A exposição “O Vale dos Reis”, de Alex Ferro, com curadoria de Marco Antonio Teobaldo, entra em cartaz no Gabinete de Fotografias do Centro Cultural da Justiça Federal, Centro, Rio de Janeiro, RJ. O acervo de vinte obras apresentado na mostra é o resultado de quatro anos de incursões em cerimônias de Candomblé, realizadas pelo artista e o curador.
Em agosto de 2012, o fotógrafo teve a oportunidade de realizar o seu primeiro ensaio sobre as celebrações realizadas em um dos terreiros de Candomblé mais tradicionais do Rio de Janeiro, situado em Santa Cruz da Serra. O Ilé Asè Atará Magbá Iyá Omindarewá foi criado em 1973 pela Iyalorixá Gisèle Cossard Binon, nascida no Marrocos e criada na França, com título de doutora em Antropologia pela Universidade Sorbonne.
Alex Ferro vem registrando, desde então, diversas celebrações e cultos sagrados e experimentando técnicas e equipamentos capazes de traduzir tamanha riqueza que se colocava diante de seus olhos. Recentemente, suas obras da série “Santo Forte” foram exibidas no Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos, IPN, na Região Portuária do Rio de Janeiro, e posteriormente na Firehouse Plaza Art Gallery, em Nova York.
Em “O Vale dos Reis”, algumas imagens são ampliadas de modo que estes personagens ganham aspectos de verdadeiras divindades ostentadas pelas grandes dimensões que são apresentadas. Ao passo que outros registros, são dispostos em formatos menores (100 X 80 cm e 80 X 60 cm), convidando o visitante a aproximar-se fisicamente das obras. O recorte curatorial escolhido para esta exposição é sobre as celebrações protagonizadas pelo orixá Xangô, em dois momentos diferentes: na Fogueira Xangô e na Saída de Yawô, por isso, estão agrupadas e dispostas em ambientes distintos. Enquanto na Fogueira encontramos a celebração noturna, em que os orixás demonstram o seu domínio sobre o fogo, na Saída de Yawô a luz do dia revela parte dos bastidores da cerimônia, e a iniciação de uma criança de 3 anos de idade.
Flavio Lazarino, artista visual e sonoro foi convido a criar uma instalação com gravações recentes de mensagens de bênçãos enviadas por aplicativo de telefone celular, do terreiro para o grupo de seus filhos, remixadas com sons da natureza e canções em Yorubá.
De acordo com o curador, Marco Antonio Teobaldo, este trabalho reverencia a cultura brasileira e suas raízes, a partir da visão do artista sobre uma das manifestações populares mais expressivas no Brasil, no contexto da fé e respeito à ancestralidade, que adquire um impacto ainda maior dentro do Centro Cultural da Justiça Federal. Trata-se também da bravura e a força de um povo, que ainda luta contra o preconceito, a intolerância religiosa e reivindica o direito de exercer livremente a sua fé. E ainda, apresenta-se como a primeira grande homenagem a Iyálorixá Gisèle Cossard Binon, falecida recentemente.
Kawó Kabiesielé!!! É a saudação feita a Xangô e significa: venha ver o Rei descer sobre a Terra!
De 16 de março a 24 de abril.