O Espaço Cultural Citi, Avenida Paulista, São Paulo, SP, exibe uma exposição que envolve muita curiosidade sobre os trabalhos dos artistas Braz Dias e Astrid Salles. A curadoria é do crítico de arte Jacob Klintowitz que rege esta junção poética dos dois artistas. Trata-se de uma mostra especial, pois as pinturas de Braz Dias estão abrigadas em coleções e não é fácil reuni-las. Já Astrid Salles, num período de recolhimento e meditação, criou além de pinturas, estandartes, ainda inéditos, “tão rememorativos das formas ancestrais e míticas”.
A palavra do curador
Braz Dias e Astrid Salles:
o flautista azul e os estandartes.
Jacob Klintowitz
Sabemos de uma terra que está logo ali, próxima de nós, mas, apesar disto, ela está além e nunca a alcançamos. O pintor Braz Dias nunca precisou procurar por ela, não necessitou de nenhum cartógrafo, pois ele simplesmente vem de lá. É por isto que a sua pintura não é nostalgia, a alma com saudade da terra natal, da mítica Ítaca ou o tropismo em busca da pátria ideal.
A delicada e precisa fatura da pintura de Braz Dias está a serviço do registro da poesia de uma constelação visual extremamente rara. Na verdade, tão rara quanto a edição de um só exemplar, já que só ele canta esta gesta, a minuciosa descrição deste lugar, até então desconhecido, onde existe limpeza absoluta das cores, harmonia de formas suaves e personagens líricos, como o homem equilibrista, o pássaro da manhã, a mulher flor, o flautista, o boneco articulado e todas as portas e janelas se abrem para uma paisagem azul iluminada por um sol eterno.
Há um som subjacente nas pinturas e nos objetos de Astrid Salles. O ritmo visual é tão essencial neste trabalho que ele forma/cria uma tessitura que estrutura e delimita o seu destino. É o alfabeto desta escritura. A razão da aproximação da artista com as formas gráficas da cultura indígena se deve a afinidade com o seu desenho marcante e a capacidade de tornar o signo em símbolo. Os dados do cotidiano se tornam narração do permanente.
Os estandartes e os objetos-serpentes de Astrid Salles são a expressão amadurecida desta identificação com o ritmo melódico da linguagem pictórica. Ela os constrói com os elementos banais que existem ao seu redor e com o diálogo com a natureza mítica da elaboração indígena e a alegria das manifestações populares. Astrid Salles não recupera a cultura mítica ou reconstrói o folclore. Ela simplesmente utiliza os mesmos princípios para inventar o ritmo melódico dos seus objetos.
Até 03 de janeiro de 2014.