A White Cube São Paulo, Vila Mariana, exibe até o dia 20 de junho a primeira exposição individual de Anselm Kiefer no Brasil. O consagrado artista alemão – que no ano passado ganhou uma grande retrospectiva na Royal Academy de Londres e é frequentemente apontado pela crítica como um dos maiores nomes da arte contemporânea mundial – apresenta uma série de cinco pinturas em grande formato, nas quais explora temas como História, política, paisagem e, em particular, o Plano Morgenthau.
Proposto em 1944 pelo Secretário do Tesouro Americano Henry Morgenthau Jr, o plano foi concebido para transformar a Alemanha do pós-guerra em uma nação agrícola, pré-industrial, a fim de limitar a sua capacidade de fazer guerras. Um ato político polarizador que, na visão do artista, “ignorou a complexidade das coisas” e procurou dividir o país em dois estados independentes, anexando ou desmantelando todos os centros industriais germânicos.
Nesta mostra, Kiefer retorna à representação da paisagem rural e a um dos principais símbolos da sua pintura, flores desabrochando em meio a destruição e devastação. Nessas telas, que ecoam tanto a pintura romântica alemã como as paisagens turbulentas de Van Gogh, enormes e escuras extensões de vida vegetal – trigo ou flores – dominam dois terços da composição da pintura. Férteis, abundantes e matéricas, as plantas estão começando a desabar e decair, e são retratadas a partir de um ponto de vista de dentro da vegetação.
A noção alquímica e de transformação sempre foi central para a prática do artista e aqui Kiefer combina camadas empastadas de tinta acrílica com metal, sal e sedimentos eletrolíticos para criar superfícies não fixadas, que mudam fisicamente durante o curso de existência da pintura. Em uma obra intitulada “Plano Morgenthau: Saeculum Aureum”, de 2014, uma explosão de vegetação roxa e verde, pisada e em decomposição, contrapõe-se a um trecho de céu dourado, formado a partir do uso de folhas de ouro, enquanto em outros trechos o sulfato de cobre verde sugere áreas de nuvens densas ou bolsões de decadência orgânica. A abordagem singular de Kiefer aos materiais, bastante visível nestas obras, encena uma alquimia artística, criando superfícies experimentais, lúdicas e dinâmicas que estão constantemente em fluxo. As obras inspiradas em O Plano Morgenthau apresentam uma visão cíclica do passado e do futuro, parte de um processo reflexivo que aborda o absurdo característico da política e o poder inerente da paisagem, explorando a aguda contradição entre a beleza de uma paisagem pré-industrial e rural e a destruição de um futuro econômico por ela representado.
Conforme bem resumiu o jornal inglês The Guardian, por ocasião da exposição na Royal Academy, “…Kiefer é o mais resoluto dos artistas. Ele nunca se afastou do difícil e do sombrio; sua carreira é uma magnífica reprimenda para aqueles que pensam que a arte não pode lidar com os grandes temas, como história, memória e genocídio. No final, porém, o que fica com o espectador é o sentimento – esmagador, por vezes – que ele está sempre fazendo o seu caminho cuidadosamente em direção à luz.”
Até 20 de junho.