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AGENDA CULTURAL

Esculturas de Francisco Brennand

A obra escultórica do artista pernambucano Francisco Brennand, 86 anos, encontra-se exposta no Museu Afro Brasil, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP. Com a curadoria de Emanoel Araujo, a mostra “O Escultor Francisco Brennand – Milagres da Terra, dos Peixes e do Fogo” apresenta cerca de 80 esculturas: figuras mitológicas, pássaros, peixes, jacarés, lagartos, frutos e objetos nascidos de uma extraordinária técnica de cerâmica vitrificada. Do Recife, foram trazidos um painel inédito de cinco metros e uma série de obras dedicadas às pinturas de natureza morta do italiano Giorgio Morandi. Desde a década de 1970, quando restaurou a antiga olaria de seu pai, num projeto de integração da arte à arquitetura, o trabalho de Brennand conquistou reconhecimento internacional. Situado na Várzea do Recife, seu ateliê ocupa os espaços da fábrica histórica. Aberta à visitação pública, a Oficina Cerâmica Francisco Brennand é um dos principais marcos artísticos do Brasil, com um impressionante conjunto de esculturas e painéis.

 

No título da mostra, Emanoel Araujo ressalta a presença vibrante dos elementos Fogo e Terra no nascimento da arte de Brennand. Além de frutos, aves e peixes, “…há também o fogo, que é como uma bigorna que alisa a massa crespa, deixando espaço para a crosta grossa e uniforme da tinta colorida, de ocres e ferrugens, de onde escapam os azuis e os verdes, ou meios tons leves, foscos e brilhantes. Da cor que se transforma ardida pelo calor do fogo”, descreve o curador. Num poema dedicado ao escultor, o poeta João Cabral de Melo Neto também define o ofício de ceramista: “Prender o barro brando no ovo/ de não sei quantas mil atmosferas/ que o faça fundir no útero fundo/ que devolve à pedra a terra que era”. “Mostrar a escultura de Brennand em outro espaço que não seja o seu próprio, de Pernambuco, será sempre um desafio, diante do complexo diálogo criado por ele entre a escultura e o espaço em que ela se desenvolve, ora com a arquitetura, incluindo os antigos galpões da antiga fábrica de cerâmica, e ora se incorporando às ruínas deixadas pela ação dos anos e do passado da fábrica onde nasceu esse grande cenário”, avalia o curador.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em 11 de junho de 1927, na casa grande do Engenho São João, no Recife, Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand é um dos mais importantes e premiados escultores do Brasil. Homem de múltiplos talentos (acumula ainda os dons de desenhista, pintor e ilustrador), ele participou de cursos com André Lhote e Fernand Léger em Paris, na década de 50. Autor de murais e painéis – dentre os quais o “Batalha dos Guararapes”, no centro do Recife -, Brennand já foi agraciado com o Prêmio Interamericano de Cultura Gabriela Mistral, da Organização dos Estados Americanos (OEA), atribuído por um júri internacional. Numa incursão pela política, integrou a Casa Civil do governo de Miguel Arraes, entre 1963 e 1964, quando o golpe militar depôs e prendeu o governador. À época, a convite de Arraes, assumiu a missão de transformar a antiga Casa da Detenção numa Casa de Cultura. “Pintor, ceramista, escultor, desenhista, designer, todos num só, dentro e fora de toda ortodoxia que define cada técnica dessas múltiplas linguagens, Francisco Brennand é um artista moderno, no sentido mais amplo dessa palavra. Seu universo, exposto nos gigantescos galpões da antiga olaria de seu pai ou, en plein air, no que se convencionou chamar Oficina, na Várzea, em Recife, exibe aí uma relação íntima entre a vida e a obra, seus avanços e recuos”, define Emanoel Araujo. Em 1971, Brennand iniciou as obras de restauro da Cerâmica São João da Várzea – fundada em 1917 -, instalando a partir de então seu ateliê e um arrojado projeto de esculturas cerâmicas. Em 1998, ganhou uma grande retrospectiva na Pinacoteca de São Paulo.

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