A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, apresenta, de 17 de outubro a 14 de novembro, em sua sede de São Paulo, as exposições de Amelia Toledo e Zé Bico (José Carlos Machado). Zé Bico apresentará na Sala 1 um conjunto de esculturas produzidas durante os últimos quatro anos, exibidas pela primeira vez. Amelia Toledo ocupará a Sala 2 com pinturas da série “Horizontes”, produzidas em 2012 e “Poço”, escultura produzida entre a década de 1990 e os anos 2000.
Formado em Arquitetura e Urbanismo pela FAU USP, Zé Bico (José Carlos Machado) produz e expõe como artista desde meados da década de 1980. Em sua terceira exposição individual na Galeria Marcelo Guarnieri, Zé Bico apresenta uma pesquisa sobre forças de atração e efeitos ópticos desenvolvida nos últimos quatro anos a partir de uma variedade de procedimentos que deram origem a peças de madeira, vidro e espelho. Ter trabalhado por tantos anos com ímãs na produção de suas obras permitiu ao artista desenvolver uma prática baseada em movimentos sutis, de cálculos exatos, gerados não por métodos teóricos, mas sim empíricos. A partir da força magnética dos ímãs, Zé Bico amplia sua investigação sobre o equilíbrio e a instabilidade, explorando, através de novos objetos, a força gravitacional. Daí surgem peças pendentes feitas em madeira que se articulam em conjunto e percorrem uma trajetória que vai do alto, rente ao teto, até uma base que as permitem pousar. O desenho dessas peças pendentes, cubos incompletos que se formam apenas por algumas arestas, se repete em algumas outras que compõem a exposição. Também parecem desintegrados nas peças que nos remetem a encaixes: ainda mais distantes do contorno e volume original do cubo, suas partes se montam umas sobre as outras em diversas posições de equilíbrio.
É nas peças em que trabalha com o vidro e com o espelho que leva a ideia de desintegração mais além. Em “Piano”, da série “Eu não vi” (2017/2019) faz uso de um vidro temperado que, a depender da distância em que se olha, vira um espelho. Dessa maneira, os cubos de ferro dispostos em ambos as faces do vidro, ora se revelam, ora se duplicam ou desaparecem. Já na peça em que posiciona uma placa de alumínio quadrada pendendo frente a um espelho também quadrado de mesmas dimensões, trabalha não só com os efeitos da superfície reflexiva, mas integra na composição um duplo que se forma pela sombra. Mais uma vez as questões referentes ao equilíbrio e a instabilidade aparecem, agora associadas a outro ramo da física: a óptica. A prática de Zé Bico, no entanto, dispensa cálculos matemáticos e elaborações teóricas: suas descobertas provêm das experiências cotidianas.
Indo contra todas os ângulos retos que compõem a maior parte das obras da mostra, está a dupla de ovos de ganso e laca. Como se estivessem paralisados no tempo, se equilibram de maneira pouco usual. Também contrário às demais peças da exposição que tratam de vazios e desaparecimentos, o ovo é o símbolo do nascimento, um invólucro que guarda um conteúdo repleto de possibilidades. Tendo sido produzidos durante quatro anos, a dupla tal como se vê é resultado do processo de endurecimento da gema associado à escolha de Zé Bico pela composição. Embora não se toquem, o arranjo dos ovos nos remete à ideia de peso e contrapeso, bem como às esculturas anteriores que o artista fazia com ímãs. “A Beira do abismo” (2019) trata da mesma lógica, em uma relação de peso e contrapeso entre o cubo de madeira e as barras de latão. No limite da instabilidade, suscitam em nosso imaginário a possibilidade da queda, assim como todas as outras peças, parecem estar por um triz.
Dentre as diversas exposições individuais e coletivas realizadas, destacam-se as seguintes: Projeto Macunaíma, Funarte, Rio de Janeiro, Brasil; O Reducionismo na Arte Brasileira (19º Bienal de São Paulo), Fundação Bienal de São Paulo, São Paulo, Brasil; Exposição Internacional de Esculturas Efêmeras, Fortaleza, Brasil; O Estado da Arte, Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil.