Aproximar o passado do presente é a proposta da artista plástica Ana Durães, que apresenta obras recentes na sua mais nova exposição “Novos Pretos Novos”, cartaz da Sergio Gonçalves Galeria, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A artista mergulha na obra de Rugendas, trazendo uma abordagem contemporânea através de pinturas, stencils e grafittis. A ideia para o novo tema surgiu quando, pensando em trabalhar o universo do Rio Antigo, resolveu mergulhar no mundo de Johann Moritz Rugendas, alemão viajante do século XIX, que chegou como espião no Brasil e criou, dentre inúmeras obras, um precioso acervo sobre a vida dos escravos.
Pesquisando sobre o tema, Ana descobriu que o Brasil teve o maior mercado de africanos escravizados da história da humanidade. E no Rio de Janeiro, quando desembarcavam, eram levados para depósitos na Rua Direita (atualmente Rua Primeiro de Março) onde eram colocados à venda nas calçadas. Após 1769 o desembarque foi transferido para o Cais do Valongo (hoje Gamboa) e o local se transformou num comércio de escravos à céu aberto. Por não terem nenhuma habilidade para os serviços da lavoura ou domésticos, eles eram chamados de “Pretos Novos”. Daí surgiu o nome da exposição, que faz uma releitura desses escravos através das obras de Rugendas e de amigos da artista que foram retratados em suas telas, como o cantor Chico César.
Ana Durães utiliza a arcaica técnica do estêncil sobre superfícies preparadas com camadas de tinta que, em alguns casos, sofreram intervenções como oxidação, ou apropriação de matérias decalcadas. É um processo que demanda tempo entre uma etapa e outra, para que a artista crie a sua própria “arqueologia”. “Novos pretos novos” traz, ainda, grandes retratos e outros menores que são exibidos com pequenas paisagens, aves e até inusitados helicópteros, compondo um cenário com elementos que evocam alegria. Sentimento que Ana busca, de alguma maneira, devolver aos personagens criados. A curadoria é de Marco Antonio Teobaldo.
De 30 de novembro a 18 de janeiro de 2014.