Olá, visitante

AGENDA CULTURAL

Arquitetura para abelhas

O artista e ambientalista João Machado apresenta esculturas feitas com a interferência de abelhas nativas. Uma fusão de arte e biologia em obras interespécies.  Com curadoria de Arasy Benítez, mostra acontece no Jardim Botânico Plantarum, Nova Odessa, na zona metropolitana de Campinas, São Paulo, SP, de 13 de julho a 11 de agosto.

Obras manifestam a interdependência das espécies e a importância da biodiversidade no planeta. Um trabalho colaborativo entre humanos e abelhas como forma de mostrar a interdependência entre os seres vivos e a importância da biodiversidade. Essa é a base da pesquisa artística de João Machado, que também é ativista em defesa das abelhas nativas do Brasil. Na mostra “Geoprópolis – Arquiteturas para Abelhas”, o artista apresenta esculturas em cerâmica criadas a partir de desenhos com própolis e finalizadas com a colaboração de abelhas originárias do país. Além de esculturas, a exposição traz desenhos, peças gráficas e uma performance mostrando a comunicação sonora que existe entre plantas e abelhas.

A exposição é mais um desdobramento do projeto desenvolvido por João Machado desde 2015, que aborda temas como colonialismo, desmatamento, território e o crescimento acelerado das cidades, que oprime plantas, animais e humanos. Geoprópolis nasceu de sua pesquisa envolvendo abelhas autóctones brasileiras. Em seu processo artístico, ele tem como companheiros de trabalho os cerca de 50 enxames de abelhas nativas cultivados por ele na Serra da Mantiqueira, em Bocaina de Minas (MG). Também conhecidas como “indígenas”, essas espécies se distinguem por não terem ferrão e serem indispensáveis para a polinização da flora brasileira.

Na mostra, as obras de João Machado serão expostas ao ar livre, em diálogo com a natureza. Uma delas é uma escultura viva, habitada por abelhas da espécie Melipona mondury. O processo de construção dessas esculturas é tão complexo quanto sustentável. Tudo começa com desenhos feitos a partir do própolis que o artista colhe de seus enxames. “Em contato com o papel, o própolis cria formas orgânicas que parecem com o oco das árvores onde as abelhas naturalmente enxameiam. Depois, replico esses desenhos em esculturas de cerâmica, que mais tarde as abelhas vão habitar. Ao longo de algumas semanas, são elas que completam o trabalho, com cerume ou geoprópolis, termo que dá nome ao projeto”, explica ele.

Outro ponto alto da exposição é a incorporação de ruídos extraídos de plantas e abelhas nativas, mostrando a comunicação sonora que existe entre elas. Trata-se da performance “Arquitetura bioacústica para abelha Mandaçaia”, com colaboração de Daniel Magnani. Como programação paralela está previsto o workshop “Arquiteturas para abelhas nativas”, a cargo de João Machado com participação especial do fundador do Instituto Plantarum, Harri Lorenzi. João Machado vai falar sobre abelhas nativas e ensinar sua técnica de construção de casas para abelhas em argila. Harri Lorenzi, engenheiro agrônomo e botânico, terá como tema as plantas nativas, sobre as quais tem dezenas de livros e artigos publicados.

Sobre as abelhas nativas

Uruçu, Mandaçaia, Jataí, Manduri, Bugia, Borá, Tubuna, Irapuã, Iraí… O Brasil possui mais de 300 espécies de abelhas nativas sociais e aproximadamente 1.500 espécies de abelhas nativas solitárias, também conhecidas como abelhas indígenas. Elas estavam aqui antes da chegada da abelha europeia (Apis mellifera), trazida pelos colonizadores. As abelhas nativas são cultivadas e amplamente conhecidas pelos povos originários, fazendo parte da cultura deles há milênios. Essenciais para a nossa sobrevivência, elas são responsáveis pela polinização das plantas. Ameaçadas pelo desmatamento, pela redução de seus habitats naturais e pela concorrência da agressiva abelha europeia, que é exótica ao nosso território, as abelhas nativas correm perigo de extinção.

Sobre o projeto

Essa é a quarta exposição de João Machado em torno da pesquisa Geoprópolis, que atravessa questões como território, anticolonialismo, responsabilidade e cuidado com o meio ambiente. Em maio de 2023, o artista apresentou o trabalho no espaço independente Villa Mandaçaia Projetos, em Pinheiros, São Paulo. Em seguida, no Bananal Arte e Cultura Contemporânea, na Barra Funda; e, no início de 2024, na Oficina Cultural Alfredo Volpi, em Itaquera. Depois da mostra no Jardim Botânico do Instituto Plantarum, em Nova Odessa, a pesquisa segue para outros espaços.

Sobre o artista

João Machado é artista visual, cineasta e ambientalista, nascido no Rio de Janeiro, em 1977. É bacharel em Cinema pela Art Center College em Los Angeles, Califórnia (EUA). Cofundador da Mandaçaia Projetos (SP), espaço de arte independente, em parceria com a curadora Arasy Benitez. Tem uma carreira de 20 anos como diretor de cinema de filmes autorais, documentários e obras de videoarte. Como artista visual, participou de várias exposições em galerias e espaços culturais em diversos países. Em 2014, foi selecionado pelo edital da Caixa Cultural com a exposição individual “Atlas”, apresentada na Caixa Cultural de Salvador, Curitiba e Rio de Janeiro. De 2015 em diante, sua pesquisa artística une-se ao ativismo pela preservação das abelhas sem ferrão nativas do Brasil. Nessa investigação, desenvolve trabalhos em vídeos e esculturas produzidos a partir de elementos extraídos da sua criação de abelhas, como a cera, o própolis e o mel. João Machado vem conduzindo também um mapeamento de abelhas que resistem em ambientes urbanos e fazem morada em lugares inóspitos para elas.

Sobre Arasy Benítez

Nascida em Assunção, Paraguai, é bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2018), dedicando sua pesquisa monográfica ao estudo do setor cultural no desenvolvimento econômico do Brasil. Durante a pós-graduação em Arte: Crítica e Curadoria, na PUC-SP (2022), elaborou uma revisão crítica do conceito de Estética Relacional, abordando o mesmo a partir do trabalho e pensamento de Hélio Oiticica. Cofundadora, gestora e curadora das iniciativas da Villa Mandaçaia (MG) e Mandaçaia Projetos (SP), espaços de arte independentes, se dedica também a curadorias independentes.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sua mensagem foi enviada com sucesso!