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AGENDA CULTURAL

Iberê: anos 80

Entrou em cartaz a mostra “Iberê Camargo: as horas [o tempo como motivo]”, na Fundação Iberê camargo, Porto Alegre, RS. Com curadoria do filósofo e crítico de arte Lorenzo Mammì, a exposição joga luz sobre a produção do artista durante a década de 1980, em um ponto de virada de sua produção, quando Iberê insere as primeiras figuras humanas em sua obra. Esses elementos passam a estabelecer novas dinâmicas em seus quadros, configurando o espaço pictórico como um lugar fora do tempo, de simultaneidade entre memórias e presente. Entre os carretéis e a produção tardia das idiotas e dos ciclistas, desponta um Iberê de cores fortes e de figuras abundantes, que reflete sobre o seu lugar no tempo e sobre o lugar do tempo na obra.

 

As figuras de Iberê, frequentemente autorretratos, olham ora para os objetos, ora para fora do quadro, estabelecendo novas tensões internas às telas. O gesto não está só na marca deixada na tinta, mas está ele também representado. Agora, o artista não pinta somente meras lembranças, pinta a si mesmo junto a elas, colocando-se também em cena. Essa é uma presença angustiada, como fica evidente nos nomes de algumas obras, como Grito (1984) e Medo (1985).
É nessa década que se dá também a consagração de Iberê Camargo como um dos grandes artistas brasileiros – ele alcança grande valorização no mercado e serve de referência para a geração de artistas responsáveis pela “volta à pintura”.  Por isso, a exposição também traz notícias de jornais pertencentes ao acervo documental da Fundação, mostrando como o artista era retratado pela mídia da época e contextualizando o recorte de obras apresentado.

 

Cabe ressaltar, ainda, o novo fôlego de produção literária que acompanha essa mudança na pintura de Iberê: o artista trabalha nas prosas autobiográficas reunidas posteriormente em Gaveta dos Guardados e publica, em 1988, No andar do tempo, em que resgata contos antigos e apresenta novos, colocados lado a lado como as figuras nos quadros, em uma revisão e atualização do passado em sincronia com o presente. O curador chama a atenção para o conto O relógio, de 1959, em que o personagem vasculha obsessivamente uma latrina, fascinado pelos objetos do passado que encontra e com a própria matéria em decomposição. Uma analogia aos quadros da época: os elementos do passado e do presente mesclados, sobrepostos, em uma massa de memória e de tempo.
A exposição acontece no 2º andar da Fundação Iberê Camargo.

 

 

Até 09 de novembro.

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