A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, apresenta, a partir do dia 09 de novembro, “Polaroid”, exposição individual da artista Ana Sario. A mostra reúne um grande conjunto de pinturas inéditas realizadas em 2018 que se apropriam do formato da fotografia Polaroid.
Ana Sario busca traduzir, por meio de suas pinturas, os estados de espírito ou sensações que imagens ou situações de contemplação causam em nós: os muitos tons de azul que se encontram e se modificam lentamente no céu do fim do dia, a vista do jardim interrompida por uma cortina persiana cor-de-rosa, um campo vasto florido que alcança até o infinito o nosso campo de visão, ou até mesmo a luz intensa da manhã que atravessa, pelas frestas, um arbusto de hibiscos. O assunto da janela, aparece no trabalho de Sario sob abordagens diversas, trazendo à reflexão os aspectos do olhar: quando em paisagens longínquas que nunca acessaremos em sua totalidade, ou em naturezas-mortas compostas por vasos de plantas ou bibelôs tão ao alcance das mãos; quando em telas que, compostas por fitas isolantes, tijolinhos de barro ou pela ação que simula o próprio tecido que serve de suporte, parecem vedar algo que está por detrás, mas que na realidade já é ali a pintura em si.
Em “Polaroid”, Ana Sario explora esse assunto aproximando-se mais explicitamente das discussões em torno da imagem fotográfica. Ao fazer clara referência em suas pinturas ao formato da fotografia instantânea que dá título à exposição e ao se utilizar de imagens coletadas na internet ou produzidas pela câmera do celular, a artista propõe uma reflexão sobre a nova dinâmica da contemplação à qual estamos submetidos na era digital. Há uma justaposição de temporalidades nesse conjunto de pinturas: o tempo acelerado dos olhos que ansiosos percorrem as telas dos dispositivos eletrônicos ou das mãos inquietas e da “chuva de likes” agora fazem parecer vagaroso o tempo da imagem que se revela na superfície do papel fotossensível ou até mesmo o tempo dos pincéis e das tintas na execução de uma tela de 10,5 x 10,5 cm.
A discussão sobre o tempo parece também atrelada à discussão sobre o espaço, como observou José Bento Ferreira, autor do texto da exposição: “Ao proporcionar uma encarnação para a imagem sem corpo, a pintura salva-a da irreferência à qual está eternamente condenada no não-lugar das infovias, submetida à avaliação visual instantânea dos cliques, incompatível com uma fruição verdadeira. Por outro lado, a série de pinturas produzidas a partir de imagens encontradas nas derivas virtuais reconfigura o espaço ao redor, torna-o “heterotópico” conforme a formulação do filósofo Michel Foucault, isto é, um lugar que está fora de todos os lugares, um “contraespaço”.”
Sobre a artista
Ana Sario, 1984 – São Paulo, Brasil. Vive e trabalha em São Paulo. Participou das exposições coletivas: “Os Primeiros 10 Anos” e “Energias da Arte”, ambas realizadas no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil; “Além da Forma” no Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil; “Em espera” no Museu Murillo La Greca, Recife, Brasil e MACC – Museu de Arte Contemporânea de Campinas, Campinas, Brasil; MARP – Museu de Arte de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, Brasil. De agosto a dezembro apresenta outros trabalhos da série “Polaroid” em exposição individual no Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto. Ana Sario integra a publicação “Pintura Brasileira Século XXI”, da Editora Cobogó.
Visitação de 09 de novembro de 2018 a 12 de janeiro de 2019.