O Instituto Ling, Porto Alegre, RS, apresenta até o dia 10 de setembro a exposição “Linhas do Espaço Tempo: Carlito Carvalhosa” resultando em um verdadeiro tributo ao artista – e obra – através de um conjunto de expressivos trabalhos do consagrado multiartista contemporâneo. A curadoria traz a assinatura de Daniel Rangel.
Caminhos circulares
Linhas do Espaço Tempo reúne fragmentos cronológicos da trajetória artística de Carlito Carvalhosa. Pinturas, esculturas e instalações que remontam a mais de trinta e cinco anos de produção marcados por elaboradas conexões plásticas, históricas, mentais e sensitivas. A mostra é a primeira no Brasil desde que o artista nos deixou em maio de 2021, motivo central do enfoque retrospectivo e prospectivo. Estruturada por obras-símbolos de diferentes fases, a exposição abarca um recorte compacto, que demonstra a coerência da pesquisa do artista. Registros do seu processo de criação, de reflexões e de memórias marcantes de sua trajetória, além de uma inédita instalação site-specific com postes de madeira, desenhada em um de seus caderninhos para um espaço imaginado com características arquitetônicas similares às da galeria do Instituto Ling. Passado pensado para o futuro, realizado no presente. Pensar, refletir e observar por meio de traços, rabiscos, desenhos, anotações, escritos e achados – em sua maioria guardados em cadernos de bolso – era uma prática comum no dia a dia de Carlito. Um processo típico de pesquisador, mas que, no caso dele, estava conectado a uma personalidade efusivamente curiosa e naturalmente disciplinada. Era um sedento pelo conhecimento; aprendia e ensinava com a mesma generosidade, recorrendo à sensibilidade e à formação privilegiadas para estabelecer profundos intercâmbios com entornos díspares – uma prática que foi marcada por conscientes (des)conexões com a historicidade da arte, sobretudo relacionada a uma constante pesquisa de materiais e suportes. Carlito não seguia um caminho reto e linear; preferia o trânsito circular entre espaços e tempos, suportes e materiais, o branco e as cores, o erudito e o popular, ciências e religiões. Opostos atraíam o artista, que explorava com frequência relações entre transparência, opacidade e reflexividade, criando uma espécie de “trialética” que viria a caracterizar sua produção. Tudo junto e, ao mesmo tempo, separado; uma amálgama de elementos díspares que se encontravam por meio do gesto do artista, tornando o diálogo quase eterno, assim como sua obra, assim como ele.
Daniel Rangel
Curador
Sobre o artista
Carlito Carvalhosa, (1961 – 2021). A obra de Carlito Carvalhosa envolve predominantemente as linguagens da instalação, pintura e escultura. Nos anos 1980, integrou o Grupo Casa 7, em São Paulo, do qual faziam parte também Rodrigo Andrade, Fábio Miguez, Nuno Ramos e Paulo Monteiro. As tendências do neoexpressionismo eram visíveis na produção desses artistas, sobretudo a utilização de superfícies de grandes dimensões e a ênfase no gesto pictórico. No fim dessa década, após a dissolução do grupo e alguns experimentos com encáustica, Carvalhosa concebeu quadros com cera pura ou misturada a pigmentos. Nos anos 1990, dedicou-se à produção de esculturas de aparência orgânica e maleável, utilizando materiais diversos, caso das “ceras perdidas”. Ainda em meados dessa década, fez também esculturas em porcelana. Carvalhosa atribui profunda eloquência à materialidade do suporte, mas a transcende e aborda questões mais amplas, relativas às transformações do espaço e do tempo. Deparamo-nos, em sua prática, com a tensão entre forma e matéria, explicitada na disjunção entre o visível e o tátil. Aquilo que vemos não é o que tocamos, assim como o que se toca não é o que se vê. A partir do início dos anos 2000, o artista começou a realizar pinturas sobre superfícies espelhadas que, nas palavras do curador Paulo Venâncio Filho, “colocam nossa presença dentro delas”. Não raro, Carvalhosa realizou instalações em que, além de técnicas usuais, faz uso de materiais como tecidos e lâmpadas.
Sobre o curador
Daniel Rangel é curador, produtor e gestor cultural. Mestre e Doutorando em Poéticas Visuais da Escola de Comunicações e Artes da USP, graduado em comunicação social em Salvador, Bahia. Atualmente é curador geral do Museu de Arte Moderna da Bahia. Foi diretor-artístico e curador do Instituto de Cultura Contemporânea (ICCo) em São Paulo (2011-16), diretor de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, da Secretaria de Cultura do Governo do Estado (2008 a 2011) e atuou como assessor de direção do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) na gestão de Solange Farkas (2007-08). Em curadoria, dentre os principais projetos realizados, destacam-se a mostra REVER_Augusto de Campos, (2016); Ready Made in Brasil (2017); Quiet in the Land (2000), uma parceria entre o Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York, o MAM-BA e o Projeto Axé, em Salvador. Desenvolveu projetos curatoriais para a 8ª Bienal de Curitiba, Brasil (2015), a 16ª Bienal de Cerveira, Portugal (2013) e a II Trienal de Luanda, Angola (2010). Realizou ainda curadorias de mostras individuais de importantes artistas brasileiros, como Tunga, Waltercio Caldas, José Resende, Ana Maria Tavares, Carlito Carvalhosa, Eder Santos, Marcos Chaves, Marcelo Silveira, Rodrigo Braga, e Arnaldo Antunes, e com este último recebeu pela mostra “Palavra em Movimento” o prêmio APCA 2015, de Melhor Exposição de Artes Gráficas. É pesquisador associado do Fórum Permanente do IEA-USP.
Esta programação é uma realização do Instituto Ling e Ministério do Turismo/Governo Federal, com patrocínio da Crown Embalagens e Fitesa.