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AGENDA CULTURAL

Gonçalo Ivo no Paço Imperial

 

 

Nominada como “Zeitgeist” e sob a curadoria de Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho, o pintor Gonçalo Ivo é o atual cartaz do Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

 

“A importância de um artista se mede pela quantidade de novos signos que ele introduz na linguagem”

 

Henri Matisse em conversa com Louis Aragon, 1942

Texto de Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho

 

A presente exposição de Gonçalo Ivo no Paço Imperial reflete sua produção dos últimos quatro anos, alternando suas estadas nos ateliers de Vargem Grande, no Rio de Janeiro, Madrid e Paris, onde vive desde 2000, entremeadas por residências artísticas em New York e Bethany (Connecticut), nos anos de 2019 e 2020.

 

Foi em Bethany, na Fundação Annie e Josef Albers, no início de 2020, que a atual narrativa começou a tomar forma. Vindo de uma tradição sólida da pintura e considerado um dos maiores coloristas contemporâneos, o artista traduziu aqui, em óleos, têmperas e aquarelas, nos suportes de tela, papel e madeira, uma reflexão que altera não somente o caráter atemporal de suas obras anteriores mas também a noção de movimento e ordem. Seu recente isolamento, forçado pelas circunstâncias da realidade global, revelou nesses últimos trabalhos, a captura de elementos essenciais da existência humana, nossa fragilidade, a vulnerabilidade e o espiritual, na acepção dos melhores trabalhos de Kandinsky e Hilma af Klint, produzidos no convulsionado início do século XX. A exposição perpassa uma tríade de elementos que se interconectam, e que só podem ser plenamente apreendidos quando o todo se completa, ou quando o olhar se abastece de todas suas possíveis variantes.

 

Se nas Cosmogonias abrimos o caminho para o mistério da criação do universo e do simbólico, seja na exatidão de uma geometria cósmico-cinética das esferas, estruturadas por superposições e confrontos de cores, seja pela infinitude de nebulosas que mesclam sensações e diluem as certezas, são nas transparências das Contas de Vidro que ele introduz o lúdico, o melódico, o tátil e o jogo da vida . A alusão a obra de Herman Hesse não é fortuita.

 

Seus círculos cromáticos não se limitam a aplicação dos estudos sobre a cor como em Chevreul, Goethe ou nas proposições modernas do casal orfista Delaunay. São na verdade experiências sensoriais que se revelam a cada interação com o espectador, expandindo a percepção de que vivemos em um mundo mutável, muitas vezes distópico.

 

Mas é no seu Inventário das Pedras Solitárias, de complexa execução, que expande seu léxico e completa a referida tríade. As obras que compõem este inventário somente puderam ser pintadas pela experiência vivida em um exílio involuntário, onde a natureza bruta se mesclou a sensações de contemplação, erosão, perda e renascimento. Como um ciclo que se fecha, elas podem significar em seus múltiplos cinzas ou tonalidades leves de cor, tanto algo que flutua no espaço como algo que está entranhado na terra, querendo se revelar, isoladas, ou em busca de um encontro, um recomeço. Podem nos remeter a ancestralidades, mas também nos indicar a abertura para o novo. São as partes de um tempo partido, não apenas cronológico.

 

Da mesma forma como Hélio Oiticica escreveu em seu artigo Cor, Tempo e Estrutura (1960) que o tempo na obra de arte tem um sentido especial, diferindo dos sentidos que toma em outros campos do conhecimento, Gonçalo percorre o caminho simbólico, explorando a relação interior do homem com o próprio mundo, sempre em sua relação existencial.

 

Até 26 de junho.

 

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