O Museu Oscar Niemeyer (MON), Curitiba, PR, inaugurou nas salas 1 e 2, a exposição “Da matéria do mundo”, da artista Eliane Prolik. A mostra apresenta a instalação “Atravessamento” e três núcleos de esculturas. Com curadoria de Ronaldo Brito, e Denise Bandeira como assistente de curadoria, a exposição se apropria de materiais industriais que possibilitam o desencadeamento de formas abertas e comunicantes relacionadas ao sentido fluido e emblemático da vida contemporânea. A instalação “Atravessamento”, de 160 metros quadrados de eletrocalhas, envolve e captura o espectador com seu engenho, rumor e desvios. A natureza escultórica de sua obra responde à presença física e à experiência ampliada da percepção do corpo em movimento em interações e tensões junto ao lugar, a arquitetura e a cidade.
Para Brito, “Da Matéria do Mundo” diz respeito não somente à aparência do mundo contemporâneo, seu aspecto anônimo e industrial, mas à essência de sua forma: o modo aberto, serial e repetitivo como se organiza, no limite do aleatório, estranho com certeza às noções tradicionais de harmonia e equilíbrio. Metafórica e concretamente, as esculturas de Eliane Prolik convidam a um verdadeiro embate físico que pode muito bem vir a se transformar em disponibilidade lúdica”, analisa. A diretora cultural do MON, Estela Sandrini, ressalta que, “muitos dos trabalhos apresentados nesta exposição foram criados para as salas do MON, a fim de estreitar as relações entre a obra, a arquitetura do espaço e a experiência sensorial do espectador”.
Sobre a artista
Curitibana, a artista é graduada em Pintura e possui especialização em História da Arte do Séc. XX pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP). Desde o final dos anos 1980 trabalha com escultura, objeto e instalação. Participou de diversas exposições nacionais e internacionais, como 25ª e 19ª Bienal Internacional de São Paulo (2002 e 1987), I Bienal do Mercosul (1997), Bienal Brasil Século XX (1994), Panorama da Arte Brasileira (1995 e 1991), “O Estado da Arte – 40 anos de Arte Contemporânea no Paraná 1970-2010” (2010) e “PR/BR – Produção da imagem simbólica do Paraná na cultura visual brasileira” (2013), Museu Oscar Niemeyer. Entre suas exposições individuais destacam-se “Projeto Octógono”, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2004) e “Capulus”, Centro Universitário Maria Antonia, São Paulo (2003). Recebeu premiações no Salão Nacional e Salão Paranaense. Integra os coletivos de arte “Bicicleta”, “Moto Contínuo” e “Escultura Pública”, além de projetos institucionais no contexto paranaense.
Da Matéria do Mundo por Ronaldo Brito
Da Matéria do Mundo diz respeito não somente à aparência do mundo contemporâneo, seu aspecto anônimo e industrial, mas à essência de sua Forma: o modo aberto, serial e repetitivo como se organiza, no limite do aleatório, estranho com certeza às noções tradicionais de harmonia e equilíbrio. No entanto, insistimos em pedir à arte que nos ofereça preciosos objetos únicos, fechados em si mesmos, seguindo o padrão convencional. Há décadas o Minimalismo norte-americano e a Arte Povera italiana investiram contra semelhante conformismo, em favor de uma arte realmente contemporânea, em contato efetivo com o mundo da vida atual. O trabalho de Eliane Prolik aceitou, decidido, o desafio. Ao longo dos anos, a artista foi cultivando uma empatia sutil e sincera com os materiais comuns do nosso cotidiano urbano, foi apurando uma hipersensibilidade em relação a eles, que acabou por torná-los corpo e alma de sua poética.
À falta de um conceito ideal, vamos chamar Núcleos Escultóricos a essas peças de metal regulares, com uma configuração aberta, que se modificam necessariamente segundo as exigências de cada ambiente. Soltas no espaço amplo e generoso do Museu Oscar Niemeyer, elas devem ao mesmo tempo tensioná-lo e atravessá-lo, como dita aliás o título de um dos trabalhos da exposição. Em meio à sensação crescente de opacidade, sensação que parece dominar o denso e populoso século XXI, cabe à arte revelar transparências, abrir espaços, fazer brilhar a luz ali onde se tende a ver apenas impasses e muros intransponíveis. Metafórica e concretamente, as esculturas de Eliane Prolik convidam a um verdadeiro embate físico que pode muito bem vir a se transformar em disponibilidade lúdica.
Até 16 de novembro.