A Simone Cadinelli Arte Contemporânea reúne em exibição coletiva artistas mulheres de diferentes gerações, estilos e trajetórias. “Passeata”, que inaugura no dia 18 de março, na galeria Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, é uma exposição que convida o público a vivenciar as plataformas poéticas de 15 artistas mulheres do panorama da arte contemporânea brasileira. Desde a consagrada Anna Bella Geiger a novos nomes como Ana Hortides e Marcela Cantuária, a curadora Isabel Sanson Portella propõe um passeio por várias gerações, estilos e gênero, como é o caso da artista “gender fluid” (não-binária) Lyz Parayzo.
“São diferentes vozes e mídias de expressão, mas o que predomina é o pulsar da liberdade conquistada, do direito de levantar bandeiras e mostrar a que vieram. Longe está o tempo em que o espaço artístico, cultural e social era ocupado exclusivamente por artistas homens. Preconceitos de gênero e ausência de reconhecimento mantiveram as mulheres fora do cenário artístico por séculos. Mas a trajetória das conquistas femininas no decorrer dos últimos 100 anos foi marcada por lutas e crescentes vitórias. Não é o fator gênero que define os atributos artístico-estéticos das obras, mas sim o potencial criativo de quem as executa”, afirma Isabel Sanson Portella.
Amanda Baroni, Fernanda Sattamini, Helena Trindade, Laura Gorski, Leandra Espírito Santo, Livia Flores, Patrizia D’Angello, Renata Cruz, Roberta Carvalho, Sani Guerra e Ursula Tautz completam a coletiva que fica em cartaz até o dia 29 de maio. No dia da abertura, a artista visual Roberta Carvalho fará uma exibição de vídeo mapping, com imagens de ribeirinhos da floresta amazônica, pesquisadas desde 2007 pela artista, no jardim da vila que faz parte do imóvel que abriga a galeria, que no mês de março inaugura um novo espaço dedicado a palestras e encontros com colecionadores, críticos, artistas, arquitetos e pesquisadores. A programação é bastante diversificada e ainda abrange visitas guiadas.
“Nosso objetivo, com essa coletiva, é lançar o olhar sobre a produção das mulheres na arte contemporânea. A proposta aqui é conduzir o visitante em um passeio por diferentes suportes, experiências profissionais e fases variadas de criação, evidenciando as potencialidades de cada artista selecionada”, analisa Simone Cadinelli.
Descrições das obras e algumas curiosidades
Amanda Baroni – Série “Elementos da Natureza” -Fotografia.Moradora da Maré, a jovem fotógrafa Amanda Baroni, desenvolveu a série fotográfica “Elementos da Minha Natureza” buscando inter-relacionar arte, danças urbanas e natureza com o espaço de favelas cariocas (Complexo da Maré, Mangueirinha e Morro da Providência). Este projeto conecta os quatro elementos, fogo, terra, água e ar, com os dançarinos Felipe e Thamires Cândida, do Passinho, Luana Luara, do Hip Hop Dance, Agatha Alves, do Dance Hall e Hugo Oliveira, do House Dance, todos oriundos da periferia.
Anna Bella Geiger – “Orbis Discriptio n.33”, 1999. Gaveta de arquivo de ferro, encáustica, folha de flandres, fios de cobre, metais e gesso. A partir da década de 1990, a premiada Anna Bella Geiger emprega novos materiais e produz formas cartográficas vazadas em metal, dentro de caixas de ferro ou gavetas, preenchidas por encáustica. Suas obras situam-se no limite entre pintura, objeto e gravura.
Ana Hortides – “Cor de pele”, 2017. 78 bebês compostos da combinação de 12 gizes de cera de cores de pele. Ed. 3/5. Ana Hortides descobriu a existência de uma caixa de giz de cera de cores de pele produzida por uma ONG brasileira, a UneAfro, que propõe 12 cores. A partir disso, a artista derreteu os lápis, sempre combinando uns com os outros e colocou-os em moldes de bebês. A partir das misturas foram criados 78 bebês com cores e tons de pele diversos.
Fernanda Sattamini – Sem título, 2018. Série “Das marés e correntezas”. Cianotipia em linho e bordado. Edição única. Sem título, 2018. Série “Das marés e correntezas”. Cianotipia em linho e bordado. Edição única. Na série “Das marés e correntezas”, Fernanda Sattamini usa a técnica de cianotipia em linho desfiado, um processo artesanal de impressão fotográfica em tons azuis, que produz uma imagem em ciano. Foi descoberto em 1842 e utilizado até o século XX, é também conhecido como blueprints. O processo utiliza dois produtos químicos: Citrato de amônio e ferro (III) e Ferricianeto de potássio, que ao serem misturados se torna fotossensível e reage à luz ultravioleta. A exposição à luz provoca mudanças na cor do composto final resultando no azul da Prússia.
Helena Trindade – “VÍRUS (de chão)”. Escultura de teclas de máquinas de escrever e suas hastes. “Vírus” são estruturas orgânicas articuladas que se assemelham a uma espinha dorsal em movimento, criadas a partir de teclas de máquinas de escrever pelas mãos de Helena Trindade. Como a própria artista afirma privilegiar a materialidade da letra em detrimento do sentido, fazendo um jogo poético. Seu trabalho aborda diferentes aspectos do funcionamento da linguagem no tocante à sua perpétua rearticulação.
Laura Gorski e Renata Cruz – Sem título, da série “Dias úteis”, 2016. Fotografia. A dupla de artistas Laura Gorski e Renata Cruz apresenta um trabalho que aborda as relações entre o tempo interno e o pessoal de cada pessoa em relação ao tempo organizado pelo calendário oficial de dias considerados úteis ou não. O calendário de 21 dias úteis apresenta, por um lado, objetos ambíguos que são utilizados em momentos em que as pessoas escolhem o que fazer com o tempo ocioso. Ao lado dos objetos estão espaços internos de uma casa, submersos em um líquido escuro que também está presente na banheira em que estão as artistas. Nela, Laura e Renata compartilham um tempo poético que conseguem habitar juntas.
Lenadra Espírito Santo – Série “Registro”. Placas de gesso. A instalação “Registro” aborda o tema da auto-representação: é feita a partir de um mesmo molde do rosto da artista Leandra Espírito Santo, com um semi-sorriso. A partir deste molde, ela retira algumas réplicas do próprio rosto em gesso e faz placas com o mesmo material, que são reproduzidas de modo a preencher a parede da galeria, criando uma relação com a arquitetura, tanto por conta do material usado nelas (o gesso), quanto pela maneira como ocupa o espaço. Na exposição, são cerca de 30 placas.
Lívia Flores – “Trabalho de greve”, 2012. Escultura em tecido e gesso. Dimensões variáveis. Nessa série, a artista Lívia Flores retoma o interesse pela pesquisa de materiais e processos, desdobrando-os em sua relação com o tempo, com a história e com o trabalho coletivo ao utilizar um material (cobertor cinza/feltro) que acumula muitos usos e sentidos, tanto na vida quanto na arte. A artista acredita que este material é portador de história e condensa de forma espectral uma história de todos e de ninguém, anônima e comum, constituída pelos muitos fios das infinitas peças de roupa que algum dia já tocaram nossos corpos. Os cobertores em cinza são matéria escultórica em tensão com elementos construtivos moldados em gesso. Oscilando entre vontade construtiva, entropia e ruína, essas peças erigem-se como “contramonumentos”, cujo gesto se completa no momento de sua instalação no espaço de exibição.
Lyz Parayzo – Série “Slut Terrorist”. Vídeo. Flyers de prostituição (site specific) com números telefônicos e endereços de instituições de arte. “Gargantilha Lança”, 2018. Alumínio. “Top Dentado”, 2018. Alumínio. “Braceletes lança, 2018 Alumínio. Uma das poucas artistas não-binárias presentes em coleções de museus brasileiros – está no Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC) e no Museu de Arte do Rio (MAR) -, Lyz Parayzo tem o corpo como principal suporte de trabalho. Em “Passeata”, a artista expõe um vídeo da performance “Slut Terrorist #5”, além dos objetos escultóricos denominados “joias bélicas”.
Marcela Cantuária – “Gigantes Pela Própria Natureza”, 2018. Óleo, acrílica e spray s/ tela. “Maria Bonita”, 2018. Óleo e acrílica s/ tela. Marcela Cantuária se interessa por reimaginar episódios de importância histórica através da perspectiva das mulheres, onde elas estavam nos conflitos por terras, nas guerrilhas, disputas por ideologia, no campo da estratégia, como se estivesse construindo outra versão. Assim, ela acredita que está encorajando as mulheres através de figuras femininas que em algum momento tiveram importância. Isso se reflete também nas cores vivas de seu trabalho.
Patrizia D´Angello – “Dramalhão”. Através do bom humor, as obras de Patrizia D’Angello inserem a questão do feminino no mundo contemporâneo, explorando a estética kitsch do exagero, do colorido exuberante, dos temas que confrontam diretamente outras formas de dominação. A mulher guerreira é também aquela que enfrenta forno e fogão, que levanta bandeiras assim como vassouras e aspiradores de pó, mas que não esquece a sua natureza e seus desejos.
Roberta Carvalho – Sua instalação é composta por uma imagem fotográfica e por um outro elemento, que é uma garrafa (com imagem projetada). A fotografia proposta é da série “submersos”. Seguindo a linha do trabalho desenvolvido por Roberta Carvalho, a fotografia trará o rosto de uma mulher ribeirinha projetada nas margens do rio. Seu rosto estará metade dentro d’água, metade na floresta. A garrafa, que pende ao lado da imagem, será preenchida de água: barrenta amazônica, água que pela sua opacidade funciona como tela. Nesta garrafa preenchida de água uma projeção mapeada dialoga com a imagem fotográfica.
Sani Guerra – “Três Picos”, 2016. Óleo e folha de ouro sobre tela. “Floresta dos cervos”, 2018. Óleo sobre tela. Em março de 2018, Sani Guerra começou uma residência artística de sete meses no Rio de Janeiro, explorando espaços que abrigam parte da Mata Atlântica, tais como a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, a Colônia Juliano Moreira (onde funciona o Museu de Arte Contemporânea Arthur Bispo do Rosário) e o Campus da Fiocruz Mata Atlântica, entre outros espaços públicos que se relacionam com a mata. Partindo dessa pesquisa, seu material histórico e o seu entorno, a artista deu início a uma série de pinturas e três delas podem ser vistas em Passeata.
Ursula Tautz – Sem título, 2019. Móvel em madeira, rádica, lentes redoma de vido, prumo dourado, bola de vidro. Sem título, 2019. Móvel em madeira, rádica, redoma de vidro, funil de vidro, balão de vidro, arame dourado, prumos dourados, lente. Temas recorrentes no trabalho de Ursula Tautz, antropologia, história e memória se desdobram aqui em um novo estudo que ela apresenta em criações permeadas pelo tempo e materializadas na madeira que é a base para os dois móveis em exposição. A partir do objeto-balanço desenvolveram-se duas pesquisas: do movimento pendular e do material, a madeira. A madeira remete à casa, acolhe, aconchega e protege. A rádica é um corte da raiz da árvore, já tem em si uma cartografia intrínseca. São mapas de enraizamento, de pertencimento, são também camadas de tempo, história. Os móveis-objetos oferecem o lugar almejado, imaginado, ouvido nas histórias. Indicado com um prumo, protegido na redoma, bolas de neve.
Sobre as artistas
Amanda Baroni teve seu primeiro contato com fotografia através do Hip Hop, do qual é participante desde 2007. Em 2012, formou-se pela Escola Popular de Fotógrafos, do Observatório de Favelas, Complexo da Maré, Rio de Janeiro. Após a formação, começou fotografando o movimento Hip Hop e se dedicou a realizar trabalhos artísticos e comerciais. Atualmente, segue documentando o Hip Hop, produzindo ensaios fotográficos e coberturas de espetáculos de dança, além de desenvolver seus projetos autorais como o “Ensaio Draw”, “Baixa Velocidade – Altas Luzes”, “B.Woman, B.Girl”, “ Minha imagem e semelhança” e “‘Elementos da minha natureza”. Expôs seu trabalho “B.Woman, B.Girl”, sobre as mulheres no Hip Hop, no Largo das Artes, Rio de Janeiro, e no evento Batom Battle, em Brasília. Outras atividades no campo das artes e exposições envolvem a formação em Design de Exposição no Parque Lage, em 2014, em impressão Fine Art e montagem de molduras no estúdio Barracāo de Imagens.
Anna Bella Geiger (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1933). Estudou Letras Anglo-Germânicas na Faculdade Nacional de Filosofia (UFRJ) e Sociologia da Arte com Hanna Levy Deinhardt na New York University e na New School for Social Research (anos 50). Realizou exposições individuais e participou de coletivas no Brasil e no Exterior, como nas Bienais Internacionais de São Paulo, Veneza e de Liverpool. Seus trabalhos integram coleções como a do MoMA (Nova York), do Centre Georges Pompidou (Paris), Tate Modern e Victoria and Albert Museum (Londres), Getty Institute (Los Angeles), The FOGG Collection (Boston) entre outras. Em 2004, Anna Bella recebeu a insígnia da Ordem do Cruzeiro do Sul, do Ministério das Relações Exteriores, e em 2010, recebeu a insígnia da Ordem do Mérito Cultural por representar a tradição, a vanguarda e as diferentes correntes de criação cultural e artística do País.
Ana Hortides. Nasceu em 1989 no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Artista visual e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes da Universidade Federal Fluminense (UFF – RJ) na qual se Graduou em Produção Cultural. Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV). Caracterizado pela delicadeza, o seu trabalho permeia o corpo, a intimidade e a vulnerabilidade das relações.
Fernanda Sattamini. Sua produção explora processos experimentais e alternativos, transitando entre fotografia, gravura e objetos. Tomando como ponto de partida imagens apropriadas e suas próprias fotografias, a pesquisa que desenvolve aborda questões acerca da memória, intimidade, afetos e controle.
Helena Trindade. Cores vivas e formas geométricas são as principais características do trabalho de Helena Trindade. Formada em arquitetura e urbanismo pela Universidade de Brasília em 2013, Helena optou por continuar os estudos com um Mestrado de Arquitetura em Oxford, lá Helena desenvolveu projetos de instalações espaciais, como o seu projeto final, exposto na St. John’s College ao final do curso, e de esculturas abstratas, feitas com o uso do corte a laser. No ano seguinte à conclusão do curso, em 2016, a arquiteta mudou-se para a Holanda a trabalho, onde entrou em contato com o design gráfico e aprofundou a sua experiência com projetos arquitetônicos e instalações espaciais. Dentre os trabalhos mais importantes desse período estão os projetos dos espaços elaborados para receber as exposições dos Dutch Invertuals na Semana de Design da Holanda em 2016, na Semana de Design de Milão em 2017, e no Festival D’Days em Paris, no mesmo ano. De volta ao Brasil, Helena se divide entre a arquitetura e o design. Além dos projetos arquitetônicos, ela dedica o seu tempo aos objetos confeccionados com o corte a laser, que compõem a sua marca HT.
Laura Gorski e Renata Cruz. Laura Gorski é nascida em São Paulo em 1982. Formada em Desenho Industrial pelo Centro Universitário Belas Artes, realizou as exposições individuais “Paragem”, na Zipper Galeria, em 2011; “Arquipélago de lugares imaginários”, no Estúdio Buck, em 2013, e “Dias úteis”, com Renata Cruz, no 20º Cultura Inglesa Festival, em 2016. Participou de residências na Alemanha e em Portugal e tem obras em coleções em Brasília, Bahia, São Paulo e Porto Alegre. Já expôs em Ribeirão Preto, Santo André, Santos, Goiás, Salvador, Campinas, Porto Alegre, Jundiaí, Rio de Janeiro, Brasília, além de Cazaquistão, Portugal, Japão e Alemanha.
Renata Cruz, em seu trabalho, explora as relações entre textos literários e imagens, valendo-se muitas vezes do envolvimento de diversas pessoas com suas histórias e lugares onde habitam. Em suas instalações propõe a criação de narrativas abertas no espaço, que se constroem enquanto se caminha. Formada em Comunicação Visual, UNESP, Bauru SP; Educação Artística, UNAERP, Ribeirão Preto, SP, com cursos como aluna estrangera na Facultad de Bellas Artes de la Universidad Complutense de Madrid, Espanha, atualmente participa de grupos de estudos como no Ateliê Fidalga em São Paulo.
Leandra Espírito Santo. Mestre e doutoranda em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da USP, São Paulo, SP. Graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, RJ. Seu trabalho artístico transcorre por diversas mídias, como performance, fotografia, vídeo, escultura, intervenção urbana. Por meio de linguagem cômica e irônica, a artista faz reflexões sobre nossos procedimentos cotidianos, dos mais complexos aos mais comuns, investigando a relação entre a arte e as diversas técnicas e tecnologias, relativizando seus usos e pensando na relação que mantemos com elas em nível de corpo e comportamento. Em 2017, iniciou pesquisa focada nas relações entre identidade, corpo e máquina, série de trabalhos em que pensa a auto representação dentro das redes sociais. Em 2016, foi indicada ao Prêmio Pipa MAM-RJ, tendo sido finalista do Pipa Online. Em 2014, recebeu o Prêmio Estímulo no 42º Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto e ganhou a Chamada Artes Visuais da Secretaria de Cultura de Niterói. Entre suas principais exposições, prêmios e eventos estão: “Instauração”- Sesc Belenzinho (SP, 2017); “Agora somos mais de mil” – EAV Parque Lage (RJ, 2016); “Quando o tempo aperta” – Palácio das Artes (BH, 2016) e Museu Histórico Nacional (RJ, 2016); “Novíssimos” – Galeria Ibeu (RJ); 37° Salão de Artes de Ribeirão Preto (SP, 2013); 2º Prêmio EDP nas Artes (SP, 2010).
Marcela Cantuária. A artista nasceu em 1991, vive e trabalha no Rio de Janeiro. É graduada em pintura pela Escola de Belas Artes da UFRJ. Atualmente, leciona em seu ateliê questões práticas da pintura contemporânea. Considera o viés filosófico materialista histórico-dialético como ponto de partida de sua investigação, observando, assim, o mundo e os fatos. A artista usa desde referências de arquivos digitais que gravita entre passagens históricas, frame de documentários até fotos autorais do cotidiano desigual do Rio de Janeiro. Em seu processo, muitas vezes trabalha a composição a partir do conflito entre as referências e a oposição entre as cores.
Lívia Flores (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1959). Pintora, escultora, videoartista. Participa do ateliê de xilogravura da Escolinha de Arte do Brasil, com José Altino (1946), entre 1974 e 1976, e estuda também com Maria Luíza Saddi (1952), em 1976. Em 1978, faz o Curso Intensivo de Arte Educação (Ciae), além de iniciar sua graduação na Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Esdi/Uerj), concluída em 1981. Entre 1979 e 1980, frequenta ateliê livre da Armação Oficinas de Arte (artes plásticas), com Marília Rodrigues (1937-2009) e Ana Cristina Pereira de Almeida. Participa de curso teórico sobre arte contemporânea com Anna Bella Geiger (1933) em 1981 e, no ano seguinte, assiste a outro curso teórico, sobre arte brasileira, com Fernando Cocchiarale. Contemplada, em 1984, com uma bolsa de estudo para a Alemanha, estuda na Academia de Artes de Düsseldorf de 1985 e 1990 e vive em Colônia até 1993. Recebe o título de mestre em comunicação e tecnologia da imagem na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1998.
Lyz Parayzo.Iniciou seus estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e começou a invadir galerias de arte com intervenções estético políticas. Como um vírus subverteu os protocolos de poder dos espaços institucionais borrando as fronteiras do que é oficial. Tem o corpo como principal suporte de trabalho e sua performance diária como plataforma de pesquisa. Suas bombas-plásticas desestabilizam as tecnologias heteronormativas e coloniais, são projeções anabolizadas da sua existência. Vem desenvolvendo videoinstalações com conteúdo pós-pornográfico, joias bélicas e atualmente está pesquisando as performances de gênero e classe a partir da cor em seu “Salão Parayzo”, dispositivo itinerante onde atua como manicure.
Patrizia D’Angello. Formada em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – Unirio, também estudou na Escola de Moda da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Participou de cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e foi aluna de nomes como Charles Watson, Fernando Cocchiarale, Luiz Ernesto, Franz Manata, Pedro França e Fred Carvalho. Em 2012, foi contemplada com projeto de exposição individual do Ibeu. Indicada ao Prêmio PIPA 2012. Desde 2008 Patrizia D’Angello tem trabalhado o cruzamento da fotografia com os cinco gêneros existentes da pintura: retrato, autorretrato, natureza-morta, paisagem e nu. Porém, em algumas obras é possível encontrar a interseção destes gêneros, com as quais a artista nos revela que esta formalidade pode ser subvertida. A sua preferência pela pintura a óleo, pastel seco e aquarela se dá pela possibilidade de manuseio e alterações durante o período em que está elaborando imagens com irônico realismo, a partir de referências de seus registros fotográficos ou apropriados de terceiros. Cenas corriqueiras adquirem uma determinada sofisticação com o olhar protagonista da artista, que aponta para os detalhes banais de algum canto de sua residência ou até mesmo as sobras de um prato de comida em uma churrascaria.
Roberta Carvalho é artista visual nascida em Belém do Pará. Estudou artes visuais na Universidade Federal do Pará (UFPA). Desenvolve trabalhos na área de imagem, intervenção urbana e videoarte. Já participou de várias exposições, coletivas e individuais, no Brasil, França, Espanha e Martinica. Foi vencedora de diversos prêmios, entre eles, o Prêmio FUNARTE Mulheres nas Artes Visuais (2014), Prêmio Diário Contemporâneo (2011) e Prêmio FUNARTE Microprojetos da Amazônia Legal (2010). Foi bolsista de pesquisa e criação artística do Instituto de Artes do Pará, por duas vezes, em 2006 e 2015. Suas obras integram acervos como o do Museu de Arte Contemporânea Casa das 11 Janelas (PA) e Museu da Universidade Federal do Pará. Dentre as exposições coletivas e festivais de arte que já participou, em destaque estão: Periscópio – zipper Galeria (São Paulo, 2016), 7ª Mostra SP de Fotografia (São Paulo, 2016), Visualismo – Arte, Tecnologia, Cidade (Rio de Janeiro, 2015), SP ARTE/FOTO (2014), Grande Área Funarte (São Paulo 2014), Pigments (Martinica, 2013), Festival Paraty em Foco (Paraty, 2012), Tierra Prometida (Barcelona, 2012), e Vivo Art.Mov (Belém, 2011).
Sani Guerra transita pela fotografia, escultura, instalação e pintura. As atmosferas irreais criadas pela artista revelam as estranhezas criadas por gestos não coincidentes, ângulos improváveis e estampas exageradas. Sani provoca atrito na relação entre tempo e espaço. Retrata figuras fragmentadas, organizadas a partir do universo particular da artista. Venceu o Prêmio Interações Estéticas da Funarte em 2009 e o concurso Garimpo da Revista Dasartes em 2013. Em 2008, a artista iniciou o Projeto Construção, criando peças escultóricas tendo como molde monumentos históricos e arquitetônicos. As intervenções foram exibidas no MAM, no Parque Lage e outros espaços, no Rio.
Ursula Tautz nasceu no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Utiliza diversos suportes em seu trabalho como fotografia, vídeo, objetos e instalações. Cursou a ESPM, além de ter frequentado oficinas da “School of Visual Arts /NY”, e a partir de 2005 a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Em 2013 integrou o Programa Projeto de Pesquisa, coordenado por Glória Ferreira e Luiz Ernesto. Participou de várias exposições coletivas, como “Intervenções Urbanas Bradesco ArtRio 2015” e e “Aquilo que nos une” no Centro Cultural da Caixa Federal com curadoria de Isabel Portella. Além das individuais “Frestas por onde Muros escoam” reinaugurando o Jardim da Reitoria da Universidade Federal Fluminense/RJ; “Lugar familiar” no projeto Zip’Up na Zipper Galeria/SP e “Fluidostática” na Galeria do Lago (Museu da República/RJ). Foi também selecionada pelo crítico Fernando Cocchiarale para o “Programa Olheiro da Arte” e finalista do Prêmio Mercosul das Artes Visuais Fundação Nacional de Arte – FUNARTE, com seleção de Luiza Interlenghi, Jorge Luiz Miguel e Izabel Machado da Costa.