“Histórias Mestiças”, cartaz do Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, é resultado de mais de dois anos de pesquisa dos curadores Adriano Pedrosa e Lilia Schwarcz que contou com o entusiasmo do diretor do Instituto, Ricardo Ohtake, interessado em realizar uma exposição paralela à 31ª Bienal de São Paulo com profunda e renovada investigação sobre as matrizes formadoras do povo brasileiro: a questão da mestiçagem e seu rebatimento na produção artística.
Segundo os curadores, o objetivo dessa exposição é provocar e trazer à tona um tema que, de alguma maneira, tem existência ainda discreta entre nós brasileiros. Quem mestiçou quem? Como se mistura inclusão com exclusão social? Como se combinam prazer e dominação? Quais são as diferentes histórias escondidas nesses processos de mestiçagem? Essas são perguntas que, segundo eles, ainda, nem sempre recebem ou alcançam respostas.
A mostra, dividida em seis núcleos – Mapas e Trilhas; Máscaras e Retratos; Emblemas Nacionais e Cosmologias; Ritos e Religiões; Trabalho; Tramas e Grafismos – fricciona telas, esculturas, instalações, mapas, artefatos indígenas e africanos, fotos, documentos, textos, vídeos e histórias. A curadoria propõe reunir e resignificar linguagens sem hierarquizar culturas, mestiçando ainda gerações de artistas e autores com cruzamentos temáticos e conceituais, sem preocupação cronológica. “O nosso intuito foi convidar artistas nacionais, africanos e ameríndios para ‘conversar’ nessa exposição, de maneira a priorizar um aporte mais amplo e que rompa com as margens precisas e expressas pelos nossos cânones Ocidentais”, afirmam os curadores.
As cerca de 400 obras reunidas – originais em todos os suportes e parte das quais nunca exibidas –, são provenientes de 60 importantes acervos nacionais e internacionais, entre os quais Musée Quai Branly, National Museum of Denmark, Instituto de Estudos Brasileiros – IEB/USP, Museu de Arqueologia e Etnologia – MAE/USP, Museu Nacional de Belas Artes, coleções Mario de Andrade, Masp, Biblioteca Nacional, Museu Joaquim Nabuco.
Fez parte do trabalho da curadoria investigar autores, artistas, suportes e perspectivas pouco conhecidos, ou sob ângulos inusitados, e colocá-los em debate. Além dos trabalhos já existentes, também foram encomendados a artistas obras que serão especialmente realizadas para essa mostra. Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Luiz Zerbini, Thiago Martins de Melo, Dalton Paulo, Sidney Amaral são alguns dos nomes que aceitaram o desafio de produzir trabalhos em diálogo com a temática da exposição. Na ocasião da mostra, uma antologia de textos estará à disposição, contando com documentos que partem do século XVI – como a análise de viajantes como Jean De Lery, e de filósofos como Montaigne –, passam por ensaios de naturalistas do XVIII, introduzem o olhar de teóricos do determinismo racial do XIX, ensaios mais culturalistas dos anos 1930, teses engajadas dos movimentos sociais até chegar em capítulos mais recentes de autores como Manuela Carneiro da Cunha e Eduardo Viveiros de Castro.
Também foi especialmente confeccionado um novo mapa que traça a rota dos escravos do interior da África para o Brasil, tendo como base um estudo inédito de nosso maior africanista, Alberto Costa e Silva, e produção cartográfica de Pedro Guidara Jr.
Dentre as peças africanas destacam-se máscaras provenientes do museu Quai Brainly, e peças da famosa coleção de Mariano Carneiro da Cunha, hoje depositadas no Mae. Desse continente virão também máscaras, objetos de uso ritual e de trabalho e até mesmo uma pequena procissão feita em metal. Por outro lado, tangas, máscaras de arte plumária, urnas marajoaras, estatuetas tapajônicas, cestas, pás de beiju, representarão, entre outros objetos, a riqueza da arte ameríndia e indígena de nosso país. Tudo em diálogo, em um debate ao mesmo tempo afinado e tenso.
Sobre os curadores
Adriano Pedrosa
Curador, ensaísta e editor. Foi co-curador da 27ª Bienal de São Paulo e curador responsável do Museu de Arte da Pampulha. Entre seus projetos curatoriais, estão ”F(r)icciones” (Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, 2000-2001, com Ivo Mesquita) e “Farsites: Urban Crisis and Domestic Symptoms in Recent Contemporary Art” (InSite-05, San Diego Museum of Art, Centro Cultural Tijuana, 2005), curador da 12ª edição da Bienal de Istambul, 2011.
Lilia Moritz Schwarcz
Historiadora, antropóloga, escritora e curadora. É professora titular da Universidade de São Paulo e editora da Companhia das Letras. Foi professora visitante e pesquisadora nas universidades de Leiden, Oxford, Brown, Columbia, é hoje Global Scholar pela Universidade de Princeton. Entre seus projetos curatoriais, estão “A longa viagem da biblioteca dos reis” (Biblioteca Nacional, 2003-2004), “Nicolas Antoine Taunay no Brasil – uma leitura dos trópicos” (Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, Pinacoteca, 2008), “Um olhar sobre o Brasil. A fotografia na construção da imagem da nação” (Instituto Tomie Ohtake, 2012), entre outros.
Dia 16 de agosto, às 18h30: Coro da OSESP Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Conduzido pela regente Naomi Munakata haverá um concerto com peças de Pe. José Maurício, Villa-Lobos, entre outros.
De 15 de agosto a 05 de outubro.