Após a mostra de “Flexos e Qualas”, no MAM em 2008, o escultor Ascânio MMM exibe na Galeria Marcia Barrozo do Amaral, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, espaço que o representa no Rio de Janeiro desde 2006. Esta nova série de trabalhos intitula-se “Quasos” e estes trabalhos são resultado dos estudos que Ascânio tem desenvolvido com o alumínio, material que é a base da sua pesquisa há cerca de vinte anos.
Nesta mostra, a torção permanece como movimento original do seu trabalho, porém as torções rígidas dos trabalhos de madeira brancos dão vez às torções flexíveis de tramas de alumínio. Um dos trabalhos evoca a fita de Moebius, com sua torção contínua. As formas exibidas são resultado de uma longa experimentação com alumínio e parafusos, estes agora de vários comprimentos e com diferentes níveis de aperto, para unir as peças de alumínio. O artista conta que deixou de apertar totalmente os parafusos, o que possibilitou que o alumínio se movimente e se expanda, promovendo a alternância entre a solidez e a leveza do material, através de um espaçamento controlado. “São folgas variáveis que apresentam novas formas e novas questões na minha pesquisa”, afirma. O nome desta série tem origem na combinação das palavras “quadrados” e “parafusos”.
Outra questão presente nos trabalhos da mostra é a exploração da cor e do brilho do próprio material. O uso da cor também tem sido objeto de estudo do artista e agora aparece de forma sutil, de acordo com a movimentação do espectador e da incidência de luz, gerando resultados surpreendentes.
Sobre o artista
Ascânio MMM nasceu em Fão, Portugal, mas vive e trabalha no Rio de Janeiro desde os 17 anos de idade. Sua formação inclui passagem pela Escola Nacional de Belas Artes entre 1963 e 1964, e pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, FAU/UFRJ, entre 1965 e 1969, onde se formou. Atuou como arquiteto até 1976, mas já a partir de 1966 começou a desenvolver seu trabalho artístico a partir do uso da madeira pintada de branco e, logo em seguida, da organização de ripas de madeira em progressões verticais e horizontais, e criando as caixas lúdicas, espécie de bases de madeira, sobre as quais o espectador pode deslocar quadrados vazados, de tamanhos decrescentes. Neste mesmo ano exibiu pela primeira vez seus trabalhos ao público, incluído na seleção de artistas do I Salão de Abril no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Desde 1966 e durante os anos 1970, explorou a relação entre escultura e arquitetura em seus trabalhos pelo uso da madeira pintada de branco e, logo em seguida, da organização de ripas de madeira em progressões verticais e horizontais. São deste período as caixas lúdicas, cubos de madeira, sobre os quais o espectador pode deslocar quadrados vazados, de tamanhos decrescentes, formando diferentes composições. Na década de 1980 realizou os “Fitangulares” – relevos e esculturas, quando deixou de usar o branco, e a questão da luz e sombra foi abandonada, para explorar a madeira crua de diferentes espécies (cedro, mogno, pau marfim, ipê, freijó, etc.) e tonalidades. Já no final dos anos 80 surgiram as primeiras Piramidais de madeira.
Nos anos 1990, a questão das grandes dimensões tornou-se uma preocupação central para Ascânio e os estudos com alumínio se intensificaram. O alumínio tornou-se então a base para a pesquisa de novos trabalhos. As esculturas desta fase caracterizam-se pelos tubos retangulares de alumínio cortados, que geram esculturas de grandes dimensões com vazios internos e sucessões de transparências e sólidos, tornando-as quase imateriais conforme a posição do espectador. Nos anos 2000, desenvolve os Flexos – quando os parafusos que eram usados nas Piramidais foram substituídos por arames de aço inoxidável amarrando os tubos quadrados cortados com 1cm, e gerando tramas tensionadas. Posteriormente, surgiram as Qualas – onde a amarração de arame foi substituída por argolas, conferindo ainda mais plasticidade à trama, permitindo ao artista uma nova relação com o espaço e a luz ambiente.
Com exposições individuais no Brasil e no exterior, além de participações em Bienais, Ascânio possui obras instaladas em espaços públicos no Rio de Janeiro, São Paulo, Japão e Portugal. Apenas cidade do Rio são oito esculturas de grandes dimensões, como a do Centro Administrativo São Sebastião, na Cidade Nova e a do Centro Empresarial Rio, em Botafogo, esta última escolhida por “vinte nomes ligados às artes plásticas” como um dos dez trabalhos que não podem deixar de ser vistos na cidade (Revista Rio Show, O Globo, 20/04/2007). A produção artística de Ascânio foi objeto de estudo e análise crítica por Paulo Herkenhoff no livro Ascânio MMM: Poética da Razão (BEĨ Editora, 2012). Em 2005 foi publicado o livro Ascânio MMM (Editora Andrea Jakobsson, 2005), com textos de Paulo Sergio Duarte, Lauro Cavalcanti, Fernando Cocchiarale e Marcio Doctors.
De 21 de agosto a 19 de setembro.