O artista plástico Antonio Henrique Amaral inaugura, aos 78 anos, duas exposições em São Paulo. A primeira acontece na Pinacoteca do Estado, Praça da Luz; e a segunda estará em cartaz na Caixa Cultural, Praça da Sé. Para o jornalista Silas Martí, a obra do artista saiu no início “…do verde ao amarelo e ocre, … frutas que dominaram cerca de 200 pinturas do artista nos anos 1960 e 1970, entraram para a história da arte brasileira como metáfora tropical dos descaminhos da ditadura que começou com o golpe de 1964”.
Suas bananas estrearam com um estrondo em 1968, no auge da arte pop e da nova figuração, que dissolviam a austeridade do concretismo e viraram uma espécie de síntese colorida da tropicália de Caetano Veloso e Gilberto Gil. No começo, elas eram verdes, saudáveis, exuberantes. Depois, amadureceram até apodrecer. Foram parar no prato, destroçadas por garfos e enforcadas por cordas até que não sobrasse mais nada Agora, quase três décadas depois do fim da ditadura, Amaral e suas bananas são relembradas nessas duas mostras em São Paulo – uma retrospectiva com 160 obras na Pinacoteca e a exposição de 100 desenhos e gravuras na Caixa Cultural. A curadoria da mostra da Pinacoteca é de Maria Alice Milliet, que vê uma série de elementos nas polêmicas telas. “A banana é o fálico, a latinidade, o luxuriante, o tropicalismo”, afirma. “Elas serviam para tudo.” Também serviram para alçar o artista ao panteão de sua geração no circuito das artes visuais no país.
A palavra do artista
“Queria esculhambar com o governo militar, que estava reduzindo o Brasil a mais uma república das bananas, como eram as republiquetas centro-americanas”.
“Meu desafio era pintar e, ao mesmo tempo, refletir sobre a tortura e as prisões numa coisa explosiva, sarcástica, de deboche.”
Ele lembra que na ditadura os censores do regime notaram as pencas de ironia plasmadas nas telas. “Mas eles cairiam no ridículo fechando uma exposição de bananas”, afirma. “Esse foi meu jeito de fazer uma sátira sem ser massacrado por eles.”
Sou um incoerente confesso”, diz Amaral. “Sempre fui um lobo solitário no meio das tendências.”
Na Pinacoteca do Estado de São Paulo,
até 23 de fevereiro de 2014.
Na Caixa Cultural,
de 14 de dezembro até 16 de fevereiro de 2014.
Fonte: Silas Martí – Ilustrada/Folha de São Paulo.