A Galeria Kogan Amaro, Jardim Paulista, São Paulo, SP, apresenta até 28 De Novembro, “Per noite”, exposição individual de Daniel Lannes.
“Nem todo retrato é um tributo”. Quem melhor para problematizar a burguesia do que os próprios burgueses? Quem melhor para desmantelar a construção da branquitude do que aqueles que dela se beneficiam? Em movimentos antirracistas recentes tem havido um incentivo para inspirar pessoas brancas a problematizar e desmantelar a branquitude entre si. Dos detalhes das conversas íntimas entre brancos, só eles sabem.
“Per noite” é uma exposição que trata da visão colonial da burguesia sobre o Brasil e sua história. Desde o século XV, o Brasil tem sido visto como um playground para elites e colonizadores. Um lugar de prazer, enfatizado por lendas sobre o Brasil e propagandas de turismo internacional. Para alguns, o Brasil é o lugar do nível pernoite, da exploração desenfreada. Com seus retratos que jogam com o espaço entre a sexualidade, a exploração e a vulgaridade, Daniel Lannes tanto critica quanto expõe a natureza das elites. Lannes quase sempre examina a natureza dos laços coloniais na cultura e na história brasileiras. Em Calcutá, por exemplo, ele pinta uma Carlota Joaquina idealizada, mostrando-a ao mesmo tempo como era – infestada de piolhos -, mas vista também como uma rainha chegando para reinar sobre o Novo Mundo. Conhecido por seus retratos que atenuam os limites entre homenagem e crítica, vê-se claramente as dicotomias presentes nas obras de Lannes ao longo da exposição.
Dito pelo não dito retrata o Rei Dom João relaxando gulosamente após ter sido aliviado por seu masturbador profissional. Vestido da cintura para cima com o uniforme de um membro da realeza, e preguiçosa e desnudadamente relaxado da cintura para baixo. À primeira vista, a imagem pode ser vista como um momento constrangedor, mas Lannes diz que, ao contrário, ela aborda a falta de vergonha da burguesia. O tipo de desigualdade de critérios cuja existência era permitida em um mundo onde o rei contrata um masturbador profissional, mas representa uma classe que via seus súditos coloniais como inerentemente mais sexualizados.
Lannes é também um contador de histórias, que dá espaço em suas pinturas para que o observador recorde histórias brasileiras famosas, e ao mesmo tempo convida-o a duvidar de seus legados. De quem nos lembramos quando nos concentramos e nos concentramos continua e novamente em certas histórias? Quem somos nós sem essas histórias e esses tributos constantes?
Tiffany Auttrianna Ward
Texto Crítico
Sobre o artista
Mestre em Linguagens Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012) e Bacharel em Comunicação Social pela PUC – Rio (2006). Dentre suas exposições individuais destacam-se: “A Luz Do Fogo” (2017), na Magic Beans Gallery, Berlim, Alemanha; “Costumes” (2014) e “Dilúvio” (2012), na Galeria Luciana Caravello Arte Contemporânea; “República” (2011), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; “Só Lazer” (2011), na Galeria de Arte IBEU, no Rio de Janeiro; “Midnight Paintings” (2007), no Centro Cultural São Paulo, entre outras. Dentre as exposições coletivas destacam-se: “HÖHENRAUSCH”, Eigen + Art gallery, Berlin, Alemanha e “Ao Amor do Público I” – Doações da ArtRio (2012-2015), ambas em 2016; “Tarsila e Mulheres Modernas”, no Museu de Arte do Rio (MAR) e “Renaissance”, na Maison Folie Wazemmes, na França, ambas em 2015; “Crer em Fantasmas” (2013), na Caixa Cultural de Brasília; “Gramática Urbana” (2012), no Centro de Arte Hélio Oiticica; “Arquivo Geral” (2009), no Centro Cultural da Justiça Federal; “Painting’s Edge” (2008), RiverSide Museum of Art, nos EUA, entre outras. Foi um dos vencedores da 6ª edição do Prêmio Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas (2017-2018). Realizou residência artística no Kunstresidenz Bad Gastein, Bad Gastein, Áustria, em 2015. Foi selecionado em 2015 para representar a cidade do Rio de Janeiro no Festival de Arte Lille3000, em Lille, França, foi indicado à 10a edição do Programa de prêmios e Comissões da Cisneros-Fontanals Art Foundation (CIFO) 2013 e contemplado com o prêmio FUNARTE Arte Contemporânea (2012). Foi, ainda, indicado ao Prêmio PIPA em 2011 e em 2012 e foi o ganhador do Prêmio Novíssimos do Salão de Arte IBEU (2010). Recebeu também bolsa de residência artística no The Idyllwild Arts Program Painting’s Edge, California, EUA, 2008, e bolsa de estudos na State University of New York / Fine Arts Department, em 2004. Possui obras em importantes coleções públicas como Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR); Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, entre outras.