No mês de outubro, o Ateliê André Venzon, Rua Leopoldo Froes, 126, Bairro Floresta, 4º Distrito, Porto Alegre, RS, comemora 25 anos de atuação com a exposição pop up “Eu me deixo ser”, que integra a agenda do projeto “Portas para a Arte” – 13ª Bienal do Mercosul. O espaço apresenta centenas de obras de arte contemporânea autorais e uma coleção pessoal de arte, exposta de forma inusitada. Criado junto a oficina mecânica da família, o local também é pensado pelo artista como uma obra de arte instalativa, interessante para quem busca conhecer uma casa/ateliê/acervo e arejar seus conceitos de como viver com arte por todos os lados, dos pés à cabeça, literalmente.
Segundo o amigo e curador Nicolas Beidacki, basta caminhar pelo seu ateliê, olhar os primeiros trabalhos, identificar a estante com presentes de amigos, reparar no acúmulo de potência que alimenta o artista nesse ambiente, para chegarmos a uma conclusão: “tudo que falta no mundo lhe preenche. As obras de arte, os livros, o acervo pessoal, os papéis de cada evento, as anotações, o apreço pela lembrança, por vivenciar a experiência de tentar nunca mais esquecer. Tudo aquilo que se apaga, que desaparece atrás dos tapumes na cidade, que se torna invisível para determinadas camadas sociais e que se desprende do afeto recebe acolhimento e devoção do artista. Sua prática é assim: uma vontade de conseguir desejar tudo; e uma força para reconhecer a dimensão das coisas que foram perdidas. Não permitir a destruição, não deixar avançar o horror e não ceder ao sentimento de incompreensão da vida.”
Seja revestindo completamente a si mesmo ou transformando as cabeças dos outros – colocando um cubo rosa para cobrir o rosto – a obra de Venzon busca nos inserir numa visão interna e até mesmo solitária sobre a vida. O jogo entre se abrir para o mundo ao nosso redor, mas não abandonar o olhar para um interior colorido reverbera uma multiplicidade de conflitos que transformam o sujeito e o colocam em confronto com a sua subjetividade. Ao perceber aquilo que fecha, reveste, protege e camufla, André pontua as necessidades de pessoas e lugares num mundo marcado por inúmeros projetos de destruição. A falência de bairros, a precarização da vida, a violência de um sistema econômico, o abuso e venda do próprio corpo e o esquecimento são parte fundamental de uma reflexão sobre a cidade, as pessoas e a arte que dialoga com o tema “Trauma, sonho e fuga” da Bienal. Reflexão essa que não se desprende daqueles que fazem de sua própria obra um conjunto de força. É a mescla entre o peso do mundo e a beleza rosa dos sujeitos comprometidos com a manifestação da singularidade, potência e dualidade do seu ambiente de origem.
A exposição “Eu me deixo ser”, com visitação gratuita, também é um convite para comemorar a esperança de que toda arte é portadora, desejando sempre a liberdade de expressão e do próprio ser.