A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 10 de setembro a 07 de outubro a “Exposição Botânicas”, que reúne obras em aço de Marcos Scorzelli. Depois do sucesso de público levando 30 mil visitantes na Ópera de Arame, em Curitiba, em maio deste ano, a mostra exibirá pela primeira vez no Rio de Janeiro sua coletânea composta por cerca de 30 esculturas em aço que remetem à flora brasileira. Nela estão representados elementos como o Cacto, a Bracatinga, o Dente-de-leão, pólens, borboletas, sementes aladas e flores diversas.
Além da mostra “Botânicas” a galeria exibirá, também, a “Exposição Roberto Scorzelli, obras em Pochoir”, com trabalhos em estêncil do artista Roberto Scorzelli (1938-2012), pai de Marcos. A “Exposição Botânicas”, de Marcos Scorzelli, evidencia o rigor geométrico e a expansão da natureza inspirando-se em órbitas, círculos sobrepostos e galáxias também presentes na arte de seu pai, Roberto Scorzelli.
A partir da inspiração do movimento constante das sementes aladas, que possuem uma anatomia aerodinâmica que permite que elas voem, caiam ou planem e se afastem mais da planta mãe pelo vento, foi criada a “Exposição Botânicas”, composta por esculturas geométricas minimalistas com cores saturadas. O artista utiliza chapas de aço e com alguns cortes, dobras e vincos – sem solda ou perda de material – recria a natureza por meio de círculos, triângulos e retângulos, respeitando a proporção áurea. Suas propostas buscam refletir sobre o ciclo perfeito da natureza, o vento, os pássaros, as borboletas que levam o pólen e as sementes para novos jardins e tudo recomeça, como se toda a natureza fosse matemática, cíclica e infinita. Assim como o universo que se expande, as sementes também repetem a dinâmica permitindo que, a partir dela, sejam originadas novas formas de criação, compondo, então, a flora brasileira.
“A simetria das formas das esculturas em movimento e o vento fizeram parte de todo o meu processo de criação, onde pude sentir o poder do vento na natureza. Queria fazer o aço ficar leve, e ao pensar no dente de leão, pensei no vento e no movimento das sementes aladas. A semente é o começo do ciclo e elas foram se movimentando com o vento. Na minha cabeça ventava muito; eu me lembrei das sementes que rolam com os ventos, como nos filmes de faroeste através da tumbleweed e nos desenhos infantis. Na verdade, é um pedaço inteiro de uma planta do gênero Kali (família das Amaranthaceae) que se desprende da raiz para dispersar suas sementes! O amaranto-do-deserto (Salsola kali) é famoso nos filmes ocidentais.”
Marcos Scorzelli.
Botânicas
“Marcos Scorzelli é designer, filho de Rosa e Roberto, pais amorosos e talentosos; ela física e ele artista plástico. Marcos desenvolveu, em 2018, a Coleção Bichos, lançada em janeiro de 2019 na Galeria Evandro Carneiro Arte. Eram esculturas em chapas de aço, coloridas e em uma geometria de inspiração zoológica: leões, pássaros, girafas, polvos e vários outros animais dobrados com vincos precisos, sem recortes ou soldas. Verdadeiros origamis de criatividade e afeto, a partir de alguns desenhos originais do pai, falecido em 2012. Foi um sucesso de mídia, público e vendas e o designer se tornou conhecido no mercado das artes.
Seguiu criando novas peças e expondo seu trabalho até que a pandemia do Coronavírus nos submeteu a todos ao trancafiamento doméstico. Foram meses de reclusão e meditação coletivas, e, felizmente, o espaço de Marcos possui uma geografia privilegiada. A casa do Joá, residência e ateliê da família, é cravada na Mata Atlântica e ele começou a pensar artisticamente a botânica presente naquela natureza e a experimentar novas formas de trabalhar. Paralelamente, a observação constante e meditativa em torno da herança paterna, que transborda naquele lugar de memórias, afetos e beleza.
Ao melhorar o cenário pandêmico, um desafio se impôs cheio de graça ao artista: ele foi convidado a participar da exposição Jardim Sensorial, na Ópera de Arame de Curitiba, PR e o tema era justamente a flora local. Somando o útil ao agradável, Marcos desenvolveu as primeiras peças da Coleção Botânicas, que ora apresentamos.
Sempre com suas geométricas e coloridas chapas de aço, apenas com cortes, dobras e vincos, sem perda de material, solda e nem inclusão de nada além das chapas e de cores saturadas e complementares, Marcos Scorzelli recriou a natureza por meio de círculos, quadrados, triângulos e retângulos áureos. Cactos, Bracatingas, Dentes de leão e Mandacarus nasceram assim, em “sequências de Fibonacci”, me revelou o artista. O vento, os pássaros e as borboletas levam o pólen das flores para sempre novos jardins e tudo recomeça, num movimento preciso, como se toda a natureza fosse matemática e vice-versa. Na coleção, nomes como Esporos, Florboleta, Flor de Vento, Jardim de Girafas e Revoada de Borboletas denotam não somente a criatividade de Marcos, mas também uma inspiração: o movimento giratório do universo, captado pela lente artística em cores fortes e vibrantes.
Nessa geometria da natureza, conformada em chapas coloridas de aço, percebemos a influência de alguns artistas concretos e neoconcretos como Amílcar de Castro, Lygia Pape e Amélia Toledo. Sem dúvida! Mas, sobretudo, observamos a evidente inspiração da fusão da física com a estética, em elementares, órbitas e galáxias presentes na natureza da arte de Roberto Scorzelli, cujo trabalho em Pochoir expomos conjuntamente com as esculturas Botânicas aqui na galeria, durante os meses de setembro/outubro de 2022.”
Laura Olivieri Carneiro.
Pochoir
“Noturno” é o título da obra que Roberto (Scorzelli) apresentou, em 2007, quando, no lugar de diretora dos Museus Castro Maya, convidei-o a participar do projeto Os Amigos da Gravura. A concepção da gravura a ser criada para aquele projeto ensejou a produção da série de pochoirs * aqui exposta, cuja abstração e pluralidade de cores evocam, além do anoitecer, a amplidão celeste e os movimentos do voo dos pássaros e bandeirinhas.
A sensibilidade e a delicadeza com que se expressava em seu trabalho, também era sua característica humana. Assim, só me resta agradecer o privilégio de ter convivido com este amigo, abençoado pelo dom da gentileza e da beleza, lamentando apenas ter sido por um tempo muito menor do que eu gostaria.”
Vera de Alencar.
“A geometria é a grande regente da arte de Roberto Scorzelli em todas as suas vertentes, seja a arquitetura, a pintura, o desenho ou a gravura. O rigor geométrico e abstrato dominou sua obra a partir da década de 1970 e permanece como um legado do construtivismo ainda a ser apreciado no século XXI.
No entanto, a dualidade é outra das marcas que se revelam no trabalho do artista. Se por vezes encontramos o humor como contraponto aos exercícios geometrizantes da circunferência atravessada pela linha – como no caso de suas célebres séries do Bestiário e das Walkyrias -, aqui pressupõe-se uma certa dualidade da própria geometria. Há, portanto, a geometria sonhadora dos círculos com os astros, suas órbitas, seus eixos de rotação e eclipses, mas também a geometria mais austera dos polígonos. Em ambas se encontra a volúpia do movimento em noites pontuadas pela iluminação dos dourados.
Também a técnica funciona para criar uma dualidade extra: as cores não são francas; os tons definitivos derivam da sobreposição de colorações e este processo acaba por criar texturas que imprimem maciez aos fundos, em contraste com a solidez das figuras traçadas.
Os exercícios em pochoir de Roberto Scorzelli, realizados entre 2007-2009, representam uma das facetas do artista em que ele nos oferece como temática distinta o universo galáctico, ao mesmo tempo em que nela imprime as marcas recorrentes de sua poética criativa. Estas obras estavam justamente a merecer esta exposição!”
Anna Paola Baptista.