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AGENDA CULTURAL

Exposição de Rosana Paulino

A artista visual Rosana Paulino apresenta “Assentamentos(s) – Adão e Eva no paraíso brasileiro”, último cartaz da programação 2014 da Galeria Pretos Novos, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ. A curadoria é de Marco Antonio Teobaldo, com a cordenação geral de Ana Maria de la Merced Guimarães dos Anjos, uma  produção da Quimera Empreendimentos Culturais.

 

 

Assentamento(s) – Adão e Eva no paraíso brasileiro

A palavra do curador Marco Antonio Teobaldo

 

Rosana Paulino é uma artista visual de São Paulo que trabalha há algum tempo sobre as questões da formação da cultura brasileira, sobretudo aquelas relacionadas a nossa herança africana. Contudo, a sua pesquisa vem sendo aprofundada a partir de uma descoberta inusitada, imagens produzidas por uma expedição realizada no Brasil pelo zoólogo suíço Louis Agassiz, entre os anos de 1865 e 1866, sob o pretexto de estudar os peixes brasileiros, mas que tinha como pano de fundo comprovar a superioridade da etnia branca sobre as demais. Foi então encomendado tais registros ao fotógrafo franco-suíço Augusto Sthal. Desta forma, surgiu um acervo fotográfico único sobre a população escravizada no Rio de Janeiro, em estilo forense (frente, costas e perfil) e portrait. Atualmente, esta coleção se encontra no Peabody Museum of Ethmology and Archeology, de Harvard, e serviu de base para o projeto Assentamento(s), iniciado em 2012, no Tamarind Institute, no Novo México (EUA).

 

Ao contrário da teoria de Agassiz, o que se conseguiu na realidade foi documentar aqueles que ajudaram a fundamentar a cultura brasileira. Como é possível perceber nestas imagens, as marcas da escravidão são expostas sem qualquer preocupação moral ou humanitária, retirando o que sobrou de dignidade daqueles corpos nus, peças fundamentais no assentamento de nossas bases culturais. A partir desta pesquisa, a artista começou a pensar na visão geral do Brasil como um grande armazém, desde o período da chegada dos portugueses. Segundo ela, “os ossos apareceram sem que eu tivesse consciência, ou melhor, emergiram do inconsciente. No início, as sombras representavam “quase pessoas”, se é que posso falar deste modo. Pois os escravizados eram antes vistos como lenha para queimar, para mover a engrenagem da economia escravagista. Eram, grosso modo, sombras de seres humanos”.

 

“Assentamento(s) – Adão e Eva no paraíso brasileiro” é uma nova etapa do projeto que a artista se refere, resultado de sua recente  residência artística em Belaggio, Itália, com uma série de desenhos, pinturas e colagens reunidos de uma forma que sugere a criação da civilização brasileira a partir de um casal de africanos escravizados. Esta licença poética surge para confirmar a presença do sangue africano no DNA de cada brasileiro. A Botânica, Fauna e demais temas relacionados a Biologia sempre estiveram próximos da artista, que desde de criança estudava para ser bióloga. Mas foi em 1990, que ela iniciou seus estudos acadêmicos em Artes pela  USP. Não por acaso, as obras se assemelham aos estudos e mapas de anatomia humana, em que partes do corpo, ora desnudos, ora vestidos, são envoltos em ossos, plantas e animais selvagens, numa espécie de sequência cronológica em desenvolvimento.

 

Este trabalho inédito tem especial acolhida na Galeria Pretos Novos, não somente pela carga simbólica que estas obras representam dentro deste espaço, mas também porque foi logo após a primeira visita da artista ao IPN que estas imagens começaram a se construir em sua mente. Anteriormente a esta exposição, foi realizada uma primeira exposição deste projeto, em Americana (SP), com um formato que incluía esculturas, instalações de vídeo e bordados em impressões digitais, dos quais, três peças são exibidas nesta mostra.

 

 

De 26 de novembro a 24 de janeiro de 2015.

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