Em sua primeira exposição individual na Galeria Marcelo Guarnieri em Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, Masao Yamamoto, artista residente na cidade de Gamagori, Japão, exibirá três séries fotográficas distintas – “A Box of Ku”, “Nakazora” e “Kawa=Flow'”, realizadas entre 1990 e 2015. Junto a essas fotografias, são apresentadas cinco “Caixas-Poemas“, cada caixa tem em seu interior uma série de fotografias e um Haikai. Outro formato de exibição presente na mostra se dá através de livros, que são pensados pelo artista como um espaço expositivo dotado de uma dinâmica mais próxima do observador – livros sanfonados confeccionados a mão com imagens em escalas menores que as que comumente o artista realiza. As fotografias de Masao sinalizam a potência de uma poética da delicadeza. O artista possui trabalhos em coleções públicas e particulares nos EUA, no Museu Victoria&Albert, de Londres e na Maison Européenne de la Photographie, em Paris.
Em um mundo em que a imanência entre o homem e a natureza parece sinalizar uma ruptura, Masao Yamamoto debruça-se em suas fotografias para um olhar que ainda salvaguarda esta união. Em pequenos formatos, as imagens são tessituras, brechas, espaços de singularidades daquilo que mantém as relações entre os seres humanos e o espaço cíclico do natural: a memória e o tempo. O cotidiano, aspecto que singulariza o humano, torna-se no descuido do tempo algo ordinário. Interessa ao olhar não ocidental de Yamamoto, enxergar nas “pequenas coisas” imagens que se tornaram invisíveis no cotidiano, transformando-a em um profundo belo estético. Nada é pretensioso e desmedido, pois obedece ao tempo natural da vida. Após fotografar as imagens, o artista deixa que o tempo ordene a sua força, carregando consigo, em seu bolso, os momentos capturados. Com esse deslocamento, do homem-artista, as fotografias sofrem alterações: manchas, rasgos e vincos. As imagens têm seu tempo dilatado, um álbum construído com personagens e cenas de uma memória coletiva e em envelhecimento provocado.
Após a passagem por “imagens amareladas e em contraste acentuado” em “Box of Ku”, Masao sugere a suspensão do tempo, um intervalo, e que na língua de seu país pode ser traduzido como Nakazora, “um estado onde os pés não tocam o chão, o espaço entre o céu e a terra”. “Kawa=Flow” parte de um princípio budista, recontado pelas palavras do artista: “Buda ensinou que uma pessoa começa a viver para a morte no dia em que nasce, e não há nada mais óbvio que isso”. Série recente de sua obra intui, nesta, a dilação do tempo entre a vida e a morte ou os processos que ocorrem no espaço da natureza: Um rio, fluxos e passagens – nascimento/morte – passado/futuro.
A obra de Masao Yamamoto é representada no Brasil pela Galeria Marcelo Guarnieri.