Olá, visitante

AGENDA CULTURAL

Carvão: Mestre da cor

A Galeria Bergamin, Jardins, São Paulo, SP, exibe mostra panorâmica da obra de Aluisio Carvão. Denise Mattar, que assina a curadoria, escolheu uma titulação justa para a exposição: “ALUÍSIO CARVÃO  – Mestre da Cor”. Conheça a síntese de seu pensamento curatorial no texto abaixo, uma clara visão da trajetória deste renomado artista brasileiro.

 

 Síntese da curadoria

 

Aluísio Carvão ( 1920- 2001) nasceu em Belém do Pará e autonomeava-se “o amazônico”, pois tinha consciência de que a estética luminosa, vibrante e colorida daquela cidade perpassava toda a sua obra. Quando menino admirava a geometria dos indígenas brasileiros, observava na arte plumária a construção de unidades cromáticas exuberantes e fazia pipas, bandeirinhas e estandartes para enfeitar os arraiais.

…Procurando seu caminho foi ilustrador, cenógrafo, ator, mudou de cidade e por fim viajou para a capital do país para participar de um curso de especialização de professores de desenho.

 

Carvão chegou ao Rio de Janeiro em 1949, num momento efervescente, no qual estava em curso o sonho da modernidade nacional. Nas artes plásticas levantavam-se discussões acirradas e sofisticadas em torno do Abstracionismo Geométrico, uma linguagem que se propunha universal pela construção de um espaço racional, sem emoções, hedonismo ou patriotismo. Eram questões que Carvão desconhecia inteiramente, mas, após completar seu estágio, inscreveu-se, em 1952,  no lendário curso de Ivan Serpa, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde passou a conviver com  Lygia Pape, Abraham Palatnik, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Mário Pedrosa e Ferreira Gullar. Foi um mergulho vertical e radical …ele participou da criação do Grupo Frente (1954-56).

 

As obras de Carvão realizadas nesse período respondem aos enunciados do Concretismo. …Na série “Cromáticas”, que vai de 1957 a 1960, o artista constrói com a cor, que vive e pulsa, plena de emoção.

 

….O novo grupo, que busca a experimentação, é uma alforria para Carvão. Sua pesquisa intensifica-se a tal ponto que a cor sai dos limites da tela para ganhar o espaço e o artista produz as emblemáticas obras  “Cubo-Cor”(1960) e “Cerne-Cor”(1961). Segundo ele:  “Eu queria uma espécie de resumo da cor, queria, dar corporeidade à cor, o vermelho feito com pigmento e cimento. Todo cor, não só superficialmente pintado”.

 

No final de 1961, Aluísio parte para a Europa utilizando o prêmio de viagem recebido do Salão Nacional de 1960.  Na volta ao Brasil, em 1963, torna-se professor do MAM-RJ e trabalha em artes gráficas e desenho industrial.

 

Nesse período a cor e a geometria quase desaparecem da obra do artista, como que levadas pela ditadura militar que se impõe a partir de 1964. …No final da década, Carvão começa a empregar materiais não tradicionais, como tampinhas de garrafas e pregos, construindo obras óticas como “Superfície I”, e cinéticas/sonoras como os “Farfalhantes”(1967). Essa pesquisa se estende até 1971/3 quando produz as “Constelações” realizadas com barbantes tensionados.

 

Em 1975 Aluísio Carvão recomeça a pintar e a cor volta a ele soberana, luminosa e sensual. Nessas novas pinturas ele revê as memórias de infância, relembra sua cidade amazônica, alude a pipas, mastros e bandeirinhas. Esses signos poéticos, invadidos de cor, alcançam sua plenitude na série de sete obras apresentada 17a Bienal de São Paulo, em 1983.

 

Ainda na década de 1980 Aluísio tornou-se professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro. Era adorado pelos alunos e ajudou a formar a chamada “Geração 80. Em 1997, com vigor redobrado,  inaugurou duas obras monumentais : o Mural Lagoa-Barra no Rio de Janeiro e o Cubo-Cor no Parque da Marinha em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

 

Até sua morte, em 2001, Aluísio Carvão continuou pintando, cada vez mais liricamente. Suas obras são um marco na arte brasileira, e quem o conheceu nunca esquecerá de seus olhos luminosos e profundamente azuis, dos quais parecia se desprender a Cor.

 

Denise Mattar

2012

 

Até 14 de setembro

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sua mensagem foi enviada com sucesso!