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AGENDA CULTURAL

Exposição de Reynaldo Candia

 

 

A BELIZÁRIO Galeria, Pinheiros, São Paulo, SP, abriu a mostra “O concreto já rachou!”, de Reynaldo Candia, artista paulistano que criou trinta e cinco obras inéditas para contar a história não mostrada sobre a construção de um sonho. Não um sonho pessoal do artista e sim uma ideia que foi apresentada a uma nação sobre o “País do Futuro” com sua “Capital da Esperança”. O texto crítico é de Divino Sobral.

 

“A mostra “O concreto já rachou!” busca seu título em um verso da letra da música “Brasília” (1985), gravado pela banda brasiliense “Plebe Rude” em seu disco de estreia que, também, tinha esta frase como título”, explica Divino Sobral, que acrescenta: “Brasília parece chamar atenção da cidade para o momento em que o concreto começa a trincar e a rachar, deixando prestes a desabar os pontos frágeis da construção edificada sob o selo da democracia e da liberdade política.(….) Por outro lado, o título leva a pensar também nas fissuras ocorridas na construção do próprio conceito de cidade e de arquitetura moderna, diante das pressões de um país subdesenvolvido”. O concreto, o ferro e a madeira são os principais elementos utilizados pelo artista na construção de seus trabalhos, os quais também são os elementos base de Brasília. Diferente do que possa sugerir o título, em “O concreto já rachou!”, Reynaldo Candia enfatiza prioritariamente a influência dos candangos sobre a execução deste grandioso projeto e resgata a cultura histórica brasileira.

 

O artista não se posiciona como um crítico ou analista de tempos ou posicionamentos diversos e sim como um historiador que busca o resgate dos personagens sombreados pela redação histórica. Os “candangos” são personagens importantíssimos uma vez que o olhar de Reynaldo Candia não se furta de observar a realidade humanística das épocas e regiões brasileiras às quais dedica sua pesquisa. Após imersão na região nordeste do Brasil para sua série pregressa, o artista deparou-se com relatos das migrações para o Planalto Central na época da construção da nova capital. Por definição, “candango” é o termo dado aos trabalhadores que migraram à futura capital para sua construção. A palavra de origem africana, tem significado pejorativo – “ordinário”, “ruim” – e era a denominação que se dava aos trabalhadores que participaram da construção de Brasília. “Foi do Nordeste que saiu o retirante, fugindo da seca e da fome, para calejar as mãos na construção das riquezas de outras regiões” define Divino Sobral.

 

Pinturas, colagens, intervenções fotográficas, instalação, técnicas e suporte diversos, todos criados em 2022, preenchem o espaço e contam a história da pesquisa do artista que, após uma imersão na região nordeste, virou seu foco para o planalto central. A tela “Eixo”, cinzenta como o cimento, faz alusão à primeira cicatriz do solo da nova capital deixada por Lucio Costa em 1956 quando fixou com uma cruz o encontro do Eixo Monumental com o Eixo Rodoviário onde começam tanto a nova cidade como todo um processo que resultou em profunda transformação da região Centro-Oeste do país.

 

Com fotografias transpostas para uma superfície de concreto, o Reynaldo Candia sobrepõe frases célebres que poderiam servir como uma segunda legenda, como em “Candangos construção”. O políptico, também Candangos, manipula pontos de vista lançados sobre a monumental escultura de Bruno Giorgi e o mesmo título se repete em um objeto, encapsulado por acrílico onde o livro Candangos é perfurado e nos orifícios são inseridos retratos de trabalhadores impressos em vermelho. Já em “Antes”, antes, uma fotografia é perfurada por círculos que funcionam como molduras para outras imagens com detalhes arquitetônicos da cidade.

 

A grande “Terra vermelha” exibe um mapa do Brasil, executado com terra extraída do solo da cidade e posto em posição invertida, o que provoca um certo desconforto no olhar e sugere questionamentos. Duas obras que retratam a ausência e a incompletude – Aqui não tem sudeste nem sul e “Pau-brasil” – representam o mapa do Brasil por meio da união de técnicas de pintura agregada à apropriação de objetos. Enquanto a tela em óleo, “Aqui não tem sudeste nem sul”, é formada por um fragmento do mapa com as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, “Pau-brasil” é um trabalho tridimensional com uma prancha da madeira título perpendicular à parede como suporte às capas de livros de história sobre as quais está pintado o mapa brasileiro. “São obras que tratam do esvaziamento da historiografia oficial e da necessidade de reescritura da história, em observância ao narrar do vencido e não do vencedor, como é habitual”, diz Divino Sobral.

 

“Viramundo”, oferece um mapa onde tanto a região Nordeste como a palavra do título surgem pintados com a mistura de cimento, pigmento e tinta acrílica aplicada sobre um suporte de madeira. Para História, com exemplares da enciclopédia Delta dedicados à história geral ou à história do Brasil, uma intervenção de recortes redondos escavados nas capas e nos miolos dos livros, resultam em uma movimentação visual sugerindo acesso ao conteúdo a partir de pontos pré-definidos. “Lacre” e “Torre” são trabalhos que possuem livros vedados no interior de placas de concreto simbolizando as ideias que havia no período da ditadura. Já em “Memória” reúne um grupo de livros didáticos que funcionam como base de sustentação do mastro que ergue a bandeira nacional, confeccionada em feltro com cores acinzentadas “(….) as obras de Reynaldo Candia têm a ousadia de firmar posição de crítica ao fascismo e ao conservadorismo, e de fazer compromisso com a defesa dos valores que garantem a liberdade política, o futuro da juventude e o crescimento da justiça social do País”.

 

Divino Sobral

 

Até 13 de agosto.

 

Telefone: (11) 3816.2404

 

Horários: de segunda a sexta-feira, das 10h às 19hs; sábado das 11 às 15hs

 

Número de obras: 35

 

Técnica: pintura, colagem, corte, serralheria, alvenaria, costura, instalação

 

Dimensões: de 30 x 20 cm a 3

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