Antonio Dias ganhou uma revisão de uma parcela singular de sua produção multifacetada: os
papéis do Nepal, exibidos pela primeira vez no Brasil. A mostra “Papéis do Nepal 1977-1986”
está em cartaz até 26 de setembro Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, que traz
nessa iniciativa um aprofundamento no universo do consagrado artista.
Pela pluralidade temática e processual, Dias evidencia sua recusa em adotar um único ponto
de vista da produção artística e, com isso, não deixa que o espectador se acomode na
facilidade de um significado pronto da obra. Nas palavras do historiador da arte italiano
Sandro Sprocatti, o trabalho de Dias projeta “uma situação antiperspectiva por excelência,
uma vez que nega a exclusividade de um ponto de vista não só devido à instabilidade
representacional (ambiguidade substancial do signo e do espaço) mas, acima de tudo, porque
implica a pluralidade das condições de fruição, ou seja, as condições existenciais que o
observador tem em relação ao próximo”.
Os papéis que figuram na exposição foram produzidos durante uma viagem de Dias ao Nepal
em 1977, com a finalidade de aprender a manufatura de papéis artesanais. A fase do Nepal é
uma ruptura na trajetória pregressa do artista, calcada fortemente no conceitualismo, na
utilização de mídias então incipientes, como o vídeo, e na criação de um léxico visual que
englobava elementos pop, planos geométricos definidos por cor e palavras.
Esse repertório, repetido sistematicamente e embaralhado entre si, questionava o caráter da
convenção social e da instituição artística como produtora de significados codificados e
estanques, validados por um sistema de inserção e representatividade internacional, a que o
regional deveria se submeter – o que se tornava evidente pelos títulos em inglês das obras,
como a famosa série “The Illustration of Art”.
Até 26 de setembro.