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AGENDA CULTURAL

Baravelli e Renato Rios

Na sala 1 | Baravelli

 

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, apresenta, de 08 de junho a 03 de agosto, a terceira exposição individual de Luiz Paulo Baravelli em sua sede de São Paulo, SP. A mostra reúne pinturas e objetos produzidos desde a década de 1960 até 2017. Algumas dessas obras foram executadas nos anos de 2016 e 2017 partindo de projetos que o artista havia desenhado na década de 1970. Formado arquiteto e consagrado como pintor, Baravelli sempre explorou o espaço tridimensional, não só no campo físico, mas também no campo virtual de suas pinturas e desenhos. Nos objetos que compõem a mostra, trabalhou com mármore, madeira e materiais industriais diversos como alumínio, concreto, espuma de poliuretano e chapa galvanizada. Além das obras, também poderão ser vistos alguns projetos. Por ocasião da exposição, foi editado em formato de catálogo, o fac-símile de um dos seus cadernos dos anos 70 contendo comentários sobre alguns trabalhos tridimensionais executados ou somente projetados até então.

 

Trabalhando a partir da cronologia circular e tentando abdicar da linear, Baravelli retorna, com alguma frequência, aos seus cadernos de referências e a trabalhos antigos, a fim de reutilizá-los em novas obras, refazê-los ou alterá-los em outros suportes. “Comparei depois o artista a um fazendeiro, que cuida de muitas coisas diferentes dentro de uma área e volta periodicamente a elas”, declarou em uma entrevista. É o caso das obras apresentadas na mostra que dividem o título “Paisagem Brasileira”, projetadas entre os anos de 1970 e 1972 e executadas somente entre 2016 e 2017. Três delas, feitas em madeira de garapeira e latão pintado, compartilham de uma mesma estrutura compositiva, as outras, embora também tratem da relação entre horizontalidade e verticalidade, comum ao tema da paisagem, são bastante diferentes entre si, provando mais uma vez a flexibilidade do raciocínio plástico de Baravelli.

 

O artista utiliza-se de uma grande variedade de materiais e técnicas, experimentando-os, desde o início de sua carreira, em combinações diversas. Parece natural que o encontro entre uma pedra, uma dobradiça de metal e um pedaço de acrílico tenha sido causado pelo mesmo artista que elegeu algumas produções do Renascimento Italiano e certos elementos da cultura pop como referências igualmente importantes dentro do seu trabalho. Considera-se um pintor, e embora entenda a pintura como ilusão e sua prática exigente de um dedicado trabalho artesanal, não se imobiliza diante das velhas dicotomias figurativo vs. abstrato ou virtuoso vs. conceitual. Sua ideia daquilo que é ilusório parece ter menos a ver com um truque de mágica indecifrável ou impressionante e mais com as estratégias bem humoradas dos desenhos animados, como a clássica do buraco que se forma pela pintura de um círculo preto. Trata-se da pintura como imagem, mas também do seu caráter objetual, quando, por exemplo, o círculo preto deixa de ser uma pintura presa ao chão e passa a ser um objeto movido pelo personagem para que seu inimigo seja sugado por ele. O que acontece dentro do quadro de Baravelli, e aquilo que o define em seu formato tridimensional, tem o mesmo grau de importância na construção da obra, da mesma maneira que um acabamento bem feito em relação à uma ideia.

 

É possível observar em sua prática um método arquitetônico de construção, não só pelo uso de uma linguagem gráfica própria da arquitetura – explorando as noções de perspectiva, planta, elevação e corte -, mas também pela maneira como combina elementos de origens diversas por camadas, como quem constrói uma casa: a estrutura de concreto, as paredes de tijolos, as janelas de madeira, etc. Às vezes podemos ter a sensação de que foram retiradas algumas camadas mais superficiais dessas composições – talvez os móveis e os moradores dessa casa -, restando apenas o cenário, como podemos observar nos trabalhos com fórmica “Smokestak nº2”, executado em 2016 e “Sem Título”, projetado e executado no ano seguinte. A série “Acessórios para a Paisagem do Krazy Kat”, 1976/77 tem uma aproximação mais direta com essa ideia, já que são peças produzidas para compor, de maneira fictícia, o vazio cenário da tira de jornal Krazy Kat, criada pelo americano George Herriman em 1913.

 

 

Sobre o artista

 

Baseando sua prática na intersecção entre a produção e o ensino de arte, Baravelli fundou em 1970 a Escola Brasil, junto a José Resende, Carlos Fajardo e Frederico Nasser. “Centro de experimentação artística dedicado a desenvolver a capacidade criativa do indivíduo”, a Escola Brasil foi importante na formação de dezenas de artistas brasileiros. Participou também da fundação da Revista Malasartes entre 1975 e 1976 e da Revista Arte em São Paulo entre 1981 e 1983, junto a relevantes artistas e críticos da cena contemporânea. Luiz Paulo Baravelli participou de inúmeras exposições individuais e coletivas desde o final dos anos 1960, destacando-se: Bienal de São Paulo, Brasil; Bienal de Veneza, Itália; Bienal de Havana, Cuba; Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil; MASP – Museu de Arte de São Paulo, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil; Hara Museum of Contemporary Art, Tóquio, Japão; MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil; MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil; Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; Museo de Arte Moderno de Buenos Aires, Argentina; MACUSP – Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Brasil; Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil; Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil.

 

 

Na sala 2 | Renato Rios

 

A Galeria Marcelo Guarnieri apresenta na sala 2 de seu espaço, de 8 de junho a 3 de agosto de 2019, a primeira exposição individual de Renato Rios, novo artista representado. A mostra reúne pinturas e estudos da série “Interiores”, iniciada em 2017 e retomada em 2019. Desde 2010, Rios vem explorando, por meio da pintura, as relações entre a imagem e as narrativas do inconsciente. Na série “Interiores”, o artista utiliza-se do procedimento da colagem e das ferramentas do desenho e da pintura para articular imagens de origens diversas em uma mesma composição, desenvolvendo uma espécie de escrita poética. A partir de um estudo sobre o retrato, Rios situa seus personagens em ambientes internos praticamente vazios, criando situações improváveis. Estes ambientes, no entanto, podem ser identificados a partir de suas portas e janelas, representadas por formas geométricas que podem revelar ambientes externos, outras paredes e até mesmo pinturas do próprio artista pertencentes a outras séries. Em “Homem sentado” (2019), é possível observar uma de suas pinturas da série “Arquétipos” ocupando a parede, ganhando ali uma escala maior dentro da cena do quadro e experimentando uma outra forma de existência. Essa estratégia, que também se repete em outras pinturas da série “Interiores”, nos induz a visualizar o quadro em camadas e nos convida a entrar cada vez mais para dentro – ou para além – dele. Esse movimento dentro-fora que guia não só o observador na relação com as pinturas de Rios, mas também o próprio artista em sua prática e estudos sobre a forma, relaciona-se ao seu interesse pelo que há de mais interno em nós: o inconsciente.

 

A série “Arquétipos” de 2018, surge após as pinturas de 2017 da série “Interiores”, a partir de uma vontade do artista de sintetizar as ideias de suas composições em símbolos. A noção de arquétipo, em latim Archetypum, original, modelo, e em grego Arkhétupos, modelo primitivo, acena para o campo daquilo que é mítico, ideal, fundante. Se em “Interiores” há uma alusão mais direta a um estado meditativo através da imagem de homens sentados ou de cadeiras vazias, em “Arquétipos” observa-se a redução das suas cenas às formas geométricas. Ao articular elementos visuais e dispensar o uso de palavras, Rios busca estabelecer uma comunicação de sentido mais aberto, estimulando o espectador a organizar suas próprias relações entre os elementos. Essa ação é guiada pelas referências que o artista nos apresenta: fragmentos de pinturas metafísicas, representações de ambientes domésticos, formas geométricas que ora nos remetem a composições suprematistas, ora a símbolos e espaços sagrados. Renato Rios se aproxima da lógica das tradições oraculares, em que o sentido do jogo é dado pela combinação entre os elementos apresentados, para explorar as possibilidades das interpretações poéticas de seus jogos de pinturas.

 

 

Sobre o artista

 

No ano passado, Rios apresentou a individual “Arquétipos”, no Espaço Breu, São Paulo, Brasil e integrou a exposição coletiva “OndeAndaOnda” que passou pelo Espaço Cultural Renato Russo, Brasília em 2018 e Museu Nacional Honestino Guimarães, Brasília em 2017 e 2015, com curadoria de Wagner Barja. Em 2016 foi um dos artistas selecionados para a residência artística da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e em 2011 ganhou o Prêmio de Arte Contemporânea Espaço Piloto (UnB).

 

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