Olá, visitante

AGENDA CULTURAL

Dois na Galeria Estação

Para sua última exposição do ano, a Galeria Estação, Pinheiros, São Paulo, SP, apresenta Julio Martins da Silva (1893, Icaraí – RJ / 1978, Rio de Janeiro – RJ) artista praticamente esquecido, embora de grande importância para a arte popular brasileira. Além de participar da Bienal de Veneza em 1978, naquele mesmo ano, foi tema do filme O que eu estou vendo vocês não podem ver, de Carlos Augusto Calil, professor da ECA-USP e hoje Secretário Municipal de Cultura de São Paulo. Agora, tem seu trabalho reconhecido pelo olhar de Paulo Pasta, que faz a curadoria desta mostra com 19 obras do acervo da galeria.

 

Julio Martins da Silva, pintor tardio, passou a usar a tinta a óleo somente depois da aposentadoria definitiva. Interessava-e principalmente pela natureza, sobretudo por paisagens. Suas telas, sempre retratando uma cena organizada, com pinceladas leves de cores calmas e harmoniosas, contrapõem uma vida de muitas dificuldades. “Esse contraste entre uma vida feita de adversidades e privações e uma produção em que isso não aparece, ou melhor, na qual se elabora justamente o oposto dessa condição, constitui, como já procurei apontar, uma das principais contradições da obra de Julio Martins da Silva”, afirma o curador.

 

Segundo Paulo Pasta, as paisagens do artista possuem características muito particulares, mais próximas da imaginação do que da realidade. O curador aponta, ainda, como raramente se pode ver em suas obras a representação de uma natureza selvagem, desregrada e a mata, quando aparece, também é elaborada em formas amenas e ordenadas. “Acredito que o arquétipo mesmo de suas paisagens seja o jardim, nele, Julio M. da Silva parece encontrar o seu tema perfeito”, completa.

 

Sobre o artista

 

Neto de escravos africanos e filho de pais analfabetos, Julio Martins da Silva nasceu no interior do Rio de Janeiro  e começou a trabalhar ainda menino para sobreviver.  Aos 17 anos, já órfão de pai e mãe, mudou-se definitivamente para a capital fluminense onde foi cozinheiro e operário. Apesar da difícil condição social, sempre buscou completar sua alfabetização, sobretudo para ler seus poetas preferidos, Castro Alves e Casemiro de Abreu. Era, também, um amante das artes. Além de desenhar com lápis desde a juventude,  gostava de fazer serenatas e frequentava, sempre que possível, teatros e cinemas. Segundo Lélia Coelho Frota em seu “Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro”,  o artista realizou inúmeras exposições individuais em galerias de arte do Rio de Janeiro e de São Paulo,  entre elas, destaque para a mostra no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, 1975; e  a participação na Bienal de Veneza, 1978 e uma exposição individual em Washington, 1984.

 

Transcursos 

 

Paralela à exposição de Julio Martins da Silva acontece, no 1° andar da galeria, a exposição de Aline van Langendonck, artista que participou do programa de Residência Artística do Ateliê Acaia, em 2012, que recebe apoio da Galeria Estação. Com curadoria de Tiago Mesquita, a mostra “Transcursos” reúne um conjunto de trabalhos que versa sobre as possibilidades de relação de enquadramentos durante o deslocamento no espaço.

 

A mostra reúne o vídeo Rio Grande realizado nas linhas de trem da CPTM em São Paulo; uma série de monotipias nas quais uma faixa preta compõe o espaço de diferentes maneiras, além de sugerir um desdobramento de imagens em sequencia com quebras de linearidade; cadernos de desenho que investigam variações de formas de objetos cotidianos; objetos de madeira instalados entre o vão da sala expositiva; além da documentação do processo de pesquisa e trabalho relacionada ao período da residência nos ateliês do Instituto Acaia.

 

Até 19 de dezembro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sua mensagem foi enviada com sucesso!