Com a abertura da exposição “M’Kumba”, que reúne fotografias de Gui Christ, no dia 14 de janeiro, às 10h, deixa o Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, o pesquisador, jornalista, curador e ativista social Marco Antonio Teobaldo, que esteve à frente da instituição desde 2010.
Desde então, o IPN se tornou referência em escravidão no Brasil, se consolidando em um importante pólo de resistência cultural, afirmação da Negritude, da arte e da memória. Ao todo, sob sua curadoria, foram realizadas três exposições permanentes – no Museu Memorial Pretos Novos, criado em 2011 – 37 exposições na Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, instituída em 2012, e uma exposição no Espaço Tia Lúcia, aberto em 2019 em homenagem à artista local, com o objetivo de ser um espaço exclusivo para exibição de arte bruta, design e artesanato.
Marco Antonio Teobaldo deixa a instituição a que é tão ligado para se dedicar ao mestrado em Museologia na UniRio, onde já está mergulhado em um tema que ainda não foi estudado: Museologia de Terreiro. Ele vai também colaborar mais intensivamente com o Museu de Imagens do Inconsciente, onde faz parte do Conselho Consultivo da Sociedade Amigos do Museu; continuar o seu trabalho no Comitê de Gestão Compartilhada da Coleção Nosso Sagrado, do Museu da República; partilhar suas experiências na Rede de Museologia Social, da qual faz parte e a representa na Comissão Consultiva do Sistema Estadual de Museus, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro; e seguir a curadoria do Museu Memorial Iyá Davina, onde vem desenvolvendo o seu trabalho desde 2018.
A curadora Evangelina Seiler comenta que Marco Antonio Teobaldo é “um pesquisador que sempre apoiou e investigou a produção artística contemporânea, principalmente no que se refere à arte de terreiro, indígena e das raízes africanas da nossa história. Seu trabalho como curador no Instituto Pretos Novos foi pioneiro, se iniciou muito antes deste segmento artístico ganhar a atenção que recentemente se vê nas instituições no Brasil e no mundo. Sua contribuição para a cultura ficou registrada como de excelência”.
Clara Gerchman, cofundadora e gestora do acervo do Instituto Tunga e fundadora e diretora do Instituto Rubens Gerchman, diz: “O que vale destacar entre as muitas conquistas e feitos, muitas primeiras vezes, ações inaugurais, é que Marco Antonio Teobaldo musealizou aquele espaço, conseguindo com sua equipe e com Mercedes Guimarães mostrar e formar a apropriação daquele local. É claro que qualquer instituto, sua missão e visão, pode mudar com o passar do tempo, se redimensionar, mas foi muito importante nessa primeira grande fase, durante mais de uma década, esse papel dessa consciência, de fincar essa bandeira territorial, de existência. Isso aqui existe. Vamos botar no mapa, na cidade, no entorno, no país, vamos dar uma noção de pertencimento, vamos estruturar. Outras fases virão, e o IPN irá amadurecer, mas essa primeira etapa de vida foi muito fecunda por sua existência, como um legado, um lugar de memória, de pensamento, de exposições. A questão de musealização passa por aí. Tenho muito orgulho de ter acompanhado essa belíssima trajetória”.
Sobre ele, conta Heloisa Buarque de Hollanda – escritora e diretora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (Letras/UFRJ): “Desde 2010 sou testemunha do trabalho de Teobaldo para criar e transformar o IPN em uma referência nacional sobre a escravidão no Brasil. Em 2011, Teobaldo prosseguiu, criando o Museu Memorial Pretos Novos, com janelas arqueológicas e vestígios das escavações. Em 2012, criou a Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, tudo isso no período de três anos. A galeria atraiu novos artistas ligados às questões daquele histórico território preto e da escravidão e da diáspora africana enquanto constituintes da nossa sociedade e da persistência estrutural do racismo entre nós. A galeria apresentou uma programação diversificada e libertária, oferecendo aos artistas possibilidades de desenvolver trabalhos inéditos e desafiadores. Simultaneamente, era criado um fluxo de visitação entre os dois espaços expositivos, ou seja, o Museu Memorial Pretos Novos e a Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, atraindo e formando um público novo para a arte e para a memória do Brasil. Alguns artistas que se apresentaram no espaço da Galeria foram Rosana Paulino, Lidia Lisboa, No Martins, Heberth Sobral, Moisés Patrício, Tia Lúcia e Mel Duarte. Hoje, todos conhecidos no circuito de arte, talvez pelo gosto do novo e do emergente na cultura, que define o trabalho e o sonho de Teobaldo. Um amigo, um parceiro e um profissional competente e criador”.
Para Mario Chagas, diretor do Museu da República, Marco Antonio Teobaldo “fez uma diferença significativa à frente do IPN porque aportou um conhecimento especializado, técnico, e, para além de tudo, isso um saber sensível, delicado, dinâmico. Ele conseguiu ao longo do tempo fazer coisas notáveis. Colocou o IPN na pauta da cultura do Rio de Janeiro, realizou exposições, promoveu debates, inseriu o IPN no âmbito da rede da museologia social do Rio de Janeiro, o que não é pouca coisa, onde tem dado contribuições notáveis. E tudo isso associado ao fato de que ele é uma pessoa de axé. É também vinculado ao Ilê Omolu Oxum, e conseguiu fazer uma articulação para raros: o IPN, Museu Memorial Iyá Davina, do Ilê Omolu Oxum, e o Museu de Imagens do Inconsciente. Ele articulou essas áreas diversas com delicadeza, sabedoria, amorosidade, aspectos importantíssimos que caracterizam Teobaldo”.