A SIM galeria, Curitiba, PR, apresenta a exposição individual de Frank Ammerlaan, artista
holandês residente em Londres.
Nos trabalhos de Ammerlaan, a essência do múltiplo é manifesta na contínua coexistência de
suportes, materiais e processos mistos, como escultura, pintura, fotografia e vídeo
juntamente de elementos sintéticos e naturais como tinta óleo, linhas de costura, metais e
agentes químicos.
Na exposição “Outside the wireframe”, produzida durantes sua residência artística recente no
espaço experimental de arte PIVÔ, na cidade de São Paulo, o interesse permanente no que é
periférico, indistinguível e despercebido é amplamente contemplado.
As caminhadas diárias de Ammerlaan na ida e volta de seu ateliê temporário, localizado no
centro de São Paulo, se tornaram uma profunda jornada para dentro e fora do motor da
cidade movido à ansiedade e instabilidade. Ao fazer uso de objetos ready-made como
latinhas de alumínio, vidro e banner de PVC, em “Outside the wirefram”e o artista convoca
uma série de elementos tanto familiares como também invisíveis à capital brasileira. Um
conjunto de ícones que perpassa os catadores de latinhas das quais algumas esculturas são
feitas e que nos fala sobre inventivos subsistemas criados sob circunstâncias econômicas
difíceis. Como também que inclui um banner de serralheria em que o artista aponta
evidências de extrema ansiedade geral quanto à segurança. E até mesmo que destaca do
cenário urbano cotidiano, tampas de bueiro e piche como indicação de um ambiente
publicitário alternativo. E até mesmo piche e tampas de bueiros que nos separam de um
mundo sob nossos pés.
A série “Untitled” de imagens impressas em vidro aramado de alta segurança exibe um
material nunca antes usado em exposições do artista, de acordo com ele “Trabalhar em um
novo contexto como a residência desperta novas idéias, te faz, por exemplo, pensar de forma
diferente sobre os materiais”. Permeada por ambigüidades, a série é feita de um material
transparente de alta segurança que busca oferecer segurança enquanto não necessariamente
esconde algo. Ela inclui imagens desenhadas por linhas de armações de arame que lhes
concedem certo aspecto de pop arte, mas ao mesmo tempo uma aparência anônima, uma vez
que nos permite enxergar formas, mas não superfícies. Além disso, um objeto poderoso ainda
que pequeno, a bandeira de mesa, que não mostra nenhum emblema ou insígnia pode ainda
assim simbolizar uma idéia de proteção e defesa de um determinado território ou cultura.
Sobre a figura tridimensional humana, seu aspecto fantasmagórico é justaposto com uma
imagem impressionantemente detalhada.
A antítese da abordagem emocional e racional está profusamente presente nas pinturas do
artista na quais aspectos atmosféricos e nebulosos se contrastam com padrões geométricos
precisos feitos de linhas de costura e bordado. Possivelmente sob a influência de seu
treinamento primeiro, em marcenaria, assim como devido a pratica constante de desenhos
técnicos, nos trabalhos de Ammerlaan linhas são de alguma forma, privilegiadas em
detrimento de volume.
Em algumas das pinturas de “Outside the wireframe” os conceitos binários característicos dos
trabalhos de Ammerlaan podem ser apresentados mais sutilmente do que em outras. Ao
observar uma pintura a partir de certa distância da tela, seus aspectos atmosféricos e
nebulosos se destacam, porém, uma vez que os padrões em baixo relevo começam a ser
reconhecidos, a pintura simultaneamente exige ser observada mais de perto. Padrões e
linhas, assim, são formas de racionalizar e se apropriar do conceito de periférico com
efetividade. Simultaneamente a qualidade etérea das pinturas contribui para um
engendramento mais amplo das idéias e objetos do periférico.
“Outside the wireframe” revela que o imperceptível, o periférico e o sutil podem ser
encontrados em situações e cenários que transcendem efeitos óticos provocados por uma obra
de arte. Aponta claramente que o invisível existe, por exemplo, na rotina cotidiana dos
habitantes de metrópoles como São Paulo. Ao utilizar-se de piche e ao delinear tampas de
bueiros encontradas nas ruas que circundam seu ateliê na cidade, Ammerlaan realça padrões
gravados em tais peças de metal- alguns deles padrões de linhas cruzadas e atravessadas
também comuns a outros trabalhos do artista-, feitos, por exemplo, por empresas de
telecomunicação para fins publicitários. Geralmente despercebidos, tais padrões e nomes de
marcas atuam como indícios de uma atividade publicitária quase imperceptível acontecendo
sob nossos pés. Um fato ainda mais interessante diante da controversa proibição de
publicidade exterior que busca minimizar a poluição visual da cidade implantada na última
década em São Paulo.
A exposição “Outside the wireframe” é uma oportunidade única para todos familiarizados ao
ambiente urbano de observar uma complexa cidade como São Paulo, em suas múltiplas
possibilidades periféricas, através dos cantos dos olhos argutos e precisos do artista
contemporâneo Frank Ammerlaan.
Sobre o artista
Frank Ammerlaan é um proeminente artista plástico nascido na Holanda e residente da cidade
de Londres cujas exposições individuais e coletivas têm sido exibidas nos últimos seis anos em
prestigiados museus e galerias pela Europa e em cidades como Copenhague, Bruxelas, Berlin e
Londres bem como em Nova York e outras grandes capitais internacionais.
De 27 de agosto até 26 de setembro.