Em sua primeira individual até o dia 16 de agosto na Zipper Galeria, Jardim América, São Paulo, SP, o artista André Penteado investiga as reminiscências e os desdobramentos visuais da delegação que desembarcou no Rio de Janeiro no início do século 19 com a meta de instituir a Academia Imperial de Belas Artes, primeira instituição oficial de ensino de artes no país. A exposição “Missão Francesa” tem texto crítico assinado por Moacir dos Anjos e apresenta um recorte da produção incluída em fotolivro homônimo do artista, recentemente lançado.
A nova série é a segunda fase do projeto “Rastros, Traços e Vestígios”, em que o artista pretende retratar cinco temas da história brasileira. Já concluiu dois – “Cabanagem” (2014) e “Missão Francesa” (2017) – e tem um em andamento – “Farroupilha”, previsto para o próximo ano. “Não sou historiador e não pretendo explicar os processos. Minha intenção é gerar uma sensação do presente a partir de vestígios do passado”, reflete. O artista, no entanto, afirma haver um paralelo entre historiadores e fotógrafos: “Ambos partem da realidade, mas suas construções são sempre ideológicas”.
Em uma dessas construções, ele questiona a importação de matrizes para sanar questões nacionais. “No Brasil, ainda hoje vinga o ideário de que a importação de modelos podem resolver nossos problemas”, ele afirma. Em seu método próprio de investigação, André Penteado se aproxima do trabalho arqueológico. “Eu junto as imagens e busco uma conexão entre elas, experimentando relações, em tentativas e erros, para formar alguma coerência narrativa”.
Esta abordagem “técnica” fica evidente nos aspectos formais dos trabalhos. Produzidas com tripé e uso de flash, as fotografias remetem às máquinas automáticas. São duras, estruturadas, cruas – o que, propositalmente, transmite a racionalidade com que o artista confronta a realidade. “Os temas são complexos e envolvem muita paixão. Eu busco o oposto no meu trabalho. É quase uma fotografia forense”, analisa.
Trabalhos da mesma série participaram da mostra coletiva “Antilogias”, que esteve em cartaz na Pinacoteca do Estado. O artista realizará exposição individual sobre a Missão Francesa no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, que abriga a mais importante coleção sobre o período.
Sobre o artista
A obra de André Penteado, São Paulo, SP, 1970) se baseia na ideia de que a fotografia, dada a sua banalidade no mundo de hoje, é uma das mais interessantes e complexas mídias para o desenvolvimento de trabalhos de arte. Produzindo desde 1998, o artista já realizou nove exposições individuais e participou de mais de vinte coletiva no Brasil, Argentina, Espanha e Inglaterra, onde viveu por sete anos. Em 2013, venceu o Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger com o trabalho “O Suicídio de meu pai”; seu projeto “Tudo está relacionado”, foi selecionado para o Rumos Itaú Cultural 2013-2014. Tem quatro fotolivros publicados: “O suicídio de meu pai” (2014), “Cabanagem” (2015), “Não estou sozinho” (2016) e “Missão Francesa” (2017).