáfora de denúncia política. Como apontado por Henrique Luz, “essas duas pequenas séries podem ser vistas como um núcleo poderoso de ideias que foram trabalhadas até a exaustão por Flemming, nos oferecendo uma reflexão sobre o mundo em que vivemos”.
Retratos, cores e códigos
Em 1998, Flemming realizou 44 painéis em vidro para a Estação Sumaré do Metrô de São Paulo, com fotos de pessoas comuns, às quais sobrepõe com letras coloridas trechos de poemas de autores brasileiros, criando um acúmulo de significados. Um desses vidros estará no percurso da exposição, assim como quatro painéis da série Biblioteca (2016), na qual o artista retratou frequentadores da Biblioteca de São Paulo. Ao final dos anos 1990, com o avanço da impressão digital e recursos de computação gráfica, Flemming constrói a série Body Builders (2000-2006), fundindo fotografias de homens seminus a mapas de regiões em conflito de guerra, como tatuagens. Segundo o curador, Body Builders é um trabalho de denúncia contra a guerra pelo mundo e como os jovens são literalmente marcados por esses conflitos. “A intenção de Flemming ao sobrepor imagens é dificultar a leitura rápida das obras, fazendo o observador desacelerar o olhar para compreender não só o que está escrito, mas o que está codificado”, ressalta.
Do céu ao caos
Na série Anjos e Sereias (1983-1985), o artista se debruça sobre a devoção popular realizando uma releitura cromática de santinhos como o de Iemanjá, São Miguel Arcanjo e Santa Cecília. Ainda dentro dessa temática, Flemming se apropria fotograficamente de várias representações de Cristo e suas proporções áureas encontradas em obras do Barroco Brasileiro e Português. O fascínio da morte também estará representado com pinturas em animais empalhados, série apresentada no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, em 1990, e na XXI Bienal Internacional de São Paulo, em 1991. A série Caos (2008-2015) completa a exposição, composta por pinturas baseadas em fotografias do próprio artista, feitas a partir de 2005, nas quais retrata a vida cotidiana. “Flemming fala sobre a brevidade da vida, sobre a nossa passagem por esse planeta, do caos de onde viemos e para onde retornaremos”, revela o curador. Na parede oposta, estarão várias das roupas que o artista usou durante anos e que foram também pintadas em cores fortes. Sobre elas, Flemming escreveu sentimentos que vivenciou.
Sobre o artista
Alex Flemming nasceu na cidade de São Paulo, em 1954, e reside atualmente em Berlim, na Alemanha. Pintor, escultor e gravador, frequentou o Curso Livre de Cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, entre 1972 e 1974. Cursou serigrafia com Regina Silveira e Júlio Plaza, e gravura em metal com Romildo Paiva, em 1979 e 1980. Na década de 1970, realizou filmes de curtas-metragens e participou de inúmeros festivais de cinema. Em 1981, se muda para Nova York, onde permanece por dois anos e desenvolve projeto no Pratt Institute, com bolsa de estudos da Fulbright Foundation. A partir dos anos 1990, realiza intervenções em espaços expositivos e pinturas de caráter autobiográfico, passando a recolher utensílios como móveis, cadeiras e poltronas, para utilizar em assemblages, aplicando tintas, letras ou textos. Foi professor da Kunstakademie de Oslo, na Noruega, entre 1993 e 1994. Em 2002, são publicados os livros Alex Flemming, pela Edusp, organizado por Ana Mae Barbosa, com textos de diversos especialistas em artes visuais; Alex Flemming, uma Poética…, de Katia Canton, pela Editora Metalivros; e, em 2005, o livro Alex Flemming – Arte e História, de Roseli Venturella e Valéria de Souza, pela Editora Moderna.
Classificação: 18 anos
De 13 de dezembro até 25 de Fevereiro de 2018.