A exposição individual do artista plástico Fernando Araújo, “A dimensão do afeto”, acontece no Espaço Cultural Citi, Paulista, São Paulo, SP. Araújo recebeu texto sobre seu trabalho assinado pelo crítico de arte Jacob Klintowitz. Assim refere-se Klintowitz: “Na primeira hora do dia a passagem do carro do sol ilumina o jardim das cerejeiras. Os dedos violetas da aurora tingem o horizonte e é como se Dionísio impregnasse a terra com o prazer da vida. Onde se ocultaram os pressentimentos da noite? É possível que esta introdução, construída a partir dos títulos de algumas pinturas de Fernando Araújo, indique com clareza o universo poético e as emoções de onde emerge a sua pintura. Ou, ao contrário, ao invés da origem, esta escrita aponte para que lugar e associações somos conduzidos. Origem ou destino – não são antípodas e excludentes e podem existir ao mesmo tempo – o que fica claro é a dimensão afetiva e sutil onde atua o artista. Em Fernando Araujo o mais significativo, o que comove em primeiro lugar, é o percurso da expansão emotiva ao gesto intencional, justo e em seqüência. O que antes, em fase anterior, era a manifestação imediata da necessidade expressiva do artista, agora é a organização do universo pictórico sensível. Fernando Araújo é essencialmente um pintor e a ação se passa no seu diálogo com a cor e na correspondência entre o gesto e a emoção. É exemplar deste caminho o título de sua última mostra, “Antes de tudo”, e o da atual, “A dimensão do afeto”. Esta exposição reúne as partes pictórica e gráfica do artista e, ainda que a visão de mundo seja a mesma, em cada uma delas o artista experimenta aspectos diferentes de sua personalidade. Na pintura temos o gesto, a exuberância cromática, o percurso da emoção. E nela se exercita o trato imediato e intuitivo que a pintura pode proporcionar.Na parte gráfica, Fernando Araújo vivencia o gosto dos materiais, a textura do papel, a resistente dureza da matriz, o entintamento do rolo, as diversas provas de máquina em diferentes cores. E certo fascínio pelo Oriente e a sensualidade dos púrpuras e das dobras dos tecidos. Além de uma iconografia feita de signos e relevos. Febo,Dionísio, Aurora, Perséfone. Mitos e memórias de uma terra incógnita.Noturno na terra de outrora. Do carro do sol vemos apenas o esplendor, pois a sua passagem pelo céu acende o dia e todas as coisas se tornam formas aos nossos olhos. Nada se escuta, mas isto não é necessário, pois nos basta a sensação de que o mundo renasceu”.
De 23 de abril a 15 de junho.