A Galeria Fortes Vilaça, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta nova exposição de Ernesto Neto. A mostra é uma retrospectiva de desenhos produzidos pelo artista desde a década de 80 até os dias de hoje, grande parte da qual é ainda inédita no Brasil. As obras foram recentemente apresentadas na mostra “La Lengua de Ernesto: 1987 – 2011”, curada por Adriano Pedrosa, que itinerou pelo México entre 2011 e 2012.
Em “Linha da Vida”, Ernesto Neto apresenta conjuntos de desenhos que são agrupados não necessariamente pelas datas em que foram feitos, mas a partir de conceitos, processos e problemáticas similares. No conjunto “Estrelasos” desenhos são feitos com tinta para carimbo colorido e nanquim sobre papel encharcado de água. O pingo de tinta, ao cair sobre o papel, cria um campo de cor que se expande formando manchas circulares no plano. Na série “Ossos de Ipanema”, o artista usa o grafite para criar uma sucessão de linhas rítmicas que envolvem um núcleo central, como se uma forma abraçasse a outra. No grupo “Idade da Pedra”, a mesma ideia de um corpo envolto por outro aparece, mas desta vez as linhas se revelam por meio de frottage usando grafite.
Em “Folha Afeganistão” – conjunto feito no dia seguinte à invasão dos EUA no Afeganistão -, uma caneta prata gordurosa é usada para delimitar a expansão das manchas de nanquim. Para o artista, as formas orgânicas desta série abordam a questão da pele como fronteira e o corpo sendo território. Em “Fetus Female”, Ernesto Neto usa linha, cera e papel criando formas antropomórficas que enfatizam espaços vazios, o dentro e o fora. Já em “Poro pele Vida” esse espaço vazio é preenchido por manchas de nanquim diluído, trabalhando conceitos de expansão e contenção. A referência ao corpo humano é um denominador comum à vários trabalhos. Se ora o corpo aparece de maneira explicita, noutro momento ele é apenas uma sugestão, uma presença subliminar. Há ainda obras que sugerem uma paisagem interna humana, imagens que remetem a fecundação ou atividades celulares.
O desenho sempre foi uma prática paralela ao desenvolvimento das esculturas de Ernesto Neto, onde o papel é o anteparo, a superfície necessária, para a projeção de imagens que surgem, tanto a partir das esculturas como também de eventos vividos pelo artista. Não se trata de imagens de suas esculturas mas sim da projeção do pensamento escultórico do artista. É assim possível identificar nestes trabalhos bidimensionais a mesma linguagem e conceito de suas obras tridimensionais.
Sobre o artista
Ernesto Neto nasceu em 1964 no Rio de Janeiro onde vive e trabalha. Entre suas exposições individuais recentes, destacam-se: “O Bicho SusPenso na PaisaGen”, Estação Leopoldina, Rio de Janeiro, 2012; a instalação no Nasher Scultpure Center em Dallas, EUA, 2012; a grande retrospectiva “La Lengua de Ernesto: 1987-2011”, no Museo de Arte Contemporáneo de Monterrey (MARCO), México, que itinerou para o Antiguo Colegio de San Idelfonso, Cidade do México, 2011-2012; “O Bicho SusPenso na PaisaGen”, Faena Arts Center, Buenos Aires, Argentina, 2011; “The Edgesofthe World”, Hayward Gallery, Londres, UK, 2010; “Neto: Intimacy”, Astrup Fearnley Museum of Modern Art, Oslo, Noruega, 2010; “Dengo”, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil, 2010; “Anthropodino”, Park Avenue Armory, Nova York, EUA, 2009. O artista ainda participou de duas Bienais de Veneza, em 2001 e 2003 e também da Bienal de Sharjah nos Emirados Árabes.
De 18 de maio a 15 de junho.