Com o nome inspirado pela palavra que abre uma das obras fundamentais da literatura brasileira, “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, Nonada ocupa dois espaços: um em Copacabana e outro em um galpão industrial na Penha, subúrbio do Rio de Janeiro. A mostra inaugural reuniu obras de 32 artistas de diversas cidades brasileiras, com pesquisas que abrangem temas atuais, entre os quais racismo, questões políticas, sociais e de gênero. Em Copacabana as obras de “A Palavra: Prosa”, e na Penha “A Palavra: Verso”. Na Penha, a artista e DJ Marta Supernova realizou uma apresentação no dia da abertura. O texto crítico é do artista, poeta e compositor André Vargas. Nonada é uma galeria dedicada a dar visibilidade à excelência da produção artística, e local de pesquisa e debate plural.
Artistas expositores
Os artistas da exposição inaugural de Nonada são: 13unituh (André Moura), de Realengo, Rio; Agrippina, de São Gonçalo, Rio; Alan Oju, de Santo André, São Paulo; Allan Pinheiro, do Complexo do Alemão, Rio; André Barion, de São Paulo; Andy Villela, Rio; Bruno Alves, Cidade Júlia, São Paulo; Bruno Lyfe, de Ramos, Rio; Carlos Mello Carvalho, de Jundiaí, São Paulo; Carmen Garcia, São Paulo; Castiel Vitorino Brasileiro, de Fonte Grande, Vitória, Espírito Santo; Darks Miranda, de Fortaleza, e vive no Rio; Diambe, Rio; Emerson Freire, de São Paulo; Fabio Menino, de São Paulo; Fernanda Gomes, de Porangaba, São Paulo; Gabriel Branco, São Paulo; Guilherme Almeida, Salvador; Gustavo Magalhães, de Goioerê, Paraná, e vive em Curitiba; Guto Oca, de São Paulo, e mora em João Pessoa; Jorge Cupim, do Rio; Juan Casemiro, vive entre Conceição das Pedras, Minas, e São Paulo; Link (Diego Jesus Bezerra), de São Paulo; Lucas Almeida, de São Paulo; Maria Pia Garcez, do Rio; Marta Supernova, do Rio; Melissa Oliveira, do Morro do Dendê, Rio; Miguel Afa, do Complexo do Alemão, Rio; Pazza Pennello, de Odessa, Ucrânia, e vive em Kiev; Renan Aguena, do Rio; Siwaju, de São Paulo, e vive no Rio; e Vika Teixeira, do Morro do Inferninho, Niterói. Rua Ministro Armando de Alencar, 35/506 – 22471-080 – Rio de Janeiro RJ
Política e Lirismo
Em Copacabana, no espaço de 70 metros quadrados da Nonada ZS na Rua Aires Saldanha, próximo à Rua Bolívar, área boêmia e perto do futuro Museu da Imagem do Som, em exibição obras com um teor maior de crítica política e social. Na Penha, na Nonada ZN, na área de mais de 200 metros quadrados e 4,5 metros de altura, os trabalhos serão mais líricos. São variadas as linguagens dos artistas, em diversos materiais e suportes – pinturas, esculturas, fotografias, poesia, vídeos, entre outros – que percorrem várias pesquisas, discutindo temas de nosso tempo.
“A palavra: Prosa” / “A palavra: Verso”
André Vargas, em seu texto crítico, escreve sobre “A Palavra: Prosa” – “Também celebramos em convulsão a realidade, como quem não se fia em depressões e nostalgias. E, talvez, sejamos os que mais festejam as cisões da cidade no terror mais concreto de todo santo dia. É o paliativo, um antitérmico, a alegria. Apaga-se com ela uma barricada em chamas num futuro de rebeldias, mas rebela-se com ela no presente de extremo frio das agonias. Uma fuga, uma aventura, uma brisa. A grande alegoria.” E sobre “A Palavra: Verso” – “Respondemos mal à medicação, porque não criamos a doença. Quem a criou segue imune e impune de seu caráter maligno.
Acrônica das classes é a sua consciência, e o sintoma mais comum éo vigor da poesia. (…) Num mundo que gira padrões, que sejamos a altera presença. Pois quando nos encantamos em um mundo desencantado, dando razão à loucura, nesse mundo desconcertado, arruinamos as bases de uma hegemonia, que ainda não sabe, mas agoniza engasgada com o próprio rabo.”
A iniciativa da criação de Nonada é de Paulo Azeco e João Paulo Balsini, a que se juntaram os dois irmãos Ludwig e Luiz Danielian, donos da Danielian Galeria, na Gávea. “Há uma qualidade impressionante de trabalhos feitos por artistas que não têm tanto acesso ao circuito de galerias, que trazem temas atuais, entre eles questões políticas, sociais, de racismo e gênero. Queremos apresentar de forma plural novos talentos, visões e força criativa”, comenta Paulo Azeco, graduado em Artes Visuais na Universidade Federal de Goiás com pós-graduação em “Métiers d’art: lesArtsAppliqué”, na École Boulle”, em Paris, e uma longa trajetória em galerias importantes em São Paulo. Ludwig Danielian conta que sempre desejou ter um espaço de arte no subúrbio, diferente do perfil da galeria na Gávea. Com o projeto de Paulo Azeco e João Paulo Balsini – colecionador de arte e advogado com atuação em políticas públicas – revitalizou, junto com seu irmão Luiz Danielian, a fábrica de moda praia e lingerie aberta por seu pai em 1968, e desativada há sete anos.
Por um ano, os quatro sócios pesquisaram artistas e seus trabalhos, em um processo “extremamente orgânico, que abrange desde nossa experiência como também indicações de artistas, curadores, e de buscas que fizemos em mídias sociais”, diz Paulo Azeco. “Não queremos levantar bandeiras, rótulos, e sim valorizar a arte boa, que independe de estereótipos. Queremos ter esta proposta de galeria em Copacabana, bairro popular, e no subúrbio,na periferia do circuito de arte, para que se leve excelentes trabalhos a todos. Pretendemos promover discussões livres, contemporâneas, abertas, sem julgamentos prévios”, complementa Ludwig Danielian.
Guimarães Rosa
Nonada é a palavra que abre uma das obras fundamentais da literatura brasileira, “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa (27 de junho de 1908 – 19 de novembro de 1967), “um neologismo criado para representar o não-lugar ou a negação de existência”, escrevem os sócios no texto de apresentação do novo espaço de arte. “Nonada é um lugar híbrido: pesquisa, acolhe, expõe e dialoga. Deixa de ser nada e passa a ser essência por acreditar que o mundo precisa de arte, e que a arte por si só já é lugar.Parte da ideia do não-lugar para ilustrar uma visão que, ao se afastar de rótulos, amplia diálogos, se norteando pela pesquisa,o debate e a importância da curadoria. A galeria de arte enquanto agente promotor de encontros e descobertas com anseio pela experimentação”.
Sobre Nonada
Um neologismo criado para representar o não lugar ou a negação de existência. Nonada é a palavra que abre uma das obras fundamentais da literatura brasileira, “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, e que representa o pensamento que alicerça este projeto. Parte da ideia do não-lugar para ilustrar uma visão que ao se afastar de rótulos, amplia diálogos, se norteando pela pesquisa e debate sociológico e na importância da curadoria. A galeria de arte enquanto agente promotor de encontros e descobertas com anseio pela experimentação. Sua forma concreta se dá quando rompe padrões dos circuitos sociais e culturais. Entende a pluralidade como necessidade para sua pertinência enquanto personagem contemporâneo, e que é motivo e condição de se ser .Nonada é híbrido, pesquisa, acolhe, expõe e dialoga. Deixa de ser nada e passa a ser essência por acreditar que o mundo precisa de arte…e arte por si só já é lugar.
Até 04 de março de 2023.