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AGENDA CULTURAL

Amilcar de Castro: na dobra do mundo

 

Cerca de 120 obras do artista plástico neoconcretista e designer gráfico Amilcar de Castro passam a compor as instalações internas e externas do MuBE (Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia), São Paulo, SP. A exposição “Amilcar de Castro: na dobra do mundo” é uma homenagem ao centenário do multifacetado artista, que integra o rol dos maiores expoentes brasileiros na arte e cultura, acumulando títulos como o prêmio da Fundação Guggenheim e Prêmio Nacional da Funarte. A mostra é gratuita e pode ser visitada mediante agendamento prévio.

 

 

Dentre a seleção de trabalhos de Amilcar, há obras inéditas como a escultura horizontal, composta por duas partes, da década de 1990, disposta debaixo da marquise do MuBE, e a alta e esbelta escultura, sem título, também da década de 1990, instalada na grama do jardim do museu. Outro destaque é a participação da escultura, sem título, de 1999, com gigantescas dimensões (18 metros de altura e mais de 20 toneladas), pertencente à Universidade de Uberaba (MG) que, pela primeira vez, percorre mais de 480 km para ocupar novo lar temporário no MuBE.

 

 

A mostra é realizada em parceria com o Instituto Amilcar de Castro e conta com a curadoria de Guilherme Wisnik (professor da FAU-USP, crítico de arte e curador), Rodrigo de Castro (filho do artista e diretor do Instituto Amilcar de Castro) e Galciani Neves (curadora-chefe do MuBE). “É realmente uma honra comemorar o centenário de Amilcar em um museu que conversa tanto com a proposta de trabalho do artista. É o encontro da instituição com as obras neoconstrutivas que remontam à universalidade da arte”, celebra Rodrigo de Castro, destacando que as obras sempre estiveram conectadas ao urbanismo.

 

 

Outro ineditismo da exposição é a interação entre o trabalho de Paulo Mendes da Rocha (arquiteto responsável pela concepção do MuBE) e Amilcar de Castro. “O contraste entre a horizontalidade do prédio e a verticalidade das esculturas de aço corten de Castro resultam em uma fricção única entre arte, arquitetura e história”, destaca Guilherme Wisnik, especialista em arquitetura, urbanismo e artes visuais.

 

 

 

As obras estão expostas no pátio do MuBE, ao ar livre, e chamam a atenção de quem passa despretensiosamente na rua pelo lado de fora, mas também atraem quem busca por uma programação cultural ao ar livre. Uma das atrações dentro da exposição é o capítulo matéria-linha, uma seleção de trabalhos contemporâneos de artistas brasileiros diversos, que dialogam com as obras do Amilcar. Carmela Gross, Lia Chaia, Max Willà Morais, Moisés Patrício, Rubiane Maia e Carla Borba, Tomie Ohtake e Wlademir Dias-Pino fazem parte dessa seleção. “Nossa proposta é promover uma outra maneira de nos relacionarmos com o trabalho do Amilcar, trazendo uma visão atual a partir de diálogos que se relacionam com a ideia de linha, explorada pelo artista”, completa Galciani.

 

 

 

Textos curatorais

 

 

Amilcar de Castro no MuBE, de Paulo Mendes da Rocha. Um encontro fundamental entre dois gigantes da arte brasileira. Esculturas que carregam uma expressiva vocação pública, na área externa interagem com uma esplanada aberta. Praça atravessada por uma grande marquise de concreto protendido, que lhe dá escala, e constrói balizas visuais para as esculturas. No caso de Amilcar: chapas de aço cor-ten que, pela ação de corte e dobra, se transformam em espaço, em planos de equilíbrio instável, angulosos, que se afinam para tocar o chão em pontos reduzidos.

 

 

 

No preto e branco do artista, assim como no cinza do arquiteto, não há concessões sentimentais, ou cordiais. Sóbrias e desafiadoras, as suas respostas artísticas se baseiam no conceito virtuoso de projeto. Um projeto entendido como afirmação de desejos que se realizam em conformidade com a técnica e a matéria. Figurando, assim, a ideia de uma sociedade capaz de planejar seu futuro e medir as consequências dos seus atos, responsabilizando-se por eles. Algo que, no Brasil de hoje, volta a ter um urgente significado.

 

 

 

Guilherme Wisnik, curador da exposição

 

 

O início desta trajetória se deu nos anos 1940 quando Amilcar, jovem e estudante de Direito na UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais (formou-se em 1945), passou a frequentar a Escola Guignard onde, durante vários anos, teve aulas com o artista Alberto da Veiga Guignard… Os anos 50 foram decisivos e importantes. Encontrou amigos, fez parte do movimento Neoconcreto junto com Ferreira Gullar, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape, Aluísio Carvão e Franz Weissmann. E em 1952 fez a “estrela” de cobre, escultura que inaugurou a descoberta da dobra da chapa e deu a direção para tudo o que viria depois…

 

 

Uma longa trajetória de mais de cinquenta anos de arte, produzindo esculturas, pinturas, desenhos e gravuras. E experimentando diversos e diferentes materiais além do ferro para realizar esculturas em madeira, vidro, granito e aço inoxidável… Um dia, conversando com Amilcar sobre a vida e como as coisas mudaram desde que nasceu em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais (Paraisópolis), ele disse: “Tem que acreditar. Acreditar sempre e até o fim…”

 

Rodrigo de Castro, co-curador da exposição   

 

 

Adentrar esse momento histórico da produção artística brasileira é lidar com a complexidade de alguns dos processos que radicalizaram nossas formas de pensar, produzir e vivenciar arte. E nesse sentido, estar em contato com a obra de Amilcar, no MuBE, em uma retrospectiva que comemora seu centenário, acende pensamentos acerca das especulações com geometrias não-euclidianas, das objeções à leitura passiva da obra, das concepções não instrumentalizadas do espaço, de práticas fenomenológicas com a linha. Assim, com o capítulo matéria-linha, propomos um contexto de fluxos e contrapontos entre a linha construtiva dos desenhos, obra gráfica e esculturas de Amilcar e sua presença plural em trabalhos contemporâneos brasileiros.

 

 

 

Galciani Neves, co-curadora da exposição e curadora-chefe do MuBE

 

Até 23 de Maio.

 

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