A Galeria Millan apresenta “Correspondências”, a quinta individual de Paulo Pasta na galeria, que marca também o lançamento de sua nova publicação. A mostra materializa a ideia originada na troca entre Pasta e o curador Ronaldo Brito, ocorrida entre abril e setembro de 2020, em plena pandemia mundial de Covid-19. A publicação registra tal troca, revelando a matriz do pensamento que organiza a exposição. Entre grandes e pequenos formatos, os cerca de 20 trabalhos reunidos na exposição trazem à luz a tarefa do pintor e as reflexões do crítico, fruto da tentativa de encontrar um refúgio em meio aos efeitos adversos de uma crise política e sanitária.
Ao longo daqueles meses, artista e curador trocaram uma série de e-mails, em que Pasta compartilhava fotografias de trabalhos e registros sobre seus processos, enquanto Brito o respondia com formulações, pensamentos e poemas. Nesse processo, intercorreram-se textos, pinturas, desenhos, referências e aproximações com trabalhos de diferentes autores – da pintura à literatura -, uma forma encontrada por ambos de vislumbrar o “futuro em meio à escuridão”. Pouco a pouco, desenvolveram a ideia de realizar uma publicação que registrasse o percurso dos pensamentos nas mensagens trocadas junto de uma exposição que pudesse, segundo Pasta, “mostrar os pequenos movimentos” que ocorrem em seus trabalhos.
Nas telas, a construção de movimentos próprios e internos à pintura coexiste com a sensação de um congelamento do tempo real vivido em confinamento e representa, por isso mesmo, um ato de resistência e tenacidade da pintura. De maneira singular, este caráter do trabalho de Pasta se mostra, nas palavras de Brito, como “um manifesto discreto contra o imediatismo e o oportunismo”. Para ele, a conformação da pintura de Pasta produz uma espécie de topologia das cores em que essas se interpenetram.
Na seleção apresentada, as formas e combinações cromáticas formam estruturas de pórticos, elementos que constituem o que Ronaldo Brito designa, em uma de suas correspondências, como “abstração existencial”. Tal formulação de Brito é capaz de revelar uma nova compreensão sobre o trabalho de Paulo Pasta. Para o crítico, Pasta é capaz de conduzir este gênero à sua versão contemporânea, ao pintar o mistério – “um dos poucos sentimentos pictóricos autênticos” – através de um colorismo mais aberto. Nas palavras do próprio artista, essa “existência abstrata” combina seu interesse simultâneo pela abstração e pelo figurativo.
O intuito da pintura de Paulo Pasta é de instigar uma transcendência através da cor; uma experiência sensorial, como também intentavam Matisse e Cézanne. Há, por exemplo, como analisa o crítico, o uso de um vermelho que se eleva sobre a superfície do mundo ou de um ocre esverdeado que se perde com o entorno cotidiano e, de repente, parece estar fora da tela. Tais cores partem da geometria para criar consigo uma outra poética do mundo. Com esta autonomia cromática, Pasta retém o tempo presente, sempre carregado pelos fantasmas do futuro -faíscas que resistem aos tempos obscuros da realidade.
Sobre o artista
Ariranha, São Paulo, SP, 1959, Doutor em artes plásticas pela Universidade de São Paulo, SP (2011), Paulo Pasta realizou exposições individuais em diversos espaços, como Museu de Arte Sacra de São Paulo, SP (2021); Instituto Tomie Ohtake e Anexo Millan, São Paulo, SP (2018); Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, SP (2018); Paulo Darzé, Salvador, BA (2017); Palácio Pamphilj, Roma, Itália (2016); Galeria Millan e Anexo Millan e Museu Afro Brasil, São Paulo, SP (2015); Sesc Belenzinho, São Paulo, SP (2014); Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS (2013); Centro Cultural Maria Antonia, São Paulo, SP (2011); Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ (2008); Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP (2006); entre outros. Também participou de importantes exposições coletivas, entre elas: Vício impune: o artista colecionador, Galeria Millan e Galeria Raquel Arnaud, São Paulo, SP (2021); 1981/2021: Arte Contemporânea Brasileira na Coleção Andrea e José Olympio Pereira, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, SP (2021); Pinacoteca: acervo, Pinacoteca de São Paulo, SP (2020); MAC-USP no Século XXI – A Era dos Artistas, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP (2017); Clube de Gravura – 30 Anos, Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP, e Os Muitos e o Um, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP (2016); 30 x Bienal, Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP (2013); Europalia, International Art Festival, Bruxelas, Bélgica (2011); e Matisse Hoje, Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP (2009). Suas obras integram diversas coleções, entre as quais: Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, Espanha; Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP; Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, RJ; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP; Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, RJ; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, SP; e Kunsthalle, Berlim, Alemanha.