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AGENDA CULTURAL

Coleção Sylvio Perlstein

Atração no MAM, Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, a exposição que reúne 150 obras do colecionador Sylvio Perlstein provoca um efeito ambíguo sobre o visitante. A primeira sensação é de caos, como se os trabalhos pouco ou nada tivessem a ver uns com os outros. Há módulos dedicados à pop art, à fotografia vintage, ao surrealismo, à arte povera e ao minimalismo, por exemplo. Aos poucos, entretanto, vai se revelando um certo espírito comum a todo o conjunto, que mescla algo de curioso, bem-humorado – inusitado, como anuncia o nome da mostra. Um dos colecionadores mais reputados do mundo, o brasileiro de origem belga, atualmente radicado em Paris, tem aqui exibida uma relevante parte do seu acervo. Há nomes canônicos, como Dalí, Kandinsky, Magritte, Warhol, Man Ray, Basquiat, Duchamp, Miró e Haring (que comparece com seu primeiro óleo sobre tela, Mickey Mouse, de 1981), entre muitos outros. Sumidades da arte contemporânea, a exemplo de Richard Serra e Nan Goldin, também ocupam o espaço e convivem com nomes menos conhecidos. Pautada pelo olhar único de Perlstein, à margem de tendências e do mercado, a coleção não reúne necessariamente as obras mais famosas desses artistas – o que, inusitadamente, só reforça a sua expressividade. Após o Rio de Janeiro, a exposição será exibida no MAM-SP.

 

 

A palavra do curador do MAM-RIO

 

Conheci Sylvio Perlstein faz uns dez anos. O marchand Jean Boghici ligou-me dizendo que estava com um colecionador belga que amava o Rio, crescera na cidade e formara ao longo da vida uma das coleções mais interessantes que conhecia. À época, eu era crítico de arte do jornal O Globo. Não perdi tempo e fui conhecê-lo em um hotel de Ipanema. De fato, Sylvio era uma pessoa peculiar. De bermuda e sandálias, fomos conversar no calçadão. Alguns dias depois, publiquei uma entrevista com ele na capa do Segundo Caderno.

 

Sua coleção era, de fato, única. Todavia, o que mais me interessou é que ela foi sendo formada junto aos artistas que conhecera e que lhe abriam as portas do ateliê e dos amigos artistas. Os surrealistas vieram por meio da amizade com Man Ray. Os minimalistas e conceituais por meio de Robert Ryman – que conhecera em um bar, ainda em meados da década de 1960. Assim, ele foi construindo uma coleção que juntava partes da arte do século 20 que nunca conversam nos livros de história e crítica. Os surrealistas e os conceituais, os dadaístas e os minimalistas, os europeus, os norte-americanos e os brasileiros.

 

Enfim, muita coisa boa da arte do século 20, momentos marcadamente radicais, convivem sem cerimônia nas salas, nos quartos e na biblioteca de sua casa parisiense. O ambiente que acolhe a coleção é autêntico e traz um pouco da vida daquelas obras. Não há afetação nem deslumbramento de colecionador que transforma a casa em galeria. As obras pertencem à casa, ao espaço de habitação, de convivência, de moradia. Na biblioteca, objetos dadaístas e peças primitivas misturam-se aos livros e elementos decorativos sem diferenciações e caixas de acrílico. O espaço é todo ele artístico e não artístico, nos convida a ficar nele sem perder o travo de estranhamento de todos aqueles “mundos”, que palpitam sem parar.

 

Trazer essa coleção ao MAM é compartilhar um pouco do meio século de convivência íntima de Sylvio Perlstein com obras de arte seminais – e pouco colecionáveis. É o desdobramento, com a arrojada intervenção de Leonel Kaz, daquela primeira conversa na praia de Ipanema, em que ele dizia adorar o Rio e querer mostrar aqui sua coleção. Aí está. Mais que uma coleção, o que vemos é o resíduo de uma experiência cotidiana.
Luis Camillo Osorio

 

 

Até 25 de maio.

Fontes: site MAM-RIO; VEJA-RIO.

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