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AGENDA CULTURAL

Dois fotógrafos

A partir do dia 30 de julho, a unidade paulistana da Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, abrigará uma nova exposição que permitirá ao público uma compreensão maior do trabalho de Mário Cravo Neto. Além de peças assinadas pelo grande nome da fotografia nacional, o espaço também exibirá imagens produzidas pelo amigo inseparável Vicente Sampaio, que o acompanhou até o fim de sua trajetória artística, encerrada em 2009 aos 62 anos.

 

Nome cultuado da fotografia nacional e protagonista de exposições grandiosas dentro e fora do país, Mário Cravo Neto desenvolveu uma linguagem singular através de suas lentes: brasileira e universal ao mesmo tempo, ela vem fundamentada entre o universo religioso africano e a arte contemporânea. Os panos de fundo também são múltiplos e neles podem aparecer as ruas da Bahia – cidade onde nasceu e cresceu em berço artístico – e em cidades maiores, como Berlin e Nova York, ou então alcançar altos níveis técnicos dentro de estúdio.

Graças à curadoria apurada da exposição, o expectador será contemplado com uma maioria de obras inéditas e também algumas peças icônicas que pontuam a trajetória de Mário Cravo Neto. Todas elas com uma certa áura de mistério e da mística sagrada oriunda do Candomblé.

 

A série “Eterno Agora”, a mais famosa de Mário Cravo Neto, aparece complementada por cópias de época inéditas. Produzidas do final de 1970 até a década de 1990, as fotografias têm impressão em gelatina e prata e são todas em preto em branco.

 

Já a série “Laróyè”, composta apenas por imagens coloridas, reúne fotografias feitas nas ruas da Bahia, onde, além de captar a atmosfera e a veneração à ancestralidade e cultura africanas, Mário Cravo Neto também expressa uma crítica social sutil. Dentro da série “Nova York e Bahia” aparece a compilação de cópias vintage de fotografias realizadas nas duas cidades a partir da década de 1960.

 

Além disso, a Galeria Marcelo Guarnieri também apresenta imagens criadas por Mário Cravo Neto em uma época de aprendizagem no início do seu percurso. Alguns exemplos são “Mulher na Ladeira de São Felix”, clicada em 1965 – quando ele tinha 18 anos e considerou esta imagem digna de um fotógrafo profissional – e também imagens inéditas e assinadas (tiragem de época) registradas em Nova York nos anos de 1968 e 1969, como o show de Jimi Hendrix, cenas do Central Park e de seus filhos Christian e Lua na Dinamarca.

 

Na ala dos trabalhos de autoria do fotógrafo Vicente Sampaio, comparsa criativo de Mário desde os auge do experimentalismo fotográfico que vivenciaram na Bahia durante a década de 1970, a coletânea de imagens tem carga mais afetiva e mostra imagens inéditas nas quais Mário aparece como personagem em momentos de emoções diversas.

 

Dessa convivência diária – de 1973 até os anos 1990 – Vicente Sampaio possui cerca de 200 fotos que narram uma história de amizade e inquietação artística, além de um registro comportamental de época. Seis dessas fotos serão exibidas na exposição.

 

Mariozinho, como os amigos carinhosamente o chamavam, e Vicente Sampaio formavam uma dupla das mais fecundas na cidade de Salvador no final dos anos 1960 e durante toda a década de 1970. Eram vizinhos no Bairro da Boca do Rio, na época reduto de artistas e malucos beleza de todos os tipos. Até o guitarrista Frank Zappa deu as caras por lá durante algum tempo. Os dois compartilhavam o aprendizado fotográfico. Desde o início, nada escapava das lentes do Vicente.

 

 

A palavra de Vicente Sampaio

 

“Há três anos perdemos Cravo Neto, o Mariozinho. Na época abalado, tive o ímpeto de postar nossas fotos juntos em um tempo grandioso que não escapa da memória, os tais anos 70… Éramos jovens e doidos na Bahia mágica daquele tempo, na fruição do momento e tesão de apreender fotograficamente toda aquela insanidade visual que víamos pela frente. Tive o privilégio de conviver com ele durante bons anos e bem próximo. Éramos até vizinhos de casa, o fundo de seu estúdio dava para a minha rua, quase em frente de minha casa. Trocávamos figurinhas noturnas, num vai e vem incessante de um laboratório para outro. Dessa convivência, além de uma bela e gigante exposição no MAM-Bahia em 76, que marcou época, ficou um registro de fotografias espontâneas, sem nenhuma pretensão, a não ser exercitar o clique. Momentos como a imagem de 1975 com  Mario no hospital, depois de um acidente automobilístico; ou a foto da foto, que mostra o fotógrafo num estúdio em Salvador tirando uma foto 3×4 para o passaporte.”

 

 

Até 27 de agosto.

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